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3.5 Produção Mais Limpa

3.5.4 Produção Mais Limpa no setor da Saúde

Segundo o Cleaner Production Guide for Hospitals (OIC, 2013) e o Guia sectorial de production mas limpia: hospitales, clinicas e centros de salud (VELEZ, 2014), são muitos os benefícios obtidos com a implementação da P+L e com a gestão ambiental responsável pelas empresas de saúde. Estas incluem redução de custos operacionais, minimização de riscos associados às penalidades por infrações legais, melhorias na saúde e segurança ambiental e até a elevação da autoestima das equipes de trabalho. As etapas para a implementação da P+L em empresas de saúde são as mesmas propostas pela UNIDO, apresentadas na Figura 3.11, e descritas nos manuais de implantação, e trazem consigo uma nova maneira de pensar os processos de trabalho nestes serviços. O uso racional de matéria prima e insumos para a minimização da geração de resíduo, dos custos e impactos ambientais ainda não é uma opção reconhecida e aceita para obter vantagens econômicas nas empresas da área da saúde. No mapeamento dos processos o resíduo ainda não é incluído como saída e talvez este seja um dos motivos pelo qual ainda este não é visto pelos geradores como um aspecto relevante nos processos da empresa (TOLEDO; DEMAJOROVIC, 2006).

O setor saúde tem uma importância econômica cada vez maior nos países desenvolvidos. Além de sua importância econômica, o modo particular de funcionamento destes serviços envolve uma gama de atividades que apresenta grande potencial para a geração de impactos ambientais. Os hospitais, prontos socorros, clínicas de pronto atendimento entre outros operam 24 horas por dia, 365 dias no ano, possuem equipamentos diversos que consomem energia e combustíveis para a geração de energia e demandam

também uma variedade de outros recursos em quantidades consideráveis (TOLEDO; DEMAJOROVIC, 2006). Neste contexto, estes serviços executam funções muitas vezes semelhantes àquelas encontradas na indústria, tais como lavanderia, transporte, limpeza, alimentação, processamento fotográfico, entre outras. Porém, de forma distinta de outras atividades, seja industrial ou de serviços, os serviços de saúde consomem grande quantidade de produtos médicos descartáveis, que são usados para impedir a transmissão das doenças para os funcionários e pacientes, e geram, de um lado, uma grande quantidade de resíduo e, de outro, demandam grande quantidade de recursos como energia elétrica e água (TOLEDO; DEMAJOROVIC, 2006; CARDOSO, 2002).

Furtado (2014) afirma que se deve reconhecer a dificuldade de conceber o sistema de produção absolutamente isento de riscos e resíduo. Esta afirmação tem um significado especial para as empresas de saúde principalmente se for considerado que a isenção de riscos e resíduos esta diretamente relacionada ao uso de materiais e insumos de uso único que garantem a segurança do profissional e do cliente, o que torna o desafio da minimização de resíduo ainda maior. Nas empresas de saúde o principal aspecto ambiental capaz de causar um impacto negativo no ambiente é o resíduo gerado, que inclui os resíduos biológico, químico e o radioativo, classificados como perigosos.

Em estudo sobre a segregação de resíduo de serviços de saúde como processo de P+L, Pavelosky; Hamada (2009) relatam que o crescimento dos RSS possui uma origem detectada – o “fenômeno da descartabilidade”- justificada pelo uso cada vez maior de instrumentais e rouparia descartáveis, devido ao avanço das doenças infectocontagiosas e pela pressão da redução dos índices de infecções hospitalares. Conclui que os problemas que envolvem a questão do RSS poderiam ser minimizados com a correta segregação na origem, no momento em que o RSS é gerado, e que é o início do todo o processo de manejo deste resíduo. O principal fator percebido no estudo diz respeito às falhas básicas operacionais ocorridas na triagem do resíduo na fonte geradora e que acaba por comprometer toda a sequência do processo de gestão, da geração até o seu destino final. O entendimento da essência de uma correta segregação e de seu objetivo, além de ser o de reduzir a quantidade de resíduo infectante, também é o de se criar uma cultura organizacional de segurança, de não desperdício e de redução dos acidentes ocupacionais.

Muitos dos serviços de Hemoterapia do país ainda buscam soluções para a efetivação da elaboração e implementação dos Planos de Gerenciamento de Resíduos com todas as etapas preconizadas pela RDC 306/2004 (ANVISA, 2014 d). Segundo resultados das visitas de assessoramento técnico feitas pela equipe técnica da Área de Gestão Ambiental da Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados (CGSH), em 25% dos Hemocentros Coordenadores no ano de 2012 e 2013, o maior índice de conformidade (65%) refere-se à existência de balança para pesagem de resíduo e de carros coletores adequados para a coleta. No entanto as questões relevantes para o gerenciamento de resíduo como existência de procedimentos operacionais e de lixeiras adequadas para descarte de resíduo estão parcialmente conformes em 75% e 62,5% dos serviços, respectivamente.

Da mesma forma em 75% dos serviços não existem indicadores de monitoramento para avaliação do PGRSS, e não ocorre a destinação final adequada do RSS em aterros licenciados, devido à inexistência destes e/ou por falta de recursos da instituição para garantir a destinação final adequada (CGSH/MS, 2014).Estas dificuldades constituem-se em barreiras à implementação de melhorias no gerenciamento do RSS destes Hemocentros, bem como a implementação de ações de P+L.

Os serviços de Hemoterapia têm uma característica diferente da maioria dos serviços de saúde. Enquanto nos hospitais, postos de saúde e clínicas em geral o produto é a assistência prestada ao paciente, nos serviços de hemoterapia o sangue total é a matéria prima para a produção dos produtos, os hemocomponentes e hemoderivados, que serão transfundidos nos clientes/pacientes.

Nestes serviços existe um processo produtivo que se mescla à assistência na coleta de sangue dos doadores, para a obtenção da matéria prima, e na transfusão, quando ocorre a entrega do produto.

Assim como nos processos industriais, ocorre a transformação de matéria prima e insumos em produtos finais, conforme apresentado na Figura 3.12.

E no processo produtivo também ocorrem produtos fora de especificação, a geração de resíduo. o consumo de água e de energia.

Figura 3.12 Descrição sumária de um processo produtivo industrial

Fonte: Coelho (2002)

Preocupada com a questão ambiental nos Hemocentros do país, a Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde desenvolve desde 2006 ações para a capacitação de profissionais da Hemorrede Nacional em Gestão Ambiental, através de parcerias com instituições de ensino (MS,2012b). Em junho de 2013 foi finalizado o primeiro projeto piloto desenvolvido em um Hemocentro coordenador, no período de junho de 2012 a junho de 2013, em parceria com a equipe da Rede de Tecnologias Limpas da Universidade Federal da Bahia (TECLIM/UFBA), responsável pela execução do projeto. Este projeto teve como um de seus objetivos capacitar um Hemocentro em Produção Mais Limpa, que resultou na elaboração de um relatório técnico com a descrição das ações implementadas, com publicação prevista para o ano de 2014 (CGSH/MS, 2013). Os resultados obtidos apontam as possibilidades de melhorias nos processos, obtenção de benefícios ambientais e de benefícios econômicos e que, em uma primeira análise, enchem os olhos dos que buscam driblar a atual crise em que o Sistema de Saúde do Brasil se encontra. É claro que não resolverão os problemas financeiros da instituição, mas contribuirão para a redução de custos operacionais e gerar recursos para implementação de outras melhorias.