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MAPA 3 Malha Ferroviária do Recife em 1906: Recife possuía em 1906 um

11 ANÁLISE DAS EVIDÊNCIAS E OBSERVAÇÕES

11.1 A RAIZ DO DECRESCIMENTO

A capitania de Pernambuco foi palco, no século XVI, da primeira atividade econômica nas terras ocidentais da Coroa, iniciando a sociologia da cana que trouxe o tráfego de escravos, mercadores holandeses, estimulou movimentos sociais separatistas e só começou a perder fôlego a partir de 1850.

O açúcar pernambucano, destinado à exportação, foi durante três séculos o principal item na balança comercial da Colônia. A atividade econômica tomou conta da zona costeira, aproveitando-se do solo rico em matéria orgânica, que dispensava insumos, e chuvas regulares, na época e na quantidade certas.

Este modelo econômico, que sobreviveu por quase quatro séculos, parece ter condicionado profundamente o inconsciente coletivo levando a oligarquia canavieira, cujos filhos estudavam na Europa, a ignorar a imensa massa de excluídos que orbitava a Casa Grande. Esse contingente era considerado apenas mais um instrumento de produção. O quadro sociológico da cana de açúcar registrado no começo do século XX, pelo mestre Gilberto Freyre que se notabilizou internacionalmente por retratar a convivência entre os dois mundos. Justamente o aspecto mais duro e marcante do modelo econômico baseado em mão de obra escrava intensiva e intermitente que pouco mudou, após a chamada abolição da escravatura.

Do ponto de vista econômico, os dois estamentos permaneceram bem definidos até os dias atuais, quando resta uma pequena amostra do que foi o ciclo da cana. Esta massa anônima, carente, analfabeta, que exibe um dos menores índices de desenvolvimento humano do país, é o legado mais vistoso do mais intenso e duradouro ciclo econômico da história do Brasil.

No Sertão, nas últimas décadas do século XVIII, longe da dinâmica econômica da região costeira surgiu o segundo mais importante movimento econômico da historia de Pernambuco com a disseminação do plantio do algodão arbóreo de cultivo perene. O início da revolução industrial na Europa gerou uma demanda por algodão estimulando o crescimento desta cultura nas terras da América, tanto do Norte como a do Sul. As terras áridas do Sertão nordestino produziram grande parte do algodão brasileiro que representou o segundo item na

balança de exportação brasileira do século XIX, tornando-se o segundo maior fornecedor da fibra para o mercado Europeu. A guerra civil americana inibiu as exportações da fibra durante cinco anos (1860/65), quando o algodão brasileiro deu um salto nos volumes de produção. Esta alavancagem provocou um movimento econômico novo com o surgimento de indústrias conexas, como usinas para esmagamento do caroço para a produção de óleo comestível e ração animal. Estas usinas se localizavam no Sertão e Agreste, como fornecedoras de insumo para a criação de gado que conviveu com o ciclo do algodão. Já as tecelagens preferiram a zona urbana no litoral para instalar suas fábricas.

As décadas de 1850 e 1860 marcaram os destinos das duas principais forças econômicas da capitania, de forma definitiva, em sentidos opostos, mas que pode ser percebida muitas décadas depois. A cana sofreu o baque da concorrência do açúcar cubano e das Antilhas (produzido pelos holandeses) que quebrou a hegemonia do açúcar brasileiro. A Guerra da Secessão nos EUA abriu o mercado europeu para o algodão brasileiro, alavancando as exportações da fibra e fortalecendo a economia Pernambucana.

Em 1850 foi aprovada, pela Câmara Legislativa Imperial, a Lei das Terras (Lei 601/50) que inaugurou uma linha divisória entre a posse e a propriedade, transformando a terra em um ativo contábil. O regime de Sesmarias, vigente até então, não era específico e não delimitava claramente até onde ia a posse da terra, o que criava tensões e conflitos internos. A nova lei, se por um lado, apaziguou os ânimos, por outro, praticamente excluiu a posse da terra dos mais pobres e a concentrou nas mãos da oligarquia dando origem a um modelo latifundiário que desafia os gestores públicos até os dias atuais.

Os ciclos da cana e do algodão conviveram simultaneamente por quase dois séculos, nas terras de Pernambuco, sem se confundirem dado as particularidades de cada um. Enquanto a cana iniciava seu lento declínio, o algodão cresceu e ganhou importância como um modelo concentrado, que envolvia a produção de fios e tecidos rústicos, por um lado e de óleo comestível e farelo para ração animal por outro, alimentando paralelamente a pecuária que se sustentava na região.

Essa vocação agrícola associada à pecuária se tornou a opção natural, de Pernambuco quando, no Velho Mundo a revolução industrial provocava as primeiras cogitações que vieram construir os rudimentos do pensamento econômico contemporâneo. No entanto, a cidade do Recife, na época uma das maiores do Brasil, que ostentava uma vibrante economia, aparentemente cultivava certo pensamento retrógrado como sugere o historiador Morrison (2006).

Considering its pioneer spirit, it seems odd that Recife was the last major capital in Brazil to install an electric tramway. The Great Western of Brazil Railroad, which operated steam trains northwest of the city, proposed an electric line in 1899 that would run from Brum station directly north along the isthmus to Olinda But the Western Telegraph Co. protested that electricity would interfere with its underwater cables, and the plan was never realized (MORRISON, 2006).

11.2 SÉCULO XX: A ECONOMIA PERNAMBUCANA CONTINUA A DECRESCER

O século XX alcançou um país agrícola, com um PIB per capita em torno de US$ 33,60, segundo projeções do IPEA a população predominantemente rural, insalubre e elevadíssimos índices de analfabetismo. Pernambuco, neste quadro, se posicionava como um Estado rico, dono de uma economia vibrante, que fazia jus ao dístico o Leão do Norte conquistado graças a seu passado de intensas mobilizações políticas, desde a época da expulsão dos holandeses.

No final do século XIX e no começo do século XX, a Inglaterra que detinha a mais poderosa marinha mercante do mundo não ficou ausente da próspera economia pernambucana. A influência dos ingleses era marcante na cidade do Recife. Essa forte presença deixou marcas visíveis até hoje estampadas em instituições como: o Cemitério dos Ingleses (1852), a Pernambuco Powder Factory mais conhecida como Fábrica Elephant, (1890) o Sport Club Recife (1906), o Caxangá Golf Club e o Country Club (1928).

O recém criado Estado de Pernambuco se destacava de seus vizinhos pela elevada concentração de: tecelagens, usinas de açúcar e indústrias mecânicas e de caldeiraria, o que atraiu o interesse de grandes conglomerados europeus, voltados à prestação de serviços. Empresas de porte internacional estabeleceram sucursais na região como: The Great Western

of Brazil Railroad, The Western Telegraph Co., London & Brazilian Bank, se instalaram e

prosperaram nas primeiras décadas do século XX, atendendo a uma população com elevado padrão de vida.

Segundo Morrison (2006), Recife com aproximadamente 200.000 habitantes, foi a segunda cidade brasileira a operar nas ruas, locomotivas a vapor projetadas especificamente para este fim.

Recife was the starting point in 1858 of Brazil's second railroad, a 31 km line from Cinco Pontas station to Cabo (the route of Metrorec's Linha Sul today) (see map]. Recife was also the second city in Brazil, after Rio de Janeiro, to operate steam locomotives on its streets and was allegedly the first city in the world to use locomotives designed specifically for that purpose. The steam tramways in both Rio de Janeiro and Recife were called "maxambombas" – after the little railed carriages used to load cargo onto riverboats. (It is uncertain whether the word was used to designate the locomotive, the passenger car, or the whole train (MORRISON, 2006).

Em outras regiões do Estado, a economia também se destacava com eventos localizados e independentes que representaram papéis importantes no contexto geral. Os indicadores econômicos e sociais relativos ao período, disponíveis hoje em dia, são incompletos e de forma geral não retratam com fidelidade os reais efeitos e importância desses fatores. Mas, pela duração, importância econômica e influência social, nenhum desses movimentos teve a ressonância da cana e do algodão.

A fábrica Peixe (1898) polarizou a produção de doces e conservas que se desenvolvia na região serrana da cidade de Pesqueira e durante quase um século estabeleceu marcas que ficaram na historia econômica do Estado. Foi a primeira empresa pernambucana a ser premiada internacionalmente (1910) em Bruxelas. Foi a primeira empresa brasileira a anunciar experimentalmente na nascente televisão, em uma época em que não existiam aparelhos de televisão e, portanto, não existia audiência.

O então, denominado, grupo Bunge Y Born, instalou inúmeras plantas no Nordeste Brasileiro (boa parte em Pernambuco) voltadas primordialmente para o processamento de

commodities como o algodão, fibra e caroço evoluindo para subprodutos como óleo de

algodão, e posteriormente de soja.

A Sanbra - Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro, foi criada pela Bunge em 20 de junho de 1923, na cidade de Recife, PE. No início centrava-se na negociação de fibras de algodão, mas, ao longo de sua trajetória, investiu nas mais variadas matérias primas visando a extração de óleo comestível. Entre inúmeros produtos alimentícios lançados, podemos destacar o óleo Salada, de 1929 (FUNDAÇÃO BUNGE..., 2008).

A fábrica de baterias Moura, fundada em 1957, nasceu como conseqüência de uma série de fatos aparentemente aleatórios acontecidos na época. Na cidade de Belo Jardim existia, na época da fundação da empresa, apenas um automóvel e mesmo assim nasceu a Baterias Moura por iniciativa de um jovem engenheiro que demonstrou um espírito empreendedor extraordinário. Foram adotadas estratégias vencedoras como um acordo com a

Chloride o maior fabricante de baterias do mundo que abriu as portas das montadoras

internacionais que se instalavam no Brasil, para cujas matrizes a Chloride fornecia as baterias. A expansão da fábrica de Baterias Moura se apoiou em financiamentos de longo prazo, provenientes de fundos para o desenvolvimento do Nordeste, administrados pelo Banco do Nordeste Brasileiro (BNB).

Estas e outras iniciativas localizadas e bem sucedidas não ocultam o fato de que a economia pernambucana cresceu menos do que os estados vizinhos. Com o advento da Sudene em 1959, sediada em Recife, foram aprovados e implantados inúmeros projetos financiados com os recursos desviados da arrecadação, através de isenção fiscal.

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