• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 1 FILMES DE POLISSACARÍDEOS

4.5. ANÁLISE DE FTIR E DIFRAÇÃO DE RAIOS X

A análise de Infravermelho de transformada de Fourier (FTIR) é de importância no estudo da estrutura molecular. A largura e a intensidade das bandas espectrais tanto como a posição dos picos são todos sensíveis às mudanças ambientais e às conformações das macromoléculas no nível molecular (XIAO et al., 2001a,b). Interações intermoleculares ocorrem quando diferentes polímeros são compatíveis. Assim, os

Filmes de polissacarídeos

espectros de FTIR das misturas são diferentes daquelas dos polímeros puros, o que é vantajoso para o estudo da compatibilidade entre os polímeros.

A compatibilidade observada no par pectina/glucomanana estaria relacionada com a semelhança estrutural que possuem (Figura 4.4). Algumas das diferenças entre estes dois polissacarídeos são a presença de grupos carboxila livres na pectina que a torna carregada diferente da glucomanana que é um polissacarídeo não carregado, massa molecular diferente, e estrutura ramificada da glucomanana; enquanto a pectina é extendida e não ramificada. Os espectros de infravermelho dos três polissacarídeos são mostrados na Figura 4.5. Claramente, observa-se que o espetro de IV da pectina e glucomanana são similares e diferentes do espectro IV da metilcelulose, que foi o polissacarídeo que apresentou incompatibilidade nas misturas.

Figura 4.4.Estrutura química da (a) glucomanana e (b) pectina.

As bandas de absorçaõ observadas nas regiões de 970 a 1216 cm-1, 950 a 1250 cm-1 e 850 a 1220 cm-1 correspondem à região finger printer da glucomanana, pectina e metilcelulose, respectivamente. Segundo Sun et al. (2005) esta região é característica para cada polissacarídeo e é dominada pelas vibrações presentes nos anéis sobrepostas com as vibrações de estiramento (stretching vibrations) dos grupos laterais (C-OH) e a vibração da ligação glicosídica (C-O-C). As bandas amplas a 3410, 3423 e 3469 cm-1 correspondem à absorção dos grupos hidroxila (-OH) presentes na glucomanana, pectina e metilcelulose, respectivamente. Os altos conteúdos de umidade observados para os filmes de glucomanana e pectina estariam relacionados com a largura das bandas do grupo hidroxila destes polissacarídeos. Li et al. (2006a), Xiao et al. (2001a) e Maftoonazad et al. (2007) mencionam que tanto a glucomanana como a pectina possuem alto numero de grupos hidroxila livres que incrementam a interação com água. As duas bandas ao redor de 2900, 2930 e 2860 cm-1 foram atribuídas às vibrações de estiramento C-H do

(a)

Figura 4.5. Espectro de infravermelho com transformada de Fourier dos filmes obtidos a partir dos componentes puros e a mistura 9 (o eixo Y é dado em % de transmitância).

Filmes de polissacarídeos

Conforme observado através das bandas de absorção, os três polissacarídeos possuem estruturas parecidas, contudo as vibrações de estiramento do grupo carbonil (C- O) apenas são visualizadas para a glucomanana e pectina. Os picos correspondentes a estas vibrações aparecem a 1641 e 1728 cm-1 para glucomanana e 1614 e 1743 cm-1 para pectina. Para a glucomanana o pico a 1728 cm-1 foi atribuído ao grupo carbonil acetilado (WANG et al., 2007; XIAO et al., 2001a, b) e o pico a 1641cm-1 foi atribuído ao estiramento das ligações de hidrogênio intramoleculares (YE et al., 2006); e na pectina, o pico a 1743 cm-1 foi atribuído ao grupo carbonil esterificado (COOR) e o pico a 1614 cm-1 ao grupo carbonil não esterificado (íon carboxilato COO-) (SUN et al., 2005). Estas duas bandas são importantes na quantificação do grau de esterificação das pectinas. Assim, o espectro da pectina mostra uma intensidade maior para a banda correspondente ao grupo carbonil esterificado (1743 cm-1) corroborando com o fato de que a pectina utilizada foi de alto grau de metoxilação.

O espectro de infravermelho da mistura 9 foi muito semelhante ao espectro da glucomanana pura, porque esta mistura contém alta proporção de glucomanana em relação a pectina (4:1). A posição da banda correspondente ao grupo carbonila esterificado da glucomanana (1728 cm-1) se deslocou para comprimentos de onda mais altos (1739 cm-1) e a banda referente ao estiramento das ligações hidrogênio intramoleculares (1641 cm-1) se deslocou para comprimento de onda mais baixo (1630 cm1). A intensidade das bandas em 1630 e 1739 cm-1 na mistura 9 aumentaram em 22,5 e 46,4%, respectivamente, quando comparados com as bandas em 1641 e 1728 cm-1 da glucomanana. Tanto o deslocamento dos picos e a intensidade deles foi fortemente influenciada pela pectina, ainda em concentração baixa. Por outro lado, a posição da banda correspondente ao grupo metila mudou para números de onda mais altos na mistura. A mudança também foi influenciada pela pectina sendo que a metilcelulose mostra números de onda baixos para estas bandas. Os resultados indicariam que a pectina formou ligações intermoleculares com a glucomanana. Desta forma os resultados obtidos nas propriedades mecânicas, de permeabilidade e morfologia dos filmes foram confirmados através dos espectros obtidos por infravermelho. A diferença principal encontrada no espectro da mistura com referência aos espectros dos componentes puros, foi a ausência do pico a 2360 cm-1 presente nos espectros da glucomanana, pectina e metilcelulose.

Os espectros de raios X dos filmes de metilcelulose, glucomanana, e pectina puros, e da mistura que teve boas propriedades mecânicas e de permeabilidade são apresentados na Figura 4.6. O filme de glucomanana apresentou dois picos de difração em 2θ = 14,04 e 20°, o primeiro pico foi observado por C heng et al (2002) em 2θ≅ 13°, e o segundo pico por Ye et al. (2006) em 2θ = 20°.

Figura 4.6. Padrões de difração de raios X dos filmes de metilcelulose, glucomanana, pectina e a mistura 9.

Para Xiao et al. (2001b) e Wang et al. (2007) se não houvesse interação ou existisse baixa compatibilidade entre os componentes de uma blenda, cada polímero teria sua própria região cristalina na blenda e o espectro de raio X do filme seria a sobreposição dos espectros dos componentes de acordo com a proporção deles na blenda. Analisando o espectro da mistura 9, observam-se difrações difusas e muito baixas ao redor de 2θ = 7,5 e 10° que seriam parte da estrutura cristal ina original da metilcelulose que apresentou um pico de difração forte em 2θ = 10° e outro em 2θ = 20°.

2 Theta (grau)

(U

.A

Filmes de polissacarídeos

Já os domínios cristalinos da pectina e glucomanana fundiram-se na mistura 9 em dois picos de difração a 2θ = 13,7 e 20,7° mais intensos quando comparados com os picos de difração observados no filme de glucomanana e pectina puros. O aumento da intensidade dos picos de glucomanana e a perda da estrutura cristalina da metilcelulose indicariam que houve interações entre os polissacarídeos na mistura 9 conduzindo a uma melhora nas propriedades mecânicas.

4.3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CANGA, A. G.; MARTÍNES, N. F.; SAHAGÚN, A. M.; VIEITEZ, J. J. G.; LIÉBANA, M. J. D.; PARDO, A. P. C.; ROBLES, L. J. C.; VEGA, M. S. Glucomannan: properties and therapeutic applications. Nutrición hospitalaria, v. 19, p.45-50, 2004.

CARVALHO, R.A. DE; GROSSO, C.R.F. Characterization of gelatin based films modifed with transglutaminase, glyoxal and formaldehyde. Food Hydrocolloids, v. 18, p. 717-726, 2004.

CHANG, Y.P.; CHEAH, P.B.; SEOW, C.C. Plasticizing-antiplasticizing effects of water on physical properties of tapioca starch films in the glassy state. Journal of Food Science, v. 65, p. 445-451, 2000.

CHENG, L.H.; ABD KARIM, A.; NORZIAH, M.H.; SEOW, C.C. Modification of microstructural and physical properties of konjac glucomannan-based films by alkali and sodium carboxymethylcellulose. Food Research International, v. 35, p. 829-836, 2002.

DONHOWE, I.G.; FENNEMA, O. The effects of plasticizers on crystallinity, permeability, and mechanical properties of methycellulose films. Journal of Food Processing and Preservation, v. 17, p. 247-257, 1993.

FISHMAN, M.L.; COFFIN, D.R. Films fabricated from mixtures of pectin and starch. United States Patent 5451673, Washington, D.C., 1995.

GUILBERT, S.; BIQUET, B. Edible films and coatings. In G. BUREAU; J.L. MULTON (Eds.) Food Packaging Technology. New York: VCH Publishers, 1996. Vol. 1, p. 528.

LI, B.; KENNEDY, J.F.; JIANG, Q.G.; XIE, B.J. Quick dissolvable, edible and heatsealable blend films based on konjac glucomannan-gelatin. Food Research International, v. 39, p. 544-549, 2006a.

LI, B.; KENNEDY, J. F.; PENG, J. L.; YIE, X.; XIE, B. J. Preparation and performance evaluation of glucomannan-chitosan-nisin ternary antimicrobial blend film. Carbohydrate Polymers, v. 65, p. 488-494, 2006b.

MAFTOONAZAD, N.; RAMASWAMY, H. S.; MARCOTTE, M. Evaluation of factors affecting barrier, mechanical and optical properties of pectin-based films using response surface methodology. Journal of Food Process Engineering, v. 30, p. 539-563, 2007.

MATHEW, S.; BRAHMAKUMAR, M.; ABRAHAM, T.E. Microestructural imaging and characterization of the mechanical, chemical, thermal, and swelling properties of starch- chitosan blend films. Biopolymers, v. 82, p. 176-187, 2006.

PÉROVAL, C.; DEBEAUFORT, F.; DESPRÉ, D.; VOILLEY, A. Edible Arabinoxylan-Based Films. Effects of lipids type on water vapor permeability, film structure, and other physical characteristics. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 50, p. 3977-3983, 2002.

PHAN, T.D.; PÉROVAL, C.; DEBEAUFORT, F.; DESPRÉ, D.; COURTHAUDON, J. L.; VOILLEY, A. Arabinoxylan-Lipids-Based edible films and coatings. 2. Influence of sucroester nature on the emulsion structure and film properties. Journal of Agricultural and food chemistry, v. 50, p. 266-272, 2002.

SUN, Y.; TANG, J.; GU, X.; LI, D. Water-soluble polysaccharides from Angelica sinensis (Oliv.) Diels: Preparation, characterization and bioactivity. International Journal of Biological Macromolecules, v. 36, p. 283-289, 2005.

TONG, Q; XIAO, Q.; LIM, L. Preparation and properties of pullulan-alginate- carboxymethylcellulose blend films. Food Research International, v. 41, p.1007-1014, 2008.

TURHAN, K. N.; ŞAHBAZ, F. Water vapor permeability, tensile properties and solubility of methycellulose-based edible films. Journal of Food Engineering, v. 61, p. 459-466, 2004.

TURHAN, K.N.; ŞAHBAZ, F.; GÜNER, A. A spectrophotometric study of hydrogen bonding in methylcellulose-based edible films plasticized by polyethylene glycol. Journal of Food Science, v. 66, p. 59-62, 2004.

WANG, B.; JIA, D.-Y.; RUAN, S.-Q.; QIN, S. Structure and properties of collagen-konjac glucomannan-sodium alginate blend films. Journal of Applied Polymer Science, v. 106, p. 327-332, 2007.

XIAO, C.; LU, Y.; GAO, S.; ZHANG, L. Characterization of konjac-glucomannan-gelatin blend films. Journal of Applied Polymer Science, v. 79, p. 1596-1602, 2001a.

Filmes de polissacarídeos

XIAO, C.; LU, Y.; LIU, H.; ZHANG, L. Preparation and characterization of konjac glucomannan and sodium carboxymethylcellulose blend films. Journal of Applied Polymer Science, v. 80, p. 26-31, 2001b.

XIAO, C.; WENG, L.; ZHANG, L. Improvement of physical properties of crosslinked alginate and carboxymethyl konjac glucomannan blend films. Journal of Applied Polymer Science, v. 84, p. 2554-2560, 2002.

YE, X.; KENNEDY, J.F.; LI, B.; XIE, B.J. Condensed state structure and biocompatibility of the konjac glucomannan/chitosan blend films. Carbohydrate Polymers, v. 64, p. 532-538, 2006.

Capítulo 5 . RESULTADOS E DISCUSSÕES - FILMES DE

Documentos relacionados