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3. INVESTIGANDO OS PROCESSOS PROJETUAIS E OS PRODUTOS

3.3.4 Análise geral dos produtos (FA-UL, 2015.1)

Ainda que não tenham sido disponibilizados os produtos finais dos estudantes, foi possível tecer considerações sobre os trabalhos apresentados devido ao acompanhamento sistemático realizado em sala de aula durante a pesquisa.

A maioria das propostas desenvolvidas pelos alunos do Laboratório de projeto III considerou o entorno em suas soluções projetuais e levou também em consideração a topografia do terreno para as definições das propostas arquitetônicas. Isso foi verificado na proposição de estacionamentos, na implantação de áreas de acesso ao público como lojas e na configuração de espaços, como praças de uso semi-público.

Na representação gráfica dos projetos, as fundações foram indicadas em um terço dos trabalhos realizados. Mesmo sem existir especificações diretas, as suas demonstrações nos desenhos manifestaram uma consciência quanto à sua necessidade enquanto base fundamental para os edifícios. Essa mesma consciência construtiva tornou-se evidente com a importância conferida ao sistema estrutural dos prédios, como pode ser visto na representação em corte de um dos projetos elaborados (Figura 69). 0 1 2 3 4 5 6 7 Aluno 14

IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB. ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.

Figura 69 – Corte transversal de proposta indicando o sistema estrutural como um todo, inclusive fundações.

Fonte: Trabalho final de um aluno. Editado pelo autor.

Foi visto que 75 % dos produtos apresentados demonstraram uma relação direta entre a arquitetura e a estrutura. Tal como foi apresentado nos gráficos dos processos de concepção, o aspecto estrutural foi tratado com frequência pela maioria dos discentes no decorrer do semestre e se caracterizou como uma entrada recorrente no planejamento arquitetônico. Entretanto, a grande maioria dos alunos (dez trabalhos) optou pelo uso de estruturas convencionais em concreto armado - uma tecnologia construtiva de uso recorrente nas obras de arquitetura que se realizam em Portugal. Apenas dois projetos apresentaram a possibilidade de usar sistemas mistos de construção, conjugando estruturas metálicas ao concreto. Estas propostas não apresentaram aprofundamento técnico, entretanto, denotaram um pensamento em direção a técnicas e tecnologias construtivas capazes de atender às exigências das suas propostas (como balanços e vãos livres).

Quanto às vedações, não foram identificadas especificações exatas, mas todos os trabalhos indicaram, por meio da representação gráfica, características que diferenciavam materiais segundo usos internos ou externos. Isso se tornou evidente por meio da análise das espessuras das paredes que variavam segundo a sua posição nas plantas baixas e por meio das conversas sobre os projetos durante o atelier.

O mesmo ocorreu quanto às definições sobre as coberturas definidas para os edifícios projetados. Nas representações gráficas, não foram vistas especificações objetivas, porém, as observações realizadas in loco e os acompanhamentos dos processos projetuais dos alunos permitiram ao pesquisador a obtenção da informação que as lajes planas indicadas em onze propostas apresentavam razão estética e/ou funcional.

Os materiais de acabamento tão pouco foram especificados nas representações gráficas dos projetos e as informações quanto às suas escolhas se devem, como no caso das soluções para as lajes de cobertura, às descobertas da pesquisa durante a fase de desenvolvimento das propostas pelos alunos.

Esta inexistência de especificações nos produtos confirma o discurso do docente que, anteriormente, esclareceu que estes dados não eram fundamentais para o nível de detalhamento pretendido para os projetos. Desse modo, foi verificado que, de fato, tais questões não foram essenciais para avaliação. Constatou-se que a importância maior foi destinada às soluções funcionais e volumétricas do projeto e que os alunos, por meio de iniciativas próprias, estabeleceram as suas propostas quanto a estes aspectos e que, somente graças ao acompanhamento dos processos, foi possível compreender as suas intenções (Figura 70).

Figura 70– Representação da fachada de um dos projetos.

Fonte: Trabalho final de um aluno. Editado pelo autor.

Por fim, outros aspectos, como uma possível preocupação com as instalações, foram confirmados positivamente por meio de análise das soluções arquitetônicas de resolução das plantas das unidades habitacionais. Em todos os projetos, os alunos buscaram concentrar áreas molhadas, criando paredes hidráulicas. Ainda que não tenha sido um aspecto exigido nos enunciados, nem pelo professor da disciplina

durante o processo de ensino em sala de aula, tais definições se configuraram como indicadores de preocupação com os custos da obra. O estabelecimento de uma modulação estrutural para o projeto foi outra preocupação que não foi ditada pelo docente, mas que, apesar disso, foi visível em sete das doze propostas elaboradas. Como explicitado anteriormente, este cuidado já havia sido verificado nos acompanhamentos dos croquis de concepção e até mesmo em estudos volumétricos.

Considerações sobre o capítulo.

A partir da exposição da pesquisa desenvolvida no curso de arquitetura português e da análise do Laboratório de projeto III, suas características oficiais (baseada na análise da sua ementa) e aspectos observados em sala de aula, é possível, ao fim do capítulo, tecer algumas considerações.

Pode-se concluir que existiam boas condições ambientais e pedagógicas para o desenvolvimento do processo projetual dos alunos. A proporção de número de alunos por professor (16:1) é considerada adequada e a carga horária semanal (com dois encontros) era satisfatória para o desenvolvimento das atividades no atelier.

Apesar de haver orientação quanto à abordagem das questões materiais na ementa da disciplina, esta não se caracterizava como uma questão fundamental do processo, como foi esclarecido pelo docente. A importância conferida pelos alunos, sobretudo à questão estrutural, partiu das necessidades funcionais do tipo de empreendimento.

No processo projetual, que aconteceu sem integração com a disciplina de Estruturas I, os discentes demonstraram a clareza quanto à necessidade de planejar a obra arquitetural e durante o desenvolvimento da proposta, os aspectos materiais foram pontuados em todos os projetos, com maior incidência em alguns trabalhos que em outros.

Por fim, a utilização da maquete física desde o início de concepção do estudo até a apresentação final da proposta demonstrou ser um meio relevante para o aprendizado projetual nesta escola. Segundo o que foi observado, a sua função vai além de comunicar o projeto, colaborando para a reflexão crítica do que é desenvolvido.

4. INVESTIGANDO OS PROCESSOS PROJETUAIS E OS PRODUTOS DESENVOLVIDOS EM ATELIER DE PROJETO NO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN (2015.2)

Este capítulo apresenta o estudo de caso realizado no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CAU-UFRN), entre setembro e dezembro de 2015.

Como no estudo de caso realizado em Portugal, apresentado no capítulo precedente, os dados foram organizados em seis partes, as quais sistematizam a análise e partem da caracterização do ambiente da sala de aula, para a descrição da disciplina Projeto Integrado III, a percepção do professor de projeto, a análise dos dados decorrentes das retrospectivas dos produtos e os processos, além da análise dos produtos.

A seleção da disciplina no CAU-UFRN

Ao analisarmos a estrutura e ementário das disciplinas de projeto arquitetônico que compõem o CAU-UFRN, percebe-se que, da sua totalidade, duas são introdutórias e trabalham em sala de aula, noções essenciais ligadas à arquitetura, à criação de formas, de volumes e às relações de escala, entre outras questões fundamentais. Denominadas de Espaço e forma I e II, são oferecidas no primeiro ano do curso, sendo uma em cada semestre. Ao analisarmos as cinco ementas das demais disciplinas da área de projeto (Projeto de Arquitetura I, II, III, IV, V e VI), foi observado que em quatro delas é feita alguma menção a assuntos relacionados ao tema da materialização da obra41, seja apontando a necessidade de relacionar a forma com a estrutura do edifício e promover a estabilidade, seja alertando para a importância da incorporação de técnicas de racionalização e modulação no projeto e na obra, ou ainda, ao tratar das instalações complementares, fases de detalhamento, coordenação e gerenciamento do projeto.

Após análise42 da estrutura curricular do curso e dos seus demais documentos oficiais (projeto político-pedagógico, ementas e programas de disciplinas de projeto)

41 Existem menções nas disciplinas de Projeto de Arquitetura I, III, IV e VI.

42 Não foi necessário realizar uma investigação de aproximação no CAU-UFRN tendo em vista que o

pesquisador, além de ter estudado na instituição, também exerceu atividades de professor substituto em anos anteriores, fazendo com que houvesse uma compreensão maior do cenário local.

e levando em consideração a pesquisa realizada na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, optou-se por realizar a investigação na disciplina Projeto de

Arquitetura III que, atualmente, é oferecida em atelier integrado no quinto período do

curso juntamente com os componentes curriculares denominados como Planejamento e Projeto Urbano e Regional III e Planejamento da paisagem I.

Quanto à disciplina de projeto, foco principal desta etapa da pesquisa, ela foi conduzida pelo Professor Doutor Marcelo Bezerra de Melo Tinôco e, segundo a identificação do componente curricular disponível, possui uma carga-horária de 75 horas-aula. Os seus objetivos apontam para a elaboração de uma proposta arquitetônica em nível de anteprojeto “com ênfase para a racionalização da proposta em termos de coordenação modular e metodologia de projetação” (CAU-UFRN, 2006, p.1). Observa-se a preocupação com as questões construtivas e tecnológicas na reflexão e na elaboração do projeto de arquitetura, o que é reiterado pela ementa, que se refere a uma busca de soluções que reflitam um processo projetual voltado para a economia, a modulação e a aplicação das tecnologias construtivas.

Acredita-se que, para promover uma melhor análise comparativa entre os casos estudados, apesar das diferenças entre as duas escolas, deveriam existir características comuns às disciplinas. Deste modo, assim como no caso português, a temática abordada nesta etapa do terceiro ano também foi o projeto de habitação multifamiliar. Entretanto, o curso brasileiro analisado se diferenciou por voltar o olhar especificamente para o projeto do edifício habitacional com fins sociais. O modo de estruturação das aulas de projeto, inseridas em um atelier com outras disciplinas e a elaboração do trabalho em grupo, também se caracterizou como um dos diferenciais do caso do CAU-UFRN. Ainda que os contextos locais, as exigências culturais, tecnológicas, inclusive climáticas também diferissem, considerou-se que o foco da pesquisa na ocorrência das entradas de questões tecnológicas-construtivas na concepção projetual no processo de projeto permitiram, ao final desse trabalho, uma discussão comparativa.