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5. EXPERIÊNCIAS DE ENSINO: ESTIMULANDO A REFLEXÃO QUANTO À

5.2.1 Segunda experiência didática: oficina de projeto

Neste segundo momento de aplicação desta abordagem, o curso foi montado em forma de oficina de projeto e realizado durante quatro dias da programação da semana acadêmica de arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, entre os dias de 19 a 22 de outubro de 2015.

O evento 47 , organizado por estudantes da graduação, contou com a participação de alunos de três instituições de ensino de arquitetura de Natal, sendo uma pública e as demais privadas (respectivamente Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Potiguar e Centro Universitário Facex). A atividade foi denominada como oficina de projeto e recebeu o título: Refletindo sobre a escala técnica no processo de projeto (Figura 119).

Figura 119 – Oficina em andamento durante a semana acadêmica do CAU-UFRN.

Fonte: Acervo do autor.

Contou com a participação de dez alunos que, voluntariamente, participaram da atividade de projeto. Deste total, quatro eram alunos matriculados no CAU/UFRN e três estudantes de cada um dos outros dois cursos. Quanto ao perfil dos

47 Evento anual promovido pelo Centro Acadêmico dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo do CAU-

UFRN com apoio do Departamento do curso. É composto por atividades diversas como oficinas, palestras e vivências com inscrições abertas também para estudantes de outras instituições.

participantes, três alunos cursavam o quarto período, cinco encontravam-se no quinto período e dois estavam em fase mais avançada, sendo um no sexto e outro no oitavo período da formação. Vê-se, no entanto, que a maioria dos participantes se encontravam no segundo ou no terceiro ano do curso.

Foi detectado que apenas um integrante da atividade já havia cumprido as disciplinas da área tecnológica de seu curso. Ou seja, a grande maioria, por ainda se encontrar em fase inicial da formação em Arquitetura e Urbanismo, não havia se aprofundando quanto a teoria e a prática do conteúdo técnico-construtivo presente nas estruturas curriculares das suas respectivas escolas.

As atividades ocorreram nas dependências da própria Universidade Federal do Rio Grande do Norte e em sala de aula idêntica à da aplicação anterior e sob condições semelhantes. Além da redução da carga horária e, consequentemente, da diminuição do conteúdo para se ajustar ao tempo disponível, outra alteração em relação à experiência do ano anterior foi a mudança no horário da aplicação (em horário vespertino) e a disponibilização de materiais que estimulassem a confecção de maquetes físicas de concepção como o papel “paraná” (escolhido devido a sua maior gramatura) e a massa de modelar. Com este material disponível sobre as pranchetas, pretendeu-se estimular a elaboração de estudos em maquetes físicas, permitir a exploração formal e, logo, contribuir para uma melhor visualização das ideias iniciais, o que pode ser essencial no processo projetual. No entanto, a oficina não definiu o uso da maquete física como exigência de trabalho, nem tão pouco o desenho à mão livre ou o uso de ferramentas computacionais. Mais uma vez, permitiu que os participantes se expressassem da maneira que lhes fosse conveniente, evitando, desta maneira, tolher os seus processos criativos.

Outra diferença em relação a experiência passada foi a mudança quanto ao perfil do aluno participante. Nesta ocasião, não se configurou como requisito fundamental para a oficina (e, consequentemente, para a pesquisa em execução) que o discente se apresentasse em fase avançada do curso e já contasse com a integralização das disciplinas relacionadas as tecnologias da construção. Essa alteração permitiu diversificar os alunos quanto a este aspecto e possibilitou, além da troca de informações entre os estudantes de estágios diferentes, incentivar, nos mais jovens, a preocupação com a materialidade da obra arquitetônica. A mudança de estratégia na pesquisa buscou identificar a possibilidade de adoção dessa abordagem

em períodos iniciais da formação do arquiteto e urbanista, estimulando este raciocínio na concepção projetual o mais cedo possível no quadro dos cursos.

A partir do dia 19 de outubro de 2015, foram realizados quatro encontros em dias consecutivos, com duração de quatro horas em cada ocasião. Como a primeira experiência, a oficina pode ser caracterizada como dividida em duas partes, sendo composta por uma seção teórica e outra voltada para a prática da projetação. A primeira parte tratou da apresentação do conceito da escala técnica segundo Boudon (2001) e a importância de refletir sobre as relações entre arquitetura e construção. Estes debates, associados a uma exposição sobre a influência da resolução formal nos custos da obra e na sua execução, definiram a teoria abordada junto aos participantes. Esta última discussão foi baseada em O custo das decisões

arquitetônicas, de Mascaró (2004) e posicionada na programação da oficina, de modo a estimular a reavaliação do produto em desenvolvimento pelos participantes, fazendo com que o processo fosse analisado com o intuito de ampliar o planejamento e uma possível racionalização da obra arquitetônica.

Quanto à segunda parte, esta apresentou um caráter prático, que foi definido pela solicitação do desenvolvimento de uma proposta de projeto em nível de estudo preliminar, porém, com definições mais aprofundadas quanto aos aspectos materiais do artefato arquitetural. Vê-se que o eixo principal da experiência passada foi mantido, apenas tendo sido realizadas adaptações no dimensionamento do conteúdo teórico e nos métodos empregados visando se adequar ao novo formato.

O exercício de concepção realizado nesta segunda edição manteve a mesma temática da atividade final da experiência passada: um estudo para um espaço de reuniões religiosas com capacidade para cem pessoas, em lote urbano da cidade de Natal. Deve-se ressaltar que o terreno para a implantação também foi o mesmo utilizado na edição passada e que esta repetição das características do exercício pretendeu identificar aspectos comuns nas soluções desenvolvidas e possibilitar discussões comparativas entre os resultados.

5.2.2 Atividades desenvolvidas

A respeito do encaminhamento das ações didáticas, a primeira atividade foi novamente sondar o entendimento prévio da relação entre arquitetura e construção

segundo os próprios alunos. Em seguida, a apresentação teórica sobre a escala técnica segundo Boudon (2001) foi aplicada à atividade que tentava relacionar este conceito a um edifício conhecido dos participantes, presente no seu repertório pessoal de projetos e de soluções arquitetônicas locais ou ainda resultado de pesquisas anteriores em sua vida acadêmica.

A análise das respostas da primeira tarefa demonstrou que há um consenso a respeito da ligação essencial entre a arquitetura e a construção. Para os alunos, a arquitetura precisa da construção, ainda que o inverso não seja necessário como está expresso em uma das respostas: “a arquitetura é o conceito e o guia que vai nortear

a construção”. É considerada pelos discentes uma associação direta e intrínseca. De

acordo com os dados coletados nesse exercício de sondagem, trata-se de “um

princípio de projeto(...) por vezes limitante, por vezes encorajador”. Assim, percebe- se que as afirmações positivas apontam para uma compreensão adequada desta relação e já incorporam esse sentido na compreensão do próprio processo de projeto e na relação com a sua execução.

Quanto ao exercício de associação entre o conceito e o exemplar arquitetônico, os participantes identificaram a escala técnica atuando globalmente em algumas edificações. Dentre estas, foram citadas a catedral metropolitana de Natal, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), a torre Eiffel e o Metropol Parasol de Sevilha, na Espanha (Figuras 120 e 121).

Figura 120 – Identificação da presença da escala técnica em obra de referência: MASP.

Figura 121 – Croqui da Catedral Metropolitana de Natal com ênfase para o sistema de vigamentos.

Fonte: Elaborado por um aluno. Fotografia do autor, 2015.

Sabemos que estes projetos possuem um forte apelo quanto a estrutura, enquanto elemento essencial para a definição projetual, o que torna evidente a atuação dessa medida de ordem técnica nestas obras.

Houve ainda uma referência ao centro comercial Midway Mall de Natal, que foi citado por um dos participantes, devido a sua execução em sistema pré-moldado de concreto. Neste caso, a atuação da escala técnica foi identificada agindo tanto globalmente (na configuração geral do edifício) como de maneira local, nos elementos de vedação realizados em painéis pré-fabricados (Figura 122).

Figura 122 – Croqui de um shopping-center localizado em Natal com destaque para os elementos pré-moldados.

Fonte: Elaborado por um aluno. Fotografia do autor, 2015.

Como na edição passada, a atividade de reflexão em obras conhecidas pelos participantes proporcionou o estabelecimento de uma ligação entre o conceito

abordado e as suas referências pessoais, o que foi considerado útil para a cognição desta noção.

A atividade de análise de projetos e obras, que havia sido aplicada com êxito na experiência anterior, aconteceu desta vez de maneira condensada, a partir da leitura e interpretação de textos, imagens e representações de obras e projetos selecionados. Cada participante recebeu um artigo sobre uma obra e assim foram estudados exemplos nacionais e internacionais dentro da temática trabalhada. Ao fim dessa atividade, foram apresentadas as principais características dos projetos cuja leitura analítica era conduzida a partir de um roteiro que indicava a necessidade de refletir sobre as questões funcionais, estéticas e, sobretudo, técnicas. EsTas informações foram compartilhadas com todos os participantes em “mesa redonda” e a ação enriqueceu a formação de repertório arquitetônico da turma, tendo sido observado posteriormente a adoção de soluções similares em um dos projetos realizados (Figura 123).

Figura 123 – Apresentação e discussão conjunta com os participantes.

Fonte: Acervo do autor.

A seguir, no decorrer das atividades, os alunos deram início ao processo de projeto fazendo uso de desenho à mão livre e, de modo espontâneo, de estudos volumétricos em maquetes físicas. Tendo em vista a limitação do número de horas da oficina, os participantes não dispuseram de muito tempo para alterar as propostas iniciais. Sendo assim, desenvolveram os seus conceitos e as suas propostas realizando ajustes, otimizando as soluções, racionalizando os elementos constitutivos ou a forma do edifício (Figura 124).

Figura 124 – Alunos realizando os seus estudos projetuais.

Fonte: Fotografia do autor, 2015.

Deste modo, foi mantida a intenção de realizar exercícios de concepção com o prazo curto, considerando-se que o exercício projetual teve o seu período de realização ajustado para um intervalo menor de tempo. Este ajuste atendeu a principal crítica presente na experiência passada, quando foi apontado que o prazo para o exercício final tinha sido muito alargado, o que fez diminuir o ritmo e a dinâmica do processo.

No terceiro dia de atividades, durante a fase de projetação e após a primeira entrega e apresentação do material desenvolvido até então, abriu-se um “parêntese” na etapa de desenvolvimento das atividades práticas para a realização de uma apresentação teórica sobre o tema do planejamento da obra, baseado em Mascaró (2004). Este foi o momento de discutir junto aos participantes como a racionalização de soluções projetuais interferem no custo e na execução dos serviços. No dia seguinte e como tarefa final do atelier, os estudantes foram estimulados a pensar em como seria possível adotar medidas capazes de racionalizar os seus projetos e, por fim, ajustar as suas ideias para a apresentação final do workshop.

Como exemplos de ações tomadas, constatou-se a tentativa de racionalizar as formas dos pilares presentes no projeto de um centro ecumênico, com estrutura em concreto ou a criação de módulos para o dimensionamento de painéis verticais de fechamento em outra proposta. No primeiro caso, as tentativas de refletir sobre a questão estrutural se associaram à preocupação com a proporção da forma da edificação, principalmente quanto à altura do edifício. Os estudos foram realizados em

croquis à mão livre, mas a decisão final quanto as decisões tomadas foram facilitadas pelas maquetes físicas realizadas (Figuras 125 e 126).

Figura 125 – Tentativas de racionalizar a estrutura do projeto e preocupação formal.

Fonte: Fotografia do autor, 2015.

Figura 126 – Tentativas de racionalizar a estrutura: modulação para a fachada.