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5. EXPERIÊNCIAS DE ENSINO: ESTIMULANDO A REFLEXÃO QUANTO À

5.1.3 Avaliação dos resultados da primeira experiência

O curso, avaliado ao fim do semestre, se caracterizou como uma experiência com aspectos positivos e outros que merecem ser aperfeiçoados para uma segunda aplicação.

Dentre os pontos positivos mencionados, foram citados: os exercícios de concepção projetual; a sua aplicação logo em seguida aos conteúdos discutidos (durante as mesmas aulas); o estímulo ao processo e não ao produto em si, além do incentivo à representação através dos croquis de estudo à mão livre. As críticas foram direcionadas à atividade final de projeto em função do seu caráter mais tradicional de desenvolvimento, com quatro semanas para o seu desenvolvimento. Entretanto, a ideia original era, ao fim do semestre, simular o atelier convencional de projeto para acompanhar o processo e analisá-lo junto ao produto final.

A partir do acompanhamento dos percursos projetuais dos discentes e da análise dos resultados finais obtidos pelos alunos, observa-se que o objetivo da disciplina foi alcançado, tendo em vista a reflexão mais aprofundada sobre a importância da relação arquitetura e os seus aspectos técnico-construtivos. Tal fato se tornou evidente desde a fase de elaboração dos croquis de concepção até as propostas finais apresentadas pelos alunos (Figuras 112 e 113).

Além disso, os discursos presentes nas justificativas e memórias da maioria dos projetos desenvolvidos também evidenciaram essa preocupação. Foi possível perceber que a atenção conferida pelos discentes aos aspectos técnico-construtivos em seus projetos também funcionou como estímulo à criatividade para a resolução dos problemas apresentados.

Figura 112 – Templo Budista: Processo de projeto e importância dada à resolução do sistema de cobertura.

Figura 113 – Templo Budista: apresentação com detalhes da cobertura e estrutura.

Fonte: Trabalho final de um aluno – Fotografia do autor, 2014.

No caso da proposta desenvolvida para um centro ecumênico, percebe-se que a ideia original parte de uma forma circular que, de acordo com as imagens do processo, é racionalizada e transformado em octógono (Figura 114).

Figura 114 – Croquis de concepção indicando estudos formais iniciais para templo.

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A escolha deste partido, segundo o autor da proposta, deveu-se à simbologia para a qual o círculo aponta, de união e perfeição, mas se justificou pelo fato desse formato apresentar o melhor índice de compacidade, como visto na aula que abordou o custo das decisões arquitetônicas, segundo Mascaró (2004).

Nota-se também a almejada expressividade do sistema estrutural que já é antecipada nos croquis de concepção (Figura 115) e esclarecida no trabalho final (Figura 116).

Figura 115 – Indícios de expressividade estrutural nos croquis de concepção.

Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.

Figura 116 – Templo ecumênico: apresentação final.

A proposta apresenta indicações de materiais que compõem o volume arquitetônico, com justificativas expostas na apresentação oral para as escolhas realizadas. De acordo com o aluno, a seleção dos materiais visa a envolver a comunidade residente nas proximidades, sugerindo a ideia de mutirão para a construção do templo. Além disso, as características funcionais dos materiais selecionados garantem uma maior vida útil durante a sua fase de operação.

Em outra proposta para um templo budista, vemos a atuação da escala simbólica (Boudon, 2001) no projeto por meio da incorporação de um elemento natural como ponto referência à história da vida de Buda, denominada pelo aluno de árvore da meditação (Figura 117).

Figura 117 – Estudos iniciais para um templo budista com atuação da escala simbólica.

Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.

Em função das aparentes dificuldades encontradas ao pensar o planejamento da obra arquitetônica, o aluno foi estimulado a refletir sobre os possíveis modos de execução da estrutura. Ao apresentar o resultado final, indica esquematicamente o tipo de estrutura (casca) com destaque para croqui de detalhe da estrutura. Vê-se também na proposta final a representação da fundação do templo budista (Figura 118). Sua proposta inicial, de pintar toda a estrutura na cor preto com tinta lavável, é

discutida em sala de aula, apontado os problemas que podem ser advindos da pouca durabilidade e necessidade de manutenção deste acabamento. Ao fim do exercício, demonstrando uma reflexão sobre o problema, o aluno sugere a utilização de um pigmento ou de aditivos capazes de conferir cor ao concreto, na sua fase de fabricação.

Figura 118 – Apresentação final da proposta de um templo budista. Esquemas de detalhes construtivos e indicações de materiais.

Fonte: Trabalho final de um aluno. Fotografia do autor, 2014.

Foi visto que ter promovido a associação da teoria apresentada em sala de aula com as referências arquitetônicas pessoais, fruto das vivências dos alunos, colaborou no processo de cognição do conteúdo teórico discutido, tornando possível estabelecer relações menos abstratas e mais objetivas quando se analisaram obras e projetos.

A utilização de pequenas tarefas de projetação, por meio dos exercícios de concepção relacionados às discussões teóricas, também permitiu aplicar diretamente as discussões na atividade do atelier, fazendo os alunos refletirem imediatamente no processo de análise e síntese projetual. Mesmo que para isso precisassem desconstruir o trabalho feito em exercício anterior, visando a promover uma adaptação

a uma nova ou complementar discussão. No caso deste curso, isso aconteceu quando foi preciso pensar a racionalização e o melhor planejamento do projeto que havia sido desenvolvido em aula anterior.

Para uma segunda experiência, observou-se que seria necessário ampliar a variação da escala no processo de concepção projetual, almejando a alcançar maior aprofundamento quanto aos pormenores e detalhes no exercício do atelier, estimulando ainda mais o aluno em direção a um pensamento mais global do projeto, que proceda do geral para o particular ou que venha a acontecer até mesmo de maneira inversa. Em uma segunda aplicação da disciplina, pretende-se, também, restringir mais o tempo para a elaboração da proposta final. As quatro aulas originalmente destinadas a esta atividade poderiam ser divididas em duas etapas.

Por fim, sabemos que o exercício de estudos de precedentes é fundamental. No entanto, reafirma-se aqui a importância de incorporar a análise de projetos e de obras construídas na prática do ensino do laboratório de projeto, objetivando não apenas a composição de repertório de soluções, mas como estímulo à pesquisa e a reflexão crítica quanto aos produtos, identificando aspectos positivos e negativos das obras estudadas.

Faz-se necessário direcionar o olhar do discente para uma investigação quanto ao processo de concepção do artefato arquitetônico, por meio de roteiro de análises e, sempre que possível, a realização de discussão com os demais participantes do curso sobre estas, a fim de compartilhar e construir um pensamento crítico. Acredita- se que quanto mais se discute sobre o projeto e os seus processos, mais se retira o véu que paira sobre o ato da projetação, ultrapassando ainda mais a velha ideia da “caixa preta” e do gênio criador (SILVA, 1986).

Segunda experiência didática (CAU-UFRN, 2015.2).

A segunda aplicação da abordagem didática aconteceu no segundo semestre de 2015 e foi aplicada em um formato diferente da primeira experiência realizada. De acordo com as observações realizadas pelos participantes na avaliação final da disciplina, quando se deu a primeira aplicação, optou-se por manter o foco na discussão da escala técnica segundo Boudon (2001), no debate sobre a importância de refletir sobre a materialização da obra, na análise de referências arquitetônicas,

nos seus aspectos construtivos e na realização de uma atividade projetual em um período de tempo mais concentrado.