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5 A EDUCAÇÃO EMOCIONAL E RELACIONAL NA ABA: OLHAR E

5.2 ANÁLISE GERAL DAS ENTREVISTAS REALIZADAS

À guisa de uma análise generalizada, apresentaremos abaixo os principais elementos apontados pelos professores e gestora, participantes da aplicação das

atividades de aprendizagem emocional e relacional, sobre a experiência da implementação durante os anos de 2013 e 2014.

Das entrevistas finais, tentamos extrair suas percepções sobre: o que consideraram fundamental existir na relação de ensino-aprendizagem em uma abordagem socioemocional; as mudanças que perceberam no comportamento das crianças; que tipo de perfil o educador deve ter para ensinar sobre emoções e relações; quais os pontos fortes e fracos do currículo PATHS; e, quais foram os impactos provocados em suas práticas docentes:

Quadro 5 – Percepção geral dos educadores sobre a implementação

Fonte: Elaboração própria (2016)

No desenvolvimento emocional e relacional, compreendemos a relação como o aspecto basilar para a constituição de uma aprendizagem formativa humana, desse modo, alguns elementos são cruciais no ensino para que tal tipo de desenvolvimento propicie um aprendizado estruturado. Em se tratando de uma relação, pressupomos que é necessário haver uma conexão que una aquele que ensina e a quem é dirigida a aprendizagem. Sobre isso, os educadores destacaram que na relação ensino- aprendizagem pautada no desenvolvimento emocional e relacional, professores e

Elementos fundamentais na relação ensino-aprendizagem

Diálogo, confiança, atenção, saber ouvir.

Mudanças nas crianças

Habilidade de comunicação, identificação dos sentimentos/enriquecimento no vocabulário sobre os sentimentos, abertura para falar sobre si mesmo, autocontrole pautado no recurso da respiração.

Perfil de educador

Autocontrolado, coerente, presente, disponível, motivado, precisa gostar do que faz, ser bom observador, ser honesto quanto aos próprios sentimentos, estar disposto a se autoconhecer e refletir sobre seus próprios sentimentos.

PATHS

Pontos Fortes

A literatura PATHS, a forma de apresentar as emoções, o modelo de práticas, a organização sistemática, os conceitos sobre os sentimentos.

Pontos Fracos A didática norteamericana, a linguagem infantilizada, as fotografias, as ilustrações.

Impactos na prática docente

Impulsividade menos intensa (autocontrole), vínculo com os alunos, relacionamentos com os colegas, maturidade emocional, bem-estar emocional (meditação).

alunos devem estar abertos ao diálogo, à confiança, ter e dar atenção e saber ouvir. Esse tipo de clareza, fez com que os educadores participantes da implementação buscassem pautar suas relações baseadas nos elementos expressos.

Sobre as mudanças que as crianças apresentaram ao longo do processo ocorrido nos dois anos, os educadores manifestaram a dificuldade de verificar e afirmar com precisão o que foi consolidado como vicissitude no comportamento e nas atitudes das crianças, tendo em vista que não acompanharam todas no período da pesquisa por mudanças nas turmas e/ou por ser algo de natureza muito sutil e que requer tempo mais extenso para que o aprendizado seja evidente. Apesar disso, estando com e acompanhando o dia-a-dia das crianças na rotina da ABA, os educadores se sentiram seguros para indicar ponderações sobre modificações percebidas. Para eles, as crianças desenvolveram: a) habilidade de comunicação, posto que as aulas faziam um convite a apresentar opiniões, interpretações, dramatizações sobre diversos contextos relacionais à medida que iam aprendendo os sentimentos, aperfeiçoando o modo de se comunicar com o grupo; b) identificação dos sentimentos/ enriquecimento no vocabulário sobre os sentimentos, tendo em vista que aprender a dar nome àquilo que se sente facilitou a identificar o surgimento de determinadas emoções, repercutindo no vocabulário sobre os sentimentos; c) abertura para falar sobre si mesmo, pois, as crianças se sentiram em um ambiente seguro para compartilhar experiências emocionais pessoais com sua turma; e, d) autocontrole pautado no recurso da respiração, uma prática que se tornou comum nos momentos em que as crianças identificam a presença de emoções desconfortáveis, se sentem provocadas e confrontadas.

Conforme os educadores foram se apropriando dos conteúdos do programa, perceberam que para ser um professor comprometido com a educação emocional e relacional, certo perfil docente é necessário, do contrário, pode repercutir negativamente no ensino. Sob o prisma do grupo, o perfil de educador ideal para ensinar sobre as emoções e os relacionamentos deve apresentar autocontrole, coerência, presença, disponibilidade, motivação, precisa gostar do que faz, ser bom observador, ser honesto quanto aos próprios sentimentos, estar disposto a se autoconhecer e refletir sobre seus próprios sentimentos.

Durante a experiência, os educadores puderam estudar e se aproximar da linguagem do currículo PATHS, utilizando as lições para inspirar o modelo de atividades que denominaram PRODESE. Diante da familiarização com o material

pedagógico, solicitamos que os educadores julgassem os pontos fortes e fracos do PATHS mediante a vivência ocorrida na ABA. De acordo com suas colocações, os pontos fortes são: a literatura (discussão teórica, bases psicológicas e filosóficas, esclarecimentos sobre o tema trazidos no manual do professor), a forma de apresentar as emoções (como se expressa facialmente, possíveis situações, atividades, estímulo a opiniões pessoais), o modelo de práticas (como a Técnica da Tartaruga, os Três Passos, os Sinais de Controle, os 11 Passos para Resolução de Problemas), a organização sistemática (lições seguindo um script, sequência das emoções apresentadas nas lições), os conceitos sobre os sentimentos. No tocante aos pontos fracos do currículo PATHS, os educadores indigitaram: o estilo da didática norteamericana (repetição excessiva sobre algumas ideias), a linguagem infantilizada (sobretudo, em relação à soletração de palavras, cuja justificativa já foi evidenciada na análise de P2), as fotografias e as ilustrações (algumas não apresentam expressões que contribuem para a compreensão da emoção estudada).

No que diz respeito aos impactos na docência, sob seus próprios olhares, os educadores expuseram perspectivas positivas com o trabalho realizado nos dois anos de implementação. Os principais pontos levantados foram: impulsividade menos intensa (um autocontrole mínimo desenvolvido que contribuiu para a percepção dos impulsos e o cuidado com o modo de expressão nas atitudes), vínculo com os alunos (a educação emocional e relacional os aproximou das crianças, fato que revela mútua aceitação e confiança), relacionamentos com os colegas (o momento das Quartas Filosóficas caucionou escuta das experiências, parceria na elaboração das atividades, troca de ideias, gerando um clima de integração entre os professores), maturidade emocional (discernimento sobre os sentimentos presentes em si e nos outros), e, bem- estar emocional.

Sobre o bem-estar emocional, consideramos que tenha sido um impacto indireto, haja vista que a menção a essa repercussão positiva se refere a algo gerado pela prática de meditação. A meditação foi trazida à rotina do grupo de educadores como sugestão do presidente da instituição, logo, não estamos associando o bem- estar emocional dos professores com a implementação em si, embora a atividade meditativa tenha sido introduzida como uma preparação para desenvolverem a educação emocional e relacional.

Diante das elucidações dos educadores, ponderamos que a implementação da aprendizagem socioemocional na instituição ABA trouxe benefícios à prática docente,

despertando o grupo para uma comunicação empática que concedeu uma abertura ao autocontrole e à compreensão emocional entre os pares. De acordo com Casassus (2009), a compreensão emocional entre pessoas é evidenciada quando existe uma comunhão de interesses e compromisso mútuo, equilíbrio nos afetos, consideração à experiência do outro no agir, e, tais elementos são possíveis de serem vislumbrados na integração afluída entre os educadores que, em unanimidade, perceberam o progresso no relacionamento interpessoal da equipe.

Outro ponto de destaque em suas percepções foi em relação às mudanças nas crianças, conquanto não se tenha uma averiguação que corrobore tais apontamentos. Todos os educadores apreciaram a identificação dos sentimentos e o aumento do vocabulário emocional como modificações ocorridas nas crianças. Segundo suas experiências, elas adquiriram um conhecimento sobre o próprio repertório emocional, capacitando-lhes para identificar com mais facilidade a presença dos sentimentos em diversas situações. De algum modo, as ponderações da equipe pedagógica anunciam a construção de uma base para um profícuo desenvolvimento emocional e relacional a ser consolidado na formação das crianças.

6 OBSERVAÇÕES DA PESQUISADORA SOBRE O PROCESSO DE