O PATHS e seus resultados empíricos

A partir dos objetivos descritos, os autores do PATHS acreditam que ensinar as crianças tais habilidades socioemocionais, desde a fase em que adentram no espaço escolar, evita problemas futuros, como a dificuldade de lidar com emoções impulsivas e aflitivas. Embora o PATHS apresente conexões com a formação da vida humana singular e relacional a partir das práticas que têm a intenção de desenvolver as emoções humanas associadas aos modos de agir e de se relacionar intra e

interpessoalmente, algumas fontes de pesquisas também investigam a respeito da aprendizagem socioemocional a partir de evidências baseadas no aumento do nível do desempenho acadêmico dos alunos.

Schonfeld et. al (2014), por exemplo, realizaram uma pesquisa aleatória durante 4 anos, envolvendo 24 escolas de um distrito estadunidense, com 702 alunos no grupo de intervenção e 692 no grupo controle. O instrumento utilizado para avaliar os resultados foi o State Mastery Test, uma espécie de teste da administração do estado norteamericano que anualmente é aplicado para medir a capacidade dos alunos de usar suas habilidades de resolução de problemas para as tarefas acadêmicas em matemática, leitura e escrita, evidenciando o limite da investigação ao exame da contribuição potencial da SEL, por meio do PATHS, para o desempenho acadêmico. O estudo longitudinal verificou que a probabilidade de o grupo de intervenção obter proficiência em leitura e escrita e obtenção de maiores notas em matemática foi quase duas vezes maior que o grupo controle.

Provavelmente, a aprendizagem socioemocional promovida pelo PATHS pode contribuir para o desempenho acadêmico, como mostraram Schonfeld et al. (2014). Por exemplo, estratégias ensinadas para solucionar problemas interpessoais, como identificar um problema, estabelecer metas em relação ao mesmo, gerar respostas apropriadas, avaliar resultados, etc., podem ser utilizadas para avaliar e conduzir problemas acadêmicos. Além do mais, a estrutura do programa também fornece atividades que capacitam o professor a melhorar a relação professor-aluno, estimulando os alunos a se aproximarem dos professores caso necessitem de uma assistência na aprendizagem, o que aumenta o interesse no processo de ensino- aprendizagem.

Como resultado, a combinação de desenvolvimento socioemocional dos alunos, com a abertura para o ensino por parte dos professores, e, a gestão da sala de aula a partir de um ambiente mais favorável, possivelmente, atinge positivamente o desempenho acadêmico, embora este não seja o principal objetivo da educação emocional. A educação das emoções não trata de um conhecimento que se destine apenas ao enfoque da aquisição de habilidades socioemocionais, mas, de um tipo de educação que integra professor-aluno para um caminho de autodescoberta e transformação pessoal. Logo, os possíveis efeitos positivos no desempenho acadêmico são um desdobramento secundário e não a finalidade do processo, uma vez que o princípio genuíno que permeia os objetivos centrais desse tipo de saber

converge para a formação do humano em sua integralidade, isto é, o homem que não apenas pensa, mas que também sente, pensa sobre o que sente, age e se relaciona consigo e com os outros, que vive em um mundo de relações.

O PATHS já foi traduzido para o holandês, francês, espanhol, alemão, croata, italiano, urdu, turco, e, mais recentemente, para o português. Estudos publicados sobre a implementação e/ou a eficácia do PATHS no Reino Unido (CURTIS; NORGATE, 2007; KELLY et al., 2004; WAGNER et al., 2012), na Croácia (KRUŠELJ, 2014), na Alemanha (EISNER; JÜNGER; GREENBERG, 2006) e na Turquia (ARDA; OCAK, 2012) relatam que o programa curricular proporciona melhorias significativas quanto à compreensão das emoções, à fluência nas discussões sobre os sentimentos, à gestão das emanações emocionais e ao clima escolar positivo. Além desses estudos, merecem destaque algumas pesquisas realizadas no contexto norte-americano que corroboraram o êxito que o programa proporciona no desenvolvimento das emoções e relações dos alunos.

Crean & Johnson (2013), por exemplo, acompanharam durante três anos alunos de 14 escolas no nível elementar (Fundamental I, no Brasil) em uma pesquisa que evidenciou o progresso das crianças por meio da mudança no clima da escola, constatando que o PATHS alterou significativamente o desenvolvimento do comportamento das crianças participantes. Ao final do terceiro ano da pesquisa, os resultados indicaram que o PATHS contribuiu positivamente na redução do comportamento agressivo, entretanto, a pesquisa não conseguiu assegurar se tais mudanças evidenciadas serão de longa duração e/ou poderão ser estendidas para outras esferas da vida dos alunos. Os pesquisadores pontuaram ainda que o currículo foi um dos sete programas selecionados pelo Institute of Education Sciences (IES) and the Centers for Disease Control and Prevention (CDC) na avaliação nacional

(EUA) do Social and Character Development Research Program (SACD)28_.

Em uma outra pesquisa, Domitrovich, Cortes e Greenberg (2007) avaliaram o PATHS em 20 salas de aula de educação infantil em duas comunidades na

28 _{O IES e o CDC são instituições parceiras que integram pesquisadores e colaboradores com o fim de}

desenvolver conhecimentos, informações e ferramentas para proteger e promover a vida saudável e prevenir eventos que possam ameaçá-la. O SACD é um programa do IES que avalia sistematicamente programas escolares para fornecer evidências quanto à eficácia de tais programas, pautadas pelo rigor científico. Disponíveis em: <http://www.cdc.gov/>; <http://www2.ed.gov/about/offices/list/ies/social.html> . Acesso em 11 jul. 2015.

Pennsylvania, nas quais parte desenvolveu o currículo por nove meses e as demais funcionaram como grupo controle. Por meio de uma análise de avaliações realizadas com as crianças, os pais e os professores, foram evidenciados resultados indicativos de aumento de habilidades referentes à compreensão emocional e social das crianças que participaram da intervenção PATHS. Tal achado demonstrou que o PATHS é um componente curricular que além de contribuir para a redução/prevenção da agressividade e indisciplina, propicia aos primeiros anos da vida escolar a construção de competências socioemocionais fundamentais à essa fase da infância, integrando afeto, comportamento e entendimento cognitivo. Os pesquisadores também averiguaram que o grupo de intervenção demonstrou melhor vocabulário emocional, maior precisão na identificação dos sentimentos e apresentou baixos escores de raiva. Contudo, quanto à resolução de problemas não houve diferença entre os grupos. Já na análise dos dados sob o olhar dos professores, os alunos revelaram significativo desenvolvimento na cooperação e na consciência emocional.

Outra comprovação científica da eficácia do PATHS foi elucidada por uma

grande pesquisa desenvolvida pelo Conduct Problems Prevention Research Group29

(CPPRG) que envolveu 180 salas de aula de escolas pertencentes a comunidades norteamericanas de alto risco (CPPRG, 1999). Nas escolas em que houve intervenção, os professores do Grade 1 (1º ano do Ensino Fundamental I) trabalharam com 57 lições que focaram as categorias de autocontrole, consciência emocional, relacionamento com os colegas e resolução de problemas. No final do Grade 1, os alunos do grupo de intervenção apresentaram escores de comportamento agressivo inferior aos do grupo controle. As análises longitudinais compararam os estudantes que tinham recebido três anos de PATHS com os do grupo controle e demonstraram taxas significativamente menores quanto à desatenção, agressividade e desempenho acadêmico insatisfatório.

Riggs et al. (2006) sugerem que a eficácia do PATHS está na promoção do controle inibitório30 _{e na fluência verbal sobre as emoções. Segundo o pesquisador,}

29 _{O Conduct Problems Prevention Research Group é um grupo de pesquisa que pertence ao Fast} Track Project, um projeto de intervenção e pesquisa abrangente que se propõe a olhar como as

crianças se desenvolvem, fornecendo tutoria acadêmica e lições para desenvolver habilidades sociais e regular seus comportamentos. Disponível em: <http://www.fasttrackproject.org/>. Acesso em: 11 jul. 2015.

30 _{Controle inibitório consiste na capacidade de resistir a uma forte inclinação para fazer algo e, ao invés}

os programas de desenvolvimento socioemocional devem elaborar currículos que promovam a integração da função executiva31_{, do processamento verbal e da}

consciência emocional, aumentando o desenvolvimento das capacidades neurocognitivas, tendo em vista que as experiências e as relações das crianças afetam a organização, estruturação e desenvolvimento do cérebro.

Do ponto de vista científico, como visto, há várias pesquisas que atestam a eficácia do currículo PATHS, quanto ao seu escopo central, a saber: a) desenvolver a percepção consciente dos estados emocionais em si mesmo e nos outros; b) desenvolver a habilidade de expressar esses sentimentos em palavras; c) desenvolver a habilidade de acalmar-se quando estiver se sentindo emocionalmente agitado; d) desenvolver a habilidade de planejar com antecedência e considerar os efeitos que o comportamento pode causar nos outros; e) desenvolver empatia/compaixão pelos outros.

Para isso, Kusché e Greenberg (2012) desenvolveram várias estratégias pedagógicas para o desenvolvimento emocional e relacional das crianças. Vejamos a seguir, baseando-se no escopo do currículo PATHS, algumas atividades que se destacam e constituem modos de introduzir a formação humana no desenvolvimento das crianças.

3.2 DO LÚDICO À REALIDADE PRÁTICO-RELACIONAL: AS ESTRATÉGIAS