ATUAÇÃO PROFISSIONAL PÓS-CURSO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS
ROSÂNGELA FERREIRA DOS SANTOS
4. ANÁLISE e DISCUSSÃO dos RESULTADOS
4.2 Análise Inferencial
Foi aplicado o método de Análise Fatorial (AF) às variáveis que definem o perfil de egresso tanto na percepção de egressos como de estudantes. Atendidos os pressupostos da AF, com teste de KMO de 0,832 (acima de 0,5) e fixado o número de 4 fatores, as variações foram explicadas em 81,37% segundo resultado do SPSS (Total Variance Explained). Os fatores formados estão representados na Tabela 5, em parte confirmando o que se propõe no PPC de Administração Pública da instituição alvo da pesquisa.
Tabela 5 – Fatores de Perfil de Egresso para Estudantes e Egressos
Variáveis GPP com In-traempreen-
dedorismo Desenvol- vimento Pessoal/Or- ganizacional com Alcance do Público Metas de Desempe- nho por Indicadores Financeiros e Pesquisas Criativida- de e Desen- volvimento Interpes- soal
Estou disposto a mudar PROCESSOS para a melhoria do serviço
público em minha área. 0,762 0,411
Sinto-me SOCIALMENTE engajado em meu trabalho. 0,757 Considero o CLIMA ORGANIZACIONAL agradável em meu
trabalho. 0,717 0,449
Tenho perspectivas de desenvolvimento profissional em minha
área. 0,751 0,481
Sinto o desejo de contribuir para o desenvolvimento da organiza-
ção em que trabalho. 0,849
O produto/serviço ofertado pela minha organização é bem avalia-
do pelo seu público-alvo. 0,421 0,653 0,425
Estou disposto(a) a assumir riscos em meu trabalho para mudar o
que for necessário. 0,782
Quando a organização é conservadora, busco estabelecer novos
processos e/ou modelos de negócios. 0,513 0,6
Ajudo a explorar a última inovação tecnológica e adequar aos
processos organizacionais em meu trabalho. 0,814 Identifico necessidades de consumidores insatisfeitos e construo
processos e projetos com base nelas. 0,808 Oriento clientes/consumidores/cidadãos a questionar nossos
produtos/serviços objetivando a melhoria destes. 0,566 0,548 Encontro o modelo de negócios correto para lançar um produto/
serviço inovador. 0,554 0,697
Por meio de processos e projetos inovadores, influencio mudan-
ças econômicas com impactos sociais positivos. 0,571 0,558 Tenho autoridade formalizada no meu trabalho 0,718
Busco tomar a iniciativa na realização de um projeto / atividade 0,778 0,487
Tenho habilidades de relacionamento e de comunicação 0,505 0,726
Considero-me uma pessoa criativa 0,76
Sou líder de uma equipe 0,715
Sou orientado a cumprir metas 0,556
Na organização em que trabalho o desempenho é avaliado por
meio de indicadores financeiros. 0,875
Minhas decisões no trabalho são fundamentadas em pesquisas
com os consumidores dos produtos/serviços. 0,538 0,578
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: NOVAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA O ENSINO Capítulo 18
Conforme resultados da Tabela 5, o primeiro fator consistiu da Gestão de Processos e Projetos com Intraempreendedorismo. Trata-se da GPP já trabalhada como linha de formação específica, acrescentada de aspectos intraempreendedores. Diferente das perspectivas individuais, resultou o terceiro fator: “Metas de Desempenho por Indicadores Financeiros e Pesquisas”, permitindo explicar de uma forma mais clara como se pretende atender às expectativas do público e mensurar o desempenho organizacional.
Estabelecidos esses fatores gerais, eles foram correlacionados com os públicos de estudantes e egressos (Figura 3), para verificar a convergência de cada um. Os estudantes tiveram maior identificação com as linhas: “GPP com Intraempreendedorismo” e “Criatividade e Desenvolvimento Interpessoal”. Fatores pessoais e motivacionais, portanto, determinam a percepção de quem está em formação, permitindo moldar melhor quanto ao que se deseja de acordo com a filosofia do curso.
Entre aqueles que já concluíram, predominou o “Desenvolvimento Pessoal e Organizacional com Alcance do Público”. Em termos relativos, “Metas de Desempenho por Indicadores Financeiros e Pesquisas” foi mais forte entre egressos do que estudantes. Fatores de desempenho organizacional são, portanto, determinantes da percepção de efetivos egressos, e esse desempenho consiste do uso de indicadores financeiros e da realização de pesquisas que permitam conhecer a visão dos consumidores.
Figura 3 – Fatores de Perfil do Egresso na Percepção de Estudantes e Egressos
Fonte: SPSS 20 e MS Excel 2013. Elaboração própria com Dados da Pesquisa de Campo
Ao cruzar esses fatores com o perfil socioeconômico, identificou-se diferença significativa de médias em relação ao gênero (Figura 4), com teste de Mann-Whitney de 105. No caso, as mulheres são mais cordatas com o fator GPP com Intraempreendedorismo. (Intra)Empreender no setor público e lidar com a análise de processos e projetos foi uma característica mais feminina do que masculina entre os envolvidos na pesquisa.
0,24769 0,08504 0,10883 0,01754 -0,3 -0,2 -0,1 0 0,1 0,2 0,3 GPP com
IntraempreendedorismoPessoal/OrganizacionalDesenvolvimento com Alcance do Público
Metas de Desempenho por Indicadores Financeiros e Pesquisas Criatividade e Desenvolvimento Interpessoal Estudante Egresso
Figura 4 – Fator “GPP com Intraempreendedorismo” e Sexo dos Entrevistados
Fonte: SPSS 20 e MS Excel 2013. Elaboração própria com Dados da Pesquisa de Campo
Nas correlações entre os mesmos fatores e a idade, foi significativa e negativa a correlação entre o fator “Criatividade e Desenvolvimento Interpessoal” e a idade, sendo o fator de correlação de Spearman de -0,435 e significância de 0,006. A Figura 5 representa melhor essa tendência: quanto maior a faixa etária, menor foi a percepção de criatividade que leva ao desenvolvimento pessoal e organizacional.
Figura 5 – Fator “Criatividade e Desenvolvimento Interpessoal” e Idade dos Entrevistados
Fonte: SPSS 20 e MS Excel 2013. Elaboração própria com Dados da Pesquisa de Campo
-0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0 0,1 0,2 0,3 0,4 Feminino Masculino -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0 0,1 0,2 0,3 0,4
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: NOVAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA O ENSINO Capítulo 18
Quando se compara quem afirmou exercer atividade na área ou não com os fatores de perfil do egresso, houve correlação (de Spearman) significativa apenas com o fator “GPP com Intraempreendedorismo”, sendo o coeficiente de correlação de 0,338 e significância de 0,035. Realizado o teste U de Mann-Whitney de comparação de médias, seu valor foi de 257 e p-value de 0,0374. Portanto, quem exerce atividade na área de formação se identificou mais fortemente com Gestão de Processos e Projetos e iniciativas (intra)empreendedoras.
Figura 6 – Fator de Perfil do Egresso e Atividade Exercida na Área
Fonte: SPSS 20 e MS Excel 2013. Elaboração própria com Dados da Pesquisa de Campo
Por fim, se estabeleceu o cruzamento com as áreas de concentração propriamente ditas. A que mais aglutinou os fatores identificados foi a de Operações (Gestão de Processos e Projetos). Ainda que não percebendo de início a convergência com quaisquer das linhas de formação, se identificaram com “Criatividade e Desenvolvimento Interpessoal” e “Metas de Desempenho por Indicadores Financeiros e Pesquisas”.
Figura 7 – Cruzamento entre Fatores e Áreas de Concentração
Fonte: SPSS 20 e MS Excel 2013. Elaboração própria com Dados da Pesquisa de Campo
-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8
Finanças (Auditoria e Controladoria no Setor Público)
Marketing (Percepção de Valor do Serviço Público)
Pessoas (Desenvolvimento Estratégico Corporativo)
Operações (Gestão de Processos e Projetos) Não vejo convergência com nenhuma dessas
áreas de formação
Criatividade e Desenvolvimento Interpessoal
Metas de Desempenho por Indicadores Financeiros e Pesquisas Desenvolvimento Pessoal/Organizacional com Alcance do Público GPP com Intraempreendedorismo
No caso deste último fator, ele revelou uma identificação de quem não percebia convergência ou de quem pensava ter associação com Finanças, mas não estava claro quanto às dimensões dessa área. Ela se expressa, portanto, nas operações que exigem orientação para processos e projetos, esta revelada como a linha central de formação em Administração Pública no curso e instituição estudados.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compondo a linha de pesquisa de Percepção de Valor do Serviço Público do Observatório de Perspectivas em Administração Pública do Instituto Federal da Paraíba – IFPB, este artigo foi resultado de uma pesquisa realizada com o objetivo de definir o perfil de egressos do curso superior de Administração Pública do IFPB tanto na percepção de quem efetivamente concluiu o curso como de estudantes do 4º Período.
Para uma fundamentação desse perfil foram analisados estudos realizados entre outras instituições, assim como bases legais no Brasil, especialmente as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Administração Pública, bacharelado. Buscou-se, dessa forma, uma base histórica e legal para a determinação desse perfil, além de se conhecer quais variáveis foram consideradas por outras instituições de ensino superior.
A pesquisa foi delineada como descritiva quanto aos seus fins e quantitativa quanto à sua abordagem metodológica, consistindo em um levantamento com 21 egressos e 33 estudantes do curso em análise, constituindo-se como uma amostra não probabilística por acessibilidade, nos polos de Alagoa Grande, Araruna, Lucena e Mari.
Como resultado inicial, foi definido o perfil socioeconômico dos participantes da pesquisa, composto predominantemente por mulheres, pessoas casadas, com renda familiar de até 5 salários mínimos, residência própria, oriundos de escolas públicas e na faixa etária dos 30 aos 39 anos.
Após caracterização do perfil socioeconômico e acadêmico, foram definidos perfis de egressos conforme percepções de estudantes, egressos e gerais. Os resultados convergiram para os perfis estabelecidos no Plano Pedagógico do Curso em análise, permitindo um melhor entendimento do que se vivencia ou espera de estudantes de Administração Pública, predominantemente identificados com a mudança de processos para a melhoria do serviço público em suas áreas de atuação.
Nessa base, ficaram definidas as categorias de “Gestão de Processos e Projetos com Intraempreendedorismo”, “Desenvolvimento Pessoal/Organizacional com Alcance do Público”, “Metas de Desempenho por Indicadores Financeiros e Pesquisas” e “Criatividade e Desenvolvimento Interpessoal”. Mulheres se mostraram mais intraempreendedoras na Gestão de Processos e Projetos, ao passo que a criatividade e desenvolvimento interpessoal foi inversamente proporcional à idade.
Entre as linhas de formação, a mais transversal foi a linha de Operações (Gestão de Processos e Projetos), para a qual convergiram os fatores mais relevantes de perfil de egresso na visão dos pesquisados.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: NOVAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA O ENSINO Capítulo 18 REFERÊNCIAS
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