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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3. ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

Os resultados das análises microbiológicas são apresentados na tabela 6. Apenas a marca 1 apresentou resultado fora das especificações da legislação para Coliformes a 45ºC/g, ou seja, 1,1 x 103 UFC/g. Segundo a RDC n° 12, preconiza-se a contagem de 5x103 UFC/g para Bacillus cereus, 5x102 UFC/g para Coliformes a 45oC/g e ausência de Salmonella SP. Não há na legislação valores de referência para bolores e levedura.

Nas análises de bolores e leveduras, as marcas 5 e 9 apresentaram maior contagem. Assim como na análise microscópica, não há outros estudos sobre o assunto para que se possa fazer uma comparação com os resultados encontrados. Por isso enfatizamos a importância deste trabalho e a necessidade de mais estudos a respeito.

Tabela 6: Resultado das análises microbiológicas da Ração Humana Marcas Coliformes a 45ºC/g (NMP/g) Salmonella sp (UFC/g) Bacillus cereus presuntivo (UFC/g) Bolores e Leveduras (UFC/g) 1 1,1 x 103 Ausente < 102 < 10 2 3,6 Ausente < 102 < 10 3 9,2 Ausente 3,3 x 103 < 10 4 - - - - 5 1,5 x 102 Ausente 1 x 102 7,2 x 102 6 2,3 x 101 Ausente < 102 3 x 10 7 < 3 Ausente < 102 < 10 8 4,3 x 101 Ausente < 102 < 10 9 1,5 x 102 Ausente < 102 1,5 x 102 10 4,3 x 101 Ausente < 102 4 x 10

*A marca já não estava disponível no mercado.

5.4. ENSAIO BIOLÓGICO

Não há na literatura estudos semelhantes com a ração humana para que se possa fazer uma comparação com o presente estudo, o que dificulta a discussão dos resultados encontrados. Desta forma utilizou-se para comparação estudos realizados com ingredientes que fazem parte da composição da ração humana.

Na tabela 7 são apresentados os resultados do consumo de ração, o peso corporal final e a variação de peso dos animais após a indução da obesidade. Pode-se observar na tabela 7 que o consumo da dieta hiperlipídica induziu a obesidade, visto que o peso corporal dos animais foi maior que o referenciado na literatura para esta idade (65 dias de vida) (TACONIC, 2005). De maneira similar, foi observado que o peso do fígado dos animais (g/100g de peso corporal) também foi superior ao referenciado na literatura, o que pode ser justificado em função do maior peso corporal dos animais. Apesar da indução da obesidade neste grupo, não foi observado alteração do perfil lipídico e da glicemia dos animais, estando estes parâmetros dentro dos valores considerados normais (TACONIC, 2005).

Tabela 7: Características dos animais após a indução da obesidade Após indução da obesidade Valores de referência da literatura* Consumo de ração (g) 17,59 ± 0,45 - Peso corporal (g) 309,80 ± 28,39 282,4 ± 25,7

Variação de peso corporal (g) 161,0 ± 19,33 **

Peso do tecido adiposo branco abdominal

(g/100g de PC) 4,54 ± 1,04 ** Peso do fígado (g/100g de PC) 3,7 ± 0,74 2,75 Glicemia (mg/dL) 113,6 ± 9,3 122 ± 25,7 Triglicerídeos (mg/dL) 85,4 ± 31,5 86,7 ± 26,7 Colesterol total (mg/dL) 51 ± 4,95 66,3 ± 12,9 HDL (mg/dL) 38 ± 9,03 **

Legenda: PC – Peso Corporal *Fonte: TACONIC, 2005

**Não existem valores de referência na literatura para variação de peso corporal, peso do tecido adiposo branco abdominal e HDL.

Na tabela 8 são apresentados os resultados do consumo de ração, peso corporal final e variação de ganho de peso dos 4 grupos estudados, ao final do experimento. Foi observado que o consumo diário de ração (g) foi maior (p<0,05) nos grupos que consumiram a ração humana. Provavelmente este resultado pode estar relacionado à melhor palatabilidade proporcionada pelos ingredientes contidos no complemento alimentar ração humana, entre eles o açúcar mascavo, por apresentar sabor adocicado. Apesar de alguns autores afirmarem que o consumo de fibras aumenta a saciedade (MAHAN, ESCOTT-STUMP, 2005; SAYDELLES et al., 2009; MARETI et al., 2010), os resultados do presente estudo não mostraram associação entre o consumo de fibras e redução da quantidade de ração ingerida, mesmo nos grupos que receberam quantidade de fibra um pouco maior na dieta. Entretanto, alguns estudos mostram que a dieta hiperlipídica é capaz de atuar mais eficazmente na saciedade, como mostra estudo realizado por Franco, Campos & Demonte (2009) onde o

consumo de ração foi menor nos grupos que receberam ração hiperlipídica, sugerindo aumento da saciedade. No presente estudo pode-se observar resultado semelhante apenas no grupo que recebeu a dieta hiperlipídica, sem adição de ração humana.

Tabela 8: Consumo de ração, peso corporal final e variação de peso dos animais estudados, ao final do experimento C C+RH H H+RH Consumo de ração (g/dia) 18,62 ± 3,86bc 22,31 ± 4,13a 16,85 ± 4,04c 19,24 ± 3,59b Peso corporal final (g)* 397,38 ± 36,63 412,17 ± 23,19 392,71 ± 12,5 417,8 ± 14,62 Variação de ganho de peso corporal (g) 100,2 ± 11,78 105,33 ± 12,21 102,5 ± 21 94,8 ± 11,43

Legenda: C – Grupo Controle; C+RH – Grupo Controle com Ração Humana; H – Grupo Hiperlipídica; H+RH – Grupo Hiperlipídica com Ração Humana

*Peso corporal dos animais aos 125 dias: 433,9 ± 39,3 (TACONIC, 2005). **Letras diferentes representam diferença estatística significativa (p< 0,05)

O peso corporal final dos animais dos 4 grupos foi semelhante, assim como a variação de ganho de peso corporal mostrando que o consumo da ração humana não proporcionou perda de peso corporal, como proposto pela mídia (GLOBO, 2010a; UOL, 2010). Estes mesmos resultados foram encontrados por Silva et al. (2003) e Eufrásio et al. (2009) em estudos com dietas ricas em fibras e sem restrição energética, que também não observaram diferença significativa no peso corporal dos animais.

Isto contradiz o divulgado pela mídia de que a ração humana auxilia na perda de peso (GLOBO, 2010a; UOL, 2010). É importante ressaltar que em muitas matérias veiculadas em revistas e na internet (CONTRERAS, 2010; DESGUALDO, 2010; UOL, 2010), a utilização da ração humana está normalmente associada a uma dieta de baixo valor energético, o que

pode nos levar a conclusão de que a redução de peso está relacionada à mudança do hábito alimentar e diminuição da ingestão energética e não necessariamente a utilização da ração humana.

Os resultados das análises sanguíneas e de tecidos realizadas nos 4 grupos estudados são apresentados na tabela 9. A quantidade de tecido adiposo branco abdominal (g/100g de peso corpóreo) foi maior (p = 0,0112) nos grupos com dieta hiperlipídica e hiperlipídica com ração humana e controle com ração humana. No caso dos grupos com dietas hiperlipídica, isto pode estar relacionado ao tipo dieta oferecida, rica em gordura saturada. Segundo Catta-Preta et al (2012), as gorduras saturadas, além de serem extremamente prejudiciais à saúde, são as grandes vilãs do acúmulo de gordura corporal. Porém é importante ressaltar que apesar de apresentarem maior quantidade de tecido adiposo, o peso dos animais destes grupos (H e H+RH) estava adequado ao previsto pela literatura. No caso do grupo controle com ração humana, a quantidade de tecido adiposo pode estar relacionada ao fato deste grupo ter apresentado maior média de consumo diário de ração, além de maior média de variação de ganho de peso corporal.

O peso do fígado (g/100g de peso corpóreo) foi maior (p < 0,0001) nos grupos que receberam dieta controle e controle com ração humana, podendo estar relacionado ao maior acúmulo de glicogênio hepático em decorrência da maior quantidade de carboidratos na dietas destes grupos. Entretanto a análise de lipídeos do fígado (%) foi maior nos grupos que receberam dieta hiperlipídica e hiperlipídica com ração humana. Esta quantidade significativa de lipídeos pode estar relacionada a esteatose hepática, que é uma alteração metabólica, que compromete o parênquima hepático e caracteriza-se pelo acúmulo de gordura nos hepatócitos (COTRAN, KUMAR, ROBBINS, 1991). Pode ter sido causada por um aumento na síntese hepática de ácidos graxos (MAHAN, ESCOTT-STUMP, 2005) devido à dieta hiperlipídica. Porém, para se determinar com exatidão a causa da esteatose hepática no presente estudo, mais estudos precisam ser realizados (Tabela 9).

A glicemia foi semelhante entre os quatro grupos (C, C+RH, H e H+RH). Ao comparar a glicemia dos animais após a indução da obesidade com a dos 4 grupos (C, C+RH, H e H+RH) observou-se que todos os grupos tiveram redução da glicemia, não sendo possível afirmar o que esta redução está associada a presença da ração humana na dieta. Em estudo realizado por Borges & Costa (2008) para avaliar os efeitos da suplementação de farinha de soja, fibra de trigo e farinha de aveia em ratos wistar também não foi observada alteração significativa para a glicose entre os grupos estudados e o grupo controle (Tabela 9).

O resultado da análise de triglicerídeos foi maior (p = 0,0016) nos grupos com dieta controle e controle com ração humana. Estes resultados mostram a relação entre o metabolismo de carboidratos e os triglicerídeos sanguíneos. Segundo Liu et al. (2001) o consumo das dietas com alto teor de carboidratos pode aumentar as concentrações de triglicerídeos plasmáticos. Estes resultados podem ser comparados ao estudo de Franco, Campos e Demonte (2009) que comparou o teor lipídico das dietas com os lipídios séricos e encontrou valores de triglicerídeos maiores em ratos alimentados com dietas normolipídicas, constatando que a diferença significante no teor de triglicerídeos entre os grupos indica que a dieta hiperlipídica isoladamente não aumentou a concentração de triglicerídeos (Tabela 9).

O colesterol total foi maior (p = 0,0019) nos grupos com dieta controle, hiperlipídica e hiperlipídica com ração humana. Sendo assim não é possível afirmar que a ração humana auxilia na redução do colesterol, conforme divulgado na mídia (DESGUALDO, 2010). Em estudo realizado por Molena-Fernandes et al. (2010) com a farinha linhaça, também não foi observada diferença nos níveis de colesterol total entre os grupos estudados (Tabela 9).

O HDL foi maior (p < 0,0001) nos grupos com dieta controle e controle com ração humana. Estes resultados diferem dos encontrados por Eufrázio et al. (2009) ao estudar o efeitos de diferentes tipos de fibras (celulose, pectina e goma-guar) em diferentes concentrações, sobre as frações lipídicas do sangue e fígado de ratos wistar. Neste estudo os valores de HDL não foram significativamente diferentes. Já Silva et al (2003) e Molena- Fernandes et al. (2010), verificaram aumento significativo de HDL nos ratos alimentados com dietas suplementadas com farelo de aveia e linhaça, respectivamente. Ao comparar o HDL dos animais após a indução da obesidade com a dos 4 grupos (C, C+RH, H e H+RH) observou-se que todos os grupos que receberam dieta hiperlipídica apresentaram valor mais baixos de HDL (Tabela 9).

Sendo assim, não foi observada relação direta do complemento alimentar ração humana com a redução de peso corporal, a alteração no perfil lipídico ou a glicemia dos animais estudados.

Tabela 9: Resultados das análises de tecido adiposo branco abdominal, peso do fígado, lipídeos do fígado, glicemia, triglicerídeos, colesterol total e HDL, realizadas nos 4 grupos

C C+RH H H+RH Valores de referência da literatura* Tecido adiposo branco abdominal (g/100g de PC) 2,88 ± 0,73b 3,95 ± 0,6ab 4,39 ± 0,88a 4,16 ± 0,79a ** Peso do fígado (g/100g de PC) 3,21 ± 0,21 ab 3,22 ± 0,14a 3,03 ± 0,23ab 2,66 ± 0,23c 2,75 Lipídeos do Fígado (%) 2,48 ± 0,4 b 2,93 ± 0,47b 4,35 ± 1,06a 5,17 ± 0,94a ** Glicemia (mg/dL) 87,86 ± 10,37 90,86 ± 7,15 86,0 ± 7,4 98,5 ± 11,96 122 ± 25,7 Trigicerídeos (mg/dL) 89,0 ± 32,42a 84,57 ± 20,54a 57,28 ± 11,53b 48,0 ± 5,89b 86,7 ± 26,7 Colesterol total (mg/dL) 63,86 ± 13,86 a 40,38 ± 9,29b 55,43 ± 11,22ab 57,14 ± 7,13a 66,3 ± 12,9 HDL (mg/dL) 69,0 ± 9,25a 52,14 ± 7,56b 47, 57 ± 8,32b 42,43 ± 6,83b **

Legenda: PC – Peso Corporal; C – Grupo Controle; C+RH – Grupo Controle com Ração Humana; H – Grupo Hiperlipídica; H+RH – Grupo Hiperlipídica com Ração Humana

Letras diferentes representam diferença estatística significativa (p< 0,05) *Fonte: TACONIC, 2005

A ração humana possui alimentos com propriedades funcionais, como é o caso da aveia (e seus derivados) e da soja. Porém para que estes possam desempenhar efeitos benéficos à saúde é preciso uma ingestão diária específica. No caso da aveia, para que esta promova a redução de colesterol, é estabelecida uma quantidade de 3 (três) gramas/dia de beta-glucana, o que equilave a 60 gramas de farinha de aveia ou 40 gramas de farelo de aveia. No caso da soja, a ingestão diária deve ser de 25 gramas de proteína se soja para auxiliar na diminuição do LDL-colesterol, e de 60 gramas para auxiliar na diminuição dos sintomas da menopausa (ADA, 2009).

Diante do descrito anteriormente, não é possível afirmar que a quantidade de ração humana recomendada diariamente de 30 gramas (CONTRERAS, 2010; GLOBO, 2010a; DESGUALDO, 2010; UOL, 2010) possa fornecer os mesmos benefícios à saúde humana quando relacionado a cada um dos ingredientes individualmente, já que não se sabe a quantidade de cada um destes na composição das diversas marcas de ração humana.

Apesar de alguns ingredientes da ração humana apresentarem quantidades importantes de ácidos graxos insaturados, que poderiam beneficiar o organismo humano, é possível afirmar que seus efeitos podem não ser observados, pois no presente estudo foi constatado que a qualidade do produto estava comprometida em função da deterioração lipídica.

Porém, mais uma vez ressaltamos que não há na literatura científica outros estudos sobre o assunto para que se possa fazer uma comparação com os resultados encontrados no presente estudo. Por isso enfatizamos a importância deste trabalho e a necessidade de mais estudos a respeito com a finalidade de se obter maiores informações sobre o produto, suas características e efeitos sobre a saúde humana.

Os resultados obtidos nas análises de qualidade evidenciaram a importância da fixação de boas práticas de fabricação (BPF) e padrões de identidade e qualidade (PIQ`s). Outro aspecto que deve ser destacado é necessidade de padronização na formulação do produto, visto que cada fabricante apresenta composição e quantidade de ingredientes diferentes.

6. CONCLUSÃO

- Foi observado que todas as dez marcas analisadas apresentam informações nutricionais incorretas, sejam estas relacionadas à composição química e/ou informações de rotulagem. Isto pode induzir o consumir ao erro, por não demonstrar a real informação nutricional.

- Todas as dez marcas analisadas apresentaram a qualidade comprometida, segundo aspectos físicos, microscópicos e/ou microbiológicos, devido à presença de ranço, presença de matéria prejudicial à saúde humana e quantidade significativa de bolores e leveduras, respectivamente, o que caracteriza a deterioração do produto.

- Pode-se sugerir que todas as marcas do produto analisado não possuem adequadas condições higiênico-sanitárias. Enfatizamos, portanto, a importância da aplicação das Boas Práticas de Fabricação pelos produtores e a necessidade de fiscalização pelos órgãos competentes a fim de garantir ao consumidor clareza e idoneidade das informações descritas nos rótulos e produtos de boa qualidade.

- No experimento animal não foi observado efeito do complemento alimentar “Ração Humana” sobre a redução de peso corporal, a alteração no perfil lipídico ou a glicemia dos animais estudados.

- Por se tratar de um produto relativamente novo, não há outros estudos sobre o assunto para que se possa fazer uma comparação com os resultados encontrados. Por isso enfatizamos a importância deste trabalho e a necessidade de mais estudos a respeito.