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A percepção de condições facilitadoras tem sido tratada pela teoria como um mecanismo de suporte para a utilização de uma inovação tecnológica, além disso, relaciona-se de forma direta com o ambiente tecnológico e organizacional e com o quanto esse ambiente está voltado para eliminação de possíveis barreiras que possam impedir o uso da tecnologia. Porém, o ambiente tecnológico e organizacional pode não estar apto a auxiliar seus usuários sobre a melhor forma de usar a inovação tecnológica, em razão de problemas de falta de informação,

alteração de requisitos ou recursos disponíveis, ou surgimento de novos elementos antes desconhecidos.

Devido às dificuldades dos BCD em prover suporte e informações adequadas aos usuários, por falta de apoio financeiro, limitações técnicas e/ou processual, acabam por gerar barreiras ambientais e tecnológicas relacionadas ao uso do aplicativo da MS. Essas barreiras promovem a redução da percepção de facilidade e o aumento do risco associado ao uso do aplicativo. Nesse contexto, as condições facilitadoras possuem atuação mais voltada ao impacto das intenções sobre o comportamento dos usuários que à intenção comportamental de uso (Ajzen, 1991). Dessa forma, os usuários do aplicativo da MS passariam a contar mais com a percepção de suas próprias condições facilitadoras sobre seus recursos, habilidades e conhecimentos, do que com o suporte fornecido pelos BCD. Portanto, o efeito da percepção de condições facilitadoras passa a moderar o efeito das percepções de facilidade de uso e risco sobre a intenção de uso do aplicativo.

Logo, o efeito moderador negativo da percepção de condições facilitadoras confirma a ideia de que quanto menor o nível de condições facilitadoras dos usuários maior o efeito da facilidade de uso na intenção de uso do aplicativo. Assim, usuários que não possuem dispositivos móveis adequados, que não sabem fazer uso da internet no celular e que não conseguem auxílio no uso do aplicativo estarão mais sensíveis à percepção de facilidade de uso devido às suas restrições de uso.

Por outro lado, o efeito positivo da percepção de condições facilitadoras confirma nosso pressuposto de que quanto maior o nível de condições facilitadoras dos usuários menor o efeito da percepção de risco na intenção de uso do aplicativo. Por conseguinte, a ausência de condições facilitadoras dos usuários eleva sua sensação de insegurança e risco, provocada pelas barreiras que suas restrições promovem.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conversão da moeda social em cédulas para a moeda social em formato digital torna o relacionamento entre seus usuários e os BCD mais complexo conforme vão surgindo as percepções de insegurança e riscos associados à sua utilização. Essa complexidade aumenta, quando surge o risco de que essa migração de formato pode abalar as relações de proximidade entre a organização comunitária e os BCD. Tal fato poderia representar uma interrupção no uso da MS como meio de troca e educação financeira, o que impossibilitaria a consecução dos objetivos dos BCD de desenvolvimento local e manutenção dos meios de subsistência. Dessa

forma, o objetivo da pesquisa é compreender a intenção de uso do aplicativo da moeda social a partir da Percepção de Confiança Inicial, da Percepção de Facilidade de Uso, da Percepção de Risco e da Oportunidade de Experimentar.

Para resolver a questão problema, elaboramos o modelo conceitual-teórico tomando como base o arcabouço teórico das pesquisas voltadas à adoção e uso de novas tecnologias relacionadas ao M-payment. Tal fato deve-se às similaridades no processo de decisão dos usuários para o comportamento de uso, à analogia no processo de implantação, à escassez de teorias relacionadas ao contexto específico da MSD na área de finanças solidárias e à singularidade do evento. Para testar as hipóteses de interesse deste trabalho lançou-se mão de um experimento de campo aliado a um questionário em um levantamento amostral. As variáveis independentes Confiança, Percepção de Facilidade de Uso, Percepção de Risco, assim como a variável dependente Intenção de Uso foram coletadas por meio de um questionário. A Oportunidade de Experimentar foi uma condição experimental aleatorizada, de maneira que parte dos respondentes teve a oportunidade de experimentar uma transação no aplicativo (grupo de tratamento) e a outra metade recebeu apenas uma explicação sobre seu funcionamento (grupo de controle). A abordagem experimental permite estabelecer uma inferência causal mais robusta, na medida em que a aleatorização leva a esperar que os grupos de tratamento e controle sejam iguais em todas as características, exceto pela possibilidade de experimentar.

Para o teste estatístico das hipóteses de pesquisa, empregamos a técnica dos Mínimos Quadrados Parciais (PLS-SEM): uma extensão da modelagem de equações estruturais (SEM) que permite incorporar variáveis não observadas (variáveis latentes) medidas de forma indireta por meio de variáveis indicadoras. O PLS-SEM é apropriado para testar teorias em estágio inicial de desenvolvimento ou extensões de teorias já existentes, tais como as empregadas no contexto da pesquisa (Fornell & Bookstein, 1982). Os resultados obtidos permitem avaliar a intenção de uso da MSD pelos usuários a partir da percepção de confiança, facilidade de uso, risco e oportunidade de experimentação do aplicativo.

A partir do objetivo, foi possível confirmar que a intenção de uso do aplicativo relaciona-se com a confiança inicial dos usuários da MS. A confiança inicial é moldada pela percepção de confiança dos usuários na instituição provedora dos serviços de pagamento móvel, os BCD. Já a confiança ambiental é moldada na percepção dos usuários da existência de garantias estruturais suficientes e na normalidade de funcionamento que permitem o uso do aplicativo da MS.

A intenção de uso do aplicativo da MS está associada com a percepção de facilidade de uso, porém, de uma forma não tão robusta quanto os achados de outras pesquisas. O ruído dessa

relação, em parte, pode estar relacionado com o perfil dos usuários da MS, em especial, com seu baixo nível de escolaridade. Embora os resultados sejam surpreendentes do ponto de vista teórico, o perfil dos respondentes mostra-se dependente da existência de condições ambientais e organizacionais favoráveis para fazer uso do aplicativo. Dadas as limitações de atuação dos BCD em conseguir criar ambientes mais propícios para o uso do aplicativo, essa situação impacta no efeito da percepção de facilidade de uso do aplicativo na intenção de uso e serve como justificativa para os resultados encontrados.

Ainda, devido ao fato de que o perfil dos respondentes apresenta características de “late adopters”, pesquisas anteriores demonstram que esses tendem a valorizar mais a percepção de utilidade percebida de determinado serviço ou tecnologia do que sua facilidade de uso (Kim et al., 2010). Dessa forma, a intenção de uso do aplicativo por parte do usuário acaba passando pela necessidade de todo um processo de aprendizagem de uso. Esse processo é regido pelas condições particulares de cada usuário, ou seja, de sua capacidade de aprender a usar o serviço de pagamento móvel. Assim, devido a toda experiência acumulada do usuário em realizar pagamentos via moeda em cédula ou cartão de crédito a decisão de troca, ou migração da moeda social para a digital, acaba gerando problemas significativos de aprendizagem quando tentam usar um novo tipo de serviço de pagamento (Arvidson, 2014). Tais fatos, podem representar uma explicação para a falta de robustez dos achados relacionados à percepção de facilidade de uso e a intenção de uso do aplicativo.

Por outro lado, confirmamos o relacionamento da percepção de risco com a intenção de uso do aplicativo da MS. De fato, a falta de experiência dos usuários em utilizar serviços de pagamentos móveis, aliada a uma maior responsabilização quando da execução dos pagamentos, dado que são os próprios usuários os responsáveis por realizar as operações financeiras e arcar com possíveis erros; traz consigo o “medo do desconhecido”, o que aumenta a sensação de insegurança e riscos associados ao uso do aplicativo da MS.

O experimento de campo permite aprofundar o conhecimento da realidade a partir da observação dos resultados produzidos pela variável de tratamento no objeto de pesquisa. Dessa forma, por meio do experimento, observamos que a oportunidade de experimentar o aplicativo, mesmo em bases limitadas, representa um fator motivador na intenção dos usuários em utilizá- lo. Ainda, constatamos que a oportunidade de experimentar o aplicativo influencia as percepções de facilidade de uso e risco. Há evidência de um efeito da oportunidade de experimentar sobre a intenção de uso mediado pela Percepção de risco e também pela percepção de facilidade de uso, embora os achados deste trabalho não apoiem este último mecanismo de forma robusta. Em suma, a oportunidade de experimentar o aplicativo aumenta a percepção de

facilidade de uso e reduz a percepção de risco pré-existente sobre o aplicativo da MS, o que por sua vez incrementa a intenção de adoção.