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A observação configura-se como uma técnica valiosa, especialmente na coleta de dados não verbais, mediante a qual o observador pode utilizar os sentidos para captar fatos, sendo viável sua aplicação em conjunto com outros procedimentos. Fica claro, portanto, que seu ponto forte é a evidenciação do realismo da situação observada (VIANNA, 2007). Corroborando esse posicionamento, Marconi e Lakatos (2010) esclarecem que, com a observação, o pesquisador ultrapassa o mero ver e ouvir, dependendo menos da introspecção ou da reflexão, podendo, também obter dados que não constavam no roteiro das entrevistas ou

questionários. Porém, apresenta a desvantagem de criar impressões favoráveis ou desfavoráveis, no pesquisador, sobre o que está sendo observado e, assim, este não conseguir acessar os aspectos da vida cotidiana.

Na presente pesquisa, a utilizou-se a observação como recurso complementar, de aprofundamento das questões relacionadas infraestrutura necessária ao atendimento das deficiências, o processo de interação entre alunos com deficiência com seus professores e com os demais colegas. Nessa fase, elaborou-se um roteiro com as unidades de observação, utilizando, para tanto, um caderno de campo para o registro das informações, mantendo o foco nos objetivos formulados de pesquisa no que tange a identificar as dificuldades e facilidades encontradas pelos alunos com deficiência no processo de profissionalização, bem como apontar as condições de acessibilidade pedagógica, arquitetônica e de comunicação encontradas pelos alunos com deficiência.

Observou-se que a instituição encontra-se em reforma, mantendo-se, na parte externa, uma rampa larga, mas precária, na entrada que se tornou a entrada principal, e outra rampa com acesso à instituição pelo ginásio de esportes. Na entrada principal, o portão tem largura de 0,97 cm e, na parte das catracas, existe uma porta exclusiva para entrada de cadeirantes, medindo 0,84 cm, porém não existem mais estacionamentos.

Na parte interna do prédio, dois corredores principais dão acesso à maioria dos pavilhões, medindo 2,90 m e 2,66 m. Os banheiros, que são de uso dos alunos, têm portas que variam entre 0,94 cm a 1 m de largura e espaços internos com as mesmas medidas. Na biblioteca, a porta de entrada mede 0,89 cm, mas a instalação do sensor antifurto ficou sobressaindo do piso, dificultando a entrada da cadeira de rodas. Os corredores de acesso aos livros medem 0,90 cm a 1,03 cm, enquanto na sala de estudos, só é possível o acesso de cadeiras de rodas para as quatro primeiras mesas.

No ginásio de esportes, a entrada principal mede 1,95 m e os corredores internos 1,65 m e 1,33 m. Já no setor médico, a entrada principal mede 1,20 m e as portas internas 0,80 cm. No pavilhão da Direção Geral, só existe acesso para recepção e para a CAE, porque todos os outros setores são no pavimento superior e só é possível acessá-los subindo as escadas. O NAPNE, que atende às pessoas com deficiência, é pequeno, mas foi organizado de maneira que o acesso do cadeirante seja possível. Não existe pista tátil e as portas não têm adequação correta para acessibilidade de cadeirantes.

O pavilhão de Construção Civil está localizado na parte térrea, com o corredor principal medindo 2 m 45 cm, rampa de acesso para todas as salas e laboratórios, portas

medindo de 0,81 cm a 1,19 m de largura, medidas suficientes para entrada de uma cadeira de rodas. O acesso ao pavimento superior só é possível pelas escadas.

No pavilhão de Eletrotécnica, também na parte térrea, o corredor principal mede 2 m 45 cm, existe rampa de acesso para todas as salas e laboratórios, as portas medem de 0,74 cm a 1,82 m de largura, medidas suficientes para entrada de uma cadeira de rodas. O acesso ao pavimento superior só é possível pelas escadas.

Localizado igualmente na parte térrea, o pavilhão de Eletrônica tem um corredor principal medindo 2 m 40 cm, existe rampa de acesso para todas as salas e laboratórios, as portas medem de 0,79 cm a 1,79 m de largura, medidas suficientes para entrada de uma cadeira de rodas. Como os demais pavilhões o acesso ao pavimento superior só é possível pelas escadas.

Outro pavilhão localizado na parte térrea é o de Química, com o corredor principal mede 2 m 40 cm, rampa de acesso para todas as salas e laboratórios, portas medindo de 0,79 cm a 1,62 m de largura, medidas suficientes para entrada de uma cadeira de rodas. O acesso ao pavimento superior só é possível pelas escadas.

No pavilhão das salas S, na parte térrea só existem laboratórios e todos têm portas com largura de 0,94 cm, mas a maioria não tem espaço interno para circulação de cadeirantes. O corredor térreo mede 1,95 m, o corredor que dá acesso ao elevador mede 2,44 m. Na parte superior, as salas de aula têm portas que medem 0,88 cm, corredor medindo 2,02 m e o corredor de acesso ao elevador mede 2,59 m.

O pavilhão Leyda Regis, na parte térrea, tem corredor principal medindo 2 m 17 cm, a porta da coordenadoria de Ciências Humanas medindo 0,98 cm e, no pavimento superior, as salas têm portas com larguras de 0,98, mas o acesso ao pavimento superior só é possível pelas escadas.

Sobre a organização das salas de aula, estas estão dispostas de maneira tradicional, carteiras em fila, sem espaço para a acessibilidade. Observamos, ainda, que as carteiras são novas e adaptadas para destros e canhotos. No quesito interação em sala de aula, é possível notar que os professores não tiveram capacitação na área de inclusão, muitos deles, inclusive, se recusam a aceitar o aluno com deficiência, mantendo, neste sentido, uma resistência ferrenha para com ele. Outros docentes procuram trabalhar da melhor maneira possível no atendimento ao aluno com deficiência, buscando transmitir os conteúdos de forma que eles possam assimilá-los. Com os colegas, o relacionamento se dá com naturalidade, existindo solidariedade entre eles. Nesse ambiente, o aluno com deficiência participa de todas as atividades propostas com a ajuda dos colegas.

Dentre os aspectos que mais chamaram a atenção durante a observação, citamos: 1) o descaso da instituição no que diz respeito a capacitação dos docentes; 2) a solidariedade entre os alunos; 3) o empenho de alguns professores em transmitir os conteúdos; 4) o esforço do NAPNE para conter a evasão dos alunos com deficiência na instituição.

Quanto às informações que consideramos como relevantes, são as seguintes: duas servidoras efetivas, que prestam serviços no Campus, estão capacitadas para o atendimento ao aluno com deficiência, sendo uma intérprete de libras e uma revisora de texto em braile, além de uma docente na disciplina de libras; a biblioteca disponibiliza apenas alguns livros e textos em braile; falta de material didático adaptado.

Diante do exposto, com base em Carvalho (2012), entendemos que há necessidade de uma mudança de postura e de olhar acerca da deficiência, o que implica reformulação do sistema de ensino a fim de que se torne possível concretizar uma educação de qualidade, na qual o acesso, o atendimento adequado e a permanência sejam garantidos a todos os alunos, independentemente de suas diferenças e necessidades.