• Nenhum resultado encontrado

Análise do padrão formântico (F1 e F2) das realizações [a] e [ɐ] produzidas pelos três informantes bracarenses

3.2.3 Síntese da subsecção 3.2.

3.3.1. Análise do padrão formântico (F1 e F2) das realizações [a] e [ɐ] produzidas pelos três informantes bracarenses

Os dados apresentados a seguir, na Tabela 25, dizem respeito aos valores médios de F1 e F2 das vogais tónicas [a] e [ɐ], realizadas em pares contextuais semelhantes, pelos três falantes do sexo masculino. São apresentados e discutidos os resultados obtidos para a vogal aberta em contexto oral labial, palatal, alveodental e alveolar e em contexto nasal bilabial [m] de v.v. (apenas em palavras de conteúdo); e os resultados encontrados para a vogal semife- chada em contexto oral alveolar (apenas em palavras funcionais) e em contexto nasal alveo- dental, palatal e em contexto bilabial [m] em v.v. e v.nv.

72

Recordamos que, até aqui, consideramos a análise das realizações de /a/ apenas em palavras com carga semântica (palavras de conteúdo). Pretendemos, agora, comparar as produções de [a] e de [ɐ] em (C) CV de palavras funcionais e de palavras de conteúdo, embora saibamos que será muito improvável haver similaridades ao nível da abertura vocálica nestes contextos [a vogal [a] tónica em [„paɾɐ] (verbo), do ponto de vista percetivo, não é a mesma que em [„pɐɾɐ] (preposição)].

73 Segundo Martins (2011: 180), o teste de Wilcoxon “permite comparar a mesma variável em dois momentos temporais (ou duas

condições experimentais diferentes) ”. Portanto, este teste possibilitar-nos-á avaliar se as vogais acentuadas em análise apresentam realiza- ções significativamente distintas em dois contextos muito similares, quer do ponto de vista acústico quer do ponto de vista articulatório.

131

Tabela 25: Valores médios de F1 e F2 (em Hertz) não normalizados e desvio-padrão (DP) das vogais [a] e [ɐ]

tónicas seguidas de consoantes orais e nasais (em contexto verbal e não verbal), produzidas pelos três informan- tes bracarenses em cinco pares de contextos articulatórios semelhantes

a. A média e o desvio-padrão não foram calculados por não terem sido encontradas ocorrências suficientes da vogal nestes contextos

De modo a respeitar a ordem estabelecida dos pares contextuais apresentados na Tabela 25, verificamos, em primeiro lugar, a diferença entre as médias formânticas das vogais [a] e [ɐ] realizadas em contexto alveodental. Os pares contextuais foram numerados de 1 a 5 para facilitar a análise.

A partir da observação das Tabela 25, percebemos que os informantes bracarenses do sexo masculino tendem a apresentar valores mais elevados em contexto oral do que em contexto nasal, tanto em F1 como em F2.

Observando as médias referentes ao Par 1, verificamos que os sujeitos masculinos apresentam, para o primeiro formante (F1), valores médios muito próximos, com uma dife- rença de apenas de 0,0 8 Hz. Todavia, com relação a F2, as vogais apresentam uma diferença de valores consideravelmente maior, que é de 53, 47 Hz.

Quanto ao Par 2, ao compararmos os valores das realizações em contexto palatal – oral e nasal –, percebemos que apresentam também valores médios expressivamente

Homens (três falantes) F1 (Hz) F2 (Hz)

Contexto Média D.P. Média D.P.

Par 1

[a] seguida de alveodentais

orais [t] e [ð] 570,33 54,17 1385,05 26,21 [ɐ] seguida de alveodental

nasal [n] 570,25 75,31 1331,58 22,06

Par 2

[a] seguida de palatais orais

[ʒ]; [ʃ] e [ʎ] 584,37 43,11 1444,05 51,37 [ɐ] seguida de palatal nasal [ɲ] 573,19 67,61 1604,06 140,52

Par 3

[a] seguida de labiais orais [p];

[β] e [v] 616,90 44,93 1273,29 16,25 [ɐ] seguida de bilabial [m]

(itens não verbais) 558,08 88,34 1228,56 169,30

Par 4

[a] seguida de alveolares orais [l] e [r]; [ɾ]; [z] e [s] (palavras

de conteúdo) 528,48 .ª 1297,74 .ª [ɐ] seguida de alveolar oral [ɾ]

(palavras funcionais) 476,80 .ª 1189,68 .ª

Par 5

[a] seguida de nasal bilabial [m] - Itens no Pretérito Perfeito

do Indicativo 547,96 76,36 1284,95 103,13 [ɐ] seguida de nasal bilabial

[m] - Itens no Presente do

132

diferentes apenas na frequência F2: diferença de 160, 01 Hz para a segunda frequência e somente de 11, 19 Hz para a primeira.

Todavia, o comportamento das vogais nos pares contextuais 1 e 2 não é o mesmo que em 3 e 4. Nestes contextos, observamos que os sujeitos masculinos bracarenses apresentam tanto em F1 como em F2 valores muito discrepantes. As diferenças entre os valores dos for- mantes 1 e 2, nos pares contextuais 3 e 4, são as seguintes: a) o Par 3 regista uma diferença de 58,82 para F1 e de 44, 73 Hz para F2; b) o Par 4 regista uma diferença de 51, 8 Hz para F1 e

de 108,06 Hz para F274. Ressaltamos, no entanto, que o comportamento verificado em 4 já era

previsto, uma vez que, especificamente nestas formas, a neutralização do contraste [a] e [ɐ]

sempre se mantém(Barbosa, 1994:177).

Relativamente ao último Par (Par 5), importa lembrar, antes de mais, o seguinte: referimos, diversas vezes ao longo desta dissertação, que a vogal [ɐ], quando realizada em contexto acentuado em vocábulos verbais no Presente do Indicativo, tende a ser produzida, em certas zonas do país, com um grau de abertura idêntico à vogal [a], de acordo com

Barbosa (1994), e Cunha e Cintra (1994). Assim, tendo em conta esse facto, lembramos que,

numa última subsecção, procuremos dar ainda particular relevância à análise das produções com a apresentação dos gráficos de dispersão das vogais realizadas em contexto bilabial [m] de vocábulos verbais no Presente e Pretérito Perfeito do Indicativo. Primeiro, tendo em conta a variável género e, a seguir, tendo em conta a variável escolaridade. Portanto, para já, discutamos, para estes contextos, somente os valores médios apresentados no Par 5.

De acordo com os resultados em 5, verificamos que as vogais tónicas tendem a ter, em média, valores de F1 e F2 muito próximos: a diferença entre os valores de F1 das vogais [a] e [ɐ] é de apenas 4,81 Hz e a diferença entre os valores de F2 é somente de 15,22 Hz. Percebemos, no entanto, que, em F1, há uma maior tendência para registar valores maiores em contexto nasal bilabial em v.v. no Presente do Indicativo e, em F2, existe uma maior propensão para registar valores maiores em contexto nasal bilabial de v.v. no Pretérito Perfeito.

Assim, estes resultados, muito similares, permitem-nos afirmar que na fala dos homens bracarenses, as vogais [a] e [ɐ] apresentam padrões acústicos idênticos em contexto bilabial [m] em v.v. no Presente e Pretérito Perfeito do Indicativo. Por essa razão, e ainda pelo facto de encontrarmos valores de F1 de [ɐ] maiores que [a], é possível lançar a hipótese de

133

que, na região de Braga, os falantes masculinos tendem a realizar apenas a vogal mais aberta nos contextos bilabial [m] de v.v. no Presente e Pretérito Perfeito do Indicativo. No entanto, para que possamos comprovar essa hipótese, analisaremos os resultados do teste estatístico Wilcoxon e a dispersão das vogais na última subsecção.

Para visualização das semelhanças e dissemelhanças das realizações [a] e [ɐ], no falar do sexo masculino de Braga, apresenta-se, de seguida, a dispersão dos valores médios de F1 e F2 das vogais acentuadas [a] e [ɐ]obtidos nos pares contextuais 1, 2 e 3, descritos na Tabela 25.

Os gráficos de dispersão 25 e 26 comparam a dispersão das médias F1 e F2 das pro- duções nasais e orais em contexto alveodental (Fig. 25) e labial (Fig. 26).

Fig. 25: Gráfico de dispersão dos valores médios de F1 e F2 (símbolo fonético) e DP (elipses) das vogais orais

tónicas [a] e [ɐ], em sílaba aberta, seguidas por consoantes alveodentais orais (linha a cor preta) e nasais (linha a cor cinza), produzidas pelos informantes bracarenses

Fig. 26: Gráfico de dispersão dos valores médios de F1 e F2 (símbolo fonético) e DP (elipses) das vogais orais

tónicas [a] e [ɐ], em sílaba aberta, seguidas por consoantes labiais orais (linha a cor preta) e nasais (linha a cor cinza), produzidas pelos informantes bracarenses

134

Como é possível verificar nos gráficos de dispersão acima, as frequências formânti- cas das vogais centrais produzidas pelos sujeitos masculinos em contextos semelhantes apre- sentam-se realizadas em regiões diferentes (embora muito próximas). Apenas quando realiza- das em contexto alveodental nasal vs. oral (Fig.25) exibem a mesma localização no eixo F1, o que indica que há uma maior tendência para serem produzidas com o mesmo grau de abertura. Em oposição ao observado no gráfico da Figura 26 que mostra que [a] tende a exibir uma rea- lização mais baixa do que a vogal média, embora o desvio-padrão deste segmento, represen- tado pela elipse, ocupe uma área maior, o que revela uma maior variação na produção desta vogal.

Quanto a F2, verificamos que existe uma assimetria entre as realizações vocálicas em ambos os pares contextuais: a vogal [a] apresenta tanto em contexto alveodental como em contexto labial uma realização mais anterior do que [ɐ].

No entanto, considerando a realização de [a] e de [ɐ] em contexto palatal oral vs. nasal, visualizamos um padrão de dispersão bem diferenciado, sobretudo relativamente a F2. Na Figura 27, observamos, em oposição ao verificado nos gráficos anteriores, que a vogal aberta [a] tende, em contexto oral palatal, a apresentar valores de F2 mais baixos do que a vogal produzida em contexto nasal, ou seja, tende a ter uma realização mais posterior. Em contrapartida, em relação ao primeiro formante, verificamos que a vogal [a] mantém a ten- dência para apresentar uma realização ligeiramente mais baixa do que a vogal [ɐ]. Realização esta que poderá estar, no entanto, também relacionada com uma maior variação na produção desta vogal, daí apresentar um DP maior do que [a].

Fig. 27: Gráfico de dispersão dos valores médios de F1 e F2 (símbolo fonético) e DP (elipses) das vogais orais

tónicas [a] e [ɐ], em sílaba aberta, seguidas por consoantes palatais orais (linha a cor preta) e nasais (linha a cor cinza), produzidas pelos informantes bracarenses

135

Todavia, de forma a verificarmos se a aparente semelhança e dissemelhança apresen- tada entre os pares contextuais é realmente comprovada realizámos o teste Wilcoxon para

amostras emparelhadas. Os resultados são apresentados na Tabela 2675.

Tabela 26: Análise comparativa dos valores médios de F1 e F2 das vogais orais tónicas [a] e [ɐ], em sílaba aber-

ta, realizadas em contexto oral e nasal idêntico, produzidas pelos informantes bracarenses – teste Wilcoxon

HOMENS

F1 F2

Z p Z p

Par 1 [a] seguida de alveodentais orais [t] e [ð] vs.

[ɐ] seguida de alveodental nasal [n] .000 1.000 1.604 .109 Par 2 [a] seguida de palatais orais [ʒ]; [ʃ] e [ʎ] vs.

[ɐ] seguida de palatal nasal [ɲ] - 1.069 .285 -1.604 .109 Par 3 [a] seguida de labiais orais [p]; [β] e [v] vs.

[ɐ] seguida de bilabial [m] em vocábulos não verbais -1.342 .180 -1.342 180

Par 4

[a] seguida de alveolares orais [l] e [r]; [ɾ]; [z] e [s] em palavras de conteúdo vs.

[ɐ] seguida de alveolar oral [ɾ] em palavras funcionais

.ª .ª .ª .ª

Par 5

[ɐ] seguida de bilabial nasal [m] em vocáb. no Presente do Indicativo vs. [ɐ] seguida de nasal bilabial [m] em vocáb . no Pretérito Perfeito do

Indicativo

.000 1.000 -1.604 .109

a. O teste Wilcoxon não pôde ser efetuado por não terem sido encontradas ocorrências suficientes da vogal nestes contextos

De acordo com a Tabela 26 e contando com a exclusão do Par 4, conclui-se que as vogais tónicas [a] e [ɐ], produzidas pelos sujeitos masculinos bracarenses, apresentam confi- gurações formânticas bastante idênticas entre os pares contextuais. Isto significa que as dife- renças entre as médias de F1 e F2 das vogais semifechada e aberta, descritas na Tabela 25, não são significativas, como é possível verificar através dos valores de significância maiores que 0.05, expostos na Tabela 26.

Esses resultados apontam, então, para a hipótese de que, ocorrendo em níveis contex- tuais semelhantes, tanto uma como outra vogal terão realizações acústico-articulatórias idênti- cas. No entanto, pelo facto de [ɐ] apresentar valores mais elevados do que a vogal média de Lisboa estudada por Delgado-Martins (1973) (cf. Tabela 11), corroboramos a hipótese, já referida na subsecção 3.1.2., de que a vogal central semifechada tende a apresentar uma reali-

75 Chamamos a atenção para o facto de não nos ter sido possível executar os testes estatísticos para o Par 4, por não terem sido

136

zação mais aberta no falar da cidade de Braga. Portanto, tal facto permite-nos inferir que na fala masculina bracarense pode haver uma tendência para a predominância apenas da variante [a].

3.3.2. Análise do padrão formântico (F1 e F2) das realizações [a] e