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Análise das práticas implementadas

cApÍtulo i modelos conceptuais em intervenção precoce

19 No que diz respeito à faixa etária das crianças apoiadas, verifica-se que

C. Estabelecida R.Biológico R.Ambiental Atraso Des.Casos Observados

2.2. Análise das práticas implementadas

Nesta segunda secção pretendemos analisar de modo qualitativo as práticas implementadas, no sentido de complementar os dados quantitativos, considerando que a literatura refere que as percepções dos profissionais podem ser influenciadas por questões de desejabilidade social.

Nesse sentido, iremos apresentar em primeiro lugar, de um modo genérico, os dados obtidos com base no Relatório Anual de Avaliação elaborado pelas EID, passando para aspectos mais específicos da análise documental dos processos e posteriormente para a análise de conteúdo das observações directas realizadas durante as sessões de apoio a partir das nossas notas de campo.

Assim, a fim de caracterizarmos globalmente as práticas das EID do distrito de Portalegre, passamos a enunciar as entidades que efectuaram a sinalização dos casos, as faixas etárias das crianças no momento da sinalização, as suas idades aquando da detecção da situação de risco, o tempo que mediou entre sinalização e realização do primeiro contacto com a família, e ainda, quais os profissionais que foram designados como responsáveis de caso.

Figura 24 – Distribuição dos casos em função da idade e entidade sinalizadora

17 13 0 15 78 4 3 5 0 18 33 8 14 12 3 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Saúde Educação S. Social Família Outra

Número de sinalizações por entidade

0 - 2 anos 3 - 5 anos + 6 anos

Verificámos que, durante o ano de 2007, foram sinalizados a nível distrital 223 casos, sendo que destes apenas 12 não foram acompanhados, sete por recusa da família e cinco por falta de recursos. Relativamente à sinalização dos casos, no que diz respeito à idade e à entidade sinalizadora (ver Figura 24), constatámos que a maioria dos casos são sinalizados pelos serviços educativos (44%) e na faixa etária dos três aos cinco anos (63%). Verifica-se que há uma percentagem considerável de casos sinalizados pela própria família (26%), seguindo-se em percentagem idêntica as sinalizações por parte dos serviços de saúde (13%) e de outros serviços da comunidade (13%), havendo também uma percentagem, bastante inferior, de casos sinalizados pelos serviços da segurança social (4%). No que diz respeito à idade, 30% dos casos são sinalizados na faixa etária dos zero aos dois anos e verifica-se ainda uma percentagem residual de casos sinalizados com idade superior a seis anos (7%).

Figura 25 – Distribuição dos casos em função do lapso de tempo entre detecção e sinalização do problema

No que se refere ao tempo que mediou entre o momento em que o problema é detectado e o momento em que decorreu a sua sinalização à equipa (ver Figura 25), constatámos que em 47% dos casos esta se verificou num período de tempo inferior a seis meses e em 19% dos casos demorou mais de um ano, havendo uma percentagem equivalente de casos em que esta informação não é conhecida.

Sinalização do problema 12 a 23 meses 8% acima 2 anos 11% desconhecida 21% 6 a 11 meses 13% 3 a 5 meses 21% abaixo 3 meses 26%

Figura 26 – Distribuição dos casos em função do tempo de espera para intervenção

Quanto ao período de tempo que as famílias têm, em média, que aguardar, desde o momento em que é efectuada a sinalização do problema a uma das equipas de intervenção directa do distrito, até ser efectuado o primeiro contacto, dando-se de seguida inicio à intervenção (ver na Figura 26), constatámos que em mais de 60% dos casos o tempo de espera é inferior a três semanas e que numa percentagem inferior a 40% o apoio tem início num período inferior a seis meses.

Figura 27 – Distribuição dos casos em função do profissional responsável de caso

No que diz respeito à designação de um responsável de caso (ver Figura 27), verificámos que os profissionais a quem foi atribuída esta função se repartem de modo quase equitativo, na maioria dos casos (63%), entre educadoras e terapeutas da fala, seguindo-se em menor percentagem (25%), mas também equivalente, a atribuição desta responsabilidade a psicólogos e a assistentes sociais, havendo apenas uma percentagem residual de situações

Responsáveis de Caso Outros 3% A. Social 11% Médico/Enf. 1% T. Ocupa 5% T. Fala 32% Fisioterapeuta 3% Psicóloga 14% Educadora 31%

Tempo entre sinalização e primeiro contacto

1 a 3 semanas 41% < 1 semana 22% 1 a 2 meses 28% 3 a 5 meses 8% mais de 1 ano 0% 6 a 11 meses 1%

cuja responsabilidade do caso foi atribuída a terapeutas ocupacionais, médicos e enfermeiros, ou a outros profissionais.

2.2.1. Procedimentos de registo nos processos

No decurso do nosso estudo qualitativo, com o intuito de

caracterizarmos a actuação das EID, analisámos os documentos constantes nos processos relativos aos casos que acompanhámos durante a realização da observação das práticas. Assim, e de acordo com os dados obtidos através do Protocolo de Análise Documental dos Processos (ver Anexo III), passamos a explicitar qual a documentação que consta dos mesmos, bem como quais os registos efectuados pelos profissionais, e arquivados nos processos, relativamente aos procedimentos de avaliação e intervenção implementados no âmbito do apoio prestado às crianças e suas famílias.

 Documentação arquivada nos processos

Num primeiro nível de análise do conteúdo dos processos, constatámos que, a nível organizativo, com pequenas variações, todos eles seguem uma estrutura idêntica, sendo os documentos arquivados de acordo com as seguintes categorias: identificação, informação familiar, anamnese, avaliações, relatórios, planos de intervenção, registos de acompanhamento, reuniões e anexos. Estes conteúdos foram definidos pela equipa de coordenação distrital, em articulação com as coordenações das equipas, e são idênticos para todas as EID do distrito de Portalegre.

Após uma análise detalhada dos documentos que estavam arquivados nos processos que tivemos oportunidade de consultar, passamos a relatar a percentagem dos processos em que constam os documentos referenciados, ordenados por ordem decrescente de frequência (ver Quadro 40).

Verificámos, com base na análise de conteúdo dos processos, que em quase todos os casos existe o consentimento informado da família para a intervenção, tendo a sua sinalização sido formalizada com base na ficha para formular o pedido de intervenção precoce, existem dados relativos ao historial

do desenvolvimento da criança, bem como registos das sessões de acompanhamento à criança e família. Em grande parte dos processos encontrámos informação sobre o agregado familiar, dados relativos às avaliações da criança, bem como registos dos assuntos analisados em reuniões de discussão de caso e de reuniões com a família. Cerca de metade dos dossiers têm informação sobre o programa de intervenção precoce, nomeadamente o plano individualizado de apoio à família, e/ou o programa educativo para a criança, tendo também registos relativos a informação especializada de outros serviços e do primeiro contacto efectuado com a família.

Quadro 40 – Tipo de documentação existente nos processos

Conteúdo do Processo Percentagem de casos

Declaração de autorização da família 94%

Ficha de sinalização 93%

Registos de sessões de intervenção 93%

Ficha de anamnese 89%

Registos de reuniões discussão de caso23 77%

Ficha de informação familiar 72%

Registos de avaliações do desenvolvimento 71% Registos de reuniões com a família 67% Plano individualizado de apoio à família24 56% Plano de intervenção/ Programa educativo 53%

Ficha de primeiro contacto 49%

Relatórios de outros serviços 49%

Relatórios de exames médicos 41%

Registos de observação em contexto 7%

Constatámos, ainda, que existiam vários processos com outro tipo de documentos, para além dos anteriormente enunciados, tais como: ficha de resposta ao pedido de apoio; ficha de admissão na equipa; horário das sessões de apoio; e, declaração de autorização para apresentação pública do caso.

23

Nos registos relativos a algumas destas reuniões também era referenciada a participação da família. 24

Verificou-se que em 78% dos processos existia o PIAF, mas somente 56% dos casos o tinham preenchido.

Havia, também, em alguns processos, documentação relativa à pesquisa bibliográfica efectuada sobre temáticas referentes à problemática do caso em acompanhamento, por exemplo: distrofia muscular, neurofibromatose, doença cardíaca, mononucleose, síndrome de Prader Willi, síndrome de Asperger, síndrome de XYY; ou sobre domínios específicos do desenvolvimento da criança, como por exemplo: desenvolvimento motor, linguagem e comunicação; e ainda, materiais de suporte à programação da intervenção: Vocabulário Makaton, Currículo Crescer, Programa Portage, entre outros.

 Informação sobre procedimentos de avaliação

O processo de avaliação pressupõe um estudo global do

desenvolvimento da criança, da história familiar e dos seus contextos de vida. Neste processo, participam habitualmente profissionais das diferentes disciplinas que compõem a equipa, sendo desejável que haja articulação com os serviços que encaminharam o caso, e, quando necessário, com serviços especializados para a realização de exames ou avaliações complementares.

Passamos a apresentar, as informações recolhidas relativamente aos procedimentos de avaliação junto da criança e da família, com base nos elementos que constam nos registos e relatórios arquivados nos processos das famílias25(ver Quadro 41).

Analisando os dados obtidos, constatámos que a avaliação da criança é realizada na maioria dos casos por mais do que um profissional da equipa (psicólogo, terapeuta e/ou educadora), estando também referenciada em

alguns casos a participação da família (17%). A avaliação ocorre

frequentemente em contexto educativo e são utilizados diferentes instrumentos de avaliação (embora predominem as escalas de desenvolvimento). No que se refere à caracterização da família, em cerca de metade dos processos não consta informação sobre instrumentos formais ou informais usados para o efeito, existindo em alguns deles um inventário de necessidades; contudo na

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Apenas um dos processos consultados não tinha arquivado registos referentes aos procedimentos realizados e dados obtidos.

maior parte dos casos conseguimos encontrar várias informações relativas à família (decorrentes do preenchimento de algumas fichas ou formulários). Em muitos dos processos existem registos formais relativos à avaliação (geralmente sob a forma de relatório dos profissionais responsáveis pelo procedimento), bem como diferentes tipos de registos dos resultados obtidos.

No que diz respeito à troca de informação, verificámos que, na maior parte dos casos não existem dados, de avaliação ou caracterização da situação, enviados por outros serviços da comunidade, havendo em algumas situações informação dos serviços de saúde e, numa percentagem mais reduzida, de outros serviços (geralmente CPCJ ou Centro especializado); existindo numa percentagem considerável de processos indicação dos interlocutores com quem a EID partilhou os resultados da avaliação.

Apesar de existirem registos, nomeadamente relatórios, com dados de avaliações efectuadas ao longo do tempo, não nos foi possível, com base nos registos constantes nos processos, recolher informação explícita relativa aos procedimentos de reavaliação (objectivos, intervenientes e periodicidade).

Quadro 41 – Informação existente nos processos relativa a procedimentos de avaliação26

Dados sobre Avaliação Percentagem

Intervenientes na avaliação Sem informação 9%

Psicólogo 9%

Terapeuta da fala 9%

Educador 6%

Terapeuta ocupacional 6% Vários intervenientes 62%

Local da avaliação Sem informação 19%

Creche ou J. Infância 49%

Domicilio 8%

Sede da EID 8%

Outro local 5%

Instrumentos para avaliação da criança Sem informação 10% Escala de desenvolvimento 38% Checklist 5% Outro instrumento 5% Vários instrumentos 43% Continua… 26

O item “vários” significa que se verificaram referências, nos registos arquivados nos dossiers dos casos, a dois ou mais elementos relativos às diferentes subcategorias em análise.