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CAPÍTULO II: ANÁLISE DE MERCADO

2.3. Análise da Procura

2.3.1. Natureza económica do bem “tradução”

Num contexto empresarial, da mesma forma que a gasolina é o bem complementar dos automóveis, também a tradução é um bem complementar de muitos outros produtos ou serviços. Nesta perspetiva, a tradução deve ser vista como um fator de produção ou de venda. De facto, quando uma empresa vende um bem como, por exemplo, um automóvel, esta vai obrigatoriamente traduzir o manual de instruções em diversas línguas. Contudo, enquanto a empresa vai produzir n veículos, o texto será traduzido apenas uma vez.

Assim sendo, a função de procura do mercado do bem “tradução” pode ser dada da forma seguinte:

f (d) = (Qualidade, Preços relativos, Respeito pelos prazos, Tecnologia, Benefícios,…) Nesta fórmula, optou-se por escolher as variáveis mais importantes na procura do bem “tradução”. Assim, assumimos a qualidade do produto final como um critério preponderante, tal como o preço do serviço. Nesta variável, escolhemos o termo “preços relativos” porque o preço por si só não determina a escolha dos consumidores. A ideia de preço relativo do bem i=pi/pj significa o número de unidades do bem j a que o consumidor tem de renunciar para obter mais uma unidade do bem i. Para além destas variáveis essenciais, decidimos incluir o respeito pelos prazos bem como a tecnologia utilizada por serem aspetos de qualidade quando avaliamos a prestação de serviço no seu todo. Por fim, incluímos os benefícios como variável, pois é em função da utilidade que o consumidor vai agir. Trata-se de uma variável motivacional.

2.3.2. Valores da tradução, por país, na Europa

Observamos que os cinco principais consumidores de tradução na União Europeia são, segundo Kelly (2009:12), a Alemanha, a França, o Reino Unido, a Itália e a Espanha, conforme a tabela 6.

Country Estimated amount spent on language services in 2009 (in US$ millions) 1 Germany 1.041 2 France 700 3 United Kingdom 546 4 Italy 494 5 Spain 379 6 Netherlands 275 7 Ukraine 170 8 Belgium 169 9 Switzerland 146 10 Sweden 125 11 Poland 121 12 Austria 118 13 Norway 103 14 Denmark 81 15 Greece 77 16 Ireland 75 17 Czech Republic 71 18 Finland 63 19 Portugal 62 20 Hungary 50

Tabela 6: Estimated amount spent on language services in 2009 Fonte: Common Sense Advisory (2009:12)

Ainda no que diz respeito à procura, Kelly (2009:14) verificou que os pares de línguas mais traduzidos na União Europeia têm o Inglês em comum. As outras línguas com maior relevância são o Espanhol, o Francês e o Alemão, conforme a tabela 7.

Top Five Language Pairs Count (n) Estimated Average of Work Volume (%) English into Spanish 98 45,80%

English into French 95 18,23%

English into German 89 11,16%

German into English 56 9,20%

French into English 55 7,55%

Other Language Pairs 7,99% Tabela 7: Top Five Language Pairs

Fonte: Common Sense Advisory (2009:14)

E, neste mesmo estudo, Kelly (2009:15) apresenta os setores de atividade mais significativos dentro da União Europeia. Verificamos que estes estão ligados às tecnologias (informática, software, ciência), conforme a tabela 8.

Industry Value (in million €)

1 Software publishing 339,93

2 Computer electronic, and electrical products 258,53 3 Professional, scientific, and technical services 229,16 4 Machinery and equipment manufacturing 187,12 5 Financial and insurance services 180,91 6 Pharmaceutical manufacturing 176,96 7 Health care and social services 165,71 8 Automotive and transport manufacturing 157,84

9 Public administration 156,47

10 Other services activities 148,46 Tabela 8: Which industries matter most in Europe?

Fonte: Common Sense Advisory (2009:15)

Para Romaine (2009:7), num relatório publicado por My Gengo citando dados da Common Sense Advisory, os principais setores/clientes de serviços linguísticos são, conforme o gráfico 8, os seguintes:

Gráfico 8: What are the top sectors for language services? Fonte: My Gengo (2009:7)

2.3.3. A Procura no mercado português

No caso português, Ferreira-Alves (2005:9) indica que os principais setores interessados pelos serviços de tradução são empresas ligadas às áreas da informática, economia, engenharia mecânica, medicina, farmácia, direito e indústria automóvel. Durão (2006), por sua vez, vai ao encontro destas informações, ao apresentar os dados seguintes, conforme os gráficos 9 e 10:

Gráfico 9: Áreas de especialização

Fonte: Durão (2006) - Primeiro Relatório de um Inquérito a Fornecedores de Serviços de Tradução Científica e Técnica de Inglês Para Português Europeu

Gráfico 10: Subáreas das ciências tecnológicas com maior volume de trabalho

Ao recorrer a estes gráficos, evidenciamos o domínio das ciências tecnológicas e a existência de vários nichos de mercado (física, astronomia, matemática, etc.). E, dentro da categoria “Ciências Tecnológicas”, observamos o domínio da informática e das telecomunicações. A partir desta observação, deduzimos que o mercado da tradução acompanha o desenvolvimento económico de atividades ligadas às comunicações, às redes, etc.

Por fim, o estudo de Dias (2006) vai ao encontro dos gráficos citados acima. De facto, o trabalho desta autora tinha como objetivo determinar se existia uma maior procura nos tradutores técnicos, literários ou generalistas. Assim sendo, verificou-se que 40% dos anúncios publicados, requeriam um tradutor técnico, apenas 5% pretendiam contratar tradutores literários e, nos restantes 55% não havia qualquer indicação quanto à área de tradução, pelo que se conclui que se procurava um tradutor generalista.

A procura dos serviços de tradução na economia portuguesa não está explorada dado que, no presente, ainda não existem dados nem trabalhos com uma qualidade considerada mínima para sustentar o nosso trabalho. Daí a limitação do desenvolvimento deste item.

2.3.4. Perceção dos serviços de tradução

No estudo realizado pela instituição My Gengo em 2009, tenta-se perceber a forma como o mundo virtual avaliava os serviços de tradução ao divulgar um inquérito junto de utilizadores de duas redes sociais. O objetivo era determinar quais as opiniões daqueles que utilizam serviços de tradução no dia a dia e, deste estudo, destacam-se vários pontos que caracterizam a profissão. Os autores sublinham o facto de a tradução profissional ser utilizada apenas quando se trata de assuntos profissionais (redação/leitura de documentos, publicação de informação online), numa perspetiva de beneficiar os negócios da empresa. Outro aspeto evidenciado por este trabalho tem a ver com as características que prejudicam a contratação de serviços de tradução e, neste domínio, a questão do preço e da velocidade de resposta são claramente os principais entraves. Contudo, a grande maioria dos inquiridos revelou estar interessada em ler artigos provenientes de outros países ou fazer compras em sites estrangeiros mas, poucos se mostraram dispostos a pagar por este serviço.

Conforme o pensamento de Fernand Boucau (2005), a imagem da tradução “não é positiva”, sendo apenas vista como algo útil. Os elevados custos associados a este serviço são mais importantes do que a qualidade aquando do processo de tomada de decisão junto das empresas. Boucau acrescenta que as empresas não veem a tradução como sendo um elemento estratégico e não percebem a complexidade do processo, sendo ela uma forma cara de comunicar e não um investimento.

Para a TC World4, torna-se claro que as grandes empresas internacionais esperam mais das

agências de tradução. Para estas empresas, traduzir um documento já não é suficiente, pelo que se tornaram mais ambiciosas, pedindo um melhor serviço capaz de acompanhar os seus planos de globalização. Esta observação foi sublinhada pelo relatório da Common Sense Advisory, intitulado “Buyer-Defined Translation Quality”5, que estudou o comportamento de empresas (com

500 ou mais empregados e que gastam mais de um milhão de dólares em serviços de tradução por ano) e pagam a agências de tradução para traduzir centenas de milhões de palavras numa média de 30 idiomas. Paralelamente, este mesmo estudo decidiu debruçar-se sobre 55 agências de tradução de topo. A partir deste estudo, sublinhamos que os dois principais elementos de qualidade citados pelos compradores são o rigor técnico e o empenho do fornecedor em receber feedback. Estes aspetos são mais importantes do que a própria qualidade linguística. E, por sua vez, as empresas inquiridas apontaram as áreas do Marketing, documentação técnica, software e páginas Internet como sendo as mais críticas em relação à qualidade da tradução. Assim, de acordo com Kelly (2008), as grandes empresas pensam na forma como a qualidade das traduções poderá ser uma ajuda para alcançar determinados objetivos comerciais, na conquista de mercados no estrangeiro e no aumento da quota de mercado a nível nacional. Acrescenta ainda que as empresas de sucesso que vendem os seus produtos no mundo inteiro têm ideias muito específicas no que diz respeito às características de uma boa tradução. De facto verificamos que este relatório aponta para uma forte correlação entre as perceções de qualidade por parte do comprador e elementos tais como a cultura da empresa, a marca, e ouros elementos que conferem um estatuto e uma imagem à instituição.

4 Informação disponível online em: http://www.tekom.de/index_neu.jsp?url=/servlet/ControllerGUI?action=voll&id=2587 (consultado a 8 de

2.4. Conclusão

Os dados apresentados neste capítulo apontam para vários aspetos. Assim, num primeiro momento, no que diz respeito à Oferta a nível internacional, verificamos que todas as fontes são unânimes em afirmar que o mercado da tradução está em crescimento. Este fenómeno é maioritariamente impulsionado por três zonas económicas que lideram as quotas de mercado. Trata-se dos Estados Unidos, a União Europeia e a Ásia. Porém, num segundo momento, verificamos que existem divergências relativamente a estes dados dentro do mesmo organismo. De facto, a Common Sense Advisory afirma num estudo publicado em 2009 que o mercado irá crescer até 25.000 milhões de dólares em 2013. Por sua vez, em 2010, o valor apresentado por esta instituição é de 38.000 milhões de dólares. Atendendo a este aspeto bem como a outros que já foram evidenciados até agora, parece-nos que estes dados carecem de fiabilidade.

Esta questão repete-se no que diz respeito aos dados apresentados pelos fornecedores de serviços linguísticos. Assim, o estudo da Comissão Europeia evidenciou problemas de incumprimento relativamente à Nomenclatura de Atividades Económicas da Comunidade Europeia (NACE). O mesmo pode ser verificado no mercado português, onde a nomenclatura CAE não é respeitada. Consequentemente, aparece difícil realizar um estudo que apresente a realidade do mercado internacional, comunitário e nacional. Neste sentido, é importante olharmos para o conjunto destes dados com alguma prudência e com pensamento crítico. Por sua vez, a nível da Procura europeia, observamos que os países mais representativos são a Alemanha, a França e o Reino Unido. Este aspeto parece consistente com os três pares de línguas mais frequentemente solicitados, pois todos incluem a língua inglesa como língua de base. A partir deste idioma, os pedidos de tradução são realizados para os idiomas dos três países mais ricos. Trata-se do Espanhol, o Francês e o Alemão, respetivamente. E, por fim, em termos de setores de atividade mais significativos, existe consenso na literatura europeia e nacional. Assim, a indústria informática e de software, bem como a indústria da ciência, são os três principais setores de atividade que mais recorrem aos serviços de tradução.

Atendendo ao crescimento do mercado da tradução e perante a constatação feita por Rinsche (2009) relativamente á falta de linguistas qualificados, parece-nos oportuno debruçarmo-nos sobre a questão da formação do tradutor.

CAPÍTULO III: