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FORMAÇÃO ACADÉMICA DO TRADUTOR

3.4. Competências atuais

Aqui fazemos um levantamento das competências mais frequentemente sublinhadas por autores revisitados. Neste sentido, no domínio da tradução, Brum (2008:71) destacou o contributo da empresa de tradução Schreiber Translations, Inc., que publicou na sua página da Internet um excerto do livro The Translator's Handbook7, onde estão identificados os dez principais requisitos

do tradutor profissional (ver anexo 1). Na nossa perspetiva, estas competências podem ser divididas em várias categorias, nomeadamente:

 Linguísticas,  Culturais,  Tecnológicas,

 Conhecimentos técnicos.

Por tal facto, e para além de um profundo conhecimento de pelo menos duas línguas, o tradutor deve possuir sólidos conhecimentos culturais nos espaços físicos onde a língua é falada. De este propósito podemos referenciar o caso da língua inglesa, cujas culturas no Reino Unido e nos Estados Unidos são relativamente diferentes, o que implica a necessidade e capacidade para o tradutor de se adaptar a cada espaço físico. Ao mesmo tempo, o profissional deve ainda dominar as tecnologias da informação bem como as ferramentas de tradução assistida por computador e possuir conhecimentos sobre várias áreas.

Ferreira-Alves (2005:10), que comunga da divisão acima mencionada sublinha, ainda, que as competências mais importantes na opinião das empresas contratantes são as linguísticas, as redaccionais e as translatórias. Porém, verificamos que existe um conjunto de competências paralelas que vêm enriquecer o tradutor profissional, nomeadamente em termos de pesquisa, de cultura como também um sentido autocrítico. Acrescenta, ainda, que só é possível realizar uma tradução com qualidade se o tradutor possuir determinadas competências evidenciadas na Norma EN-15038 (ver anexo 2).

7 Schreiber Translations, Inc. “Ten Requisites for Professional Translators”. In http://www.schreibernet.com/for-translators/handbook/translator-

Aquele documento estabelece requisitos de qualidade no domínio da prestação de serviços de tradução na União Europeia. Neste sentido, a norma aponta cinco competências fundamentais em termos de:

i. tradução,

ii. conhecimentos linguísticos e textuais, iii. pesquisa,

iv. cultura,

v. conhecimentos técnicos.

Por competência de tradução entende-se a capacidade de traduzir textos a um nível profissional (Ferreira-Alves, 2006). Esta competência inclui nomeadamente a capacidade de avaliar problemas de compreensão e de produção do texto, bem como a capacidade de entregar um produto final conforme o acordo estabelecido com o cliente. Por sua vez, a competência linguística e textual inclui a capacidade de compreensão total das línguas de partida e de chegada. A competência de pesquisa implica a capacidade por parte do tradutor de aceder aos conhecimentos linguísticos e especializados necessários à compreensão do texto de partida e à de produção do texto de chegada. A competência cultural inclui a capacidade de possuir e fazer uso de informação sobre o ambiente cultural, os padrões comportamentais e os sistemas de valores que caracterizam as culturas de chegada e de partida. Por fim, a competência técnica diz respeito à capacidade de produção profissional de uma tradução, ao recorrer por exemplo a recursos tecnológicos.

Apesar de entendermos a importância deste texto, pensamos que o mesmo peca pela ausência do caráter “não obrigatório”. De facto, por se tratar de uma norma que pretende harmonizar os processos usados numa tradução, este documento é meramente indicativo. Na prática, o cliente final dificilmente saberá que tal documento existe e quais os benefícios em contratar um tradutor que o respeite. Assim, acreditamos que esta norma encontra-se mais orientada para empresas que perceberam a importância estratégica da tradução nos seus negócios e que, nesta perspetiva, pretendem adquirir um produto de qualidade. Assim, e embora seja essencial resolver o problema da qualidade acreditamos que, neste momento, o mercado da tradução

nacional deve debruçar-se sobre aspetos estruturais como, por exemplo, as condições de acesso à profissão.

A questão da importância das competências dos tradutores não é nova, apesar deste nicho de mercado continuar desregulado neste aspeto. Contudo, a União Europeia tem tomado algumas medidas neste campo e as suas orientações estão a ser utilizadas por diferentes autores para as explorar e dinamizar. Parece ser o caso de Dias (2006) que, no seu trabalho, pretendia analisar um conjunto de dados obtidos a partir de uma recolha de textos de anúncios classificados ligados aos Fornecedores de Serviços de Tradução, observamos que a questão da formação é muito relevante. Contudo, antes de apresentarmos as diferentes conclusões do artigo, é importante referir que este estudo não representa uma imagem completa e verdadeira do mercado, pois tal como indica Dias (2006:8), a maior parte dos profissionais do ramo da Tradução são, habitualmente, recrutados por via direta e não de anúncios classificados. Este aspeto explica-se pelo facto dos tradutores freelancers enviarem regularmente os seus curricula vitae para as empresas, sejam estas agências de tradução ou não. Logo, apenas muito raramente surge a necessidade de publicar anúncios classificados.

Em termos de requisitos, Dias (2006:10) indica os principais encontrados, divididos em quatro categorias, conforme a tabela 9:

Categorias Requisitos

Formação académica Licenciatura em Línguas e Tradução Curso do ISLA ou equivalente

Formação linguística Fluência em Inglês (ou outra língua) Sólidos conhecimentos de Espanhol (ou outra língua) Conhecimento perfeito de Português

Conhecimentos informáticos Conhecimentos de informática na ótica do utilizador Conhecimentos de Trados, Transit, etc. Utilização avançada de MS Office

Outros

Cultura geral elevada Ligação à Internet Produtividade mínima

Excelente capacidade de redação e tradução Tabela 9: Requisitos exigidos

Fonte: “Tradutores Precisam-se – A Imagem da Tradução Transmitida pelos Anúncios de Emprego”

Do quadro, fica-nos a sensação que existem aqui informações importantes a serem trabalhadas. De facto, verificamos que o estudo reforça a importância das competências que temos vindo a

referenciar. Apesar disso, a tabela de Dias (2006:10) também reforça dois aspetos que achamos fulcrais na profissão de tradutor. O primeiro tem a ver com a formação académica que aponta claramente para uma licenciatura em tradução. E, para reforçar esta ideia, alguns anunciantes especificaram este pedido ao indicar um estabelecimento de ensino superior. Desta observação, podemos concordar com a afirmação de Costa (2009) que evidenciava o grau académico como fator preponderante para aceder ao mercado de trabalho. Por seu turno, o segundo prende-se com a competência tecnológica. De facto, verificamos que os anunciantes exigem profissionais que saibam usar ferramentas tradicionais de tratamento de texto como também ferramentas de tradução assistida. Esta procura de profissionais capazes de usar os programas referenciados e facilmente contactáveis por Internet parece-nos apontar para um grau cada vez mais elevado de exigência e de eficiência, o que nos leva a antecipar o que poderá surgir no futuro.