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Análise do Projeto Pedagógico do curso de licenciatura em Letras/Espanhol do IFB

CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Análise do Projeto Pedagógico do curso de licenciatura em Letras/Espanhol do IFB

Com a finalidade de levantar a contribuição do curso de licenciatura em Letras/Espanhol do IFB para a formação de habilidades sociais específicas ao trabalho docente no âmbito formal foi realizada a análise do Projeto Pedagógico do Curso (PPC), norteador da organização do trabalho pedagógico.

A justificativa para aprofundar na realidade do curso torna-se essencial para a conduta de intervenção comunitária a ser adotada, em especial a intervenção do educador social. Esta se caracteriza pela amplitude de contextos de trabalho, pela variedade de técnicas e diversidade de funções; por serem destinadas a indivíduos, grupos ou comunidades e voltadas aos problemas sociais e à fragilidade social (Azevedo & Correia, 2013).

O PPC passou por reformulação e aprovação, em setembro de 2015, após aprovação inicial pela Resolução nº 038/201230 do IFB. A reformulação foi motivada pelo conjunto de professores do curso, em colegiado, que constataram a presença de lacunas diante das necessidades de formação inicial do professor e as novas diretrizes curriculares para a formação docente, Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015.

As mudanças englobaram a carga horária final do curso que passou a ser de 3.136 horas-relógio e a proposta da prática da formação como componente curricular

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Resolução nº 038-2012/RIFB (2012). Autoriza a oferta do Curso Superior em Letras – Habilitação em Língua Espanhola e aprova o Projeto Pedagógico de Curso. Ministério da Educação. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB).

O conjunto de atividades formativas que proporcionam experiências de aplicação de conhecimentos ou de desenvolvimento de procedimentos próprios ao exercício da docência. Por meio destas atividades, são colocados em uso, no âmbito do ensino, os conhecimentos, as competências e as habilidades adquiridos nas diversas atividades formativas que compõem o currículo do curso (Parecer CNE/CES nº15, 2005, p. 3).

Estas atividades formativas relacionam-se a disciplinas que compõem a formação pedagógica e não aos fundamentos técnico-científicos das habilitações específicas de licenciatura (como Letras, Química, Sociologia...). O PPC do curso de Letras/Espanhol foi revisto e embasado nas determinações do Conselho Nacional de Educação (CNE) que adotou maior previsão de práticas relativas ao exercício da docência como discutido em capítulos anteriores. No curso de Letras/Espanhol, adotou-se a prática pedagógica como disciplina nos dois primeiros períodos do curso e relacionada aos componentes curriculares nos demais semestres do curso. Além disso, à concepção de uma prática docente vinculada ao estágio nos momentos finais do curso, em concomitância da prática pedagógica.

O PPC foi reorganizado com a adoção de uma perspectiva de educação enquanto prática social em concordância com a função social do IFB “de promover educação científico - tecnológico humanística, e visa à formação de um profissional reflexivo de seus deveres, ciente de seus direitos de cidadão e comprometido com as transformações culturais, sociais e políticas no meio em que vive” (p.8).

Ao longo de oito semestres do curso de licenciatura, ao estudante pretende-se ofertar uma ampla formação que busque compreender as mudanças do contexto social, econômico, político e das novas tecnologias, uma vez que apontam para a contínua transformação do fazer pedagógico e da importância de um processo formativo permanente.

Almeja-se, no mesmo sentido, que a Língua Espanhola possa ser utilizada sob inúmeras funções pelo desempenho das capacidades criativas e intelectuais que agreguem à compreensão da cultura espanhola e sua inter-relação com as demais culturas e saberes.

Como objetivo geral do PPC, os futuros professores de Língua Espanhola deverão atuar na Educação Básica, não se restringindo a ela, de modo criativo e autônomo. Como objetivos específicos, o PPC prevê:

 Incentivar o estudante, desde o início do curso, a participar das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão em consonância com a proposta do Instituto Federal;

 Propiciar aos estudantes os conhecimentos pedagógicos, linguísticos e socioculturais necessários ao ensino da Língua Espanhola na Educação Básica;

 Promover a compreensão de seu papel na construção do conhecimento e

de sua importância transformadora nos locais de atuação;

 Proporcionar o desenvolvimento das habilidades para o uso das novas tecnologias e para o trabalho em equipe;

 Estimular a reflexão sobre a igualdade de diferenças e diversidade cultural;

 Fomentar o desenvolvimento da autonomia, da solidariedade e do pensamento social crítico [grifo nosso] (p. 13).

E como capacidades, ao final da licenciatura de:

 Dominar os aspectos linguísticos e literários da Língua Espanhola;

 Ter domínio das cinco habilidades: compreensão oral e escrita, expressão oral e escrita e interação linguístico-social;

 Analisar, escolher e produzir materiais didáticos para o ensino da Língua Espanhola que contemplem, além dos conteúdos linguísticos, aqueles relacionados às variedades culturais e dialetais.

 Refletir criticamente sobre sua prática e se reconhecer como um profissional em constante transformação;

 Desenvolver práticas e ações que fomentem a melhoria em sua realidade de atuação;

 Refletir sobre a linguagem como fenômeno psicológico, educacional, social, histórico, cultural, político e ideológico;

 Desenvolver pesquisa e extensão em sua área e em outras afins;

 Atuar em equipe interdisciplinar e multidisciplinar, na rede de ensino;

 Criar e recriar estratégias que favoreçam o aprendizado de seus alunos;

 Apresentar postura crítica, autônoma e solidária nos diferentes contextos;

 Utilizar as novas tecnologias para ressignificar suas práticas docentes [grifo nosso] (p. 14).

Os vários itens grifados dos objetivos específicos do PPC e das capacidades que se espera desenvolver nos licenciandos consideram as demandas do ensino atual em promover atividades de formação que não se limitem à permanência em sala e que se expandam para atividades de pesquisa e extensão universitária; busquem formar uma identidade profissional social de transformação de contextos na atuação; projetem o desenvolvimento de habilidades para o trabalho em equipes; estimulem a prática reflexiva sobre aspectos culturais, de igualdade e de diferenças, de postura solidária com ações e práticas que melhorem seus ambientes de atuação.

Claramente, o PPC foi orientado para as demandas sociais com a finalidade de inserir os estudantes em espaços de experimentação, criação, intervenção em fenômenos a

serem investigados não meramente no campo da teoria, com os alunos integrados à realidade social, econômica, profissional da área com “forte estímulo à pesquisa e às estratégias de formação para a autonomia intelectual, no sentido do ‘aprender a aprender’ e do ‘aprender a ensinar’” (p. 16).

Na Tabela 5, optamos por destacar as competências e habilidades integrantes da componente curricular Prática de Ensino, as quais contam com 50 horas/relógio cada e são ministradas no 1º e 2º períodos do curso como ilustrado na matriz curricular e no fluxograma do curso nos Anexos A e B.

Tabela 5 – Competências e habilidades previstas pela componente Prática de Ensino

no 1º e 2º períodos do curso de Letras/Espanhol.

Componente Curricular Prática de Ensino

1º PERÍODO 2º PERÍODO

Competência: desenvolvimento da capacidade de identificar os principais aspectos da conjuntura docente sem omitir a herança histórica do sujeito, mas utilizando-se dela para compreender os condicionantes que hoje permeiam a prática docente.

Competências: desenvolvimento da

capacidade de aplicar os fundamentos teóricos e metodológicos no ensino do trabalho docente por meio de aulas práticas. Capacidade de adaptação metodológica de acordo com o meio em que atuará. Concepção de que o conhecimento precisa ser criado e recriado a fim de reduzir a distância entre os conceitos abstratos e a vida concreta. Reflexão no sentido de haver uma diversificação de recursos e dos métodos de avaliação que melhor se habituem aos tempos atuais.

Habilidades:

1- Discutir as contribuições da prática de ensino como componente curricular para a formação do educador;

2- Identificar os diferentes espaços socioeducativos que contribuem para a formação do professor, reconhecendo o magistério como lócus fundamental dessa formação;

3- Discutir a indissociabilidade prática-teoria-prática como fundamento da atuação docente;

4- Analisar os condicionantes

históricos, culturais, sociais, políticos, econômicos e subjetivos das práticas docentes em escolas de ensino médio e fundamental;

5- Investigar o cotidiano escolar,

Habilidades:

1- Reconhecer e aplicar as

concepções metodológicas no sentido de dinamizar a prática pedagógica;

2 - Aplicar os conhecimentos

teóricos acerca do planejamento aos

instrumentos pertinentes;

3- Reconhecer as diferenças entre habilidades e competências;

4- Confeccionar materiais didáticos para as aulas ministradas;

5- Elaborar planos de aula e portfólio de atividades práticas;

6- Elaborar práticas condizentes com a proposta do laboratório de docência.

reconhecendo as relações, tensões, sujeitos e processos que o produzem;

6- Reconhecer o cotidiano escolar como espaço de construção de alternativas pedagógicas;

7- Analisar a conjuntura de novas perspectivas para o Ensino Médio brasileiro.

Os componentes curriculares, já nos momentos iniciais do curso de licenciatura, apresentam o estímulo à reflexão crítica em processo gradativo que parte da compreensão da herança histórica do fazer docente ao aprofundamento da atuação na realidade social, educacional presente. Interessante observar que nas disciplinas é evidenciada como aspecto da prática a capacidade de refletir para, então, desenvolver-se e tornar-se competente.

Sobre as habilidades, no 1º período envolvem identificação, análise, discussão a respeito dos sujeitos, do contexto educacional e suas características; e na discussão sobre os resultados da própria disciplina para a própria formação. Posteriormente, no 2º período, o investimento está nos aspectos metodológicos da prática, na aplicação do conhecimento no dia-a-dia, confecção de materiais para o ensino. Uma das habilidades preteridas nesse momento consiste em “reconhecer as diferenças entre habilidades e competências”.

Embora, as proposições do PPC apresentem essa evolução do exercício docente, iniciado na atividade reflexiva, as habilidades e competências a serem reconhecidas não estão, explicitamente, elencadas sobre o campo das relações, da comunicação, da empatia, da assertividade, da cooperação e tantas outras habilidades reconhecidas como sociais. Apesar disso, este trabalho busca compreender, em uma de suas frentes, se essas habilidades, na proposta do PPC em vigor, podem ser de fato desenvolvidas e aprimoradas ao longo do percurso formativo.