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Das percepções sobre o trabalho de HS pelos docentes no IFB

CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3 Percepções e relatos sobre o processo formativo na licenciatura de Letras/Espanhol

4.3.7 Das percepções sobre o trabalho de HS pelos docentes no IFB

As percepções sobre o desempenho dos docentes do curso em relação ao trabalho das HS foram destacadas e organizadas neste tópico devido sua recorrência nas falas dos sujeitos. T1/2 relatou o apoio por meio do diálogo e do acolhimento de alguns professores: Inclusive alguns professores, eu acho... vou colocar até a maioria... eu acredito que o instituto, ele tem esse lado social e eu acho que os professores, eles, pelo menos alguns deles, que eu já tive oportunidade de conversar em momentos assim extra classe e eu tive esse apoio social no sentido do diálogo e da compreensão.

T1/2 pontuou a atuação inclusive extraclasse do professor e sua disponibilidade em oferecer apoio e acolhimento. Cysneiros (2004) pontua que, muitas vezes, o ambiente educacional não proporciona aos estudantes a aquisição de ferramentas para lidar com as situações da vida. A postura profissional citada por T1/2 indica uma conduta adequada de HS por parte de docentes que contribui para o fortalecimento pessoal e social diante dos problemas emergentes, inicialmente, no campo educativo.

No artigo 6º da Resolução nº 015 -2016/CS-IFB36 está especificado como direito do discente o acesso aos horários de atendimento dos professores em turnos contrários às aulas. Esse direito do estudante pode colaborar para o apoio descrito por T1/2 e constitui ferramenta institucional capaz de favorecer o contato interpessoal entre professor e aluno.

Na estruturação das disciplinas, dos planos de ensino, dos métodos de ensino houve número considerável de relatos que apontam as vivências em sala de aula promovidas por alguns docentes como facilitadora da aquisição ou aprimoramento de HS nos docentes em formação inicial.

T1/2: Eu acho que existe. Não na sua totalidade, mas em alguns

momentos, em algumas situações sim. Não são todos professores, mas alguns eu acho que é bem visível e eu acho que os momentos assim que eu percebo é, principalmente, no momento assim que há uma discussão sobre um determinado tema, que a gente vê que foge um pouquinho daquela, de uma aula tradicional e já começa também pela posição das carteiras (risos). Então, quando muda o posicionamento das carteiras a gente já, a princípio, a gente já começa a ver,muda o clima. Então, assim um olhar que eu acho que também é totalmente favorável e o posicionamento das carteiras porque nos permite até mesmo nos humanizar nesse momento. A

36Resolução Nº 015 -2016/CS-IFB. Aprova o Regulamento Discente do Instituto Federal de Brasília.

Recuperado em 29 de abril, 2017 de

http://www.ifb.edu.br/attachments/article/10765/RESOLU%C3%87%C3%83O%20n%C2%BA%20015- 2016-CS-IFB%20Aprova%20REGULAMENTO%20DISCENTE.pdf

partir do momento que a gente olha pro olho da pessoa, consegue ver ela por inteiro, acho que já muda totalmente até o clima assim do ambiente.

T3/1:Não sei se o curso, mas com os conteúdos, acho que os alunos

sempre trazem esse debate. Não sei se o curso tem essa finalidade, assim, mais o conteúdo e alguns professores trazem bastante esse debate de que quem tá ali não é um aluno que vai receber o conteúdo e pronto. São pessoas, né? A gente tá formando pessoas que precisam pensar, que pensam, que têm opiniões e que essa coisa de respeitar e preocupar com a vida do aluno, não só com o aprendizado de conteúdo, acho que a gente trabalha bastante.

T4/4:Eu acho que sim porque, por exemplo, em algumas matérias a gente

tem que expor nossa opinião, discutir determinado assunto. Querendo ou não, isso te faz olhar, às vezes, a opinião do outro, de uma forma diferente. Isso pode te ajudar a ser mais, ter mais habilidades sociais.

T4/2:Bom, eu acho que essas habilidades são trabalhadas sim, em sala,

quando o professor faz trabalho em grupos pra gente falar sobre um assunto. Quando a gente tem que apresentar sobre um Seminário. Essa questão de ouvir, saber ouvir também a opinião do outro; acho que isso também entraria como habilidade. Porque muitos não aceitam e não respeitam a opinião dos outros e saber ouvir acho que também seria uma habilidade porque você também vai aprender com aquilo, aquela informação. Então, eu acho que vem sendo trabalhado sim até porque a gente, no futuro, a gente vai passar essa informação pra outras pessoas. A gente vai ter que ser sociável nesse ponto, então, eu acho que vem sendo trabalhada...

T4/1:Eu também acredito que na licenciatura são trabalhadas as HS

porque nós estamos sendo preparados para sermos professores, isso é fato, né, a gente faz licenciatura.E nisso eu vejo que os professores tentam nos passar vários caminhos da gente encontrar a habilidade que nos parece melhor...Essa questão do professor ser mais conteudista; ou já ir mais pro cunho cultural, por exemplo...Então, sabe, creio que sejam esses os caminhos.

As verbalizações apontam para comportamentos de docentes que abarcam a estruturação do ambiente de ensino de forma a favorecer o contato com o outro, a preocupação com o aluno que não se restringe à ao conteúdo, o estímulo à atenção à opinião e às ideias do outro, proposição de atividades em grupo e apresentação de seminários, uso de métodos diferenciados que abarcam perfis tradicionais e culturais de abordagem em sala. Segundo os relatos, constituem estratégias de docentes do curso que trabalham HS nos alunos.

As relações aluno-aluno e aluno-professor foram indicadas como evidência do convívio positivo e de sua relevância para o processo formativo do licenciando. Soares et al (2009) fortalecem o argumento de que a figura do professor é essencial para a construção do conhecimento e como “um facilitador das potencialidades humanas” (p. 36).

Para o estabelecimento de práticas educativas significativas, Gatti (2013) indicou que o professor deve se ancorar, entre outros, na sensibilidade cognitiva (compreensão dos conhecimentos com base na lógica, no social, nos contextos, no entendimento das situações de aprendizagem e dos estudantes), na capacidade para criar relacionamentos frutíferos (motivar a expressão dos alunos) e na criação de condições para estimular atitudes éticas nas interações.

As relações entre alunos e professores efetivadas apropriadamente contribuem para o desenvolvimento cognitivo (Davis, Setubal & Esposito, 1989). As relações entre alunos no que Coll (1984) chamou de “aprendizagem cooperativa” (p. 121) favorecem o estabelecimento de interações positivas marcadas pelo respeito mútuo, reciprocidade, atenção, cortesia e ajuda.

Nessa perspectiva, os sujeitos descrevem que:

T1/1:Essa questão de habilidade social também é muito nos alunos

né?...Tinha uma colega nossa que ela não tava passando bem e a gente começou a perceber que ela não tava bem. Ela começou a parar de vir nas aulas... E aí a turma se mobilizou pra tentar ajudá-la de alguma forma e a gente fez uma pequena homenagem a ela dizendo o quanto que ela era importante, o quanto que a presença dela era importante pra turma, no geral. E aí foi incrível porque ela se sentiu super agradecida, viu que ela é uma pessoa especial pra gente, que ela não é mais um aluno em meio a tantos né?...Eu lembro que tem um professor que falou:‘nossa, mas fulano tá faltando muito, você sabe?’ Aí ela perguntou:‘vocês sabem o que tá acontecendo com ele?’ Assim, essa percepção do professor também:‘poxa, tal aluno tá faltando muito, você sabe o que tá acontecendo?’ Não é só aquela coisa: ‘ah tá faltando muito, vou dar falta, falta, falta, tchau’. Desistiu do curso. Então, alguns professores também tem isso. Acho que existe essas habilidades sociais entre os alunos, professor, aluno-aluno, professor-aluno.

T4/3: Você tem que estudar tudo porque o professor nunca sabe quando

vai chegar um aluno e perguntar uma coisa que você não vai saber. Então, você tem que estar preparado pra diversas situações. Tanto no sentido, não só em sala de aula, como fora também. Na questão de convivência também com os alunos, na questão desses passeios como foi falado também. São muitas habilidades nesse sentido assim de você conduzir uma turma fora do campus. É uma habilidade, eu acredito, de como você vai se portar fora do campus. Eu acredito que essas são as habilidades e estão sendo trabalhadas aqui na licenciatura.

Neste tópico, depreende-se que os estudantes se referem à atuação da maioria dos docentes do curso como potencializadoras para o desenvolvimento de HS. E isto se efetivou, sob a perspectiva dos estudantes, pelo apoio e acolhimento, pelas vivências em

sala de aula, pela estruturação do ambiente de ensino que estimula interações sociais, pela própria relação produtiva entre aluno e professor. Representa uma atuação profissional que busca seguir os princípios de educação na comunidade e para a comunidade ressaltadas no campo da educação social (Martins, 2013).