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4 DIRETRIZES PROJETUAIS PARA ACESSIBILIDADE EM PRAÇAS 153

2.3 A ACESSIBILIDADE E O DESENHO UNIVERSAL

3.3.1 Análise quanto às travessias

As travessias nas vias públicas, com circulação de veículos, devem ser realizadas de forma que sempre seja garantida a segurança do pedestre. O Código de Trânsito Brasileiro apresenta orientações para o cruzamento das pistas, dentre as quais, destaca-se que devem ser feitas onde houver faixas de segurança que distem até 50m do indivíduo e acompanhando a sinalização dos focos para pedestres. A Norma 9050/2020 da ABNT estabelece que a definição da localização das áreas de travessia é responsabilidade dos municípios e que elas devem ser acessíveis através da redução de percurso, faixa elevada ou rebaixamento de calçada.

No entorno do Jardim São Benedito, percebe-se que as áreas que receberam algum tipo de tratamento para as travessias encontram-se nos cruzamentos das vias. Desta forma, todos eles foram analisados para que sejam compreendidas as condições de acessibilidade para que se atravessem as ruas. Para a orientação das análises desta dissertação, eles foram nomeados de A a F, conforme destaque no mapa dos trajetos realizados para a avaliação da acessibilidade na praça, de acordo com a Figura 25.

As primeiras travessias analisadas foram as do cruzamento A (Figura 26), onde teve início o primeiro trajeto realizado.

Figura 26 – Cruzamento A, entre as Ruas Conselheiro Otaviano e a Marechal Deodoro.

Fonte: Moreira, 2021.

Neste cruzamento percebe-se que existem faixas de segurança para pedestres determinando as áreas de travessia, ainda que apresentadas com intenso desgaste da pintura. O único rebaixamento de guia existente nesta área é o que está localizado na calçada do JSB, na Rua Marechal Deodoro, porém, fora do alinhamento da faixa de pedestres e sem que haja rebaixamento de guia do lado oposto da via, como se vê na Figura 27.

Figura 27 – Cruzamento A – a) e b) Pintura da faixa desgastada; b) Rebaixamento de guia desalinhado da faixa de pedestres; c) e d) Falta de elementos para uma travessia acessível

Fonte: Composição elaborada pela autora, 2021.

a) b)

c) d)

A

O rebaixamento citado encontra-se em desacordo com o padrão estabelecido na Norma 9050/2020, pois além de não possuir outro alinhado a este, do lado oposto da via, sua rampa possui inclinação acima da indicada, além de se perceber desnível entre ela e o leito carroçável (Figura 28), o que compromete o deslocamento de pessoas em cadeira de rodas.

É evidente também a necessidade dos serviços gerais de manutenção do espaço público, que é percebida em diversos momentos das análises realizadas, quanto às condições do revestimento do piso e às podas da vegetação.

Figura 28 – Rebaixamento de Guia na Rua Marechal Deodoro, próximo ao cruzamento A – fora do alinhamento da faixa de segurança para pedestres e sem que haja o seu oposto, do outro lado da via.

Fonte: Moreira, 2021.

O cruzamento B é o formado entre as Ruas Marechal Deodoro e Saldanha Marinho, via de intenso fluxo na região central da cidade. Nele percebe-se que há semáforo voltado, principalmente, para o controle da movimentação de veículos, não havendo foco para pedestres, assim como sinalização sonora ou vibratória, o que impede uma boa orientabilidade de pessoas com deficiência visual. Neste cruzamento também existem faixas de segurança definindo as áreas de travessia, mas não há redução de percurso, faixas elevadas, ou rebaixamento de guias, conforme se vê na Figura 29.

Figura 29 – Cruzamento B, entre as Marechal Deodoro e a Rua Saldanha Marinho.

Fonte: Moreira, 2021.

O cruzamento C possui intenso fluxo de veículos e movimentação de pedestres, pois é onde se encontram as ruas Saldanha Marinho e a Marechal Floriano, que conduzem a dois dos principais polos de comércio da cidade de Campos dos Goytacazes, que são a Avenida Pelinca e o Centro.

As áreas de travessias do cruzamento C apresentam faixas de segurança para pedestres, seguindo o mesmo padrão de desgaste identificado nos cruzamentos analisados anteriormente. Também existem semáforos que priorizam o controle do tráfego de veículos, não havendo sinalização visual, sonora ou vibratória para pedestres, conforme demonstrado pela Figura 30.

Figura 30 – Cruzamento C, com ponto de vista a partir do JSB em direção à Rua Saldanha Marinho.

Fonte: Moreira, 2021.

Foram identificados rebaixamentos de guias para as travessias neste cruzamento C, mas que não atendem a um padrão adequado para que se garanta uma acessibilidade, de fato.

Inicialmente, percebe-se que os rebaixamentos que estão localizados na Rua Saldanha Marinho apresentam problema quanto ao alinhamento, tanto em relação à faixa de segurança para pedestres, quanto de um em relação ao outro, tendo ainda, na Rua Saldanha Marinho, um rebaixamento de guia que não possui o seu oposto, conforme se observa nas Figuras 31, 32 e 33.

Percebe-se, ainda, que não existe uma padronização nestes rebaixamentos, demonstrando que suas configurações não atendem às orientações da Norma 9050/20209, ao se constatar que as inclinações das rampas são superiores à máxima estabelecida e que não há uma definição do seu comprimento, por seus contornos não serem claramente definidos.

9 O padrão dos rebaixamentos de guias demonstra serem inadequados à Norma 9050/2020, mas também às suas edições anteriores, como a de 2015 e a de 2004.

Figura 31: Cruzamento C, entre as Ruas Saldanha Marinho e Marechal Floriano.

Fonte: Moreira, 2021.

Figura 32 – Rebaixamentos de Guias no Cruzamento C - Rua Saldanha Marinho: desalinhados e inadequados ao padrão estabelecido para a garantia da acessibilidade.

Fonte: Moreira, 2021.

Figura 33 – Rebaixamento de Guia no Cruzamento C - Rua Saldanha Marinho: inadequado ao padrão estabelecido para a garantia da acessibilidade e sem rebaixamento do lado oposto da via, onde existe amplo

canteiro na calçada do Jardim São Benedito.

Fonte: Moreira, 2021.

Os rebaixamentos da Rua Marechal Floriano encontram-se alinhados, porém, seu layout também demonstra que não houve cuidado em sua construção para que fosse seguido o padrão estabelecido em norma, revelando um improviso evidente em detalhes que configuram riscos aos usuários do espaço, como a destacada ponta de pedra do meio-fio. Além disso, também são percebidas inadequações quanto à inclinação da rampa, ao revestimento do piso e existência de desnível entre o rebaixamento e o leito carroçável, impedindo um deslocamento com autonomia, conforto e segurança por todos os usuários do espaço (Figura 34).

Figura 34 – Rebaixamento de Guia no Cruzamento C – Rua Marechal Floriano.

Fonte: Moreira, 2021.

No cruzamento D, formado pelo encontro da Rua Conselheiro Otaviano com a Rua Marechal Floriano, somente existe área definida para travessia entre as calçadas do Jardim São Benedito e da Igreja de São Benedito, onde existe faixa de segurança para pedestres e rebaixamento de guias (Figuras 35 e 36). Apesar deste cruzamento distar cerca de 155m do cruzamento C, não existe neste ponto qualquer tratamento para a travessia entre o JSB e a calçada oposta, na Rua Marechal Floriano.

Figura 35 – Cruzamento D, entre as Ruas Conselheiro Otaviano e Marechal Floriano.

Fonte: Moreira, 2021.

Figura 36 – Falta de área de travessia definida entre o JSB e a calçada oposta, na Rua Marechal Floriano, no Cruzamento D.

Fonte: Moreira, 2021.

Os rebaixamentos de guias existentes no cruzamento D, entre o JSB e a Praça da Igreja de São Benedito, apresentam 1,20m de largura, a mínima indicada na NBR 9050/2020, e encontram-se alinhados entre si e à faixa de pedestres, mas suas inclinações estão acima da mínima indicada para o deslocamento de pessoas em cadeiras de rodas. No rebaixamento de guia da calçada da Igreja de São Benedito, chama à atenção as condições do piso da rampa, que apresenta buraco devido à desagregação das pedras que a revestem, que vale ressaltar ser um material inadequado por suas irregularidades (Figura 37).

Figura 37 – Cruzamento D - rebaixamento de guias entre a quadra do JSB e a quadra da Igreja de São Benedito.

Fonte: Composição elaborada pela autora, 2021.

Os cruzamentos E e F determinam as extremidades da Travessa Dr. Alcindor Bessa, via posterior à Igreja de São Benedito, e apresentam características comuns quanto às travessias. Neles não se vê faixas de segurança que indiquem a trajetória que os pedestres devam utilizar para atravessar e não há nenhum tipo de sinalização, redução de percurso, faixa elevada, ou rebaixamento de guia, como se vê nas Figuras 38 e 39.

Vale destacar que em todos os cruzamentos analisados não foram vistas sinalizações táteis indicando as áreas de travessia para pessoas com deficiência visual.

Figura 38 – Cruzamento E, onde não se vê tratamento para que haja uma travessia acessível.

Fonte: Moreira, 2021.

Figura 39 – Cruzamento F, onde não se vê tratamento para que haja uma travessia acessível.

Fonte: Moreira, 2021.

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