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7.3 Ficha Terminológica

7.3.3 Análise semântico-conceptual

Nesta seção explicitamos o processo de construção do conceito dos termos por meio da decomposição dos semas e formação de subconjuntos conceptuais (conceptus,

metaconceptus, metametaconceptus).

Semantic distinctive traces: decomposição conceptual em unidades de significado; por questões de espaço (seriam necessárias muitas outras colunas na ficha para acomodar cada sema individualmente) não especificamos cada sema individualmente, mas sim conceitos que encerram em si uma ideia específica; Conceptus: subconjunto conceptual dos traços semântico-conceptuais biofísicos, naturais, resultantes da percepção biológica dos indivíduos;

Metaconceptus: subconjunto conceptual dos traços semântico-conceptuais ideológicos, culturais;

Metametaconceptus: subconjunto conceptual dos traços semântico-conceptuais simbólicos, ideológicos, intencionais, modalizadores;

Definition: enunciado definitório do termo-entrada;

Para a elaboração da definição terminológica (DT) partimos do seguinte entendimento:

A definição terminológica estabelecida com base em uma relação de inclusão semântico-conceptual que descreve o termo por meio de traços distintivos (características) é chamada de definição específica ou definição

por compreensão. É considerada como ideal para a elaboração dos

vocabulários técnicos, científicos e especializados e segue o modelo clássico

gênero próximo + diferenças específicas (BARROS, 2004, p. 171).

O tipo de definição acima parte de um hiperônimo imediato ao termo que está sendo definido, e então o particulariza por meio de características específicas que o faz distinto de outros termos. Mesmo sendo uma fórmula ideal para a elaboração de definições, Krieger e Finatto (2004) afirmam ser coerente ultrapassar a apreciação da DT apenas em função da indicação de um gênero próximo e diferenças específicas.

Isso porque, em primeiro lugar, nem sempre fica muito claro onde começaria uma categoria e terminaria a outra num enunciado, de modo que não há margens seguras para uma descrição da definição apenas por tais parâmetros. Em segundo lugar, fica nebulosa a distinção entre o que seria essencial e, portanto, estritamente ―definicional‖ frente ao que se poderia considerar acessório ou acidental quando a tarefa é definir (KRIEGER; FINATTO, 2004, p. 96).

Nesse sentido, ―a definição de uma unidade terminológica deve adaptar-se ao domínio da experiência ao qual o conceito descrito pertence‖ (BARROS, 2004, p. 162), já que diferentes traços semântico-conceptuais são ativados nos discursos manifestados de diferentes domínios. Em outras palavras, por mais que contemos com parâmetros para a formulação de definições, é preciso considerar que uma mesma fórmula pode não ser aplicável a todos os domínios da experiência. Além disso, em certos domínios, como o dos discursos etnoliterários, nuances semântico-conceptuais referentes aos subconjuntos conceptuais culturais e ideológicos são importantes para a compreensão do termo e o seu lugar no sistema de valores de uma cultura, o que muitas vezes não têm espaço na DT. Por isso, é importante contar com campos de notas, por exemplo, e informações enciclopédicas que auxiliem na compreensão da DT.

Notes on definition: registro das informações de cunho cultural, axiológico e

simbólico, dentre outras, do termo-entrada que não figuram na DT;

Dictionarised term: indicação de dicionarização do termo-entrada e da fonte de extração da definição. A inserção desse campo se justifica para a identificação de prováveis unidades lexicais neológicas. A não-dicionarização de uma unidade lexical indica que se trata de um neologismo e, por isso, uma marca caracterizadora de um discurso manifestado. Para identificar se dado termo já se encontra dicionarizado ou não, utilizamos o mecanismo de busca Onelook:

Dictionary Search;107

Dictionarised definition: registro da definição do termo-entrada dicionarizado. Caso o termo seja dicionarizado, a definição dicionarizada permite a realização de um contraste com a DT para fins de comparação e observação de como uma se difere da outra;

Isotopy: indicação de pertencimento do termo-entrada a uma cadeia isotópica; Partindo do entendimento de que os termos são elementos da tessitura de um texto, ou seja, eles funcionam dentro de relações textuais, acrescentamos à ficha um campo referente à isotopia. Segundo Hoffman (2015, p. 172), ―[...] enfoques semânticos, referenciais ou temáticos de descrição de textos tiveram grande repercussão, principalmente a noção de isotopia.‖ De modo geral, essa noção refere-se a marcas lexicais indicadoras de conexões textuais. ―[...] recorrências de semas em suas variadas formas ou a equivalência semântica dos

elementos da isotopia [...]‖, também denominada cadeia de denominações, interdependência nominal, retomada temática, cadeia isotópica, cadeia tópica (HOFFMAN, 2015, p. 172).

Esclarecemos ainda que, a noção de isotopia integrou os horizontes investigativos da Terminologia a partir da Linguística Textual, da qual Hoffman é herdeiro. Inicialmente proposto por A. J. Greimas, o conceito de isotopia foi ampliado para designar a recorrência de categorias sêmicas, quer sejam temáticas (ou abstratas) ou figurativas. Por exemplo, na amostra de termos do glossário, a categoria sêmica mortalidade/imortalidade derivada do tema morte, é recorrente na análise sêmica de vários termos, de modo que a cadeia figurativa que esses termos perfazem corresponde a uma isotopia temática (morte), que unifica a interpretação do texto. Em outras palavras, na geração do discurso, há uma passagem do nível temático (abstrato) ao nível figurativo (concreto), de maneira que uma isotopia mais profunda gera uma de superfície, respectivamente. Logo, o tema abstrato morte é recoberto por figuras concretas de um mundo ficcional que se lexicalizam e terminologizam no discurso-ocorrência da série Harry Potter. 108

Ao inserir esse campo na ficha, objetivamos indicar os termos que integram determinada cadeia isotópica, ou seja, termos que semanticamente fazem parte de uma cadeia de conexões textuais que estabelecem a coerência interna do texto em torno de um tema. Consideramos que os termos relacionam-se a níveis mais altos da estrutura textual, podendo, conforme destacado por Hoffman (2015), integrar a cadeia isotópica do texto. Assim, a partir da identificação da recorrência de determinados semas em termos diferentes, indicamos se tal termo pertence ou não a uma dada isotopia. Essa identificação, quando do preenchimento das fichas terminológicas, foi realizada durante a análise sêmica da ocorrência dos termos em seus contextos linguísticos.

See also: registro de termos que mantêm relações com o termo-entrada, sejam elas de hiponímia, hiperonímia ou co-hiponímia; tais relações são recuperadas por meio dos contextos e do sistema conceptual.