• Nenhum resultado encontrado

Análise das Zonas de Sentido Relacionando cores e figuras segundo a interpretação

Sintetizando as interpretações feitas até aqui, temos que:

- O Coração e a Árvore, expressados simbolicamente por É, MP, O e R, possuem similaridade de interpretações com as cores utilizadas por V, conforme resumo abaixo:

QUADRO 5 – Comparação das zonas de sentido por imagens e cores e intepretação simbólica segundo Jung

Significados dos símbolos: Árvore e Coração

Correspondência às cores por similaridade dos significados, segundo Chevalier e Gheerbrant; e Durand

Interpretação Simbólica Arquetípica conforme Jung e Silveira

Símbolos da Vida Cor Vermelha Arquétipo Pai

Simbologia do Masculino e Feminino em um mesmo símbolo

Cor Verde Arquétipo Filho

Dimensão Espiritual do Símbolo

Cor Azul Arquétipo Espírito Santo

Integração entre os

aspectos biológicos,

intelectuais, emocionais e espirituais

Não posso deixar de registrar minha surpresa ao me deparar com tal similaridade entre imagens e cores, demonstrando uma similaridade de significados que aproximam os trabalhos expressivos dessas participantes.

A sincronicidade teorizada por Jung manifestou-se, demonstrando que tal fato não poderia ser coincidência, mas deveria ter seu significado investigado como objeto desta pesquisa. Foi o que aconteceu, o quadro acima demonstra o caminho percorrido para esta interpretação.

Ao realizar uma junção dos diversos significados dos símbolos e cores, e uma interpenetração das interpretações segundo Jung (1977, 2011 e apud JACOBI, 1990), Durand (2001, 2002 e apud PITTA, 2005), Chevalier e Gheerbrant( 2006) e Silveira (1981 e 1992), temos que os resultados nos mostram:

1) O modelo trinitário de base cristã, segundo Jung, que prevê o primeiro estágio da evolução do pensamento arquetípico como correspondente ao arquétipo Pai, seria a condição infantil de aceitação do acontecido. Posição que corresponde à cor vermelha, que segundo a interpretação de Durand; Chevalier e Gheerbrant reconhecem nas imagens do coração e da árvore a expressão de símbolos da vida, que estão de acordo com as impressões pessoais da pesquisadora, sugerindo a existência do ser humano que sobrevive ao diagnóstico da esquizofrenia, como uma continuação da vida, assim como o Pai que dá vida ao filho e nele prolonga sua existência genética.

2) O segundo estágio que corresponde ao arquétipo Filho, para Jung, um período de conflito, busca de individualidade e diferenciação do Pai, corresponde à cor verde, na interpretação de Chevalier e Gheerbrant; Durand assinala a expressão simbólica tanto de aspectos femininos quanto masculinos nos símbolos da árvore e do coração; e da pesquisadora que observa nas participantes a falta de autonomia e de proteção, correspondendo à ideia junguiana da necessidade de superar ou se diferenciar do pai para buscar a própria individualidade.

3) O terceiro estágio trinitário de base cristã, defendido por Jung, seriam as expressões inconscientes através de lampejos e intuições, representado cristãmente pelo Espírito Santo, correspondente à cor azul, simbolicamente interpretado por Durand; Chevalier e Gheerbrant, como a expressividade do homem interior, de sua subjetividade, ou seja, de seu Ser integral, incluindo seu inconsciente. Observado pela pesquisadora como o estágio onde se manifestam plasticamente os elementos do inconsciente pessoal, na produção simbólica do único e do singular na história de vida da participante e do coletivo presente nas semelhanças imagéticas e de significados das expressões realizadas.

4) O quarto e último estágio, que mudaria o modelo para quaternário, seria correspondente ao arquétipo Mãe, segundo Jung; estaria ligado à incorporação do feminino à trindade cristã, expressando a matéria que penetra o sagrado, a ligação intrínseca entre o feminino, a terra, os vegetais e a natureza. Segundo a interpretação de Chevalier e Gheerbrant, de Durand e da pesquisadora, o coração e a árvore, assim como a cor amarela, expressam a transcendência e o desejo de pertencimento. Aqui há similaridade total entre as interpretações, seja a transcendência do simbolismo de Maria, que penetra a trindade masculina e sagrada, levando a matéria para o sagrado; seja o pertencimento que o simbolismo Feminino carrega em sua ligação com a terra e a natureza, simbolizado pela figura da árvore, não aleatoriamente, como diria Jung, mas segundo o princípio da sincronicidade, definida por Jung como: “a coincidência, no tempo, de dois ou mais acontecimentos não relacionados casualmente, mas tendo significação idêntica ou similar, em contraste com o sincronismo, que simplesmente indica a ocorrência simultânea de dois acontecimentos.” (apud SILVEIRA, 1992, p. 159).

Os resultados desta pesquisa apontam para similaridade na produção de imagens e significados interpretativos acerca das expressões simbólicas das participantes. As imagens ou símbolos indicam a existência de um imaginário simbólico comum a todas elas, que coincide com os princípios da evolução arquetípica defendidos por Jung segundo o modelo quaternário da trindade, com a inclusão do arquétipo Mãe, o que gera indícios que demonstram a existência dos arquétipos enquanto padrões dinâmicos que transcendem tanto o inconsciente individual quanto alcançam uma dimensão coletiva, capaz de estabelecer uma ligação entre consciência e matéria. Demonstram também uma dimensão simbólica subjetiva que sobrevive à suposta desintegração da personalidade e rompimento com a realidade esperados na esquizofrenia.

Os resultados da pesquisa sugerem que ainda há muito que ser pesquisado sobre a esquizofrenia e sobre os arquétipos, através das expressões simbólicas. Quem sabe novos estudos possam apontar, além de melhores prognósticos para os esquizofrênicos, também novos caminhos para compreensão da gênese desse transtorno ou sofrimento psíquico, por meio da análise do imaginário simbólico dos esquizofrênicos, com isso contribuir para que eles tenham uma melhor qualidade de vida e de atendimento nos locais onde recebem atendimento e acolhimento enquanto usuários dos serviços públicos de saúde mental.

O material simbólico produzido nos encontros é muito expressivo e ‘fala’ por si, dentro da individualidade e subjetividade de cada participante. Ainda há muito a ser explorado em pesquisas posteriores, selecionei algumas imagens de produções expressivas das participantes como uma pequena amostra deste universo simbólico rico que aproxima todos os seres humanos, independentemente de raça, credo, classe social e diagnostico médico.

EXPRESSÕES SIMBÓLICAS INDIVIDUAIS DAS PARTICIPANTES

Documentos relacionados