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Análises empíricas: diversificação e especialização

Mapa 3 – Localização das empresas visitadas na cidade de São Paulo

1. A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO NAS ATIVIDADES INOVATIVAS

1.4. Análises empíricas: diversificação e especialização

A partir das ideias apresentadas, outros autores buscaram investigar as relações entre a estrutura produtiva local, os resultados da inovação e do crescimento. O debate acerca dessas externalidades envolveram dois principais pontos de questionamento, sendo eles: quais são as diferentes fontes de externalidades dentro de aglomerações industriais e quais destas são mais eficientes.

A teoria da diversificação e da especialização não são mutuamente excludentes, mas oferecem diferentes visões do que é importante dentro de uma estrutura organizacional. Logo, se ocorrer o aumento da inovação com a mesma indústria, diz-se que existe a promoção de externalidades MAR (Marshall-Arrow-Romer), se ocorrer a diversificação e os atores locais se beneficiarem de conhecimento de base complementar e troca de ideias através da indústria, diz-se que são produzidas externalidades jacobianas. Ambas externalidades possuem papel na promoção da inovação. Diversos autores avaliaram essas relações.

Feldman e Audretsch (1999) testaram os efeitos da composição da atividade econômica na inovação. Para isso, procuraram relacionar os efeitos da especialização e da diversificação das regiões para os resultados da inovação. Em estudo para regiões metropolitanas dos EUA, com indicadores próximos ao de Glaeser et al. (1992), os autores procuraram investigar se a especialização de atividades econômica é mais propícia à difusão do conhecimento ou se a diversificação promove melhor a inovação. As evidências dos estudos fornecem um suporte para a tese da diversificação. Ou seja, os resultados indicados por Feldman e Audretsch (1999), sugerem que a diversidade promove maiores resultados

inovativos, quando as empresas compartilham uma base comum de atuação e troca de conhecimento.

Combes (2000), em estudo para a França, procurou analisar como a estrutura local afeta o crescimento do emprego em 341 áreas. Para tal, o autor relacionou, através de regressões, o crescimento do emprego local com a especialização, a diversificação, a economia local, a competitividade e a densidade populacional. Também mensurou a diferença desses resultados para as atividades na indústria e nos serviços. A análise desses dois segmentos se baseou no fato de que os efeitos de aglomeração podem ser considerados diferentes de acordo com o segmento estudado. Além disso, a análise de ambos permitiu o entendimento de relações em economias modernas, que envolvem distintas atividades.

Em análise para os ambientes diversificados, Combes (200) argumentou que as economias de localização implicam que as empresas beneficiam-se de clusters com outras empresas do mesmo setor, enquanto as externalidades de urbanização implicam em efeitos positivos intersetoriais da aglomeração. Além disso, nos ambientes diversificados existe a percepção de que os transbordamentos de conhecimento e as inovações de um determinado setor podem ser originados a partir de avanços próprios ou avanços gerados em outros setores. Como exemplo, o autor cita a relação existente entre o desenvolvimento de software e o desenvolvimento de componentes eletrônicos. As melhorias nos componentes eletrônicos aumentam o poder do software e a necessidade de maior capacidade de memória e velocidade por parte dos engenheiros de software, fornecem para empresas de componentes eletrônicos incentivos para a descoberta de novas tecnologias físicas para os componentes.

Para o estudo realizado, Combes (2000) apontou que a estrutura econômica local afeta significativamente o crescimento do emprego local e que ocorrem diferenças importantes entre os setores industriais e de serviços. A diversidade e a densidade populacional reagem em sentidos opostos para a indústria e os serviços. Nos serviços, esses fatores favorecem o crescimento do emprego local, provavelmente devido à decorrência da presença local de mercados de insumos e produtos grandes e diversificados, além da possibilidade de transbordamentos de conhecimento intersetoriais. Assim, as economias de urbanização emergem em vários setores de serviços. Já a densidade e diversidade diminuem o crescimento na indústria provavelmente devido aos efeitos de congestionamento, que aumentam os custos dos insumos locais, tais como terra e transporte.

Para Boschma e Iammarino (2009), a diversificação se torna vantajosa quando existe uma relação entre as atividades geradas na região, chamada pelo autor de related

do papel das economias de localização e na ideia de que os transbordamentos de conhecimento podem gerar melhores e novas ideias através de distintas atividades, deve levar em conta o fato de que as externalidades jacobianas não necessariamente resultam em transbordamentos de conhecimento. Segundo os autores, esses transbordamentos ocorrem apenas quando as atividades envolvidas podem ser consideradas complementares. Dessa forma, o efeito de diversidade relacionada e não relacionada devem ser distinguidas uma das outras.

Para os autores, é essencial distinguir entre as diferentes formas de variedades regionais porque elas envolvem diferentes efeitos econômicos. O conhecimento irá transbordar de um setor para outro apenas se eles forem complementares em termos de compartilhamentos de competências. Ou seja, algum grau de proximidade cognitiva é requerido pra assegurar que a comunicação seja efetiva e ocorro algum tipo de aprendizado por interação. Para Boschma e Iammarino (2009), locais especializados com variedade relacionada estão mais aptos a induzir efetivamente aprendizado por interação e inovação, do que ambientes diversificados sem variedade relacionada.

Ainda nessa linha, Duranton e Puga (2011) investigaram o papel das cidades diversificadas no fomento à inovação. Em um estudo na França, entre os anos de 1993–1996, os autores mostraram que existem fortes evidências de um padrão de estabelecimento das empresas em diferentes ambientes. Novos produtos são desenvolvidos em cidades diversificadas, que envolvem processos relacionados às distintas atividades de projetos e desenvolvimentos. Já para a produção em massa, as firmas realocam suas atividades em regiões especializadas, nas quais os custos de produção são menores. Dessa forma, as regiões diversificadas podem ser consideradas cidades que atuam como berçários para as empresas e seus empreendimentos, chamados pelos autores de nursery cities. Para Duranton e Puga (2011), ambos os ambientes, diversificados e especializados, são importantes para as atividades econômicas, já que cada um deles possuem diferentes papéis de acordo com o estágio de vida dos produtos.

Adicionalmente, Carlino et al. (2007) em estudo para a importância das cidades na exploração das externalidades de informação – ou seja, nos transbordamentos de conhecimento, mostrou que a intensidade das patentes (medidas pela taxa de invenção per capita) é positivamente relacionada com a densidade do emprego em regiões altamente urbanizadas.

Para os autores, existem três mecanismos principais que são importantes para a invenção de novos bens e serviços em regiões aglomeradas: o compartilhamento de insumos,

a combinação (matching) e os transbordamentos de conhecimento. O primeiro ponto está relacionado com o compartilhamento de fatores indivisíveis de produção ou os benefícios do aumento da variedade derivada dos diferentes insumos presentes em regiões urbanizadas. O segundo relaciona-se ao fato de que regiões urbanas e aglomeradas melhoram a qualidade das relações (matches) entre empresas e trabalhadores. Os trabalhadores em regiões aglomeradas são mais seletivos em suas combinações com demais agentes porque são menores os custos de oportunidade envolvidos nas parceiras. Por último, a ideia de que a concentração geográfica das pessoas e os empregos em cidades facilita a propagação de conhecimento. Ou seja, a proximidade geográfica criada pela densidade facilita as trocas de informações.

Esse resultado confirma a visão de que locais mais densos possuem um importante papel na criação de fluxos de conhecimento das ideias e na geração de inovação e crescimento em regiões metropolitanas. Carlino et al. (2007) buscaram avaliar os efeitos da densidade dos empregados (empregos por milhas quadradas), do tamanho da cidade (total de empregados) e de outras características da taxa de inovação através de regiões metropolitanas nos EUA. Eles utilizaram a taxa de patente per capita como medida de produtividade da inovação e encontraram uma relação de significância entre a intensidade das patentes e a densidade dos empregados.

Já Beaudry e Schiffauerova (2009) analisaram 67 trabalhos que tratam da análise das externalidades marshallianas e jacobianas e mostraram que ambas as configurações industriais são importantes para o transbordamento de conhecimento e para o fomento a inovação. Segundo as autoras, não é possível identificar um contraponto entre as duas abordagens, apenas as diferenças de efeitos entre elas. Para tal, os autores tiveram como foco o estudo da influência da metodologia nos resultados dos trabalhos que medem a papel da geografia no desenvolvimento regional.

De acordo com Beaudry e Schiffauerova (2009), quando se analisa conjuntamente a classificação industrial e a desagregação geográfica, é possível detectar ambos os tipos de externalidades. Para as autoras, é menos provável encontrar evidências da diversificação em níveis maiores de fronteira industrial junto com baixa desagregação geográfica, do que em menores níveis de detalhamento industrial e alta agregação geográfica. Pode se constatar também que o papel das externalidades varia de acordo com a maturidade da indústria. As externalidades de Jacobs estão mais presentes em estágios iniciais do ciclo de vida industrial e MAR no final. Segundo Beaudry e Schiffauerova (2009), é preciso gerar mecanismos através dos quais tais externalidades de aglomeração sejam mensuradas no nível em que elas realmente operam, levando-se em conta os próprios fatores regionais. Há também

a distinção entre os setores tecnológicos de alta, média e baixa tecnologia. Em setores com baixa tecnologia, as externalidades MAR têm efeitos mais fortes, em setores de média tecnologia ambas as externalidades mostram efeito e nos setores de alta tecnologia as externalidade jacobinas são mais presentes. Esta última é explicada porque regiões diversificadas favorecem o crescimento de empresas com tal base. Além disto, promove o crescimento principalmente em serviços.

1.5. OS SERVIÇOS INTENSIVOS EM CONHECIMENTO E AS TRANSFERÊNCIAS