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2 A VOZ DO MÉTODO: NARRANDO OS PROCEDIMENTOS

2.2 ABORDAGEM DA HISTÓRIA ORAL

2.2.3 Analise textual discursiva como estratégia para análise das

Para o procedimento de análise das entrevistas, utilizei a metodologia da Análise Textual Discursiva (ATD) proposta em Moraes (2003) e em Moraes e Galiazzi (2013), a qual busca a compreensão dos fenômenos investigados a partir de uma análise rigorosa e criteriosa das informações, sem pretender testar hipóteses para comprová-las ou refutá-las.

A ATD caracteriza-se por um conjunto de documentos, informações da pesquisa selecionadas e delimitadas rigorosamente denominado corpus, constituído essencialmente de produções textuais (transcrições de entrevistas, registros de diários de campo, depoimentos escritos, entre outros), a partir dos quais o pesquisador produz um metatexto. Esses textos carregam significantes que servirão de base para a construção de significados derivados dos fenômenos investigados pautados em teorias e nas percepções do pesquisador. Exige uma postura de autoria do pesquisador na elaboração das interpretações, sem, contudo, perder de vista o autor do texto original. Desse modo, o pesquisador define e delimita o corpus para iniciar o ciclo de análise (MORAES, 2003; MORAES; GALIAZZI, 2013).

A ATD é utilizada em pesquisas qualitativas que visam uma análise criteriosa e rigorosa dos fenômenos, a fim de aprofundar a compreensão destes, implicando

uma postura fenomenológica e o exercício de leitura a partir da perspectiva do outro, exigindo, inicialmente, deixar de lado as próprias ideias e “teorias”, para produzir e expressar sentidos contidos no texto. Porém, o resultado final é fruto tanto dos textos dos narradores quanto das percepções do pesquisador, tendo como suporte também referenciais teóricos. Essa dinâmica pressupõe a produção de diversas possibilidades de textos, visto que expressa o olhar do pesquisador sobre os significados e sentidos contidos no material analisado. Portanto, não se trata de um retorno ao texto original, mas da construção de um novo texto, um metatexto originado nos textos dos narradores (MORAES, 2003; MORAES; GALIAZZI, 2013).

A análise ocorre por meio de um ciclo com constituído por quatro elementos principais:

a) Desmontagem dos textos: corresponde a um processo de unitarização que consiste no exame detalhado do material, fragmentando-o para atingir as unidades constituintes referentes aos fenômenos investigados. Subdivide-se em dois processos: I) desconstrução e unitarização: procedimento que envolve a desmontagem do texto destacando os constituintes que vão originar as unidades de análise em consonância com os propósitos da pesquisa e que podem ser definidas a priori ou como categorias emergentes, construídas a partir da análise; b) envolvimento e impregnação: procedimento no qual há um envolvimento profundo com as informações do corpus da análise, indo além de uma leitura superficial, buscando construir novas compreensões e teorias a partir do conjunto de informações sobre os fenômenos investigados. Enquanto a desconstrução e a unitarização provocam desordem, tornando caótico o conjunto de textos ordenados, o envolvimento e a impregnação possibilitam a construção de uma nova ordem (MORAES, 2003; MORAES; GALIAZZI, 2013).

b) Estabelecimento das relações: aspecto central da ATD, corresponde ao processo de categorização que consiste na construção das unidades de base combinando-as e classificando-as para construir as categorias. “A categoria é um conjunto de elementos de significação próximos” (MORAES, 2003, p. 197). A partir delas, produzem-se as descrições e as interpretações. Existem dois métodos para se chegar às categorias: o método dedutivo, em que as categorias são dadas a priori deduzidas da teoria; e o método indutivo, no qual a construção das categorias se faz com base nas informações contidas no texto, em um processo que vai do particular para o geral, em um processo de comparação e contraste entre as unidades de análise que culminam com as categorias emergentes (MORAES, 2003; MORAES;

GALIAZZI, 2013). Nesta pesquisa, utilizei a combinação dos dois métodos (indutivo e dedutivo). A partir dos objetivos da pesquisa, construí os eixos orientadores, com base nos quais emergiram as dimensões, que correspondem às categorias a priori, e destas surgiram as categorias emergentes, construídas a partir da impregnação no texto. Dessa forma, cheguei ao desenho representado na Figura 1. Encontro de Vozes: Consonâncias, dissonâncias e ressonâncias na trajetória da profissão e da docência superior em Terapia Ocupacional a partir das histórias de vidas de três pioneiros.

Eixo Orientador I: Consonâncias, dissonâncias e ressonâncias na trajetória da Terapia Ocupacional como profissão de nível superior no Brasil, que congrega duas dimensões ou categorias a priori, das quais decorrem as categorias emergentes: I) Trajetória de Formação Profissional: Movimento Internacional de Reabilitação; Cursos de formação; Ingresso na profissão e Identidade profissional e II) Trajetória na profissão: Experiência profissional na Terapia Ocupacional e Militância na profissão.

Eixo Orientador II: Consonâncias, dissonâncias e ressonâncias nas trajetórias da docência superior em Terapia Ocupacional no Brasil, constituído por duas dimensões, das quais decorrem as categorias: I) Trajetória de formação para docência: Ingresso na docência e Formação de professores e II) Trajetória profissional docente: Formação de Recursos Humanos para a saúde e Formação de Recursos Humanos para a Terapia Ocupacional.

c) Captação do novo emergente: consiste em uma intensa impregnação do texto pelo pesquisador, que culmina em uma compreensão renovada do todo, base para a construção de um metatexto e a última fase do ciclo de análise, denominado Processo auto-organizado do qual surgem novas compreensões, cujo resultado criativo e original não pode ser previsto. O metatexto é o objeto de análise. Após a constituição das categorias, são estabelecidas relações entre elas, sequências, nexos – inclusive, é possível ao pesquisador produzir textos parciais para as diferentes categorias e gradativamente as integrar em um texto único. A estrutura textual é construída a partir das categorias e subcategorias definidas nas análises. O metatexto é construído pela descrição e pela interpretação e representa um modo de compreensão e a teorização dos fenômenos investigados. Isso pressupõe que, com as mesmas narrativas, é possível construir diferentes metatextos, mesmo porque a validade e a confiabilidade das análises são também frutos de quem o construiu.

Figura 1 – Eixos orientadores: Encontro de Vozes: Consonâncias, dissonâncias e ressonâncias na trajetória da profissão e da docência superior em Terapia Ocupacional a partir das histórias de vidas de três pioneiros

3 VOZES DOS COLABORADORES: UM OLHAR SOBRE SI, A PROFISSÃO E A