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Capítulo 2 Contextualização

2.1 Pele

2.1.1 Anatomia e Fisiologia

O sistema tegumentar estabelece a fronteira entre o corpo humano e o meio ambiente. É constituído pela hipoderme, pela pele (derme e epiderme) e pelas estruturas anexas, tais como pêlos, unhas e glândulas (Figura 2.1). As suas principais funções são [31]:

- Proteger o corpo da entrada de bactérias ou de substâncias estranhas e de traumatismos das estruturas nobres como as veias, as artérias e os nervos.

- Contribuir para a regulação da temperatura corporal não só através da radiação, condução e convecção do calor mas também através da produção de suor.

- Conferir percepção sensorial ao toque, temperatura e dor. - Excretar pequenas quantidades de ureia, ácido úrico e amónia.

- Contribuir para a produção de vitamina D3 por exposição à radiação ultravioleta da molécula 7- de-hidrocolesterol presente na pele.

Figura 2. 1 Representação esquemática da hipoderme, da pele e de algumas estruturas anexas (adaptado de [32]). A pele é o maior órgão do corpo humano podendo, num adulto, estender-se por uma área de 2 m2 e

pesar 3 kg. Em termos de espessura, pode variar entre 1,5 e 5,0 mm, dependendo da maturidade da pele (idade) e da região do corpo [5]. É constituída por duas camadas principais que se encontram separadas

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por uma membrana basal. A epiderme, a camada mais superficial, tipicamente com uma espessura entre 0,1 e 0,2 mm [33], é formada por tecido epitelial. Segue-se-lhe a derme, uma camada espessa de tecido conjuntivo, que por sua vez, assenta na hipoderme.

A hipoderme é uma região provida de nervos e vascularizada constituída por tecido conjuntivo laxo. As principais células presentes são os fibroblastos, as células adiposas e os macrófagos. Cerca de metade da gordura do corpo encontra-se nesta região que funciona como um isolante, uma camada protectora dos órgãos internos e um armazém de energia.

Derme

Tal como a hipoderme, a derme é constituída por tecido conjuntivo onde estão presentes fibroblastos e, em menor quantidade, células adiposas e macrófagos. É na derme que se encontram as terminações nervosas, músculos lisos, vasos sanguíneos e linfáticos, os folículos pilosos e as glândulas sudoríparas e sebáceas.

A derme divide-se em duas camadas: uma camada principal, denominada reticular, e uma camada mais superficial, a papilar (Figura 2.2a).

A camada reticular é constituída por tecido conjuntivo denso e irregular composto essencialmente por fibras de colagénio e elastina que conferem resistência e elasticidade à pele.

A camada papilar é constituída por tecido conjuntivo laxo e deve o seu nome a prolongamentos chamados papilas, que contêm vasos sanguíneos que fornecem nutrientes à epiderme, removem produtos de excreção e ajudam a regular a temperatura corporal.

Epiderme

A epiderme é constituída por tecido epitelial pavimentoso e estratificado. Não contém vasos sanguíneos sendo alimentada por difusão a partir dos capilares da camada papilar da derme.

Na epiderme existem diversos tipos de células:

- os queratinócitos são a grande maioria e têm como responsabilidade a produção de queratina, uma proteína que confere resistência estrutural e impermeabilidade à água;

- os melanócitos que sintetizam um grupo de pigmentos - a melanina - responsáveis pela cor da pele e que a protege da radiação UV;

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- as células de Langerhans que fazem parte do sistema imunitário e asseguram a imunovigilância cutânea;

- as células de Merkel que estão associadas a terminações nervosas que detectam o tacto e a pressão superficial.

As células multiplicam-se por mitose na camada mais profunda da epiderme e vão-se deslocando dessa camada para a superfície até descamarem (perderem-se para o exterior). Durante esse processo, designado por queratinização, as células mudam de forma e composição química, acabando por morrer e formar uma camada protectora. A queratinização é um processo contínuo, que dá origem a células em diferentes estadios de modificação. O número de células em cada estrato depende da região do corpo a analisar, podendo distinguir-se até cinco camadas (Figura 2.2b).

A camada basal é a mais profunda e é constituída por um único estrato de células cúbicas e cilíndricas. A estrutura é-lhe conferida pelos hemidesmossomas e pelos desmossomas (complexos proteicos) que fixam a epiderme à membrana basal e mantêm os queratinócitos unidos, respectivamente. Tem como função a produção constante de queratinócitos e é nesta camada que os melanócitos produzem a melanina que protege contra a radiação UV.

A camada espinhosa encontra-se acima da camada basal. É constituída por 8 a 10 estratos de células poligonais ou multifacetadas. No geral as células encontram-se em processo de crescimento - dentro dos queratinócitos formam-se mais fibras de queratina e novos organelos contendo membranas e lípidos, designados por corpos lamelares.

Seguidamente tem-se a camada granulosa constituída por 2 a 5 estratos de células aplanadas, em forma de losango. Aqui são produzidos grânulos de queratohialina que se acumulam no citoplasma das células. Os corpos lamelares destas células aproximam-se da membrana celular e libertam o seu conteúdo lipídico no espaço intercelular. Dentro da célula é formado um invólucro proteico sob a membrana celular; entretanto o núcleo e organelos degeneram e a célula morre.

A camada translúcida surge como uma zona fina e clara assente na camada granulosa e é constituída por 3 a 5 estratos de células mortas. A queratohialina já não se encontra em grânulos mas sim dispersa em torno das fibras de queratina, pelo que as células apresentam um aspecto transparente. Esta camada só está presente em algumas regiões do corpo, por exemplo nas palmas das mãos, nas plantas dos pés e nas pontas dos dedos.

Por fim, a camada córnea, a mais superficial da epiderme, que é composta por 25 ou mais estratos de células queratinizadas mortas unidas por desmossomas. Quando os desmossomas se fragmentam as células descamam na superfície da pele. As células estão rodeadas por um invólucro proteico duro e

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preenchidas com a proteína queratina. O invólucro e a queratina são ambos responsáveis pela resistência estrutural do estrato córneo. A envolver as células estão os lípidos libertados pelos corpos lamelares, que previnem a perda de água.

Figura 2. 2 Imagens de microscopia que evidenciam: a) as camadas reticular e papilar da derme (adaptado de [34]) e

b) a camada papilar dérmica e a estrutura em camadas da epiderme (adaptado de [31]).

Estruturas Anexas

Os pêlos e as glândulas são estruturas anexas à pele com contributos importantes na manutenção das suas funcionalidades. As glândulas sebáceas e as sudoríparas são as principais glândulas da pele.

Pêlos

A presença de pêlos é comum a todos os mamíferos. Nos seres humanos cobrem quase todo o corpo à excepção das palmas das mãos, plantas dos pés, segmentos distais dos dedos das mãos e dos pés, lábios, mamilos e parte dos órgãos genitais externos.

O pêlo é formado por uma haste que se projecta para o exterior da pele e por uma raíz interior que se expande para formar o bulbo piloso na base da raiz (Figura 2.3). A raiz e a haste são maioritariamente

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compostas por colunas de células epiteliais queratinizadas mortas, dispostas em 3 camadas concêntricas denominadas de medula, córtex e cutícula. O pêlo está contido num folículo piloso formado pelas bainhas radiculares epitelial e dérmica. A parte interior da bainha radicular epitelial encontra-se entrelaçada com o pêlo mantendo-o fixo; a exterior possui todas as camadas que constituem a epiderme (à excepção da camada translúcida) e é envolvida pela bainha radicular dérmica.

No interior do bulbo piloso uma massa de células epiteliais indiferenciadas é responsável pela produção do pêlo e da bainha radicular epitelial interior. A derme projecta-se para dentro do bulbo piloso sob a forma de papila que contém vasos sanguíneos que alimentam as células do bulbo. Em caso de lesão da pele em que haja preservação da parte do folículo piloso que fica sob a derme, este pode constituir uma fonte de novo epitélio e portanto regenerar novo pêlo.

Glândulas

As glândulas sebáceas estão localizadas na derme e têm especto alveolar simples ou composto. Produzem sebo, uma substância oleosa, branca e rica em lípidos que é libertado por lise e morte das células secretoras. A maioria destas glândulas está ligada à parte superior dos folículos pilosos via canais, permitindo que o sebo lubrifique o pêlo e a superfície da pele.

As glândulas sudoríparas dividem-se em dois tipos: glândulas sudoríparas merócrinas e apócrinas. As merócrinas são no geral glândulas glomerulares tubulares simples que têm origem na derme e que se abrem directamente na superfície da pele através dos poros sudoríparos. Produzem um líquido isotónico que é libertado sob a forma de suor quando a temperatura do corpo excede os níveis normais, actuando assim como reguladoras da temperatura corporal. As apócrinas são glândulas glomerulares tubulares compostas que no geral se abrem nos folículos pilosos acima da abertura das glândulas sebáceas. Estão localizadas em regiões específicas do corpo tais como axilas, órgãos genitais externos e ânus e estão associadas ao odor corporal e maturidade sexual.

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Figura 2. 3 Estruturas anexas da pele: a) pêlo (adaptado de [35]) e b) principais glândulas da pele: sebácea e

sudorípara (adaptado de [31]).

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