• Nenhum resultado encontrado

Andes-SN: formalizando divergências até fazer-se um sindicato oficial

CAPÍTULO 2. De Adufc a Adufc-SS (de Andes a Andes-SN): a caminho da plena oficialização

2.3. Andes-SN: formalizando divergências até fazer-se um sindicato oficial

A situação criada pela decisão congressual de não vinculação formal a qualquer das centrais sindicais então existentes na esquerda nacional não foi, obviamente, bem recebida pe- los grupos que, na Andes, nasceram e organizaram-se, desde seus movimentos instituintes, a partir de uma forte identificação com os setores operários do movimento neossindicalista. Tra- tava-se aquela filiação à CUT de um passo decisivo na assunção de uma fisionomia organiza- cional sindical oficial, por eles preconizada.

Organizados de modo suficiente a fazerem-se força hegemônica na diretoria da An- des desde seus primeiros momentos, esses grupos entenderam que, diante das resistências en- contradas a uma de suas mais fundamentais pautas, fazia-se hora oportuna para sua formaliza- ção como uma corrente sindical. Foi assim que, a partir do congresso do ano seguinte (V 1 Cf. Andes. Boletim Andes, 21, abril de 1985, p. 8.

Congresso, de 1986), passaram a organizar-se e atuar no país como uma corrente interna, a Andes-AD.

Concomitantemente à sua formalização, aquela corrente sindical fez-se vitoriosa na disputa eleitoral nacional ocorrida no V Congresso, pondo na presidência da diretoria da Andes uma de suas mais experimentadas lideranças, o já citado professor Newton Lima Neto.

Aquela foi a primeira vez que, desde a originária disputa eleitoral entre Maciel e Pinguelli, duas chapas concorrentes se apresentaram oficialmente para o pleito.

O fato anunciava, por um lado, o aprofundamento da hegemonização da Andes pela Andes-AD, pois não se tratava mais de apenas ter maioria nos cargos da diretoria, mas de as- sumir, na condição de uma chapa eleitoral, todos os seus cargos, como denunciaram alguns dos anteriores depoimentos. Por outro lado, tornava-se, assim, cada vez mais difícil a manutenção das estratégias conciliatórias que buscavam mediar, via afeto e camaradagem, a convivência entre os diferentes grupos político-ideológicos constitutivos daquele sindicalismo, desde seu surgimento.

Cruzando informações advindas de documentos oficiais e relatos de “uma profes- sora que não quis se identificar”, Donatoni (1999, p. 179, 204, 205) afirma que a chapa derro- tada naquela eleição de 1986, nomeada como “Andes Hoje”, estava “composta por professores filiados ao PC do B, PCB, PMDB, PDT, dentre outros”. Tendo como “candidato à presidência do Sindicato o professor Paulo Rosas”, a Andes Hoje representava, portanto, as mesmas forças políticas que, à luz das informações que já detemos, estavam político-ideologicamente próxi- mas à esquerda sindical anteriormente organizada em torno da candidatura de Pinguelli.

Ganha mais claro sentido, assim, que Rosas tenha afirmado1 tratar-se “sua chapa”

de uma “oposição (…), em consequência de divergências que vinham desde há algum tempo, crescendo em razão da orientação adotada pela atual diretoria da entidade, dissonante da que entendia fosse desejada, no momento”.

O discurso de posse de Lima Neto2 acaba, por seu turno, informando-nos um pouco

mais acerca de tais divergências:

No processo democrático desenvolvido para a eleição da diretoria da Andes, o Movi- mento Docente esteve colocado frente a duas concepções, inequivocamente distintas, de condução política da nossa entidade nacional. Durante o período da ditadura mili- tar, estas divergências, sempre presentes no movimento, despontavam com menor cla- reza no enfrentamento das políticas educacionais e sociais do regime militar. Com o 1 Segundo a autora, a entrevista foi concedida ao Diário Popular de Pelotas, Rio Grande do Sul, em abril de 1986. 2 Cf. Andes. Relatório do XIII CONAD, 20/06/86.

advento da chamada Nova República e o conceito de “transição democrática”, se tor- nou fundamental para a manutenção da Andes como instrumento efetivo e democrá- tico de luta dos docentes o debate aberto das ideias que temos sobre a direção e os rumos para o movimento docente. É insuficiente, inútil mesmo, dizer apenas que o país mudou e, portanto, que precisamos mudar juntos e adotar novas práticas.

Dando-nos, novamente, maior clareza acerca do que estava ali em questão, Miranda (2011a, p. 231, 232) explica que

Parte significativa do debate eleitoral girou em torno do posicionamento do movi- mento sobre o Decreto Lei 2283 (27/02/1986) e 2284 (10/03/1986), referentes ao con- junto de medidas adotadas pelo governo federal para a implantação do Plano Cruzado I. Grosso modo, A CHAPA 1: Andes Autônoma e Democrática realizava uma análise oposicionista ao governo e exigia mudanças no texto do decreto, e a CHAPA 2: Andes Hoje – Em Defesa da Universidade – apoiava às medidas governamentais, embora criticasse o uso da forma decreto lei: “admitimos que o governo tenha optado pela emissão de decretos-lei, no esforço de implantar uma reforma econômica, menos in- justa e, sobretudo, mais estável. A análise do conteúdo do decreto-lei 2283 nos leva, em primeiro lugar, a ver contempladas, pelo menos parcialmente, importantes metas pelas quais vem lutando as forças populares organizadas na nação”.

Miranda (2011a, p. 231, 232) sugere, ainda, que a vitória da Andes-AD, “composta por militantes sindicais do Partido dos Trabalhadores ou que com ele guardavam alguma pro- ximidade”, além de explicitar “divergências políticas”, abriu “maiores possibilidades de vincu- lação da Andes à CUT”.

Vale atentar-se para o fato de que a vitória eleitoral da ali fundada Andes-AD não se fez por uma diferença muito grande de votos. O relatório final do evento1 nos informa, nesse

sentido, que a chapa vencida obteve 43,9% dos votos, deixando claro que a perspectiva político- ideológica representada pela chapa Andes Hoje, apesar de não deter, como sua concorrente, a hegemonia da direção organizativa da Andes, encontrava um apoio considerável na base social do sindicalismo.

Como veremos adiante, este apoio não tardou em encontrar suas próprias manifes- tações no Estado do Ceará, apesar de todo o alinhamento que a Adufc, desde sua fundação, apresentou com o grupo que veio a ser a tendência Andes-AD.

Em seu discurso de posse, Lima Neto afirmara ainda ser uma finalidade diretriz da gestão que se iniciava “preservar a concepção sindical expressa nos Estatutos da Andes” (DONATONI, 1999, p. 204-205). Dada a histórica hegemonia do grupo a que pertencia o pro- fessor, doravante organizado como a tendência Andes-AD, perceba-se estarem aqueles estatu- tos já fundamentalmente configurados à luz das concepções político-ideológicas por ele

preconizada. Foi de modo muito coerente com suas próprias concepções que, portanto, a dire- toria recentemente eleita levou novamente ao VI Congresso Nacional da Andes, realizado em Goiânia/GO entre os dias 25 e 31 de janeiro de 1987, o indicativo de filiação da Andes à CUT. O indicativo foi aprovado, mas não a imediata filiação. Segundo Donatoni (1999, p. 211), as “justificativas apresentadas” para aquela decisão fundamentavam-se na ideia de que “a liberdade e unidade na organização por parte dos trabalhadores não dependia de leis externas ao seu movimento, advindas de uma Central Sindical”. Em todo caso, continua a autora, “havia o reconhecimento explícito por parte da Andes com referência a existência de uma certa iden- tificação entre esta e o conjunto de práticas da Central Única dos Trabalhadores”.

Miranda (2011a, p. 243) registra, por outro lado, que naquela ocasião, embora “o movimento busca[sse] avançar no indicativo”, os “setores mais próximos à CGT, no entanto, questionaram a deliberação congressual e classificaram como manobra, partidarização e apare- lhamento político o indicativo realizado nas instâncias de decisões coletivas da entidade”. Para essa autora, “não restavam mais dúvidas quanto à cisão do movimento sindical”.

O VII Congresso da Andes, realizado em Juiz de Fora/MG entre os dias 24 e 30 de janeiro de 1988, teve dentre seus objetivos explícitos, novamente, “definir pela filiação desta a uma Central Sindical” (DONATONI, 1999, p. 213). Ao seu final, contudo, a Andes continuaria sem filiação a qualquer central sindical. Em verdade, como registra Santos (2008b, p. 47, 48), naquele congresso “intensificou-se o debate sobre a questão”, explicitando “a existência de profundas divergências sobre a temática”.

O resultado da votação relativa à proposta de filiação da associação a uma central sindical deixa evidente quão dividida se encontrava a plenária sobre essas questões, apesar da hegemonia conquistada pela Andes-AD na diretoria da entidade: 93 (noventa e três) votos a favor e 122 (cento e vinte e dois) votos contrários.

A deliberação daquele VII Congresso sobre o tema foi:

a) Continuar o aprofundamento e a ampliação do debate sobre a questão sindical a nível nacional; b) Recomendar às ADs que continuem a participar dos fóruns inter- sindicais e de uma e/ou outra central sindical, conforme deliberação de suas instâncias internas; c) Recomendar à Andes que participe ativamente dos fóruns intersindicais e das instâncias de uma e/ou outra Central Sindical, trabalhando na prática, para a uni- dade do movimento sindical.1

ii. Enfim, CUT! Enfim, oficial!

Poucos meses depois daquele evento, documenta Donatoni (1999, p. 214-217), a diretoria nacional da Andes levou para o XVII Conad, realizado em Porto Alegre/RS entre os dias 2 e 5 de junho de 1988, a proposta, sobre a qual não obteve sucesso, de “criação de um ‘Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior Público e Privado’”.

Apesar de derrotada na votação dessa proposta, a tendência Andes-AD obteve ali, novamente, vitória na disputa pela direção nacional da Andes, dando posse ao professor Sadi Dal Rosso1 como presidente da organização. Seria em sua gestão, desenvolvida ao longo do

biênio 1988-1990, que a Andes-AD lograria sucesso – não sem enfrentar fortes resistências, importa reconhecer – na formalização de duas de suas principais pautas históricas: a transfor- mação da Andes em um sindicato nacional oficial, o Andes-SN, dada ainda no ano de 1988, e sua filiação à CUT, realizada no ano seguinte.

Aprovada pela Assembleia Constituinte em 22 de setembro e promulgada em 5 de outubro, a Constituição Federal de 1988 tornou legal a possibilidade de funcionários públicos organizarem sindicatos oficiais. A Andes havia tido intensa participação no processo consti- tuinte e era uma das forças sociais que nele havia defendido essa possibilidade jurídica em nome do direito à sindicalização.

Empossada em junho daquele mesmo ano, a nova diretoria da Andes apresentou ao XVIII Conad, realizado em João Pessoa/PB entre os dias 12 e 15 de outubro, o indicativo de sua transformação um sindicato nacional oficial. Em ato contínuo, convoca, para o mês se- guinte, um II Congresso Extraordinário, realizado na cidade do Rio de Janeiro/RJ, entre os dias 25 e 27 de novembro. É nele que se aprova a mudança de forma organizacional da Andes. A decisão teve a seguinte justificativa formal: “facilitaria a filiação daquele Sindicato a uma Cen- tral Sindical, no caso, a CUT” (DONATONI, 1999, p. 2017). De fato, tal filiação se dará em 1989 (SANTOS, 2008b, p. 51).

Sobre o conjunto do complexo processo histórico que levou a Andes a transformar- se no Andes -SN e filiar-se à CUT, Otranto (2000) afirma, sem deter-se no assunto na medida que o mesmo parece requerer, ter “a Andes” se identificado desde “as primeiras discussões (…) mais com a CUT do que com a CGT”. Por tudo o que vimos anteriormente, essa é uma afirma- ção que carece de precisão, uma vez que, seguindo uma tendência interpretativa também 1 Universidade de Brasília.

presente em Donatoni (1999) e em Miranda (2011a)1, tende a menosprezar a profundidade dos

efeitos de determinação das divergências político-ideológicas presentes no sindicalismo do pro- fessorado da Educação Superior brasileira, ocultando (por adesão, consciente ou não?) a per- manente presença, em seu seio, de grupos com posicionamentos diferentes aos da tendência Andes-AD, que vem passando à história como a única porta-voz do, assim chamado, “movi- mento docente”.

Conforme temos visto, as divergências em relação às posições da tendência Andes- AD, mesmo não tendo apresentado sua mesma permanência instituinte e, assim, se desdobrado em tendências formais capazes de disputar sua hegemonia na direção da/do Andes/Andes-SN, foram suficientes para fazer frente a várias de suas pautas, mesmo que sem sucesso histórico final na hegemonização da organização. A experiência da Andes Hoje em 1986 foi, nesse sen- tido, apenas a inauguração de, como veremos, toda uma movimentação interna ao sindicalismo docente da Educação Superior nacional sem a qual se faz impossível compreender mais ampla- mente a criação da Proifes-Federação em 2004/2012.

Por tudo isso, talvez se faça mais correta que a perspectiva de Otranto, Donatoni e Miranda sobre esse processo aquela sugerida por Santos (2008b, p. 49, 50), para quem:

O que podemos reter dos relatórios dos congressos ocorridos no período de 1986 a 1989 é que a questão da filiação não era de fácil resolução. Embora houvesse a sim- patia dos dirigentes da Andes e de algumas AD à perspectiva político-ideológica da CUT, havia temor do risco de se perder a especificidade do campo de luta e reivindi- cações que marcavam o território dos docentes universitários. Colocava-se em xeque as noções de classe e a de unicidade dos trabalhadores. (…) No lugar de se estabelecer um princípio mobilizador a todas as categorias de trabalhadores, passa-se a visualizar as diferenças existentes entre elas. Assim, a filiação é feita sob longo e desgastante debate e há a certeza de que o cenário político se reconfigurava, não apenas na relação capital e trabalho, mas, sobretudo, nas diferenças internas ao trabalho.

Congressualmente assumida em 1988, a nova forma organizacional da Andes, um sindicato nacional oficial, o Andes-SN, somente foi legalizada, conforme precisa Donatoni (1999, p. 217, 218), em 1 de março de 1990. Este ano havia sido estabelecido como prazo final para que as associações docentes locais desenvolvessem “discussão junto às suas bases” sobre suas correlatas transformações em “ADs-Seção Sindical do Andes-SN”, o que, veremos no pró- ximo tópico, deu-se com a Adufc, que passou à condição de Adufc-SS precisamente em 1990 (Adufc, 2005, p. 3, 25, 26).

1 Miranda (2011a, p. 243) afirma, um “distanciamento da Andes da CGT, a outra possibilidade de filiação analisada pela base do movimento”, embora, por tudo o que temos visto, talvez seja mais preciso afirmar a existência de uma acirrada e equilibrada disputa interna no “movimento” acerca das possibilidades de filiação.

Atualmente, o sítio eletrônico do Andes-SN conta muito rapidamente a história desse longo e complexo processo de transição entre formas organizativas, limitando-se a afir- mar sobre ele que o sindicato foi

(…) fundado em 19 de fevereiro de 1981 na cidade de Campinas (SP), como Associ- ação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (a Andes). Sete anos depois, em 26 de novembro de 1988, após a promulgação da atual Constituição Federal, passou a ser Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (o Andes-SN)1, Temos visto quanto, apesar de ter sido um projeto permanente da tendência nacio- nalmente hegemônica no “movimento docente”, essa transição entre fisionomias jurídico-orga- nizativas se fez acompanhada de fortes embates político-ideológicos. No próximo tópico deste capítulo, veremos como, no influxo desse processo, deslocaram-se para o âmbito local, pelo menos no Estado do Ceará, boa parte destes embates, resultando, num primeiro momento, em forte crise local de adesão e mobilização2.

Conforme estamos até aqui acompanhando, as mobilizações gerais em torno do fim da Ditadura Militar e Redemocratização haviam dado o tom da vida organizativa dos sindica- lismos brasileiros na década anterior, mitigando, pelo menos no interior da Andes, a capacidade de produzir cisões organizativas albergada na potência divisionista das disputas entre as dife- rentes correntes político-ideológicas que lhe eram constitutivas. As novas circunstâncias gerais do país e do mundo puseram os sindicalismos brasileiros, porém, diante de desafios que, em alguma medida, eram-lhes até ali desconhecidos.

Estes advinham, por um lado, da profunda transformação geopolítica global pro- movida pelo fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e, em consequência, do regime de relações entre as forças sociais antagônicas mundialmente desenvolvido no con- texto da Guerra Fria. Por outro, estavam também diretamente referidos a dois processos gerais correlativos a essa reconfiguração dos cenários interestatais e interclasses: o desmonte do Es- tado de Bem Estar Social nos países economicamente centrais e a mundialização do neolibera- lismo3, cenário para a progressiva normalização capitalista-dependente da vida social brasileira, 1 Cf. História. (Disponível em: http://portal.andes.org.br/imprensa/manual/site/menu/historia.html).

2 As presumíveis manifestações específicas desse deslocamento nos demais estados e regiões do país encerram importância e complexidade suficientes para solicitar estudos próprios.

3 Focado no restabelecimento das taxas de lucro da renda capitalista central, levemente retraída e estabilizada no contexto geopolítico pós-guerras, o neoliberalismo apresenta como características gerais, numa de suas

dimensões, a busca do aumento da produtividade do trabalho através da contenção do custo da hora de trabalho via combate/repressão à ação sindical, estratégias de reestruturação produtiva, aumento do desemprego e precarização e gerencialismo das relações de trabalho via tecnologias de informação e comunicação. Noutra dimensão, busca dar crescimento à renda de organizações financeira através de diferentes estratégias de

feita nas décadas seguintes obedecendo aos limites (de interesse) da democracia burguesa em estados nacionais periféricos.

Em claro contraste com a crise de adesão e mobilização que veremos ter localmente ganhado corpo neste sindicalismo na segunda metade dos anos 1980, vivia-se então em seu âmbito nacional, conforme afirma Santos (2008b, p. 43, 44), certa “euforia” diante da “filiação da Andes à CUT”. Especialmente entre os partidários da tendência Andes-AD, que, cada vez mais hegemônica na diretoria nacional do agora Andes-SN, compreendia aquela filiação como a conquista de “novas perspectivas políticas” para este sindicalismo, desde então definitiva- mente posto, segundo entendiam, ao lado das classes trabalhadoras do país.

Frustrando essas expectativas, os anos 1990 testemunhariam, contudo, uma rápida expansão para o âmbito nacional da crise de mobilização que, como veremos, já vinha mar- cando, pelo menos no Estado do Ceará, boa parte da vida local desse sindicalismo, desde a segunda metade dos anos 1980. A esse respeito, Vergara (2003, p. 78, 79, 88, 89) afirma aquele período como o de

(…) novos tempos de refluxo, apatia e fragmentação da militância [nacional]. Nos primeiros meses do governo Collor, a direção do Andes S/N avaliando o quadro polí- tico percebe que com a investida governamental contra a Universidade e contra os docentes, com os salários em queda livre e o estrangulamento financeiro, a maioria dos docentes já não respondia com o mesmo nível de mobilização dos anos anteriores (…). As lideranças do Andes S/N notam que apesar do importante papel que o Sindi- cato Nacional desempenhava na resistência contra as constantes investidas dos gover- nos na Universidade Pública, era necessário, entretanto, avançar no sentido de apro- fundar o debate com a categoria, em relação a esse conjunto de questões mais gerais das lutas sociais e políticas, considerando como pano de fundo as implicações decor- rentes das mudanças na divisão do trabalho no mundo e seus nexos com a questão nacional nos rumos da política e da economia local (…).

Diante desse cenário, continua Vergara, “as declarações das principais lideranças, dirigentes do movimento docente e do movimento sindical” no X Congresso do Andes-SN, realizado em Curitiba/PR entre os dias 18 e 23 de fevereiro de 1991, apontavam que

(…) um dos principais desafios do movimento docente deveria ser o de construir o debate político e ideológico sobre os reflexos das políticas neoliberais e seus desdo- bramentos no mundo do trabalho e na educação. Decisões importantes como a reati- vação do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública e a articulação com outras entidades da sociedade civil, sindicatos e partidos preparavam uma retomada das es- tratégias de lutas gerais unificadas (…).

privatização do sistema público estatal e de redução dos custos com direitos de seguridade social. Em sua dimensão ideológica, está marcado pela exaltação do mercado, da concorrência e livre iniciativa econômica, pela contraposição à intervenção estatal (quando favorecedora das classes subalternas) e pelo autoritarismo civil via hiperpresidendicalismo e criminalização e encarceramento da miséria. (Cf. Boito Jr., 1991; Donatoni, 1999, p. 254, 255; Assis, 1991, 2006; Vergara, 2003, p. 78; Marcelino, 2013, p. 110-117; Monte, 2015, p. 115, 116).

Em todo caso, continua o autor:

As greves da categoria, cada vez mais prolongadas e com resultados cada vez menos expressivos, levam a um profundo questionamento da eficácia dessas mobilizações (…). Impõem-se então um trabalho redobrado para os militantes e para as lideranças, que além de conduzir o cotidiano marcado pelas questões especificamente sindicais, se desdobram para atuar em outras frentes criadas a partir dos novos espaços de ação. O que se verifica é uma situação de muita atividade, pouca elaboração coletiva e pe- quena eficácia na intervenção política. Multiplicam-se as comissões, grupos de traba- lho e a participação em diferentes fóruns e conselhos, sem que haja o crescimento e a