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Ricardo Abrantes do Amaral

Lúcio Garcia de Oliveira

Arthur Guerra de Andrade

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I LEV

ANT

AMENTO NACIONAL SOBRE O USO DE ÁLCOOL, T

ABACO E OUTRAS DROGAS

ENTRE UNIVERSIT

ÁRIOS DAS 27 CAPIT

AIS BRASILEIRAS

6.1. INTRODUÇÃO

O final da adolescência e o início da idade adul-ta têm sido frequentemente caracterizados como pe-ríodos marcados pela experimentação e exploração de uma série de comportamentos de risco como, por exemplo, o uso de substâncias psicoativas. A experi-ência universitária está compreendida nesse período. Nesse contexto, o uso de álcool e outras substâncias tem sido apontado como fator que aumenta signi-ficativamente a probabilidade de participação em comportamentos de risco à saúde, tais como ativida-de sexual ativida-de risco, violência, suicídio e beber e dirigir (Biglan, 1990; Brookoff et al., 1997; Cottler et al., 1992; McEwan et al., 1992; Sly et al., 1997; Tapert et al., 2001; Windle, 2003; Wechsler et al., 2000).

Primeiramente, em relação ao comportamen-to sexual, estudos internacionais apontam que cerca de 80% dos universitários já tiveram iniciação sexu-al, dos quais cerca de um terço relata o uso regular de preservativos (Douglas et al., 1997; Wechsler et al., 2000). Recentemente, há um interesse crescente quanto aos fatores relacionados à transmissão e con-tágio de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) entre os universitários, pois, a elucidação das variá-veis envolvidas neste processo poderia ter um papel crítico na elaboração de programas de prevenção.

Estima-se que o consumo acentuado de subs-tâncias psicoativas entre os universitários possa ter um papel crítico mediando o risco de exposição à conta-minação por DSTs. Segundo o “2005-2006 National Surveys on Drug Use and Health” (Wu et al., 2009), uma pesquisa nacional entre a população dos Estados Unidos da América (EUA), 2,1% dos universitários e 2,5% dos não-estudantes referiram ter contraído alguma DST no ano anterior à pesquisa. Maiores chances de ser contagiado por alguma DST foram encontradas entre usuários de álcool (apenas), usuá-rios de álcool e outras drogas, mas não entre usuáusuá-rios de outras drogas apenas (Wu et al., 2009).

Expectativas positivas quanto ao consumo de ál-cool estiveram correlacionadas a atos sexuais com ex-posição à situações de risco sexual (Abbey et al., 2007). Em levantamento realizado pelo “American College

Health Association” (2005), por exemplo, aproxima-damente 16% dos universitários mantiveram relações sexuais na vigência da intoxicação pelo álcool no ano anterior. No Brasil, Pillon et al. (2005), em estudo com os universitários da Universidade de São Paulo de Ri-beirão Preto, verificou que 64% dos respondentes já ha-viam mantido relações sexuais, 10% dos quais relataram o uso de álcool ou outra droga antes de envolver-se na atividade sexual. Quase 20% dos universitários homens afirmaram ter usado álcool antes do ato sexual. Apenas um em cada três universitários, de ambos os sexos, refe-riram ter usado preservativos regularmente.

Em diversos estudos, o uso de álcool e me-tanfetaminas aumentou o risco de violência, de ter múltiplos parceiros sexuais e desempenhar atividade sexual desprotegida (Tapert et al., 2001; Santelli et al., 2001; Sommers e Baskin, 2004, Baskin-Som-mers e SomBaskin-Som-mers, 2006). Conforme observado por uma pesquisa internacional, 10% dos universitários norte-americanos vincularam o uso de álcool com a atividade sexual desprotegida, 13% com acidentes e 29% referiram pelo menos um episódio de dirigir depois de beber (Wechsler et al., 2002).

Uma pesquisa domiciliar dos Estados Unidos apontou que 1.700 acidentes fatais e 600 mil agressões aconteceram entre jovens universitários de 18 a 24 anos (Hingson et al., 2005). Em outro estudo sobre práti-cas de ingestão alcoólica entre calouros de 14 univer-sidades de Massachusetts – EUA (Weschler e Isaacs, 1992), mais da metade dos homens (56%) e um terço das mulheres (35%) disseram ter se embriagado no mí-nimo uma vez nas duas semanas anteriores à pesquisa. As pessoas que se embriagaram relataram envolver-se em atividades sexuais não planejadas, além de terem dirigido alcoolizadas ou em companhia de motoristas alcoolizados, em maior frequência do que as que não beberam de tal forma. Soma-se a isso que aqueles que não se embriagavam nas universidades estavam sujei-tos, assim mesmo, às consequências dos que o faziam, tornando-se vítimas de agressão física direta, como de motoristas alcoolizados (Weschler et al., 1994).

No Brasil, Pillon et al. (2005) encontrou a pre-valência de 47,5% de beber e dirigir entre os calouros avaliados, sendo que estudantes do sexo feminino

re-153 SE ÇÃ O IV : CO M PO RT A M EN TO S D E RI SC O E C O M O RB ID A D ES P SI Q U TR IC A S A SS O CI A D A S A O U SO D E Á LC O O L E O U TR A S D RO G A S CAPÍTULO 6 - COMPOR

TAMENTOS DE RISCO: EXPOSIÇÃO A F

A

TORES SEXUAIS DE RISCO E AO BEBER E DIRIGIR

feriram uma frequência de uma ou duas vezes no ano anterior, enquanto os estudantes do sexo masculino referiram 7 vezes ou mais. Já Marin-León e Vizzot-to (2003), constaVizzot-tou que o sexo masculino esteve re-lacionado a um maior risco de acidentes de trânsito e às variáveis comportamentais a ele associadas como “ter sido multado”, “dirigir pelo acostamento” e “di-rigir logo após consumir álcool”. Os condutores com maior frequência de comportamentos inseguros para o trânsito apresentaram maior risco de acidentes de trânsito, assim como uma tendência a não reconhe-cer sua responsabilidade nessas ocorrências.

Falta de atenção (59,3%), desrespeito à sina-lização (33,5%) e excesso de velocidade (22,5%) foram os fatores mais frequentemente citados como determinantes para a ocorrência do último acidente, sem diferença entre os sexos (Andrade et al., 2003).

6.2. OBJETIVO

Identificar a prevalência de comportamen-tos sexuais de risco, assim como a prevalência do

comportamento de dirigir alcoolizado e pegar carona com motorista alcoolizado, entre os uni-versitários brasileiros.

6.3. RESULTADOS

6.3.1. Álcool e direção

Entre os universitários respondentes 18% rela-taram que dirigiram sob efeito do álcool nos últimos

12 meses. Os universitários de IES privadas

relata-ram, com mais frequência, esse tipo de comporta-mento (19%) em relação aos de instituições públicas de ensino (16%). Os respondentes de instituições privadas também dirigiram com maior frequência sob efeito do álcool após a ingestão de mais de 5 doses de bebidas alcoólicas (privadas: 13%; públicas: 8%). Os respondentes de IES públicas pegaram ca-rona com um motorista alcoolizado com maior fre-quência (31%) se comparados aos universitários de IES privadas (25%), assim como pegaram mais ca-rona com o motorista da vez (pública: 24%; privada: 18%). (Tabela 6.1)

Tabela 6.1. Prevalência nos últimos 12 meses de comportamentos de risco associados ao uso do álcool e direção, conforme tipo de IES.

Comportamentos de risco Total % TIPO DE IES %

Pública Privada

Dirigi sob efeito de álcool 18 16 19

Dirigi após ter ingerido quantidade superior a 5 doses alcoólicas (para homens) ou quantidade superior a 4 doses alcoólicas (para mulheres)

dentro de um período de 2 horas

12 8 13

Peguei carona com motorista alcoolizado 27 31 25

Me envolvi (no caso de ser motorista) ou fui envolvido (no caso de ser

passageiro) em acidentes de trânsito em que ninguém se machucou 3 2 3 Me envolvi (no caso de ser motorista) ou fui envolvido (no caso de ser

passageiro) em acidentes de trânsito em que alguém se machucou 1 0 1 Fui advertido e/ou multado pela policia por estar dirigindo embriagado 0 0 0 Fui o motorista da vez (aquele que deu carona porque não bebeu) 16 16 16

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Os universitários do sexo masculino descreveram a associação entre o uso de cinco ou mais doses de bebidas

Os universitários de idade entre os 25 aos 34 anos relataram, com maior frequência, a condução

alcoólicas e direção de veículos com mais frequência que as mulheres (21% e 3,9%, respectivamente). (Figura 6.1)

Figura 6.1. Prevalência de direção de veículos após o consumo de cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas entre universitários conforme o gênero.

Figura 6.2. Prevalência de direção de veículos após o consumo de cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas, entre os universitários, distribuídos conforme a faixa etária.

de veículos após o consumo de cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas (13,9%). (Figura 6.2)

Homens

21,04%

3,86%

Mulheres