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Andragogia e complexidade aplicadas à educação a distância

CAPÍTULO 1: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE ADULTOS SOB A VERTICE

1.5 Andragogia e complexidade aplicadas à educação a distância

Se pensarmos no processo de educação corporativa de todas as empresas preocupadas com a formação e o desenvolvimento de seus colaboradores, chegaremos à conclusão de que a demanda desse seguimento está integralmente direcionada para o ensino e a aprendizagem de alunos adultos, seja em modalidade presencial ou a distância. Esse fato se dá porque são pessoas na idade adulta que fazem parte do quadro de empregados das organizações.

Exatamente nesse contexto que a educação a distância está inserida como mais um recurso para auxiliar nos processos educacionais de ambientes corporativos que utilizam as metodologias com foco em andragogia.

Não poderia ser diferente no Sesc SP, visto que todo o processo educacional adotado pela Instituição para o treinamento e desenvolvimento de funcionários está fundamentado em conceitos andragógicos.

Assim, o Sesc SP segue o modelo de grandes empresas adotando, desde o ano de 2014, a modalidade de educação a distância, por meio do ambiente virtual de aprendizagem denominado Saba, com o objetivo de disseminação do conhecimento institucional para seus funcionários (teremos um capítulo exclusivo para explicar suas funcionalidades no sentido de diversificação do ambiente educacional no que concerne à educação corporativa).

Neste momento, vale refletirmos acerca do pensamento de que os processos de aprendizagem se modificam conforme a sociedade se transforma e como consequência as tecnologias evoluem e influenciam esses processos.

Knowles (1977, p. 21) já sinalizava para a necessidade de diversificamos os ambientes de aprendizagem quando afirmou que "a teoria da aprendizagem de adultos apresenta um desafio para os conceitos estáticos da inteligência, para as limitações padronizadas da educação convencional".

No Brasil, temos como exemplo Paulo Freire, que dedicou a maior parte de seus estudos referentes à alfabetização de adultos, manifestando-se contrário às concepções tradicionais imobilistas, além de ter defendido o uso do rádio no processo de alfabetização (Freire, 1997, p.143) e o uso de meios agregados – televisão e rádio.

Contudo, antes mesmo do conceito de andragogia ser difundido nos meios educacionais, o construtivismo, que tem como seu principal representante Piaget, tentou entender “como se passa de um estado de menor conhecimento a um estado de conhecimento mais avançado” e para explicar essa teoria utilizou métodos por ele denominados de epistemológicos genéticos, os quais:

...procuram compreender os processos de conhecimento científico em função de seu desenvolvimento ou de sua própria formação, comportando uma sociogênese do conhecimento relativa ao desenvolvimento histórico no seio da sociedade e a sua transmissão, e uma psicogênese das noções e estruturas operatórias elementares que se constituem no curso do desenvolvimento dos indivíduos... (PIAGET, 1967, p. 65).

Segundo Piaget, a sociogênese procura elucidar as construções coletivas que são transmitidas e redimensionadas de geração em geração, representando o dinamismo próprio de toda construção sócio-histórica.

Sendo assim, podemos entender a sociogênese como um dos fatores responsáveis pela produção do conhecimento realizado pela humanidade, que só pode ser atingido por meio da história das ideias, das ciências sociais e das tecnologias.

O mesmo autor esclarece que a psicogênese está intimamente relacionada com a formação do conhecimento do sujeito, fixando-se no desenvolvimento que guia às estruturas cognitivas, desde as mais embrionárias até as mais complexas.

A sociogênese e a psicogênese estabelecem correspondência recíproca. Em outras palavras, a sociogênese aborda as transformações sociais que vão refletir nas estruturas psicológicas do indivíduo, de maneira a influenciar e modificar as mesmas, e por consequência sofrerá uma forte influência na idade adulta no modo como o ser humano adquire seus conhecimentos.

O que nos leva a refletir acerca das teorias de Maturana e Varela (1995) no sentido de vivermos no mundo e por isso fazermos parte dele, isso faz com que cada ser humano compartilhe com os outros seres vivos o processo vital.

Morin (2000, p. 101-102), quando discorre sobre o princípio de autonomia/dependência (auto-eco-organização), nos esclarece que esta teoria “vale, evidentemente, de forma especializada para os humanos que desenvolvem a sua autonomia dependendo da sua cultura, e para a sociedade que se desenvolve dependendo do seu ambiente geoecológico”.

O que queremos elucidar com os pressupostos de Piaget, buscando como referencial a compreensão das teorias de Morin, Maturana e Varela, é que as relações sociais do homem contemporâneo têm sofrido grandes transformações, sobretudo com o advento das novas tecnologias que assumem o papel principal na difusão da informação refletindo em mudança de hábitos, comportamentos, valores e tradições culturais, inclusive no que se refere à educação no seu sentido mais amplo de ensino e aprendizagem.

Portanto, devemos considerar a educação a distância como parte integrante das mudanças culturais da nossa sociedade e pensarmos nas melhores maneiras de incorporá-la como mais um meio de disseminação de conhecimento para indivíduos na fase adulta da vida.

Segundo Bruno (2007, p. 79), a aprendizagem do adulto está relacionada com aspectos sociais (sociabilização, cooperação, convivência, respeito mútuo, alteridade, trabalho em equipe etc), afetivos (emoções, interesse, motivação, valores etc) e

cognitivos (percepção, atenção, memória, capacidade de generalização, compreensão e formação de conceitos etc).

Para que os aspectos sociais, afetivos e cognitivos, elencados por Adriana Bruno possam se dar de maneira efetiva é preciso que os indivíduos estejam em processo contínuo de aprendizagem, fato este que se dá devido às constantes mudanças e inovações tecnológicas de nossa sociedade.

Assim, a aprendizagem sai do contexto produtivo e acadêmico propriamente dito e passa a ocupar o papel principal no que tange à inclusão social.

Nesse sentido, se não aprendermos a utilizar as redes sociais, os aplicativos para smartphone entre outros dispositivos das mais variadas tecnologias que são constantemente incorporadas ao dia a dia, estaremos automaticamente excluídos do contexto social em que esses adventos estão inseridos.

Esse mesmo fato também ocorre no meio corporativo em que a tecnologia é pensada como meio de estimulação e aceleração dos processos produtivos, o que nos faz refletir que um indivíduo que não assimilar o avanço tecnológico, de alguma maneira, em um curto espaço de tempo também será excluído do contexto organizacional.

Sendo assim, não há como dissociar estas transformações tecnológicas das questões de aprendizagem para adulto. Ou seja, vivemos em um mundo em que a tecnologia existe e por isso fazemos parte desse contexto e compartilhamos com outros seres humanos este processo que envolve as ciências computacionais propriamente ditas.

Para Freire (1987, 1989), a educação do adulto é mais efetiva quando consideramos o cotidiano do aluno (trabalhador), de modo a levá-lo a conhecer sua realidade de forma crítica e ativa. Nesse contexto, podemos observar a tecnologia como uma realidade na vida da maioria das pessoas que desenvolvem atividades profissionais em organizações. Notamos, ainda, que esta mesma tecnologia acaba

saindo do contexto produtivo para assumir o seu papel também nas atividades de lazer no que se refere ao ócio propriamente dito.

Estamos na era da informação e das redes sociais. Estes fatos estão relacionados com o advento das novas tecnologias. Nesse sentido, é fácil observar a influência que a revolução da informática está causando no mundo contemporâneo, inclusive nas instituições tradicionais de ensino. Qualquer curso de graduação e de pós- graduação das instituições formais de ensino para adultos faz uso de algum tipo de recurso que permite ao aluno ter o mínimo de contato com a educação a distância.

Segundo Peña e Allegretti (2012, p. 104), as tecnologias da informação e comunicação (TICs), inicialmente eram usadas apenas com foco da disseminação da comunicação, mas já passaram a ser utilizadas no contexto educacional e estão sendo denominadas por muitos educadores2 envolvidos com as TIC de “Tecnologia para a

Aprendizagem e Conhecimento (TAC)”, pois passam a ter uma importância significativa, não só para educação informal e não-formal, mas também para a educação formal.

A tecnologia já faz parte da cultura da sociedade em que vivemos, sendo assim não há nenhum motivo que nos impeça de utilizarmos recursos computacionais para diversificarmos as possibilidades educacionais para aprendizagem de adultos, principalmente em ambientes corporativos, que por sua característica já estão familiarizados com as novas tecnologias. Impossível conceber uma empresa de porte médio ou grande que não utilize computador, internet, e-mail, entre outros recursos tecnológicos.

Nesse contexto, autores como Palfrey e Gasser (2011), influenciados pelo educador norte-americano Marc Prensky, exploram o termo “Nativos Digitais” para definir indivíduos que nasceram e cresceram com a existência das tecnologias digitais (videogames, internet, telefone celular, MP3, iPod etc) presentes no seu dia a dia. Assim, podemos dizer que o termo se refere a pessoas nascidas a partir da década de 80.

....Para esses jovens, as novas tecnologias digitais – computadores, telefones celulares, Sidekiks – são os principais mediadores das conexões humanos-com-humanos. Eles criaram uma rede 24/7 que mistura o humano com o técnico em um grau que nunca experimentamos antes, e que está transformando os relacionamentos humanos de maneira fundamental... (PALFREY; GASSER, 2011, p. 14).

O ensino a distância quando aplicado em um ambiente virtual de aprendizagem corporativo é completamente baseado e estruturado sobre os princípios da tecnologia da informação e comunicação (TIC). Nota-se, então, que adultos que desenvolvem alguma atividade profissional em empresas que adotam o conceito de educação corporativa, de alguma maneira já possuem uma experiência prévia com algum tipo de tecnologia que faça uso do ensino a distância.

Nesse mesmo sentido, vemos autores como Gomes, Pezzi e Bárcia (2006, p. 2) defendendo a ideia de que a andragogia e as teorias que sinalizam uma pedagogia voltada para o aluno estão trazendo maiores contribuições no trabalho com adultos, principalmente na educação a distância, e estão mais adequadas ao tipo de indivíduo e sociedade atual, pois elas sugerem um indivíduo ativo e autônomo.

Pelo exposto, nota-se que a inserção de contextos virtuais para educação de adultos em ambientes corporativos é uma necessidade e que deve ser pensada para que possamos diversificar os meios organizacionais de ensino e aprendizagem, e desse modo dar subsídios para as diversas maneiras que indivíduos na fase adulta têm de adquirir novos conhecimentos.

Porém, cabe lembrar que qualquer ação educacional, para que atinja o objetivo proposto, não importando a modalidade de ensino a ser praticada, deve partir inicialmente de uma intencionalidade clara e capaz de direcionar a abordagem a ser seguida. O queremos dizer com isso é que não estamos defendo a modalidade presencial ou a distância como sendo o melhor caminho a ser trilhado para a educação de adultos, as duas podem provocar efeitos positivos e inclusive juntas fazer parte de um mesmo processo educacional, desde que elaboradas e pensadas sobre o contexto de intervenção intencional tendo como princípio o aluno como foco da aprendizagem.