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Angola: Perfil Nacional de Pobreza e Desenvolvimento Humano

4. CAPÍTULO: APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE POBREZA HUMANA (IMPH) À

4.4. Angola: Perfil Nacional de Pobreza e Desenvolvimento Humano

No decorrer do Cap. II, teceram-se algumas considerações sobre o IDH e o IPH, dado que ambos constituem vectores multidimensionais de pobreza. No entanto, enquanto o IDH mede o progresso global de um país na realização do desenvolvimento humano, o IPH reflecte a distribuição do progresso e mede a acumulação de privações ainda existentes.

O RDH Angola (2005, p. 100) apresenta um IDH baixo, estimado em cerca de 0,398. O relatório indica que, até 2002, a esperança de vida dos Angolanos era cerca de 0,25% (40 anos), a taxa de alfabetização de adultos era de 67%, a taxa de escolarização bruta combinada (ensino primário, médio e superior) era de 30% e o PIB per capita oscilava entre os 2100 USD, dados que têm de ser lidos com alguma cautela.2 As dificuldades e condicionantes que têm limitado o desenvolvimento em Angola reflectem-se no baixo nível de desenvolvimento humano. Apesar de algumas melhorias verificadas nos últimos anos, o IDH situou-se em 0,398 no ano de 1997; 0,405 no ano de 1998; 0,422 no ano de 1999; 0,403 no ano de 2000 e 0.377 no ano de 2001. Este baixo índice reflecte problemas graves e insustentáveis em aspectos fundamentais das condições de vida da população, apesar de o nível de rendimento nacional suplantar o nível médio da África Subsariana, tal como apresenta o quadro nº 3.

Quadro nº 3

Índice de Desenvolvimento Humano 2005

Região Valor do IDH Esperança de Vida à Nascença Taxa de Alfabetização de Adultos Taxa Bruta de Escolarização Conjunta

PIB per Capita (PPC em USD) Angola 0,452 45,2 64,9 25,6 2335 África Subsariana 0,493 49,6 60,9 50,6 1998 Países Menos Desenvolvidos 0,488 54,5 53,9 48,0 1499 Fonte: RDH (2007/08). 2 Cf. RDH de 2004.

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Não restam dúvidas que tal situação ao desnivelamento entre a dimensão económica e a dimensão social do desenvolvimento do IDH. O baixo nível de desenvolvimento humano é determinado essencialmente pela baixa esperança de vida à nascença, de 45 anos (correspondente a um índice de 0,33) e pela baixa taxa bruta de escolarização conjunta, de 25,6% (correspondente a um índice de 0,25). O PIB per

capita foi estimado em 2335 USD às PPC de 2005 (correspondente a um índice de

0,55). O índice conjunto do nível educacional da população é bem revelador do esforço que o país terá de fazer nas próximas décadas em relação ao sector da educação. De facto, apenas 4 países em todo o mundo têm um índice inferior, sendo a média de 0,69 nos países em vias de desenvolvimento e de 0,55 na África Subsariana.

Sen adverte queo IDH não abrange todos os aspectos do desenvolvimento, não constitui de certa forma uma representação da «felicidade» das pessoas nem sequer pretende indicar o melhor lugar do mundo para se viver. No entanto, apesar das deficiências que se lhe são conjuntas, deve ser tido em conta como um elemento introdutório na busca de métodos avaliativos e qualitativos da vida das pessoas.

Os dados do RDH de 2004 revelam que Angola ocupa o 166º lugar em 177 países com 68% da população a viver abaixo do limiar da pobreza de 1.7 USD/dia. Como se pode ver, apesar do boom do petróleo, a maioria dos Angolanos vive em situação de pobreza extrema. A incidência da pobreza é mais elevada nas zonas rurais, onde afecta 90% da população, contra 57% nas zonas urbanas. Tal situação deve-se em parte à dificuldade que os agricultores têm de obter terras férteis e aceder aos mercados, pelas más condições das infra-estruturas rodoviárias e pela migração dos habitantes das zonas rurais para os centros urbanos, menos afectados pelo conflito armado do que as zonas rurais. Por outro lado, o último inquérito às famílias (2001) revela que 40% dos chefes de famílias estavam desempregados e que o desemprego nas zonas urbanas se situa nos 46%. O presente inquérito indica ainda que as crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 14 anos têm vários empregos e que 42% das crianças de famílias pobres participam no trabalho familiar (PEA, 2004/05, p. 61).

Os indicadores sociais mais relevantes, tais como a esperança de vida, a subnutrição, a educação e o acesso à água e saneamento básico decaíram a pique

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durante a guerra e encontram-se ainda em níveis muito alarmantes. A Comunidade Internacional contribuiu para minimizar tais situações, fazendo com que o país recebesse ajuda alimentar para as suas populações. Na actual conjuntura, as preocupações da comunidade internacional prendem-se com uma intervenção mais directa no processo de desenvolvimento visando atingir os ODM e promover uma governação democrática, visando a luta contra a corrupção e transparência na utilização das receitas petrolíferas com vista a aumentar em quantidade e qualidade as despesas para reduzir a pobreza. É neste contexto que o Conselho de Ministros aprovou o documento Estratégia de Combate à Pobreza (ECP) conduzido pelo Ministério do Planeamento (cf. ECP, 2005).

Relativamente à saúde, deve dizer-se que os esforços para reconstruir e aumentar a disponibilidade dos serviços de saúde quase não avançaram. Apenas 30% da população tem acesso a serviços básicos de saúde num raio de 5 km do local onde vive. A taxa de mortalidade materna é das mais altas do mundo, 1700 por cada 100000 nascimentos. Segundo a UNICEF, Angola tem a terceira taxa de mortalidade infantil mais elevada, 250 mortes/1000 crianças, devido à malária, infecções respiratórias, diarreia, sarampo e tétano neo-natal. Uma das causas profundas da reduzida taxa de acesso a serviços de saúde e da fraca qualidade desses serviços é a fatia orçamental insuficiente destinada a despesas sociais. Os parcos fundos destinados ao sector da saúde são fragmentados em unidades orçamentais distintas ao nível das províncias, e dispersos por um vasto número de políticas, programas e planos sub-sectoriais, sem que haja um plano de acção que abranja todo o sector. Por incrível que pareça, existe uma enorme escassez de médicos, apenas 1 para cada 13000 pessoas (PEA, 2004/05, p. 62).

A taxa de prevalência do HIV/SIDA, estimada em 4,1% em 2003, é relativamente baixa quando comparada com os dramáticos números da África Austral, a sub-região do mundo mais afectada pela epidemia. Neste sentido, um passo grande na luta contra a doença foi o lançamento do Plano Nacional do Combate ao HIV/SIDA, em Janeiro de 2004. O Plano Estratégico quinquenal de 160 milhões de USD, concedido em colaboração com a ONU, centra-se na prevenção, no reforço das capacidades institucionais e na ajuda à população seropositiva. No entanto, existem ainda

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preocupações quanto ao lento progresso na aplicação do Plano, sobretudo no que se refere à criação de instalações para tratamento na capital (ibid, p. 63).

Os indicadores relativos à educação em Angola encontram-se entre os mais baixos do mundo. Durante a década de 90, o sector da educação angolano registou um sério declínio nas inscrições, em parte devido às hostilidades, mas também devido à incapacidade do sistema quanto à formação e à colocação de um número adequado de professores, com material pedagógico suficiente. No fim da década de 90, a inscrição no ensino primário decresceu para 1 milhão. Para além disso, 35% das crianças que se inscrevem no primeiro ano não chegam a concluir a escola primária. Os números brutos de inscrições no ensino secundário são também muito baixos, 18% de rapazes e 13% de raparigas. Os baixos salários e atrasos nos pagamentos tornaram o ensino público uma profissão pouco atractiva. Os professores têm de exercer profissões paralelas e frequentemente recorrer às “gasosas” (subornos) o que dificulta muita vezes o acesso à educação das crianças mais carentes. De salientar ainda que o número de alunos por salas é muito elevado (64) e a escassez de manuais é impressionante (id.).

O ponto que se segue é um estudo de caso na cidade do Lubango, município sede da Província da Huíla. Procura-se medir o IPH naquela região, cujo objectivo principal consistirá em observar a incidência de pobreza naquela cidade. As variáveis tidas como relevantes para o estudo são, entre outras, o compromisso das autoridades locais no sector da Educação, Saúde, acesso a água potável e saneamento básico, e acesso a infra-estruturas básicas. Este estudo procura analisar a articulação e aplicabilidade de políticas públicas no âmbito de combate à pobreza.

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4.5. Estudo de Caso: Caracterização da Amostra