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A Indústria Petrolífera e Diamantífera como Sustentáculo da Economia

4. CAPÍTULO: APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE POBREZA HUMANA (IMPH) À

4.3. A Indústria Petrolífera e Diamantífera como Sustentáculo da Economia

Angola tem vivido dias de paz desde que foi assinado o cessar-fogo entre as forças governamentais e a UNITA, em Abril de 2002, que pôs termo a mais de 25 anos de guerra civil ininterrupta. O país enfrenta agora a árdua tarefa de canalização de fundos para a reconstrução de infra-estruturas e redução da pobreza. No entanto, os diamantes e em especial o petróleo dominam a economia nacional, sendo responsáveis pela quase totalidade das receitas do país.

Angola registou, nos últimos 3 anos, um crescimento económico na ordem dos 20% que lhe permite figurar entre o conjunto das economias de mais rápido crescimento a nível mundial (PEA, 2009, p. 147). Entretanto, deve dizer-se que a economia angolana continua a depender fortemente do petróleo, um sector de capital intensivo muito pouco articulado com os outros sectores da economia e com pouco impacto no emprego. No rescaldo da guerra civil, a diversificação da economia é travada por infra-estruturas físicas inadequadas, governação fraca e corrupção. Observa-se que desde o início da produção em grande escala, no final dos anos 70, o petróleo tem dominado a economia angolana, atingindo entre 1990-2003 uma produção de quase 1 milhão de barris/dia. Um estudo publicado pelo Centro de Desenvolvimento da OCDE sobre PEA, estima que a economia angolana é na sua maioria dependente do sector petrolífero, dado que,

Em 2003, o petróleo era responsável por mais de 45% do PIB, por 75% das receitas do governo e por 90% das exportações. A empresa Estatal Sonangol, única proprietária dos campos, participa da extracção e da exploração do petróleo, sendo responsável por 35% das vendas de petróleo do país. A empresa assinou contratos de repartição de produção com as maiores empresas petrolíferas ocidentais, lideradas pela Chevron Texaco e pela Total, responsáveis respectivamente por 61 e 27% da produção total (PEA, 2004/2005, p. 52).

Terminado o conflito armado, Angola enfrenta hoje não só os efeitos devastadores da guerra e a sua pesada herança social, mas também o enorme desafio da tripla transição: da guerra para a paz, de uma economia planificada para uma economia de mercado e de um sistema monopartidário para uma democracia efectiva. A pressão para a mudança é uma constante e parte geralmente da sociedade civil (Catarino, 2006,

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pp. 67). Assim, à semelhança de sistemas económicos fragilizados, Angola enfrenta desafios enormes que requerem um compromisso forte por parte do governo para beneficiar do apoio da comunidade internacional. Embora o sector petrolífero constitua um factor determinante na demanda económica do país, a verdade é que nos últimos anos o sector não petrolífero tem vindo a mostrar um novo dinamismo, sobretudo na agricultura, construção e serviços. O gráfico nº 3 mostra-nos o desfasamento do PIB por sector, onde se observa claramente o sector petrolífero como determinante na economia do país, representando cerca de 55% das receitas nacionais:

Gráfico nº 4

Desfasamento em % do PIB por sector em 2007

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% P etról eo e gás S erv iç os A gric ul tura,s ilv ic ul tur a e p es c as O utros Indú s tr ias tr ans formadoras Cons tr uç ão Di am ante s E nergi a e á guas % d e P rod u ção Série1

Perspectivas Económicas na África, 2009

As análises do sector petrolífero divulgadas em Maio de 2004 revelam a opacidade que ainda envolve as declarações financeiras da empresa e sua gestão de subsídios do Estado. Recentemente, a percentagem no PIB do sector não petrolífero melhorou, liderada pela agricultura, construção e serviços. Em 2007, a exploração do petróleo representava cerca de 56% do PIB, com um crescimento anual médio de 17,4% na produção petrolífera entre 2003 e 2007. Em 2008 estima-se que a produção tenha

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aumentado 10%, muito próximo dos 1,9 milhões de barris/dia. Com uma taxa de sucesso na prospecção de cerca de 80%, o boom do petróleo permitiu a Angola desenvolver a sua capacidade extractiva. A produção potencial atingirá os 2,55 milhões de barris/dia por volta de 2012, tornando-a o maior produtor de petróleo do continente africano (PEA, 2009, p. 149). As estatísticas recentes da OCDE estimam que as reservas de gás natural sejam da ordem dos 270 milhões de metros cúbicos, o suficiente para assegurar a produção nos próximos 30 anos.

Quanto à produção no sector não petrolífero, deve dizer-se que esta viu um abrandamento na ordem dos 18,6% em 2008 devido às dificuldades na importação de bens intermediários e de capital necessários aos projectos de reconstrução. Tais dificuldades prendem-se com os constrangimentos a nível das infra-estruturas e, em particular, com as infra-estruturas do porto de Luanda.

Quanto à indústria diamantífera, esta continua num esforço de recuperação e tem um potencial significativo. A empresa estatal Endiama, que detém o monopólio da produção de diamantes, produziu cerca de 7 milhões de quilates nos três primeiros trimestres de 2008. As indústrias de corte e polimento têm atraído mais investimento desde que a Endiama lançou, em 2005, a Fábrica de Polimento de Diamantes de Angola. Quanto à agricultura, esta absorve cerca de 50% do total de emprego. Com o desaparecimento progressivo das sequelas da guerra civil, a agricultura tem experimentado uma reanimação, apesar do seu contributo para o PIB ser de apenas 8%. O sector da produção de café aumentou 130% em 2007/2008. Surpreendentemente, as exportações e consumo doméstico estagnaram. Deve dizer-se que a agricultura angolana beneficiou de uma renovada atenção por parte do Governo. O Programa de Médio- Prazo de Desenvolvimento Agrícola para 2009-2013, com um orçamento na ordem dos 400 milhões de USD visa reduzir a dependência do país em importações através da: i) melhoria dos serviços e apoio aos pequenos agricultores; ii) promoção do sector agro- alimentar e iii) reabilitação de infra-estruturas (PEA, 2009, p.150).

Para além dos défices deixados pela guerra civil e dos perigos climatéricos, o desenvolvimento agrícola está ameaçado pelas pragas de insectos, pela falta de acesso ao crédito, pela gestão deficiente e deficientes competências técnicas e ainda por uma

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legislação opaca sobre a posse de terras. Por outro lado, as escolhas do Estado sobre culturas prioritárias, entre elas, as colheitas que são elegíveis para apoio público, bem como o acesso à terra – são controversas e, muitas vezes, politizadas.

Em 2007, o sector da indústria transformadora apenas contribuiu com 5,3% do PIB, sendo a alimentação e bebidas responsáveis por 85, 6% da produção do sector. Em 2008, a indústria transformadora registou um crescimento na ordem dos 11,7%, fruto de investimentos do Governo no sector industrial, nomeadamente na Zona Económica Especial de Viana, na qual 11 das 70 fábricas estão já em actividade, incluindo a fábrica de montagem de automóveis da Nissan. O sector da construção, depois de ter crescido cerca de 37% em 2007, viu uma desaceleração da ordem dos 10,6%, devido às dificuldades na recuperação de bens de capital importados no congestionado porto de Luanda. Contrariamente ao verificado nos últimos anos, em Luanda, os projectos habitacionais estão a ganhar relevância. Em 2008, um novo plano foi lançado para a construção de 1 milhão de casas nos centros urbanos mais importantes, para pessoas de baixo rendimento (PEA, 2009, p. 151).

O sector dos serviços registou em 2007 um dinamismo cada vez maior, atingindo os 17% do PIB. Os subsectores mais importantes são o turismo, o imobiliário, os serviços financeiros e, recentemente, o comércio a retalho. O Programa de Reestruturação de Logística e Distribuição de Produtos Essenciais à População (PRESILD), lançado pelo Governo em 2007, visa desenvolver a cadeia de distribuição de retalho de forma a reduzir o preço dos bens alimentares. Este programa com um investimento público de 1,7 mil milhões de USD até 2012 envolve a construção de 10000 lojas de proximidade, 163 mercados municipais, 31 supermercados “Nosso Super” e 8 centros de distribuição (PEA, 2009, p. 151).

Paradoxalmente, observa-se que o progresso económico angolano deu também origem a um processo caótico de desenvolvimento devido, sobretudo, às muitas ineficiências e problemas de coordenação potenciados pela grave escassez de capacitação a todos os níveis. Recentemente esta confusão era percepcionada como um sintoma inofensivo do crescimento rápido, sendo assim urgente a necessidade de criar um maior controlo na selecção e execução dos projectos. O colapso recente do preço do

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petróleo coloca uma ameaça real à sustentabilidade do progresso económico (PEA, 2009, p. 148).

Entretanto, apesar de o rendimento per capita angolano ter aumentado nos últimos anos, especialmente nas zonas metropolitanas, na verdade a vida mantém-se difícil para a maioria dos Angolanos com pobreza persistente e desemprego. Apesar de se observar uma melhoria na estabilidade política, a corrupção persiste ainda de forma endémica e estrutural. Para minimizar tais problemas, a solução passaria por canalizar investimentos direccionados para o sector de negócios com vista a fomentar um crescimento sustentável e a criação de emprego através de uma maior diversificação e melhor produtividade.

Observa-se que a Namíbia, com a qual Angola estabelece laços de cooperação a nível político e económico, supera-a em muitos indicadores, sobretudo por apresentar uma taxa de mortalidade infantil muito baixa, uma taxa de escolarização muito acima da de Angola, cerca de 80% da população é culta e apenas 9% da sua população está em condições de subalimentação. Da mesma forma, a Namíbia, sendo um país pobre em termos de recursos naturais, apresenta um IDH médio, cerca de 0,690, ao contrário de Angola, estimado em cerca de 0,564.

Angola deve direccionar o seu crescimento económico para programas anti- pobreza, com vista a se conseguir uma sociedade mais inclusiva, onde todos possam fazer parte do curso progressivo do país.

O ponto que se segue visa observar o grau persistente de pobreza entre os Angolanos e caracterizar o perfil nacional de desenvolvimento humano.

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