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Caracterização Político-Administrativa de Angola

4. CAPÍTULO: APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE POBREZA HUMANA (IMPH) À

4.1. Caracterização Político-Administrativa de Angola

A economia angolana tem sido deformada ao longo dos anos e, consequentemente, sofre de graves distorções micro e macroeconómicas, institucionais e de extensas desarticulações regionais. A par disso, Angola, bem como alguns países africanos, viram-se «obrigados» a aceitar a introdução dos programas de ajustamento estrutural (PAE) levados a cabo pelas instituições de Bretton Woods e pelo FMI, na década de 80, no intuito de verem minimizados o jugo da dívida externa.

Enuncia-se aqui uma premissa que, de certa forma, permitirá um melhor enquadramento do que se pretende dizer sobre a caracterização do fenómeno da pobreza no contexto angolano, precisamente na cidade do Lubango. É relevante dizer-se que o sistema estatístico angolano é ainda bastante deficiente. A informação disponível é reduzida, incompleta e pouco fiável. Quanto às estatísticas publicadas pelos organismos internacionais, nem sempre coincidem com as estatísticas nacionais, nem entre si (Roque, 1997, pp. 15-16).

Assim, após a proclamação da independência a 11 de Novembro de 1975, o país viu-se mergulhado numa sangrenta guerra civil, que perdurou durante cerca de 3 décadas. O primeiro recenseamento geral da população teve lugar em 1940, e até 1970, realizou-se um censo em cada período de dez anos. Na década de 80 tentou-se o primeiro e único recenseamento geral da população de Angola independente, e o quinto de toda a sua história. O Recenseamento de 1983/85 limitou-se a uma cobertura parcial do país, correspondente a cerca de 50% da população esperada.1 Neste sentido, apela-se para uma relativa cautela na interpretação dos dados aqui utilizados.

1 Cf. Veja-se: «Preparação do censo geral de Angola», in

<http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/seminario/workshop_paises_africanos_lusofonos/Lupini_Apre

sentacao.ppt.> Acesso 10/01/2010. Salienta-se ainda que Angola é segundo dados do INE, o único país

no mundo que não realizou um censo populacional nos últimos 30 anos, sendo a guerra que perdurou entre 1975-2002, considerado o factor que determinou a ausência deste tipo de estudo sociológico.

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A República de Angola é o terceiro maior país africano a sul do Sara, com uma população de cerca de 16471058 habitantes (RDH Angola, 2005, p. 98). Angola situa-se a Sul do equador e a Norte do Trópico de Capricórnio, entre os paralelos 4º 22´e 18º 02´, com uma área de cerca de 1246700 km2, uma fronteira marítima atlântica com 1650 km e uma fronteira terrestre de 4837 km. O país é limitado a Norte, pela República do Congo-Brazaville e a República Democrática do Congo, a Leste pela Zâmbia, a Sul pela Namíbia e a Oeste pelo oceano Atlântico, abrangendo ainda 7270 km2do Enclave de Cabinda, situado a Norte, entre o Congo-Brazaville e a R. D. do Congo. A sua divisão político-administrativa compreende 18 províncias, 163 municípios e 539 comunas, com as suas respectivas autoridades locais. Angola é um país planáltico cuja altitude varia entre os 1000 e 1500 metros limitada por uma estreita faixa de terras baixas na região costeira (cf. Roque 2000, pp. 179-189).

Em linhas gerais, pode dizer-se que a população angolana é jovem, com cerca de 45% abaixo da idade de 15 anos. Angola é predominantemente habitada pelos Ovimbundos, os M’bundos e os Bakongos. Segundo os dados censitários de 1960, estima-se que os Ovimbundos constituem o grupo étnico mais significativo (cerca de 38% da população); a língua é o Umbundo e concentram-se no centro do planalto. Pertencem aos Ovimbundos a maioria das populações do Huambo, Bié, Benguela, Norte da Huíla, Ocidente de Moxico e partes do Kuanza-Sul. Os Mbundos constituem cerca de 23% da população, cuja língua é o Kimbundo, e predominam nas províncias de Luanda, Bengo, Kuanza Norte, Malange e no Norte do Kuanza-Sul. O terceiro grupo é o dos Bakongos (com cerca de 13,5% da população), cuja língua é o Kikongo e vivem no Noroeste de Angola, nas províncias do Uíge, Zaire e Cabinda. Para além destas etnias, existem vários pequenos grupos espalhados pelo Leste e Sul do país, destacando-se os Lundas-Chokwes, os Kuanhamas, os Nhanekas – Humbes e os Nganguelas. Há ainda uns escassos milhares de Hotentotes – Bosquímanos (povos não Bantus), que vivem em pequenos grupos nómadas na parte meridional da província do Kuando-Kubango (ibid., pp. 185-186).

No entanto, é pertinente salientar que todos estes grupos se dividem em subgrupos, inclusive as línguas por si faladas, sendo o português a língua oficial.

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Quanto à religião, professam-se crenças africanas tradicionais, havendo uma grande percentagem de católicos. O mapa abaixo apresenta-nos a geografia política do país bem como as suas limitações fronteiriças:

Figura nº 1

Mapa da República de Angola

Fonte: «Mapa de Africa. Su mapa de Africa y mas. Mapa de Africa.net. Mapa de Angola», in <http://mapadeafrica.net/mapa-de-angola>. Acesso: 19/08/2009

A maior altitude angolana encontra-se no Morro do Môco, na Província do Huambo, com cerca de 2620 m. Angola possui ainda florestas muito densas, do tipo equatorial (a do Maiombe, em Cabinda). A rede hidrográfica é também bastante rica; entre os principais rios destacam-se o rio Zaire, o Kuanza, o Bengo, o Kunene e o

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Kubango, dispondo no entanto de três portos, o porto de Luanda, do Lobito e o do Namibe (ibid., pp. 180-181).

Quanto aos recursos naturais, é sem dúvida um país bastante rico. Terra arável abundante e diversidade de climas permitem o desenvolvimento de uma enorme variedade de culturas, quer de regiões tropicais, quer de regiões temperadas, incluindo café, algodão, açúcar, sisal, óleo de palma, milho, frutos tropicais e produtos hortícolas. Os recursos de maior importância económica são o petróleo (Cabinda e Soyo), diamantes (Lunda Norte e Sul e Malange), ferro (Cassinga, Jamba, N’Dalatando, Cazombo, Chibia e Chitato), manganês (N’Dalatando e Balombo), cobre (Quilengues, Benguela, Sumbe, Sungo, Kazombo, Quela e Menongue), mármores (Virei), ouro (Quilembo dos Dembos, N’Dalatando, Caála e Cassinga), chumbo e zinco (M´Baza Kongo e Balombo), volfrâmio e estanho (Ukuma e Kazombo), urânio (Caxito, Lufico e Lucala), fosfatos (Quelo) e enxofre (Benguela e Caxito) (ibid. pp. 180-183). O quadro nº 1 dá-nos um panorama global do País.

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Quadro nº 1

Indicadores Demográficos e Político-administrativos Nacionais (2004)

Nacional População Total

(estimativa) Extensão Total do Território (km2) Densidade Populacional (Hab. /km2) Número de Municípios Número de Comunas 16471058 1246700 13200 163 539

Indicadores Demográficos Regionais

Províncias População Total

até 2004 (estimativa) Extensão Total do Território (km2) Densidade Populacional (Hab. /km2) Nº de Municípios Nº de Comunas Capitais Bengo 433777 38163 11400 8 32 Caxito Benguela 1821588 39083 46600 9 27 Benguela Bié 1236077 69001 17900 9 27 Kuito Cabinda 234204 7148 32800 4 12 Cabinda Kuando- Kubango 434579 211019 2100 9 30 Menongue Cunene 458000 75771 6000 6 20 Ondjiva Huambo 1803372 35103 51400 11 37 Huambo Huíla 1381805 77547 17800 14 65 Lubango Kwanza- Norte 455397 18995 24000 10 22 N’Dalatando Kuanza-Sul 910793 57602 15800 12 36 Sumbe Luanda 3186477 2374 1342300 9 29 Luanda Lunda-Sul 455397 106151 4300 4 14 Saurimo Lunda-Norte 508744 57602 15800 9 25 Lucapa Malanje 965442 81028 11900 14 49 Malanje Moxico 437181 195267 2200 9 30 Luena Namibe 310972 56025 5600 5 11 Namibe Uíge 1112470 57602 19300 15 46 Uíge Zaire 325284 39981 8300 6 24 M’Banza- Congo

Fonte: Dados adaptados a partir do RDH Angola, 2005, pp. 98.

Como se pode ver, Angola é um país com grande potencial político- administrativo. Tem uma população bastante reduzida, apesar de os dados estatísticos apontarem para uma taxa de fertilidade acima dos 5,8% (cf. RDH, 2009, p. 173). Uma das causas do seu escasso povoamento, para além da guerra civil que assolou o país, prende-se com o facto de o país dispor de uma taxa de esperança de vida à nascença das

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mais baixas do mundo (cerca de 46,5 anos), a par do Lesoto, Afeganistão, Zâmbia, e Zimbabwe (cf. RDH 2009, p. 173). No ponto a seguir, serão abordadas as deficiências do desenvolvimento económico angolano, onde se procura aferir algumas razões que permitem a observância de tais índices negativos.