• Nenhum resultado encontrado

Metodologia: Etapas e Procedimentos do Estudo

4. CAPÍTULO: APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE POBREZA HUMANA (IMPH) À

4.5. Estudo de Caso: Caracterização da Amostra

4.5.2. Metodologia: Etapas e Procedimentos do Estudo

Deve dizer-se desde logo que a incidência de pobreza em Angola tem relações muito estreitas com a dimensão e com a composição do agregado familiar. Quanto menor for a dimensão da família, menor é também a incidência da pobreza. Também é pertinente dizer-se que o nível de pobreza do agregado está relacionado com o número de dependentes e, embora em menor grau, com o género do chefe do agregado.

Assim, de um modo geral, observou-se que a dimensão média do agregado familiar é de cerca de 6 indivíduos, nas zonas urbanas, e de 5 indivíduos nas zonas rurais. Cerca de 35% dos agregados familiares são constituídos por mais de 6 elementos.

A ECP de 2005 (p. 24), levado a cabo pelo Ministério do Planeamento, sustenta, e bem, que nas zonas urbanas se constata que as famílias chefiadas por mulheres estão menos marcadas pela pobreza, dada a sua presença significativa nos mercados informais. Nestas situações, a quase totalidade dos rendimentos são utilizados no consumo das famílias. Contrariamente, nas famílias chefiadas por homens os rendimentos destinam-se na maior parte a consumos não essenciais (bebidas e tabacos) e a despesas de investimento. Já nas zonas rurais, a pobreza extrema é mais prevalente nas famílias chefiadas por mulheres, dado o menor grau de instrução e poder económico, tal como se confirmou aquando das entrevistas levadas a cabo nos mercados informais do Chioko e do João de Almeida.

Deve dizer-se que estes mercados (as chamadas praças públicas) constituem uma fonte de rendimento das populações da cidade do Lubango. A população quase na sua maioria é vendedora e revendedora de produtos de vária ordem para a subsistência do seu dia-a-dia. Neste sentido, os mercados informais afectam positivamente o comportamento dos agentes económicos na relação destes com a sociedade no seu conjunto pois, muitas vezes, senão na maior parte dos casos, os vendedores vêem a prática de tais negócios como mecanismos de arranjos sociais para a satisfação das principais necessidades básicas.

IV. Aplicação do Índice de Pobreza Humana (IPH) à Cidade do Lubango

139

Dada a escassez de recursos com relação ao tempo de pesquisa no terreno e as dificuldades económicas para a condução do estudo, optou-se por construir uma amostra com base numa selecção aleatória. Assim, foram entrevistadas pessoas de diversos estratos sociais. O objectivo principal é o de saber o que é a pobreza para aquela população, as causas que lhe estão associadas e auscultar as possibilidades para a sua erradicação. A dimensão da amostra esteve condicionada à disponibilidade de tempo, bem como ao acesso aos dados. A amostragem foi aleatória e teve como objectivo garantir a representação do índice multidimensional de pobreza na cidade do Lubango. Dado o objectivo da investigação ser de carácter descritivo e exploratório, os questionários aplicados, inclusive os seus resultados, devem ser vistos como preliminares, pese embora as críticas que lhes sejam submetidas, pois a razão de ser deste trabalho é o de servir de instrumento inicial para a construção de um índice de pobreza local.

Tal como refere Stake (1995, p. 4), «não se estuda um caso para compreender outros casos, mas para compreender o caso». Assim, o nosso caso incide sobre a pobreza na cidade do Lubango, enquadrado do ponto de vista teórico pelo pensamento seniano.

O estudo realizou-se na cidade do Lubango, entre os dias 5 de Abril a 6 de Maio de 2010. Foram usadas as seguintes técnicas de investigação:

1. Análise Documental; 2. Inquérito por Entrevista; 3. Observação Directa.

Os indicadores principais a ter em conta são, entre outros, o compromisso da Administração local no sector da Educação, Saúde, acesso a água potável e saneamento básico, acesso a infra-estruturas básicas e, fundamentalmente, aferir a aplicabilidade de políticas públicas no âmbito de combate à pobreza.

A análise documental e, sobretudo, a observação directa de factos constituíram sem dúvida os alicerces básicos do estudo. À partida não foi preciso um contacto directo

IV. Aplicação do Índice de Pobreza Humana (IPH) à Cidade do Lubango

140

com a população para verificar a pobreza, o grau colossal de privações, e as diligências para a sua erradicação. Há muito por se fazer no âmbito do flagelo que assola a província em diversas direcções. De início procurou-se junto das autoridades aferir sobre o diagnóstico da pobreza da cidade e as políticas conduzidas pela Administração local para a sua erradicação. Neste sentido, a entrevista conduzida ao Exmo. Director do Gabinete do Plano do Governo Provincial, o Exmo. Sr. Dr. Armando Vieira, permitiu esboçar um panorama geral sobre as políticas conduzidas pelo Estado no âmbito da erradicação da pobreza na região.

A par da AC, identificou-se uma série de “funcionamentos” que segundo Sen, estariam na base para se ter uma vida saudável e por sinal longa, entre eles:

I) Viver dignamente;

II) Alimentar-se convenientemente;

III) Estar ao abrigo de doenças passíveis de se evitar; IV) Ter um nível de escolaridade aceitável;

V) Ter acesso a serviços básicos primários;

VI) Participar na vida da comunidade e em actividades associativas; VII) Ser feliz e ter auto-estima;

VIII) Não se sentir marginalizado; IX) Ter trabalho digno.

São estes os “funcionamentos” que o inquérito procurou estudar e medir. Cada um dos funcionamentos foi avaliado por meio de perguntas objectivas e subjectivas. O questionário foi composto por 71 perguntas, cujas respostas seriam principalmente do tipo “sim ou não”. Para cada funcionamento existe um número diferente de indicadores, dependendo da abrangência do mesmo e não tanto da sua importância. Neste sentido, Sen afirma que, “jejuar não é a mesma coisa que ser forçado a passar fome. O facto de ter a opção de comer é o que faz com que o jejum seja aquilo que é, isto é, escolher não comer quando poderíamos ter comido” (2003, p. 90).

IV. Aplicação do Índice de Pobreza Humana (IPH) à Cidade do Lubango

141

Por outro lado, deve dizer-se que nem todas as perguntas do questionário se destinavam a medir “funcionamentos”; existem perguntas genéricas não destinadas ao cálculo do índice multidimensional de pobreza (IMPH), pese embora a sua relevância para a análise e tratamento dos resultados.