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Formação de professores na trajetória histórica da Anpuh

2.2 A Anpuh e a formação de professores

Durante grande parte da Ditadura Militar, a Anpuh procurou garantir, como uma Associação Científica, a neutralidade junto às manifestações de cunho político e ausente dos problemas que acercavam o Ensino de História e a formação de professores. No entanto, a Anpuh enfrentou questões internas no que se refere aos seus próprios associados, que não tinham mais um discurso uníssono. O discurso muda de tom ao viver e sentir a sua própria historicidade frente aos problemas colocados pelo Governo Militar, pois manter a pretensa neutralidade política diante das imposições governamentais era pretensamente impossível pelos próprios problemas que atingiam a comunidade de historiadores, em grande parte seus próprios associados. Além de vigiar a produção científica e os espaços de divulgação, muitos profissionais foram impedidos de exercer livremente o seu ofício, a partir de aposentadorias precoces no final dos anos de 1960, como também pela própria Reforma Universitária de 1968 que exerceu poder de intervenção nas próprias universidades. A reforma “tentou inviabilizar, a todo custo, um projeto de universidade crítica e democrática ao reprimir e despolitizar o espaço acadêmico”. (GERMANO, 1994, p. 123)

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Nesse sentido, “à medida que o governo ditatorial demonstrava sua capacidade de censurar e interferir nas instituições de ensino e pesquisa, professores e pesquisadores da História começaram a reivindicar que a Anpuh passasse a assumir um caráter político” que até então, era assunto estranho aos seus objetivos, como consta no artigo 3º do seu Estatuto7. (MARTINS, 2002, p. 121)

A História não se via ameaçada apenas pelos problemas advindos da Reforma Universitária, a qual pretendia romper com a potencialidade crítica da produção do conhecimento histórico, mas também se via à beira de sua eliminação como disciplina escolar e como curso de formação de professores pela implantação dos Estudos Sociais. Essas reformas comprometeriam significativamente os campos de atuação dos profissionais de História, portanto, trazia dificuldades para a inserção no mercado de trabalho.

Assim, nos seus simpósios bienais e nas suas sessões regionais, a Anpuh voltou o olhar para a formação de professores e o Ensino de História nas discussões de moções colocadas em plenárias. Contudo, a história de luta travada pela Anpuh contra os Estudos Sociais está ligada às próprias dificuldades que historiadores tiveram no interior dessa Associação para que os caminhos dessa luta fossem (re)definidos. “A história da Associação se confunde com a história das lutas contra os Estudos Sociais não somente pelo seu papel de protagonista nessa luta [...] mas porque exigiu dela a reconfiguração do ‘profissional de História”. (MARTINS, 2002, p. 116)

No IX Simpósio Nacional da Anpuh, em 1977, Florianópolis, Santa Catarina ocorreu o episódio que poderia ser considerado o marco de mudança na visão da ANPUH: a discussão sobre a inclusão do professor da escola básica e dos alunos de pós-graduação como sócios. Sobre esse momento histórico trazemos aqui experiências vividas de quem participou desse Simpósio e atuou para que essa mudança na Anpuh se efetivasse. A Professora Déa Ribeiro Fenelon, uma das autoras do projeto de mudança, rememora sua experiência:

Eu acho que o momento que eu mais me aproximei da Associação e começamos mesmo a discutir foi em 1977, no Simpósio da Anpuh em Santa Catarina. Nós, eu digo um grupo de pessoas que se encontrava nos Congressos da Anpuh, que discutia. Tinha professores de vários lugares. Lá de São Paulo tinha um grupo bom. Nós apresentamos em Florianópolis uma primeira proposta de incorporar os professores de 1º e 2º graus, como naquele tempo era chamado, à Anpuh com

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direito a voz e voto, como sócios. Eles tinham direito de assistir, de observar, mas não podiam participar como sócios. E nós apresentamos em 1977, em Florianópolis, uma proposta para isso. Acho mesmo que foi fruto da nossa inexperiência. Todo mundo ainda era muito novo e na verdade nós fomos vencidos pela burocracia, porque para modificar o estatuto da Anpuh tinha que ter publicado antes, na convocação do Simpósio, em jornais de grande circulação, edital, dizendo que ia haver uma assembléia para modificar o Estatuto. Então, na verdade, nós perdemos na burocracia.

A discussão foi grande e começaram a aparecer reações contra a presença dos professores como sócios. Daí, na verdade, a Assembléia que acabou votando e incorporando os professores foi em Niterói, em 1979, acho. Foi a seguinte. Foi feito tudo direitinho. Eu não estava presente. Por problemas de saúde eu não pude ir. Em Niterói foi votada essa proposta iniciada em Florianópolis.

Mas o que era a reação? Era muito pelo lado de que a Associação era uma Associação Científica, de conhecimentos, de produção e apresentação de trabalhos. Era uma coisa dos “historiadores”. Fazia-se muito essa diferença. E o professor ainda estava numa fase que não produzia, que não era um pesquisador. E por outro lado, houve uma reação também grande contra a proposta. Essa reação foi assim: a Professora Cecília Westphalen, que é uma das primeiras presidentes da Associação, rasgou o estatuto e falou que a gente ia destruir a Anpuh. Eles acharam que a falta de um nome, o que iria substituir a Anpuh, iria destruí-la. Para não substituir a sigla, nós chamamos de profissionais da História. E aí, isso deu uma reação porque cheirava a sindicalismo. O nome não agradou, as pessoas achavam que Associação de Profissionais de História parecia um sindicato, parecia uma associação de classe. E na verdade isso nos custou bastante voto, uma discussão bastante complicada. E custou até a saída de algumas pessoas da Associação para ir para SBPH. Muito nesta base da reação de que não ia mais ser um espaço científico, de apresentação de trabalho, de conhecimento, porque “vinha essa turma de professores”.

A incorporação dos professores de 1º e 2º graus à Anpuh é um traço, é um momento de divisão da vida da Anpuh porque forçou, não tenho dúvida, principalmente na Assembléia, uma discussão sobre o que era a Associação, o que é que a gente queria, porque os professores podiam vir assistir e não podiam apresentar trabalho, não podiam discutir os seus problemas. [...] Nosso divisor era o licenciado e o bacharel em História. E, por isso a gente chamava de profissional, mas não conseguimos. Acabou que ficou Associação Nacional de História, o que era Associação Nacional de Professores Universitários de História. Quando incorporou os professores, ficou Associação Nacional de História com a mesma sigla Anpuh.

A narrativa tecida pela Professora Déa Fenelon traz alguns sentidos para a polêmica estabelecida naquele Simpósio de Florianópolis de 1977. Compreende-se que os sócios remanescentes daquele “I Simpósio de Professores de História do Ensino Superior” no qual

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se deu a criação da Associação se viram feridos pelas mudanças propostas pelos novos8 sócios. Não conseguiam mais manter a tradição inicial de ser uma Anpuh no verdadeiro sentido da sigla: Associação Nacional dos Professores Universitários de História, pois a ameaça de romper com o “espaço científico” estava posta com a inclusão, como sócios, dos professores do então 1º e 2º graus e, também, dos alunos da pós-graduação. Criava-se, então, um outro espaço onde preservaria o sentido, para aqueles pesquisadores, de ser exclusivamente de divulgação de seus trabalhos: a Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica (SBPH).

Por outro lado, a ruptura com os antigos princípios básicos da Anpuh já se fazia necessária pela própria atuação dos “novos” sócios, sendo a maioria desses professores formadores de professores e formadores de formadores na pós-graduação, pois queriam que discursos e práticas relativas à formação do profissional de História se fizesse também na Associação que os representavam. Essa relação pode ser evidenciada no relato da Professora Raquel Glezer:

Em 1977, a Anpuh teve uma disputa política. O grupo que perdeu saiu e formou a Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica. O grupo saiu porque o que se discutia era que alunos de pós-graduação podiam participar e apresentar trabalho na Anpuh. Antes só os professores universitários podiam. E na discussão venceu a idéia de que os alunos de mestrado e doutorado poderiam participar.

O sistema de pós-graduação se estrutura na década de 1970 e esses alunos de mestrado e doutorado, parcialmente, já eram professores. O grupo já era professor da Rede Estadual. Então, essa foi a abertura para a participação de professores. Para ser sócios a exigência deixou de ser o professor de uma Instituição de Ensino Superior e passou a ser um graduado em História.

Na década de 1970 nada seria mais conservador do que proibir a agregação de alunos mestrandos e doutorandos num contexto de expansão e consolidação do sistema de pós-graduação. Seria inconcebível para um espaço que se constituíra como de discussão e divulgação da pesquisa histórica. Portanto, a mudança na Anpuh já se fazia necessária, como rememora o Professor Edgar Salvadori de Decca:

Eu participei ativamente da Anpuh a partir do momento em que houve a mudança no Regimento e ela passou a abrigar as inscrições dos professores de 1º e 2º Graus. Isso ocorreu no Congresso de Florianópolis e eu estava recém-ingressando como professor da Unicamp. Em 1977, foi quando entrei na Unicamp e aconteceu, logo

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Quando digo “novos” sócios é porque tenho a intenção de distingui-los dos primeiros associados, fundadores da Anpuh.

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em seguida, o Congresso da Anpuh de Florianópolis. O grupo que representava a pós-graduação daqui da Unicamp era o que há anos batalhava para a mudança do Estatuto da Anpuh, para que pudesse ser alterado em benefício dos professores de História do 1º e 2º Graus. Uma das pessoas que liderava esse grupo era a professora Déa Fenelon. E nós fomos, em grupo, para Florianópolis. Alugamos, inclusive, um ônibus para a Unicamp. Sabíamos que na assembléia geral haveria esse ponto a ser discutido e nós estávamos convictos de que poderíamos convencer a maioria dos associados de que seria importante modificar o Estatuto para permitir o ingresso dos professores de 1º e 2º Graus. E a gente saiu vitorioso. Lembro-me que houve professores que, querendo preservar a Associação, rasgou o Regimento e o Estatuto da Anpuh em público. Foi um ato, assim, político, porque representava um avanço das forças mais progressistas, na época, em prol da abertura mais democrática e do acesso da Anpuh aos professores. Isso daí, inclusive, resultou numa cisão, quer dizer, criou-se uma Associação de História que foi uma dissidência desse Congresso que, de uma certa maneira, abrigou aqueles que foram contrariados com essa decisão.

Foi muito bacana, porque, nessa ocasião, houve uma mudança da qual apoiávamos, principalmente aqui, na Unicamp, achando que o nosso currículo de graduação em História, que estava recém-criado, era um currículo que não dissociava ensino e pesquisa, portanto, a questão da Licenciatura era discutida na perspectiva, também, da pesquisa de História. Por isso a gente achava que era importantíssimo que a nossa Associação abrigasse os professores de 1º e 2º Graus, para que eles não fossem só licenciados e professores de História, mas também criasse a cultura da pesquisa histórica, junto à escola de 1º e 2º Graus, com relação a esses profissionais.

Então, foi nesse contexto que eu comecei a participar da Anpuh, quer dizer, foi a primeira vez que eu, de fato, atuei, e aí foi como sócio, junto com o grupo que, na época, defendia essa proposta, liderado pela professora Déa Fenelon. Acho que os grandes historiadores aqui, no momento, foram sensíveis e todos eles ficaram na Anpuh. Muito embora tenha havido uma cisão e alguns historiadores de nome, também de renome, tenham optado pela outra Associação, acredito que a grande maioria dos historiadores e aqueles mais importantes permaneceram na Anpuh. Essa foi a minha primeira experiência e a maneira como eu ingressei mesmo na Anpuh.

Com o relato, o Professor Edgar de Decca evidencia questões para explicar esse momento de ruptura da Anpuh: primeiro evidencia a representação da Unicamp, sob a liderança da Professora Déa Ribeiro Fenelon, no sentido de colocar a proposta de mudança no Estatuto da Associação a fim de incluir os pós-graduandos e os professores de 1º e 2º graus. Segundo, traz o rompimento do grupo “mais conservador” com as “forças mais progressitas”, ao apoderar-se do ato de rasgar o Estatuto, o que significou a criação de uma outra associação e, principalmente, a abertura da Anpuh. O Professor, a partir da rememoração da atuação do grupo da Unicamp na Assembléia do Simpósio, assinala a

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mudança do currículo de graduação em História, no qual previa discussões relativas à Licenciatura. Mostra, portanto, questões referentes às concepções de formação de professores e de docência, no que se refere à relação ensino-pesquisa e à criação de uma cultura de pesquisa histórica na Escola Básica. Por fim, o Professor acredita que a saída de alguns professores universitários da Anpuh para formar uma outra sociedade não significou grande baixa na liderança de grandes nomes de historiadores na Associação.

A inclusão dos professores da Escola Básica e dos pós-graduandos não pode ser dissociada da história de luta da Anpuh contra os Estudos Sociais, pois o que permite tecer sua historicidade em relação à formação de professores é essa mudança de olhar da Associação. Em “A questão de Estudos Sociais”, Déa Ribeiro Fenelon tece a trajetória de lutas da Anpuh contra a desqualificação do profissional de História e evidencia no objetivo desse texto de 1984 que, ao destacar os momentos mais significativos desse caminho percorrido, permite a “avaliação e também a discussão sobre o sentido que se pretende doravante imprimir a este movimento” (1985, p. 14). Assim, retomamos aqui a questão dos Estudos Sociais, percorrendo mais uma vez a trajetória de lutas da Anpuh no sentido de buscar discursos e práticas de memórias/identidades relativas à formação de professores de História.

No início dessa trajetória de inclusão dos Estudos Sociais, como área de estudo e curso de Licenciatura Curta, parecia assunto estranho aos propósitos da Anpuh. Segundo reflexões de Maria do Carmo Martins, tal atitude de neutralidade no instante dessas reformas educacionais pode ser assim explicada:

É possível que dada a gravidade do cenário político e social do país, os historiadores organizados pela Anpuh tenham considerado os efeitos da reforma do ensino de 1º e 2º graus menos nocivos do que os da Reforma Universitária e por isso tenham demorado a atacá-la frontalmente, mas a não participação dos professores desses graus de ensino na Associação, assim como a ausência dos pós-graduandos nos quadros de associados tornava a Anpuh pouco sensível aos problemas que a disciplina escolar enfrentava no período. (MARTINS, 2002, p.121)

O contexto histórico vivido era de implantação de um Estado de Segurança Nacional, portanto representava a incorporação de uma ditadura que não admitia liberdades de intervenções nas políticas públicas. A própria Lei 5692/71 que efetivou os Estudos Sociais no Ensino de 1º e 2º graus e a implantação da licenciatura curta com o mesmo nome, pelo Decreto-lei 547 de 18/04/1969, seguia o modelo educacional para atender à

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privatização do ensino superior, o que expressava o pensamento do projeto desenvolvimentista do governo militar e da concepção de educação voltada para esse fim. Nesse primeiro momento, a questão dos Estudos Sociais não era objeto de preocupação para os professores universitários porque voltaram seus esforços para a Reforma Universitária de 1968. Segundo Déa Ribeiro Fenelon:

O momento se caracterizava antes pela denúncia dos princípios gerais que norteavam a Reforma. Assim, os temas centrais prendiam-se a aspectos como a tecnicização do ensino, os problemas acarretados pela chamada ‘formação geral’, a submissão da produção científica das Universidades à ideologia do Estado e às necessidades imediatas do mercado de trabalho, a ingerência externa na definição das diretrizes da Universidade brasileira apontadas no Plano Atcon, nos acordos MEC- USAID, no famoso relatório Meira Matos, enfim, a descaracterização da Universidade como elemento de crítica e de encaminhamento de soluções adequadas ao que se discutia sob a temática de ‘realidade brasileira’. (1985, p. 15)

Contudo, é de 1973 a data que Déa Ribeiro Fenelon (1985) imprime para o surgimento de manifestações mais efetivas sobre Estudos Sociais, assim especificadas: Fórum de Debates sobre Estudos Sociais (USP); investidas da Associação dos Geógrafos do Brasil (AGB) e da Associação dos Professores Universitários de História (Anpuh) em moção contrária à continuidade dos Estudos Sociais no seu VII Simpósio Nacional, realizado em Belo Horizonte. Por outro lado, Martins (2002) aponta que a pouca sensibilidade da Anpuh em relação ao problema pode ser explicada pela não participação efetiva dos principais atores afetados pelos Estudos Sociais, os professores do então 1º e 2º graus, como também pela ausência dos alunos de pós-graduação, a maioria deles também professores desses níveis de ensino. Nesse sentido, é a partir do movimento de inclusão desse professores na Anpuh que a histórica luta contra os Estudos Sociais ganha fôlego. A trajetória de lutas descritas por Fenelon (1985) não invalida a posição de Martins (2002) sobre a atuação da Anpuh, pois após a investida do MEC através da Portaria 790/76, em que explicitava a licenciatura em Estudos Sociais para o exercício da docência no 1º e 2º em História, Geografia e Estudos Sociais, verificou-se uma mobilização de entidades estudantis e dos profissionais docentes atingidos pela imposição ministerial. Isto fez com que a Associação percebesse que a maior reserva de mercado de trabalho do historiador pertencia à categoria de professores da Escola Básica.

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Em relação a esse momento histórico de emersão de lutas e discursos, Selva Guimarães Fonseca (1993) observou que as mobilizações e resistências dos professores questionavam “a política educacional, a função social da escola, dos currículos e o processo educativo como um todo”, além de ganhar uma dimensão classista pelo surgimento de sindicatos e greves. Em relação às lutas empreendidas, observou também discursos de manifestação de entidades como a Associação Nacional de Educação (ANDE) e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), alguns publicados na revista Educação e Sociedade, que inaugurou uma sessão intitulada “Movimento dos Trabalhadores da Educação”9, na qual se propunha “a divulgar os debates, os movimentos e as posições sobre os problemas da educação brasileira.” A autora ainda pontua que apesar das conquistas alcançadas nesse período, as Licenciaturas Curtas permaneceram “formando milhares de professores por este Brasil”. (FONSECA, 1993, p. 33-35)

Por sua vez, a Anpuh irá atuar efetivamente a partir do parecer de agosto de 1980, do Conselho Federal de Educação (CFE), produzido pelo conselheiro Paulo Nathanael Pereira de Souza, o qual propunha a transformação radical dos cursos de História e Geografia em um único curso de Estudos Sociais, com habilitações plenas em História, Geografia, Organização Social e Política do Brasil (OSPB) e Educação Moral e Cívica (EMC). Assim, o protesto contra tal investida tomou dimensão nacional o que pode ser evidenciado na Revista Brasileira de História (RBH-Anpuh) de No 3, 1982, com a publicação de uma série de documentos, cartas de repúdio e manifestações contrárias à proposição do Conselheiro. O texto de Raquel Glezer “Estudos Sociais: um problema contínuo” abre a Sessão Noticiário da Revista trazendo, em primeiro, os problemas causados pelas reformas educacionais das décadas de 1960 e 1970 no que se refere ao “ensino profissionalizante” e suas conseqüências para a área de Ciências Humanas. Em seguida expõe a luta travada por professores de História e Geografia e as vitórias conquistadas até o momento:

[...] a manutenção dos cursos de 3º grau de História e Geografia em licenciatura longa, nas universidades federais, estaduais e mesmo particulares; a não concessão do registro de Ensino de História e Geografia aos licenciados em Estudos Sociais; a retomada do Ensino de História e Geografia como disciplinas autônomas desde a 6ª série do 1º

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grau no sistema estadual de ensino de São Paulo e sua afirmação no 2º grau, e, finalmente, concursos de ingresso ao magistério oficial paulista realizados em disciplinas específicas, com requisito de licenciatura longa. (1982, p. 117)

Expõe, portanto, a importância dessas vitórias e evidencia a ameaça de 1980 no momento em que chegou ao conhecimento da comunidade acadêmica e científica do famigerado projeto de Paulo Nathanael que poderia extinguir as ciências específicas, História e Geografia. Para romper com tal despropósito, Raquel Glezer assinala a reação das Associações Científicas, Anpuh e AGB, mobilizando em todo território nacional