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4 DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS

4.2 Identidades pré-adolescentes na pós-modernidade

4.2.1 Antenado (a)

Outra identidade identificada se refere àquele menino ou àquela menina engajado (a) com as novidades, ao contrário dos outros que não percebem estas novidades. Este é o

ANTENADO (A).

Identificamos como exemplo na situação [#65], falante se refere a um novo game, ficando surpreso com alguns dos colegas que ainda não conheciam o jogo, “vocês precisam jogar, é muito maneiro!”. E demonstrando que é realmente antenado com as novidades: “tem naquela loja de games, vamos lá para eu mostrar pra vocês”.

Em um aniversário, as meninas estavam sempre preocupadas com a aparência, indo sempre ao banheiro pentear os cabelos e retocar o gloss. Falante comentando de uma das colegas, “vocês viram que a menina tal fez escova progressiva?” [#71], demonstrado um conhecimento com as novidades e firmando ser antenada.

4.2.2

Bravo (a)

BRAVO (A), é uma palavra que significa várias coisas, porém no nosso estudo, bravo,

Meninos ficam irritados e levantam da mesa, na situação [#43], bravos com as meninas que de maneira [#42] brincalhona (mais uma situação, característica da identidade BRINCALHONA) falavam umas no ouvido das outras (com ar de gozação). Esta situação nos serve para exemplificar estas duas identidades, visto que a maneira brincalhona demonstrada nesta primeira situação deixou os meninos extremamente bravos.

Esta mesma identidade aparece em outra situação [#143], uma menina se aproxima de um grupo de amigos na praça de alimentação do Shopping Recife. Quase todos do grupo, menos um menino vestiam casaco tipo moletom com capuz. Ela cumprimenta todos com dois beijinhos, porém, é surpreendida pelo menino que não estava de casaco. Ele tira o casaco dela e coloca nele, como se quisesse mostrar um pertencimento ao grupo “casacos de moletom”. Ela reclama, fica irritada e diz: “Você pensa que sou boba? Quero meu casaco!”.

4.2.3Brincalhão

Aquela pessoa alegre e divertida, engraçada e que adora fazer brincadeiras, o

BRINCALHÃO, foi mais uma identidade identificada nas nossas observações.

A situação [#399] nos serve para identificar esta identidade, quando a falante, dizendo que precisava de fotos novas para colocar no site de relacionamento Orkut, faz poses, joga o cabelo de um lado para o outro, beija os amigos, faz biquinho, fazendo caras e bocas. De fato, caracterizando como uma grande brincadeira.

Em outra situação [#28] um menino assusta as meninas no filme Batman, o cavaleiro das trevas, puxando os cabelos delas, dando pequenos sustos, empurrando e fazendo barulhos com a boca assustando as meninas, em seguida sorrindo com a brincadeira que havia feito. Estas provocações do interagente demonstradas nesta situação confirmam que se trata de um brincalhão.

4.2.4

Crítico (a)

Mais uma identidade encontrada em nossa pesquisa se refere ao menino ou menina que nos discursos vêm o que está “por detrás”, o que está escondido, tendo a partir daí uma atitude de fazer julgamentos, CRÍTICO (A).

Identificamos como exemplo na situação [#739], meninas encontram os meninos no

Game Sation do Shopping Recife no brinquedo midnight 3, depois de cumprimentar a todos

com beijos, diz: “por isso que não achava vocês, vocês estavam aqui no vício!”. A crítica foi pelo fato de que os meninos só gostavam de ficar jogando.

Em outra situação [#382], falante sentada em uma mesa da praça de alimentação, em um comentário crítico a respeito de uma colega que passava, “veja a roupa que ela está usando, isto é roupa para vir ao shopping?” Continua balançando a cabeça e afirma: “parece até que ela vai a uma festa”.

4.2.5Curioso (a)

Aquela pessoa que tem um desejo de ver ou conhecer algo até então desconhecido, o (a) CURIOSO (A), foi mais uma identidade identificada nas nossas observações.

Um grupo de quatro meninos sentados na praça de alimentação do Shopping, todos com ipod no ouvido, são surpreendidos por algumas meninas, uma delas senta no colo de um dos meninos e curiosa tira o fone do ouvido do colega e pergunta: “O que você tá escutando?” Por trás desta atitude da interagente fica nítida sua curiosidade.

Outra situação [#325], falante precisava comprar um caderno para o colégio, cada uma das amigas sugeria um lugar diferente para a compra do mesmo. Uma delas sugere a papelaria “Escrita Fina” neste momento ela fica curiosa: “na escrita fina tem caderno?” Esta fala afirma a curiosidade da interagente em saber se nesta papelaria teria cadernos.

Outra situação [#422], em um salão de cabeleireiros, meninas se arrumam para uma festa de aniversário de quinze anos, uma delas curiosa queriam saber, “qual vai ser a banda, você sabe? [...] Porque esse suspense?”, se referindo a banda contratada para tocar na festa” Nesta outra situação fica demonstrado a curiosidade da interagente em saber qual banda tocaria na festa.

4.2.6Dependente

DEPENDENTE, assumimos na nossa pesquisa esta identidade caracterizada pelo o

menino ou a menina submisso, que se deixa controlar pelos pais.

Identificada na situação [#55], falante afirma que precisa comprar uma blusa nova, pede ajuda as amigas para que elas ajudem a escolher: ”Vamos só olhar, que depois venho com minha mãe para comprar”. Demonstrando uma total dependência, já que a mãe daria a palavra final em relação ao que ela deveria comprar.

Em outra situação [#153], meninas conversam sobre o aniversário que ia acontecer em breve. Uma delas que ainda não havia comprado o presente para a aniversariante, queria saber o que as colegas haviam comprado. Falante, que já havia comprado, porém não sabia direito o que era o presente diz: “foi minha mãe que comprou, não fui eu, ela foi na ‘Musa’ e comprou uma camiseta, eu acho”. Mais uma demonstração de total dependência da interagente com sua mãe.

4.2.7

Educado (a)

EDUCADO (A), palavra com vários significados como, obedientes e organizados,

porém nas nossas observações se refere ao menino ou a menina que se comportam socialmente corretos, sendo gentil e respeitando os colegas.

Como exemplo identificamos na situação [#229], dentro do carro um grupo de meninas conversam sobre como o shoppingnaquele dia só tinha gente conhecida, e durante a conversa de maneira educada pergunta a todas: “Alguém quer? E exclama: Ainda tenho chiclete!” Tanto a primeira como a segunda parte da fala destaca ser o falante como tendo socialmente um comportamento correto.

Na situação [#408], um grupo de meninas chega a um restaurante japonês para um aniversário, de maneira educada cumprimentam todos de longe apenas mandando beijos com as mãos. Em seguida vão em direção ao que nos pareceu ser a aniversariante, a beijaram e a abraçaram carinhosamente e entregam os presentes. É de senso comum que devemos cumprimentar a todos ao chegar em um aniversário.

4.2.8

Independente

Também identificamos a identidade, INDEPENDENTE, que em nosso trabalho: é o estado de quem ou do que tem liberdade ou autonomia nos atos.

No shopping Recife em frente à vitrina da loja Arrezzo, conhecida loja de sapatos e bolsas feminino, três meninas olham para os modelos expostos. Falante, puxa a amiga pelo braço e exclama: “vamos entrar!” [#591]. A maneira como a interagente puxa a amiga chamando-a para entrar na loja demonstra uma total independência da interagente.

Em outra situação [#849], na praia uma menina convida a amiga para ficarem de costas queimando, a amiga muito independente, balança a cabeça negativamente e diz: “estou com outro biquíni” e afirma que se ficar de costas, “vou ficar com duas marcas”. Tanto na primeira como na segunda fala reafirmam a independência da interagente.

4.2.9

Irônico (a)

IRÔNICO (A), é como referimos nas nossas observações esta identidade, os meninos

e meninas sarcásticos, que dizem uma coisa querendo dizer outra, vindo acompanhado na sua fala de um breve sorriso.

Em uma conversa na praça de alimentação a respeito de uma festa de aniversário que aconteceria em breve, prevista para acabar à meia noite. Uma das meninas comentou de forma afirmativa que a mãe não a deixaria ficar na festa até essa hora. Nesse momento os meninos do grupo riram e foram irônicos, chamando a menina de criancinha [#18]. O riso e a fala demonstram ironia em relação a posição da interagente de não poder permanecer na festa.

Em outra situação [#51], um grupo de meninos e meninas combinam uma ida ao cinema. Uma delas, porém, afirma não poder ir, pois seu pai não a deixava ir só ao cinema. Falante de maneira irônica diz: “Ih! Você ainda é criancinha!” Demonstrando um sarcasmo, já que, os pré-adolescentes não querem ser chamados de crianças.

4.2.10

“Liso” (a)

“LISO” (A), assumimos na nossa pesquisa que esta identidade tem o mesmo

significado do termo usado no Recife para caracterizar alguém quebrado e sem dinheiro. Identificamos na situação [#450], falante chama o colega para ir ao game station, e este balançando a cabeça que significava dizer “não”, afirma: “estou sem dinheiro”. Esta fala identifica que o interagente é liso, sem dinheiro.

Em outra situação [#523], duas meninas na fila da sorveteria do Mc Donald’s, uma delas diz: “paga um McColosso pra mim? E afirma: estou sem dinheiro”, confirmando nossa identidade identificada, já que, neste extrato fica taxativo a falta de dinheiro.

Menina precisando fazer uma ligação, pega seu celular e percebe que este não tem sinal. Dizendo que ligará a cobrar, pede o celular da amiga emprestado, porém, a amiga diz que seu celular não tem crédito. A falante então, exclama: “lisa”! [#579].

4.2.11

Medroso (a)

A menina que chora ou fica nervosa ao assistir um filme de terror ou um filme violento é, MEDROSO (A).

Na sala de exibição do filme Batman cavaleiro das trevas, um grupo de meninas demonstrava medo, mudavam a forma sorridente para pequenos gritos, ou tampando os olhos com as mãos, ou mesmo abaixando a cabeça em direção ao colo [#27].

4.2.12

Obediente

Meninos ou meninas que são subordinados a autoridade dos pais, o OBEDIENTE, foi mais uma identidade identificada nas nossas observações.

Situação [#48], na qual um grupo de meninas combina uma ida ao cinema. Falante mostra sua obediência no momento que: fazendo movimentos com a cabeça representando “não” diz: “Meu pai não deixa eu ir ao cinema sozinha”.

Restaurante “Gio” um grupo de meninas comemora o aniversário de uma das meninas. Demonstrando sua obediência a aniversariante na situação [#84], “Meu pai não deixou chamar os meninos da sala, disse que meninos só fazem bagunça”.

4.2.13

Patricinha

Esta identidade se refere àquela menina vaidosa, exibida, que usa tudo combinando, conhece os produtos e as marcas que estão na moda, e está sempre na moda, a

PATRICINHA.

Temos exemplo desta identidade na situação [#19] em que a falante, durante uma conversa em uma mesa na praça de alimentação do Shopping Recife, discute qual tipo de roupa deveria usar na festa de aniversário que aconteceria em breve, pois gostaria de ir bonita, chique e na moda, “Hein meninas, me ajudem, como vocês vão?” Não obtendo resposta das amigas afirma: “Preciso comprar uma roupa nova as minhas roupas todo mundo já conhece!”. A primeira parte de sua fala sugere uma curiosidade em saber o que as amigas usariam para que ela também possa usar o mesmo tipo de roupas e assim estar na moda. A segunda parte da fala sugere nitidamente sua vaidade, o que é demonstrado quando ela afirma que todos já conhecem suas roupas, desta forma ela não teria como se exibir, visto que não teria novidades para mostrar.

Em outra situação [#37] a falante demonstra conhecimento das marcas que estão na moda, bem como, demonstra um certo exibicionismo no momento que fala da bolsa nova da marca “Puma”, comprada em uma viagem a Disney, se referindo à mesma como sendo um modelo que ainda não havia chegado ao Brasil. Por trás desta fala fica nítido um exibicionismo e uma vaidade já que como o modelo não havia chegado no Brasil apenas ela teria. Quando questionada se tinha sido comprada em uma loja que vende produtos com pequenos defeitos, fez uma inflexão da voz e disse: “Não!” Girando a cabeça neste momento de um lado para outro confirmando o ‘não’. Exclama: “foi numa loja ‘Puma’ mesmo!” Nesta parte da fala a interagente demonstra seu conhecimento tácito de que produtos comprados em lojas que vendem artigos com pequenos defeitos não têm o mesmo valor dos mesmos comprados em sua própria loja.

4.2.14

Popular

Mais um tipo encontrado foi, POPULAR, identidade referente a meninos e meninas carismáticos, atenciosos que chamam a atenção dos colegas por sua forma divertida. Atraem alguns para o seu lado, e são invejados por outros.

Identificamos esta identidade na praça de alimentação do Shopping Recife, local onde muitos pré-adolescentes circulam. As meninas sempre em grupo passeiam de um lado para o outro. Dois meninos com ipods no ouvido, movimentando o corpo, como se acompanhasse a música, são cumprimentos por muitas meninas que passam, mostrando sua popularidade, como demonstra na situação [#107], meninas passam pelos meninos e os cumprimentam com beijos e abraços. Estes gestos demonstram a popularidade dos interagentes.

Outra situação [#139] identifica a popularidade do grupo formado por seis meninos que conversam em frente a lanchonete Mc Donald’s em pé. Falantes, cumprimentam os amigos que passam, com acenos de mão, falando alto, rindo e beijando as meninas que passam. Esta situação nos mostra a popularidade dos interagentes.

Já em outra situação também identificada na praça de alimentação, sete pré- adolescentes animados e falantes conversam. O grupo é formado por cinco meninas e dois meninos. As meninas todas de jeans, sandálias altas, bolsas, maquiadas e mascando chiclete. Gritavam quando viam os colegas que passavam em outra ponta da praça, balançando os braços e fazendo sinal para eles se aproximarem [#212].

4.2.15

Reclamão

Outro tipo encontrado foi, RECLAMÃO, aquele menino ou menina que sempre reclama de tudo.

Identificamos na situação [#10], falante reclama da mãe, “se eu faço alguma coisa errada, ela me põe de ‘castigo’e não me deixa vir ao shopping, ao mesmo tempo faz movimentos de cabeça demonstrando não gostar desta atitude de sua mãe”. Esta fala sugere que o interagente reclama na maneira de agir da sua mãe.

Meninos no Game Station, insistem para que as meninas venham jogar com eles. Insistiram tanto que as meninas foram colocar crédito no seu cartão para também jogar. Na situação [#101] menina finalmente cedendo a insistência e diz: “Tá bom! Neste momento já falando as sílabas pausadamente disse: “Vamos lá me-ni-nas, chamando as amigas, colocar crédito no meu cartão”.

4.2.16

“Viciado” (a)

A última identidade identificada em nossas observações foi, VICIADO (A), que na nossa pesquisa se refere ao menino ou a menina que perde o controle das vontades.

Como exemplo desta identidade, a situação [#446] demonstra bem esta perda de comando do controle das vontades, uma menina que tinha ido ao shopping com a amiga apenas comprar uma folha de isopor para um trabalho do colégio. Atrasadas para fazer o trabalho e com o motorista esperando no estacionamento, mesmo assim, falante insiste em tomar um sorvete, “eu a-mo (fala pausadamente) McColosso (sorvete da lanchonete McDonald’s) e continua falando preciso tomar um!”.

5

Conclusões

É chegado o momento de concluir, momento de nos apropriarmos do percurso realizado e de assumirmos posições. Trajetória tensa e difícil de enfrentar, já que compreender a construção da identidade pré-adolescente em interações verbais não é uma tarefa fácil. Esta compreensão foi desafiadora, visto que, o sujeito pós-moderno, agora fragmentado, devido às mudanças estruturais das sociedades, busca incessantemente novas experiências, novos valores, novos vocábulos, novas práticas estéticas, constituindo assim uma nova identidade a cada momento (HALL, 2007;WOODWARD, 2000).

Desta forma, não procuramos respostas definitivas; diagnosticamos os discursos que constroem a identidade pré-adolescente buscando alcançar um estado de reflexão, conscientes de que, uma vez analisado, o estudo permanece para novas abordagens, não se esgotando em nossa interpretação.

Tendo chegado ao fim de nossa pesquisa, o momento é de voltarmos às questões que nos motivaram a tal, refletindo sobre o que aprendemos. Para tanto nossas reflexões iniciam primeiramente levantando um questionamento sobre como os pré-adolescentes constroem identidades culturais por meio do consumo de moda em suas interações verbais. Em seguida, descobrimos as identidades que são construídas em interações verbais por pré-adolescentes por meio do consumo de moda. Por fim, refletimos nossa questão guia e motivadora de todo este estudo, como podemos compreender a construção da identidade pré-adolescente em

interações verbais por meio do consumo de moda. Em seguida articulamos as contribuições deste estudo na área do marketing e depois refletimos sobre novas pesquisas.

Este estudo abordou a interação face-a-face entre os pré-adolescentes, que acontece num contexto em que eles compartilham de um mesmo sistema referencial de espaço e tempo, e empregam uma multiplicidade de trocas simbólicas.

Sendo assim, voltamos agora à primeira questão específica de nossa investigação: como pré-adolescentes constroem identidades culturais por meio do consumo de moda em suas interações verbais?

Tomamos estas novas identidades como objeto de análise por considerá-las um acontecimento discursivo da / na sociedade contemporânea. A partir daí, demarcamos o consumo de moda como uma superfície primeira de emergência, onde tal objeto apareceu e, em um interesse de delimitação, voltamos o olhar para as interações verbais.

Com base na regularidade dos significados, compreendemos o processo de construção identitário, porém, nosso interesse era saber como pré-adolescentes constroem identidades por meio do consumo de moda, e seria prematura qualquer afirmação, contudo com o material pesquisado podemos iniciar uma reflexão.

Depois de demonstradas todas as relações, fomos levados a crer que por meio da cultura de consumo poderíamos identificar as construções identitárias que se formavam, visto que em nossas análises notamos que em cada trinca de significação, isto nos era intensamente sinalizado. Importante ressaltar que, mesmo que a marca do produto nem sempre aparecesse de maneira intensa nas interações, as evidências nos mostravam que, sem exceção, em todas as interações entre os pré-adolescentes analisados em nosso estudo, aparecia um produto de moda como sendo o forte responsável pela construção daquela tal identidade.

Vejamos agora como o produto de moda apareceu em todos os aspectos da linguagem. Por exemplo, nos aspectos paralingüísticos, mais especificamente na entonação, tanto por

meio da afirmação como da interrogação e exclamação, o produto de moda apareceu de maneira intensa como um condutor das construções identitárias. Interessante ressaltar que já na dimensão extralingüística, de distância corporal, por exemplo, o produto de moda apareceu de maneira menos intensa como construtor de identidades culturais. Porém, mesmo nestes momentos de nossas análises, em que o consumo de moda apareceu menos intensamente, vale firmar que o mesmo apareceu em todas as relações de interação.

Em nossas análises vislumbramos que as identidades eram construídas por meio dos aspectos da linguagem, que por sua vez se ancoravam em um produto de moda. Assim, podemos admitir que as identidades observadas em nossa investigação nos oferecem evidências de que são construídas por meio do consumo de moda, e com isso não parece haver dúvida em nossos achados.

Antes de questionarmos sobre como as identidades culturais pré-adolescentes são construídas por meio do consumo de moda em interações verbais, vale refletirmos sobre o significado das identidades no contexto da sociedade contemporânea. A reflexão acerca desses processos constitui uma tarefa importante no caminho de uma compreensão mais apurada do desenvolvimento humano na contemporaneidade. Entretanto, é importante que se tenha clareza de que, na pós-modernidade, cada instituição social exige certos posicionamentos identitários por parte dos indivíduos que vivem em seu interior ou que transitam nele (WOODWARD, 2000). Podendo também num mesmo espaço social, exercer e

adotar diferentes identidades, isto porque as identidades são construídas dentro e não fora do discurso (HALL, 2007).

Em todas as referências identitárias apresentadas em nosso estudo as interações verbais aconteceram aos pares o que nos revelou dezesseis identidades. A análise desse material nos desvendou pistas sutis que ajudaram a avançar nosso estudo. Um ponto importante foi a identificação das identidades, feitas por meio das narrativas dos observados

em suas interações, na qual, nos serviram como indicadores para pensar nos novos modelos identitários. Estes modelos prescindem da fusão imaginária, de uma identidade social fundida na imagem visual e nas práticas de consumo, e vem contribuir para consolidar outros modos de interação com esses pares.

Afinal, como identidades culturais são construídas em interações verbais por pré-

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