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2.5 Construção de identidades pós-modernas por meio do consumo

2.5.1 Identidade cultural na pós-modernidade

A identidade cultural é um sistema de representação das relações entre indivíduos e grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros. É um processo dinâmico, de construção continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço (Dicionário de Direitos Humanos).

Neste inicio de século, o homem cada vez mais busca uma maneira de identificação na sociedade. Porém, diante das várias transformações que sua identidade cultural sofreu ao longo dos anos, isto tornou-se um problema. Diante disto, o homem da pós-modernidade é um ser com uma identidade híbrida. No qual, não é mais único, e sim fragmentado transformando-se em um híbrido cultural, e sendo obrigando a assumir várias identidades, dentro de um ambiente que é totalmente provisório e variável, estando sujeito a formações e transformações contínuas em relação às formas em que os sistemas culturais o condicionam (CANCLINI, 2006; SILVA, 2004, HALL, 2006; WOODWARD, 2006). Portanto, como

conseqüência dos vários processos de transformação, as identidades culturais não apresentam hoje contornos nítidos e estão inseridas numa dinâmica cultural fluida e móvel (BAUMAN,

2005).

Os meios que condicionam essa nova identidade do homem pós-moderno são, a globalização e a industria cultural. A globalização é uma nova e intensa configuração do globo, o Estado-nação, símbolo da modernidade, entra em declínio. Como conseqüência, os mapas culturais já não coincidem com as fronteiras nacionais, fato acelerado pela intensificação das redes de comunicação que atingem os sujeitos de forma direta ou indireta. Grandes conceitos que informavam a construção das identidades culturais, como nação, território, povo, comunidade, entre outros, e que lhe davam substância, perderam vigor em favor de conceitos mais flexíveis, relacionais (OLIVEIRA, 2006).

A globalização, com seu o efeito de contestar e deslocar as identidades centradas e “fechadas” de uma cultura nacional, tem um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, e tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas; menos fixas, unificadas ou trans-históricas (HALL, 2006).

O termo industria cultural, serviu de substituto para cultura de massas, foi criado pelos pensadores da Escola de Frankfurt, os alemães Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, que previram o mau uso dos meios de comunicação de massa no período mais crítico da 2ª Guerra Mundial, para eles, a cultura industrial é fabricada de acordo com o mercado (ADORNO e

HORKHEIME, 2007; NASCENTES, 2005).

Indústria cultural ou cultura industrial, segundo outro teórico, o francês Edgar Morin (2007), diz respeito à criação industrializada, à padronização cultural voltada para o mercado de consumo. Segundo Morin (2007), a segunda industrialização, a do espírito, se processa nas imagens e nos sonhos, penetrando na alma humana (NASCENTES, 2005). A indústria cultural

que, por meio da disseminação de símbolos antes restritos a determinadas localidades, os massifica e os transforma em mercadoria de fácil assimilação e absorção pela grande massa (MORIN,2007).

Assim, a identidade deixa de ser formada pela interação entre o “eu e a sociedade'”, passando a ser formada pelas “supostas” necessidades do homem, influenciado pela indústria cultural. Mas ao mesmo tempo que ele aceita usar destes símbolos da cultura de massa, ele busca a valorização de sua identidade regional, tentado fazer com que ela possa coexistir junto com as várias identidades globais ofertadas pela indústria cultural (HALL, 2007).

A identidade cultural está relacionada a aspectos que surgem do pertencimento do sujeito a grupos étnicos, raciais, lingüísticos, nacionais, ou seja, a seu pertencimento a um ou mais grupos que partilham as mesmas atitudes, crenças e valores. Dessa forma, a identidade

cultural está relacionada a uma construção social e histórica por parte de um grupo que compartilha idéias, valores, modos de vida e símbolos. Está apoiada num passado com ideal coletivo projetado e se fixa como uma construção social estabelecida e faz os indivíduos se sentirem mais próximos e semelhantes (HALL, 2006; LEÃO E MELLO, 2008; PEREIRA e

AYROSA, 2007;SOUZA, 2003, WOODWARD, 2006).

A pós-modernidade é um período com sucessões de mudanças culturais e transformações nas estruturas bem como nas relações sociais, afetando as ciências, a literatura e as artes, ocasionando crises, aguçando a curiosidade para as diferenças e gerando incredibilidade aos metadiscursos, às leis universais, às verdades absolutas, às narrativas lineares, às tentativas de impor ordem e coerência sobre o caos e à fragmentação da realidade, ausência da certeza e das explicações definidas (BROWN, 1993; FIRAT e SHUTZ, 1997;

LYOTARD,2006).

Essas transformações culturais pós-modernas aconteceram a principio no âmbito dos vários campos artísticos e intelectuais: os campos da arte, literatura, arquitetura, música, crítica e academia, em movimentos de vanguarda da década de 1969 e 1970 (FERTHERSTONE,

1995) e de contra-cultura contra as armas nucleares, a poluição ambiental e ao neocolonialismo (BROWN, 1993). Foram mudanças significativas na forma de ver o mundo

bem como em relação à cultura de consumo que passou a ser associada a uma ordem global e não mais nacional (FERTHERSTONE, 1995).

Os contatos e as interações sociais que aproximam e afastam os sujeitos provocam o surgimento de formas diversas de agrupamentos, que são modificados ao longo da vida (SILVEIRA, 2004). As divisões sociais e os antagonismos característicos das sociedades

contemporâneas produzem uma variedade de posições de sujeito que sob certas circunstâncias, os diferentes elementos podem ser articulados conjuntamente (HALL, 2006;

Neste momento de turbulências e conflitos, uma grande mudança estrutural atinge as sociedades, transformando e também mudando as identidades. As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, entraram em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, que até então era visto como unificado (HALL, 2006).

Estas novas identidades adquirem sentido por meio da linguagem e dos sistemas simbólicos, são socialmente construídas e têm relação com a diferença que são as fronteiras estabelecidas pela cultura. A diferença é um elemento central dos sistemas classificatórios por meio dos quais os significados são produzidos (WOODWARD, 2000).

Numa sociedade pluralista e virtual, com referências temporais novas, esta nova identidade se constrói dentro de uma perspectiva eclética e contraditória (TAVARES, 2001),

que perde o sentido estável causando um deslocamento ou uma descentralização do sujeito constituindo uma “crise da identidade” para o indivíduo (HALL, 2006).

O homem pós-moderno começou a perder as referências de sua identidade cultural ao inserir-se no mercado global, que o fez compartilhar várias culturas tendo a sua própria sido engolida pelas demais, com a globalização, as fronteiras praticamente acabaram, abolindo uma identidade única surgindo a coletividade de identidades (SILVA, 2004).

2.5.1.1

Crise de identidade na pós-modernidade

A crise da identidade pode ser compreendida a partir de uma de suas características, o descentramento do sujeito. O homem do iluminismo, centrado, unificado desde o seu nascimento a até a sua morte, dotado de capacidades de razão, de consciência e de ação, começa a ruir quando suas fronteiras já não conseguem mais sustentar sua integridade (HALL,

No século XVIII, ocorrem mudanças nas sociedades que se tornaram mais coletivas e social, é o período da industrialização, momento em que as teorias baseadas nos direitos individuais mudaram e o cidadão individual se envolveu nas maquinarias burocráticas e administrativas do estado moderno. O sujeito torna-se mais social, mais localizado e “definido”, é a formação da sociedade moderna. Importantes eventos aconteceram neste momento que dão respaldo para este sujeito, a teoria de Darwin e o surgimento das novas ciências sociais (HALL, 2007).

Na primeira metade do século XX, quando as ciências sociais assumem sua forma disciplinar atual, novas e perturbadoras mudanças ocorrem com sujeito e com a identidade (HALL, 2007). Em reação ao realismo acadêmico das artes plásticas do século XIX, surgem os

movimentos estéticos de vanguarda, revelando liberdade criadora com formas livres, orgânicas ou geométricas, com cores e texturas resultantes do mundo interior do artista. Os intelectuais associados aos movimentos culturais e artísticos se uniram era o surgimento do modernismo (AGRA, 2004).

A identidade, mesmo passando muito tempo como uma questão de segunda ordem, hoje aparece conhecedora de que as certezas plantadas no mundo cartesiano foram profundamente questionadas, paulatinamente, durante todo o período moderno. Atualmente, o sujeito vive um novo estágio de identificação, com identidades fragmentas e múltiplas que põe em questão uma série de certezas firmadas, é um sujeito pós-moderno, sem identidade fixa, nascido da diversidade de culturas do mundo globalizado, tendo sua identidade construída e reconstruída permanentemente ao longo de sua existência (HALL, 2007).

Segundo Hall (2007) a condição pós-moderna faz declinar as velhas identidades e fragmenta o indivíduo moderno. As transformações da sociedade estão também mudando as identidades pessoais, abalando a idéia que temos de nós mesmos, fenômeno este que pode ser chamado de descentração dos indivíduos ou crise de identidade. Essa crise de identidade pode

ser vista como parte de um amplo processo de mudança, que está deslocando estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência.

À crise individual das identidades singulares soma-se a crise coletiva das identidades nacionais. É vista como parte de um processo de transição em que se encontra a humanidade e que abala grupos de referência como família e igreja, grupos estes que davam estabilidade ao mundo social do indivíduo (HALL, 2006; PEREIRA, 2004).

Característico do período do final do século XX, tal descentramento se opõe às culturas do passado que, a seu modo, forneciam aos indivíduos fortes localizações sociais. Estando em crise, a identidade se torna uma questão e, por isso, passa a ser tratada como algo passível de assimilação e compreensão pelo próprio indivíduo pós-moderno que quer ver, no seu descentramento, uma característica de sua própria localização social (HALL, 2006;

PEREIRA, 2004).

Esta nova estrutura social é marcada por novas e por que não dizer, várias identidades. Essa é a nova concepção do sujeito pós-moderno, alguém que não tem mais uma identidade fixa, permanente, segura ou coerente. O deslocamento do sujeito, marca do período pós- moderno, tem certo caráter positivo, pois ao mesmo tempo em que desestrutura as identidades estáveis do passado, questiona tais estabilidades e proporciona o jogo de novas identidades (HALL, 2006).

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