• Nenhum resultado encontrado

APARELHOS IDEOLÓGICOS DE ESTADO: UMA RELEITURA

Este capítulo tem como objetivo se deter na releitura da teoria althusseriana sobre os Aparelhos Ideológicos de Estado que aparece pela primeira vez no texto “Aparelhos Ideológicos de Estado”, publicado em 1971. Nesse texto, vamos encontrar a exposição da concepção materialista histórica e do modo de funcionamento da superestrutura como reprodução das relações de produção.

O proposto é uma releitura da teoria de Althusser, dos Aparelhos ideológicos de Estado, a partir de seu manuscrito, que resultou na edição de 1971, publicado na França apenas em 199555. A leitura do manuscrito se justifica, uma vez que

ele nos dá a idéia do projeto da obra em seu conjunto, portanto, nos possibilita ver o texto “Aparelhos Ideológicos de Estado” publicado em 1971, como parte de uma proposta maior, desse modo, releitura que se faz necessária para preencher as lacunas deixadas pelo texto do início da década de setenta.

A publicação do manuscrito em 1995 apresenta a introdução de Jacques Bidet, "À Guisa de Introdução: Um convite a reler Althusser", na qual enfatiza a importância do texto inédito, uma vez que o manuscrito em sua exposição esclarece e detalha pontos importantes para compreendermos o pensamento de Althusser, ressalta os capítulos relativos aos "Aparelhos ideológicos de Estado" e o referente à "ideologia". Com relação a esses pontos Bidet, afirma:

A publicação do presente volume deve fornecer a ocasião de revisitá-los e, sem dúvida, também de reconsiderá-los. A reinserção, no conjunto do discurso, dos fragmentos utilizados no artigo de La Pensée, faz aparecer, de fato, uma estreita conexão entre a tese de Althusser relativa à ideologia (e respectiva aparelhagem) e sua idéia sobre o curso da história moderna. A coisa é, em si, bastante lógica. Uma teoria da

reprodução estrutural tem como corolário uma teoria da transformação da estrutura: tende a mostrar as condições invariantes nas quais é produzida a variação - que, por fim, porá termo ao invariante. A idéia de Althusser sobre a variação em andamento, como a da passagem para o socialismo, projeta-se sobre sua concepção das condições da reprodução do capitalismo, sobre a idéia do invariante estrutural. No final das contas, trata-se de uma única teoria, com dupla entrada: reprodução e revolução.56

O manuscrito, a que nos referimos acima, fez parte de um projeto inicial de Althusser, que se desenvolveria em dois tomos: o primeiro, que trataria da reprodução das relações de produção e o segundo, que trataria da luta de classes nas formações sociais capitalistas. Sendo que o primeiro só aparece na íntegra na metade da década de 90 como manuscritos.

O conjunto da obra deveria tratar da concepção do materialismo histórico, das condições da reprodução da sociedade capitalista e da luta revolucionária para pôr fim a esta sociedade. Segundo Althusser, o tomo I (Reprodução das relações de produção) e o tomo II (A Luta de Classes) são pensados a partir de duas questões: “O que é filosofia?” e “O que é filosofia marxista-leninista?”. Portanto, o conjunto da proposta deveria começar com o primeiro capítulo sobre o que é filosofia em geral e o último capítulo, sobre a filosofia marxista-leninista e no que ela é revolucionária.

Do projeto inicial, são apresentadas duas versões do manuscrito referentes ao tomo I, essas se encontram no Institut Mémoires de l´Édition Contemporaine (IMEC). A primeira é datada de março/abril de 1969 e contém a estrutura do texto dividido em 11 capítulos, sendo: Capítulo I: “O que é filosofia?”, “Capítulo II: “O que é um modo de produção?”, Capítulo III: “A propósito da produção das condições da produção”, Capítulo IV: “Infra-estrtutura e superestrutura”, Capítulo V: “O Direito”, Capítulo VI: “O Estado e seus aparelhos”, Capítulo VII: “Os aparelhos ideológicos de

Estado político e sindical”, Capítulo VIII: “A reprodução das relações de produção”, Capítulo IX: “Reprodução das relações de produção e Revolução”, Capítulo X: “O Direito como aparelho ideológico de Estado” e Capítulo XI: “A ideologia em geral”. Portanto, essa versão é anterior à publicação do texto “Aparelhos Ideológicos de Estado”.

Quanto à segunda versão, a que foi base para a publicação, apresenta um conjunto de correções e acréscimos: o capítulo II é inteiramente rescrito; nos capítulos III e IV, Althusser faz acréscimos a partir da primeira versão; introduz um novo capítulo, entre o VI e o VII da primeira versão, intitulado "Breves observações sobre os AIE político e sindical da formação social capitalista francesa"; e outras pequenas modificações.

Neste trabalho, a releitura da teoria dos Aparelhos Ideológicos de Estado é feita a partir do livro "Sobre a Reprodução", publicação referente à segunda versão do manuscrito, tomo I, do projeto inicial de Althusser. Procura-se aqui seguir, na medida do possível, a seqüência dos tópicos como aparecem na publicação de 1971, relendo-os no interior da publicação de 1995.

Os três primeiros tópicos de “Aparelhos Ideológicos de Estado” (“Sobre a

reprodução das condições de produção”, “A reprodução dos meios de produção” e

“Reprodução da força de trabalho”), aparecem sem grandes mudanças, a não ser a ausência de algumas frases, indicativas de futuras abordagens, e notas. Esses tópicos fazem parte do terceiro capítulo de “Sobre a Reprodução”.

No livro “Sobre a Reprodução”, antes desses três tópicos, que formam o capítulo III, aparecem dois capítulos anteriores, “O que é filosofia?” e “O que é um modo de produção?”, e antes deles, é apresentado por Althusser uma advertência ao leitor sob o título “A reprodução das relações de produção”. Portanto, antes de analisarmos os três primeiros tópicos do texto “Aparelhos Ideológicos de Estado”,

Reprodução, 9-10

apresentaremos as partes que aparecem antes dos tópicos no texto “Sobre a Reprodução”.