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3.3. O FENÔMENO LADY GAGA

3.3.3. Aparições públicas e polêmicas

Gaga, sem dúvida é uma performer marcante e isso ficou claro em suas aparições públicas e apresentações, principalmente em premiações, como o Video Music Awards44. Sua primeira vez em VMAs foi em 2009, em que ela encenou a própria morte no palco, aproveitando-se “[...] de recursos básicos de teatro: a utilização do personagem, uma representação imaginária, a imitação; a encenação, que é a representação da ação.”

(RODRIGUES; VELASCO, 2012, p.9), sendo essa considerada uma das melhoras

apresentações de todos os tempos da premiação e da carreira da cantora. Na mesma premiação, Gaga foi destaque pelas roupas utilizadas (Figura 14).

43Disponível em: http://www.rdtgaga.com/2014/03/sai-antes-que-fosse-tarde-de-mais-diz.html 44

Organizado pela Music Television (MTV), o VMA é uma premiação americana, a qual visa reconhecer os melhores videoclipes do ano nos gêneros pop, rock e hip hop, através de votação popular. Sua periodicidade é anual e existe desde 1984.

Figura 14: Três das cinco roupas utilizadas por Lady Gaga durante o VMA de 2009.

Fonte: http://jaqelini.blogspot.com.br/2010/09/modelitos-de-gaga-no-premio-vma.html

Desta forma, ou seja, através dos figurinos, Gaga começou a chamar atenção não só pela sua música. Com seu visual totalmente diferenciado das demais cantoras, o qual é mantido com a ajuda de um grupo de profissionais artísticos denominado Haus of Gaga, a cantora acabou trazendo de volta o uso de perucas e, em muitos casos, a sua imagem beirava a algo considerado bizarro. Por esse visual nada comum e por ter sua imagem denominada pela mídia com adjetivos depreciativos, Gaga conquistou como fãs aquelas pessoas que de alguma forma não se sentiam aceitas pela sociedade, atingindo principalmente jovens, com problemas em relação à sua aparência e à sexualidade. Gaga ganhou um apelido da mídia, o de monstro e reverteu isso em seu próprio benefício. A partir deste apelido, ela criou um apelido para seus fãs. Já que ela era um monstro, todos os seus fãs seriam seus Little Monster e ela a Mother

Monster deles.

Ídolo de uma geração hipersegmentada e que vive uma crise de identidade, Lady Gaga criou identificação com as minorias. Surfa na onda de modismos e tendências. Levantou a bandeira da autoafirmação, resgatou e adaptou o Express yourself da Madonna, transformando-o em um be yourself. Ao criar uma imagem destacada, Gaga se tornou um ídolo da geração do bullying e de uma geração cada vez mais afastada da religião. Jovens que não se identificam com seus meios, jovens que, em geral, vivem em tempos de pós-guerras e pós-ditaduras, etc.” (RODRIGUES; VELASCO, 2012, p.13)

Gaga também trabalhou com sua imagem ao criar conceitos para seus álbuns, como no caso do álbum Born This Way. A capa do álbum, duramente criticada, mostra uma Lady Gaga mutante, metade moto, metade mulher. Segundo ela, a capa representa a sua posição midiática, em que é um veículo não apenas para sua arte e sua visão, mas também

para os anseios de seus fãs (FREITAS, 2012). Gaga chocou aparecendo com próteses em seu rosto e ombros, que remetiam a uma imagem alienígena. Para ela, isso era uma metáfora, em que se mostrava como realmente era e isso independeria se as pessoas a aceitariam ou não (Figura 15).

Figura 15: Lady Gaga em entrevista à Zeca Camargo, em que usa as próteses.

Fonte: http://redeglobo.globo.com/novidades/variedades/noticia/2011/05/mais-voce-faz-surpresa-para- paul-mccartney-nesta-segunda-dia-23.html

A cantora abusou ainda das polêmicas que envolviam sua sexualidade. Por possuir traços fortes, foi cogitado que ela seria travesti. A internet também ajudou na propagação do boato de que a mesma seria hermafrodita, a partir de um vídeo feito em uma apresentação, mentira esta que Gaga manteve por algum tempo, até esclarecer que não era hermafrodita e que se fosse para falar de sua sexualidade, se assumiria bissexual (HERBERT, 2010). A sexualidade é uma temática muito explorada por Lady Gaga, visto seu envolvimento com a causa LGBT, contatando políticos e se envolvendo na liberação do casamento homossexual em New York, chegando a participar de comícios contra a lei “Don’t ask, Don’t tell”45. Ela defendeu o fim publicamente durante a sua participação no VMA de 2010, em que chegou acompanha por três ex-soldados do exército americano, os quais foram expulsos por assumirem sua homossexualidade. Na mesma noite, usou o “vestido de carne”, como uma forma de chamar a atenção para o fato de que devemos lutar pelos nossos direitos, antes que tenhamos tanto direito quanto um pedaço de carne (Figura 16).

45 A lei “don‟t ask, don‟t tell” (não pergunte, não conte) é uma lei norte-americana instituída em 1993 em que

proibia os militares norte-americanos de se declararem homossexuais ou de perguntarem a outros colegas sobre sua orientação sexual. Com a eleição de Barack Obama, o qual defendia o fim da lei, em dezembro de 2010 ela foi revogada. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/dont-ask-dont-tell/

Figura 16: Lady Gaga na premiação do VMA 2010 com o “vestido de carne”

Fonte: http://www.posh24.com/photo/584659/lady_gaga_vma_2010

Ademais, nota-se que Lady Gaga vive sua imagem, utilizou-se habilmente dos meios midiáticos para fortalecer e tornar influente sua persona, trabalhando com recursos de som e imagem presentes na música pop (VELASCO, 2011). Gaga tornou-se um ídolo da atual geração, fato este que conseguiu lançando três CDs em um curto espaço de tempo e não se transformando “a cada disco lançado, mas sim a cada música lançada. Um novo single, um novo penteado, novas indumentárias, maquiagens e gestuais” (RODRIGUES; VELASCO, 2012, p.10). Desta forma, Lady Gaga conseguiu atingir indivíduos que padecem socialmente, por surgir “[...] numa época em que temas como bullying e a negação ou não-identificação com instituições tradicionais, como família e religião, por exemplo, começam a moldar uma geração” (RODRIGUES; VELASCO, 2012, p.14). Ao apresentar variadas imagens à mídia, procurou “provocar, incomodar, causar estranheza, deslocar o seu observador da sua zona de conforto” (RODRIGUES; VELASCO, 2012, p. 10), aludindo, de todos os modos, a uma estética Born

4. MASCULINO, FEMININO E ALÉM

Através do conhecimento prévio, adquirido pelo contato com os fãs e pela netnografia na comunidade, acerca das temáticas que norteiam o investimento afetivo de fãs da cantora Lady Gaga e a própria postura da cantora, fez-se necessário problematizarmos a questão da identidade de gênero. Assim, no decorrer do presente capítulo discorremos a respeito da relação de sexo e gênero e sobre o entendimento da identidade de gênero, juntamente com o viés da sexualidade e liberação das mulheres.