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A música pop é uma forma de manifestação cultural contida dentro da cultura pop, o que para Soares (2012) acaba por refletir em nossa compreensão sobre cultura pop, pois “grande parte do que entendermos por „cultura pop‟ advém de nossa relação com a música pop” (SOARES, 2012, p.3). Tal gênero musical, sendo uma vertente da cultura pop, também é de difícil conceitualização, visto que está em constante renovação, com o intuito de abarcar o maior número possível de pessoas (MARTEL apud MONTEIRO; SOARES, 2013, p.3). Ainda, “ao contrário do cinema, a música não tem um marco delimitador em relação ao seu desenvolvimento ou tecnologia. Nessa tentativa de linhas demarcatórias os estudiosos geralmente tomam como parâmetros iniciais características particulares como a natureza comercial.”

(MONTEIRO; SOARES, 2013, p.12).

Levando em consideração a perspectiva de Shuker (2001 apud VELASCO, 2010, p.52), a música pop pode ser definida como toda a música popular originária na década de 1950, tendo como marco histórico a eclosão do Rock’n’Roll, com produção e distribuição massiva, pensada para um extenso público e de espírito jovem, sendo norte-americano ou inglês, contemplando variados gêneros, como o Rock ao Soul, até a música eletrônica, o rap e suas demais subdivisões. Como comentam Rodrigues e Velasco (2012, p.2), a música pop é formada por quatro conceitos: espetáculo, performance, consumo e moda, os quais se cruzam e originam estilos, imagens e símbolos, o que para Janotti Jr. (2003) reflete um envolvimento para além do gênero musical, no caso, com as características e postura dos interpretes.

O Rock é considerado o percussor da música pop, pois sua origem congrega a hibridização de vários estilos musicais, como o R&B, o country e o folk, exemplificados na música precursora e bastante difundida de Elvis Presley, a rockabilly, nas décadas de 1950 e 60 (VELASCO, 2011). Além da questão da hibridização de ritmos, o Rock trouxe outros princípios usuais à indústria da música pop, como: as performances sensuais, as letras que representam diversão, festas, relacionamentos amorosos e revoltas. Sua forma de expressão era a rebeldia, sexualidade, miscigenação e culto ao prazer (VELASCO, 2010). Contudo, ainda em 1960, com a expansão do termo música pop, passando a congregar outras expressões musicais, há um atrito entre o Rock e a música pop, visto que a primeira passa a

assumir um caráter mais sério, beirando a autenticidade, enquanto a segunda consolida-se a um caráter mais comercial, visando o lucro31 (SOARES, 2012).

Apesar da ruptura, o Rock estabeleceu uma fórmula para a projeção de um cantor/banda na música pop, ao indicar um padrão ao mercado, o qual é “reproduzido e copiado, com o objetivo de diminuir o risco a cada novo artista lançado pela indústria.” (RODRIGUES; VELASCO, 2012, p.3). O legado do Rock dentro da música pop foi à popularização de seus cantores a partir de suas imagens, pois através dela “o torna vendável e é o elemento de identificação inicial com aqueles que virão a ser fãs e admiradores do artista. E as imagens de cada ídolo de massa são representativas e falam por si só.” (RODRIGUES; VELASCO, 2012, p.5). As aparições em programas de televisão e eventos são um exemplo da construção da imagem do artista, visto que

É através das performances que o ídolo verdadeiramente constrói empatia com sua audiência e estabelece uma base de fãs e seguidores. No conceito de “performance” jazem as ideias de show e espetáculo, cujo objetivo maior é proporcionar entretenimento. Na música pop, o poder de fascínio exercido pelo ídolo sobre o fã vai além da fria relação de troca. Há uma identificação, uma absorção de signos e símbolos por parte dos fãs e até mesmo uma projeção do fã na figura idealizada do ídolo. A performance é o ato de conexão imediata entre o fã e seu ídolo, que contém uma série de elementos comunicativos, como roupas, maquiagem, cabelos, cenário e iluminação, além dos elementos corporais (gestos, coreografias). (RODRIGUES; VELASCO, 2012, p.9-10)

Podemos dizer que o primeiro artista a se lançar como um popstar dentro da indústria da música pop foi Elvis Presley (Figura 7). Conhecido como rei do Rock, Elvis e seu empresário utilizaram-se de técnicas inovadoras para a época em que estavam inseridos. A presença de palco, em que movimentos sensuais eram representados, sendo um grande deleite para as adolescentes, igualmente com roupas bastante trabalhadas, não usual na moda vigente, foram um marco para a época. Ainda, “O rei do rock Elvis Presley teve seu rosto estampado em inúmeras revistas, jornais, na televisão e no cinema” (RODRIGUES; VELASCO, 2012, p.4), o que acarretou no ano de 1956, a venda de mais de 20 milhões de dólares em produtos relacionados ao nome Elvis Presley, como casacos, saias, camisas, calças, chapéus, botons, batons, revistas e jornais que tinham o astro como capa, entre outros produtos (VELASCO, 2011), introduzindo técnicas de marketing na indústria da música.

31 Não entraremos na discussão valorativa entre o gênero rock e o gênero pop, por julgarmos não ser este um dos

Figura 7: Irreverência de Elvis ao palco, tanto em sua atitude, como em suas roupas.

Fonte: http://emefjoaodasilva.blogspot.com.br/2010_08_01_archive.html

No início dos anos 1980, a indústria fonográfica passou por momentos de crise, justamente devido à crise econômica, que acometeu as principais potências econômicas na década antecedente, e à pirataria provinda das gravações em fita cassete. Porém, ainda na mesma década, a indústria conseguiu se recuperar, graças a um novo suporte auditivo chamado compact disc (CD) e a inauguração da Music Television (MTV). O primeiro possibilitava uma audição limpa, sem as impurezas/ruídos provindos do consumo de LPs, já o segundo revolucionou a assistência de videoclipes32 onde, inicialmente, veiculava apenas videoclipes de cantores de música pop, o que “influenciou diretamente no consumo de toda uma geração de jovens e da qual eles acabaram se tornando porta-vozes” (MONTEIRO; SOARES, 2013, p.3). Logo, a MTV construiu e reelaborou “discursos sobre a juventude, a música, a sexualidade, as identidades de gênero sexual e os ídolos, entre outros” (MARINO, 2003 apud VELASCO, 2011, p.97). Desta forma, “depois da introdução da música negra e da dança sexualizada, dos anos 1950, das bandas de terninho e da contracultura politizada, das décadas de 1960 e 1970, a música pop vive sua era da imagem nos anos 1980” (VELASCO, 2011, p.97).

Com a ascensão da MTV e da era da imagem, temos, juntamente “a construção da persona artística da material girl Madonna, bem como de Michael Jackson, respectivamente a rainha e o rei do pop” (VELASCO, 2010, p.96). Madonna e Michael são considerados o “rosto e a realeza” da música pop, pois a primeira trouxe uma performatização do comportamento sexual desinibido em seus videoclipes e performances ao vivo, transpondo as

32 “Os videoclipes pop foram derivados do gênero musical cinematográfico, de produções de sucesso como Os

Embalos de Sábado à Noite (1977), Flashdance - Em Ritmo de Embalo (1983) e Dirty Dancing – Ritmo Quente (1987). Todas as obras colocam a dança e a performance como elementos fundamentais” (RODRIGUES E VELASCO, 2012, p.5).

barreiras do que era aceitável socialmente, veiculando uma nova postura do feminino na mídia. Além disso, como diz Kellner (2001), Madonna (Figura 8) mudava sua imagem conforme fosse necessário, em um dia poderia ser heterossexual, no seguinte bissexual, representar os hispânicos, ou a elite branca e rica, ou seja, Madonna representava que “[...] identidade é uma questão de imagem, de estilo, de aparência” (KELLNER, 2001, p.331). No início, Madonna vestia-se com acessórios e roupas de fácil acesso à grande massa, chegando a lançar lojas com sua marca, até passar ao uso de roupas de grandes estilistas, o que para Kellner (2001), foi uma forma de reforçar a sociedade consumista, criando um novo tipo de “eu-mercadoria”, com ênfase no consumo de produtos da moda. De uma forma geral, “em sua carreira, a ambiguidade representou a conquista de audiências díspares” (VELASCO, 2011, p.98).

Figura 8: Madonna e o icônico corpete com sutiã pontudo.

Fonte: http://www.bitchyonline.com/bouks-designer-of-the-week-jean-paul-gaultier-the-lowdown/

Já Michael Jackson trouxe à música pop a maior midiatização em torno de um

popstar e de sua vida particular. Crescido sob os holofotes, ao formar juntamente com seus

irmãos na década de 1970 o grupo “The Jackson 5”, Michael lançou-se em carreira solo em meados década de 1980, alcançando o auge com o álbum “Thriller”, ainda na mesma década. Segundo Garcia (2005 apud SOUZA, 2012), podemos ver três representações de Michael (Figura 9) na mídia, na cultura, na economia e na sociedade: como um corpo para performance; como um corpo esteticamente modificado; e como um corpo para a mídia. Como performer, Michael apresentou uma nova forma de gravação de videoclipes, no estilo de curta metragens de ficção, com variados efeitos visuais, além de coreografias

extremamente elaboradas. Em relação às modificações, o cantor era conhecido pelas inúmeras cirurgias plásticas e pelo embranquecimento, causado pelo vitiligo, o que para Souza (2012) propiciou a Michael a representação de vários personagens, sendo assim, um “colecionador de identidades” (SOUZA, 2012, p. 33). Já a relação do cantor com a mídia é complexa, em virtude das várias polêmicas em torno de sua vida, iniciadas na década de 1990. Aos poucos suas músicas foram perdendo a expressividade e as acusações de abuso sexual por parte do cantor, levaram à mudanças substanciais em sua carreira. Até sua morte, a qual devemos citar, foi um marco mundial, sendo reproduzida pela maior diversidade de canais de televisão e internet ao redor do globo, transformando-se em um grande acontecimento midiático.

Figura 9: comparativo entre a imagem física de Michael Jackson

Fonte: yahshurun.blogspot.com

De uma forma geral,

O surgimento de um pop star é o resultado do encaixe perfeito de talento, carisma e a incorporação de uma série de subjetividades em apenas uma personalidade com um alto investimento em estratégias de divulgação que possibilitem comunicar este conjunto de qualidades às audiências. Isto é, para um pop star ser “fabricado”, é necessária a coincidência de diversos fatores diferentes: não é apenas talento, nem somente marketing (VELASCO, 2010, p.84).

Shuker (apud MONTEIRO; SOARES, 2013, p.13-14) lista algumas características presentes no entretenimento que se relacionam à esfera do performer na indústria da música pop, tais: superprodução no processo de gravação; gastos com publicidade; investimentos elevados em produção de performances; trabalho paralelo em trilhas sonoras de filmes, telenovelas entre outros; diminuição dos gastos na distribuição de discos e a incorporação dos avanços tecnológicos; e o apelo universal. Atualmente, pensando nas novas tecnologias e na nova fase em que o pop está inserido, mais voltado a segmentação

dos artistas, a “internet estimula um consumo cada vez mais acelerado e voraz dos conteúdos midiáticos. É nesse ponto que encontramos grandes fenômenos que fizeram da internet seus principais meios de divulgação, como o ídolo teen Justin Bieber e a nova diva do pop Lady Gaga.” (RODRIGUES; VELASCO, 2012, p.6)

3.3. O FENÔMENO LADY GAGA