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No meio desta avalanche informacional, desta verdadeira gigantesca montanha de fatos e dados disponíveis, se encontra um personagem de capital importância para o jornalismo: leitor. De um modo geral, ele não parece estar decepcionado com a impressionante quantidade de informações disponíveis.

O leitor, para efeitos desse trabalho, é um consumidor do jornalismo impresso ou do webjornalismo. É importante saber como ele enfrenta essa situação de excessividade informacional. Como ele reage a um ambiente tão repleto de informações. Quais são seus desejos e anseios?

131 No que tange a questão do leitor de jornais, Lourival Sant’Anna, no livro Destino do Jornal, cita uma pesquisa qualitativa, realizada na cidade de São Paulo, que investigou pessoas entre 25 a 40 anos pertencentes às classes A e B.

O trabalho foi realizado utilizando-se o método conhecido como focus group com 13 grupos separados por sexo, faixa etária e renda e pelo meio que mais estas pessoas usam para se informar: jornais, televisão, rádio ou internet. É interessante notar que, indiferente do meio escolhido, os participantes revelaram um forte desejo de se manterem sempre informados. Muitos dos participantes não usavam um único meio para obter as informações que consideravam importantes ou necessárias.

“O primeiro ponto que é preciso ser estabelecido de forma definitiva é o fato de que, se há perda de interesse no jornal não é por falta de apetite pela notícia e pela informação” (SANT’ANNA, 2008, p. 62)

Vale observar que os participantes da pesquisa se dividiram em relação ao futuro dos jornais. Alguns apostaram na convergência com outras mídias. Outros acreditam que a situação vai permanecer sem grandes alterações no futuro.

Porém, houve certa repetição em algumas críticas em relação ao formato, tamanho e a forma como a notícia é redigida. Existiram contestações quanto ao papel e a tipologia. E um grande número de leitores pediu um uso maior de elementos gráficos (imagens, ilustrações, gráficos) para facilitar o entendimento e a contextualização.

Todavia, o jornal não recebeu somente críticas. Foi elogiado pela capacidade que tem de possibilitar que seus leitores compreendam efetivamente o que ocorre ao seu redor, foi definido com o meio mais completo para buscar informações. Mesmo assim, a cada dia tem menos leitores.

“A facilidade e a liberdade quase ilimitadas de publicação que caracterizam a Web, provocam a ausência de gatekeeping. Há um rompimento do “monopólio” de produção da informação das organizações mediáticas tradicionais” (SERRA, 2002, p. 8).

Assim parece que o jornal pode ter assegurado o seu lugar no mundo. Basta, de acordo com a pesquisa, fazer algumas concessões ao leitor, mudando o seu texto. Mas será que somente a alteração no formato das notícias é suficiente? Neste ponto, começam a se perceber os efeitos do algoritmo no jornalismo. O gatekeeping não desapareceu por completo, ele ganhou um novo dono.

132 Os avanços e mudanças ocorridas na tecnologia provocaram mudanças no jornalismo. Desde a chegada dos computadores às redações houve alterações substanciais. Uma delas parece ser uma migração dos leitores de jornais para a Web.

No webjornalismo existe a oportunidade de publicar matérias com os mais diferentes graus de interesse. Inclusive, notícias que seriam rejeitadas por outras mídias. Ele não é obrigado a descartar fatos com tanta frequência. Portanto, o Webjornalista, apesar de organizar burocraticamente o mundo, como aponta Fishman (1990, p.51), tem um espectro maior de possibilidades à sua escolha na Web.

“Aparentemente não há nada de mortal no jornal que o inviabilize como meio nesse novo ambiente de múltiplas escolhas. O que os entrevistados estão pedindo é que ele seja mais acessível, menos pesado e sisudo; que além de cumprir a obrigação de manter-se informado, o leitor encontre no jornal o prazer de ler, de ver e de manusear um objeto gráfico agradável e amigável” (SANT’ANNA, 2008, p.84).

O chamado Webjornalismo cresce, mas agora cercado de ameaças. Na era da economia compartilhada celebra-se o fim do controle das informações pelos jornalistas. Sim, isso pode ser considerado um avanço. A pergunta que ainda não foi feita é: será que houve mesmo o fim do controle ou ele somente mudou de mãos? E como essa alteração vai mudar de forma efetiva a vida de quem consome notícias?

“Nos últimos anos, vimos o jornalismo eletrônico mudar nossas expectativas de acesso internacional instantâneo em relação aos eventos históricos. Não apenas recebemos um relato verbal sobre o bombardeio em Bagdá, mas também imagens filmadas da janela do hotel Al Rashid mostrando vestígios de disparos antiaéreos iluminando o céu da noite” (GOODMAN, 1996, p. 111).

Duas das características fundamentais do Webjornalismo são o tratamento dos dados (edição) e as relações articuladas com o usuário (interatividade) . Portanto, o Webjornalista não poderia ficar atrelado ao pensamento de outras mídias como televisão e rádio. Ele precisa se adaptar a uma nova linguagem para se comunicar com um novo público.

O Webjornalismo também é capaz de conservar e potencializar algumas características originárias de outras mídias (personalização, interatividade, atualização), Além disso, possui a capacidade de acumular e recuperar informações (memória), rompendo com as amarras espaço-tempo que sempre delimitaram a extensão e abrangência das informações jornalísticas.

133 Canavilhas (2001) alega, inclusive, que o conceito de Webjornalismo sepultaria a antiga noção de jornalismo online, visto como mera reprodução de conteúdo já existente em outros meios para a Internet .Outra classificação possível, ainda que mais abrangente, seria o jornalismo digital.

“A expansão do processo de produção, circulação e consumo de conteúdos jornalísticos nas redes telemáticas, indica a ascensão, dentro da ecologia do campo comunicacional, de um novo tipo de jornalismo formatado para o ciberespaço. O jornalismo digital inclui todo produto discursivo que re-produz a realidade pela singularidade dos fatos, tem como suporte de circulação as redes telemáticas ou qualquer outro tipo de tecnologia que transmita sinais numéricos e que incorpora a interação com os usuários no processo produtivo. É, considerando o fato que o suporte digital possibilita tanto a reconversão da natureza do ofício, quanto a alteração de todas as etapas da produção jornalística, que a consolidação do jornalismo digital depende da superação do modelo conceitual contemplado no jornalismo de precisão ou na reportagem assistida por computador, que caracteriza a tecnologia como ferramenta auxiliar no trabalho jornalístico” (MACHADO, 2000, p. 362).

O fator tecnológico, apesar de obrigar o Webjornalista a uma constante atualização, deve ser visto como um apêndice do processo de produção de notícias. Ou seja, a tecnologia é uma ferramenta que serve para aperfeiçoar as ações dos jornalistas, porém não é capaz de derrubar os fundamentos básicos da profissão como, por exemplo, o rigor na apuração dos fatos.

Contudo, o leitor na Web tem algumas características próprias do meio. Existem vários estudos que abragem como se dá a leitura na Web. No Brasil, Luciana Moherdaui realizou uma pesquisa com 301 estudantes de Comunicação Social, para obter respostas sobre o tipo de leitura dos internautas. Mesmo reconhecendo que os resultados da pesquisa não podem ser aplicados para o público em geral, foram identificados três tipos de leitores.

“Os considerados scanners, que vão só passar os olhos sobre o texto, procurando divertimento e surpresas, os que preferem recursos multimídia a textos, e o que procuram informações específicas, que normalmente leem longos textos na tela do computador” (MOHERDAUI, 2000, p. 56).

Vale notar que o texto mais curto é uma praticamente necessidade na Web. A leitura em um monitor é 25% mais lenta do que a realizada no papel. Ao contrário da leitura realizada sobre o contraste da tinta no papel, no computador a leitura é feita basicamente de luz. Um teste bem simples pode comprovar a veracidade do fato.

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“Escreva uma centena de palavras no seu computador sem usar os recursos de ortografia e gramática do programa processador de texto. Quando estiver terminado (...) corrija todos os erros que você vir. Depois imprima uma cópia e corrija novamente o texto. Com certeza você irá encontrar mais erros. Como você pode cometer esses erros tão óbvios? Simples. No papel as letras são escuras, dotadas de profundidade e com excelente resolução. A única luz é refletida fora do papel, e não vem do outro lado” (DE WOLK, 2001, p. 90).

Nos estados Unidos, Jakob Nielsen também realizou várias pesquisas sobre o tipo de leitura dos internautas. A mais famosa acompanhava o movimento dos olhos, com um aparelho chamado Eyetrack. De acordo com Nielsen, poucos leitores chegam até o final do texto na Web. “descobrimos que 79% dos participantes do teste sempre percorriam rapidamente com o olhar as novas páginas do site em que entravam. Apenas 16% leram palavra por palavra.” (NIELSEN, 2002)

A partir desta descoberta, Nielsen tece uma série de regras para captar a atenção de um leitor que ele considera dispersivo. A pesquisa foca, portanto, toda a sua atenção nos 84% de leitores que não leem o texto palavra por palavra. Mas existe uma questão que passou despercebida...