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4   REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 7

4.3   Comportamento pedagógico 31

6.3.1   Sistema de observação do comportamento pedagógico dos instrutores de Fitness

6.3.1.2   Desenvolvimento e validação de um novo sistema de observação 67

6.3.1.2.2   Aperfeiçoamento do instrumento de observação sistemática já existente

Esta fase teve como objectivo contextualizar o sistema de observação SOTA (na parte do comportamento do treinador) à especificidade das aulas de grupo de Fitness. Pretendeu-se adaptar as definições já existentes no SOTA-Treinador ao contexto das aulas de grupo de Fitness, assim como verificar se existiam comportamentos que não eram contemplados por este sistema de observação ou se existiam comportamentos que nunca eram codificados.

Para adaptar o SOTA-Treinador ao contexto das aulas de grupo de Fitness foram realizadas observações piloto de diversas aulas de várias actividades, nomeadamente: Localizada, Aeróbica, Step, Slide,

Hip Hop, Indoor Cycling, Latina, Combat, Hidroginástica e Stretching. A observação destas variadas situações

contribuiu deste modo para garantir a validade de conteúdo do instrumento em construção (Tuckman, 2002). As observações piloto das referidas aulas de grupo de Fitness foram realizadas por um painel de 3 especialistas (experts) em aulas de grupo de Fitness, com experiência como instrutores e como formadores do ensino técnicoprofissional e do ensino superior na área das aulas de grupo de Fitness, todos com experiência de utilização do SOTA (Quadro 8). O critério utilizado para classificar os especialistas como tendo experiência em observação, baseado nos autores Brewer e Jones (2002), foi o seguinte: terem utilizado o sistema de observação para codificar comportamentos de treinadores/instrutores pelo menos 3 vezes em ocasiões separadas. Nesta fase do presente estudo foram considerados experts os sujeitos que tinham pelo menos 5 anos de experiência como instrutores de aulas de grupo de Fitness, considerando a classificação de Berliner (1988, in Piéron, 1999), que tinham uma pós-graduação ou mestrado, para além da licenciatura na área das Ciências do Desporto, e que leccionavam na área do Fitness no ensino superior.

Quadro 8 – Caracterização dos especialistas que aperfeiçoaram o SOTA-Treinador ao contexto das aulas de grupo de Fitness.

Especialistas Experiência como instrutor de aulas de grupo de Fitness (anos) Experiência como formador no ensino técnicoprofissional em aulas de grupo de Fitness (anos) Experiência como formador no ensino superior em aulas de grupo de Fitness (anos) Habilitações académicas A 11 9 6 •

Licenciada na área das Ciências Desporto Mestre em Exercício e Saúde

Doutoranda em Ciências do Desporto

B 5 3 2

Licenciada na área das Ciências Desporto Pós-graduada em Exercício e Saúde com especialização em Aulas de Grupo e em Treino Personalizado

C 8 4 4 Licenciado na área das Ciências Desporto Pós-graduado em Treino Desportivo

com Especialização em Treino de Força

Mestre em Psicologia do Desporto e Exercício

Foram observadas, pelos 3 especialistas, aulas completas das seguintes actividades: Localizada, Step, Aeróbica, Indoor Cycling, Hip Hop, Combat e Hidroginástica. Baseados nos diversos comportamentos observados, e na discussão acerca destes, procedeu-se à definição das categorias de comportamentos dos instrutores de Fitness. De acordo com a recomendação dos autores Anguera et al. (2000) procedeu-se novamente ao visionamento de outras aulas de grupo de Fitness, de forma a verificar a capacidade de aplicação das definições das categorias desenvolvidas. Este processo foi repetido até se verificar que o conjunto das categorias configurava um sistema exaustivo22 no âmbito do contexto em causa, cumprido deste modo um dos critérios, considerados fundamentais na construção de um sistema de categorias, a exaustividade (Anguera et al., 2000; Blanco & Anguera, 1993; Castañer, 1999).

Durante a elaboração da definição das categorias pretendeu-se também que esta fosse minuciosa e consensual por parte dos referidos especialistas, tal como sugerido por Castañer (1999).

Assim, a partir da observação e da discussão das variadas situações que podem ocorrer no contexto das aulas de grupo de Fitness, e do desenvolvimento da definição das categorias, foram contemplados os diversos comportamentos dos instrutores destas actividades, permitindo assim ao novo instrumento validade de conteúdo.

Segundo Brewer e Jones (2002) o método utilizado neste estudo é o mais apropriado para estabelecer a validade de conteúdo (content validity) de um sistema de observação. Estes autores referem que um instrumento de observação sistemática desenhado para categorizar os comportamentos do professor tem validade de conteúdo se ele permitir a codificação dos vários comportamentos do professor num determinado contexto específico, como é o caso das aulas de grupo de Fitness.

Outro dos critérios considerados fundamentais na construção de um sistema de categorias é a mútua exclusividade (Anguera et al., 2000; Blanco & Anguera, 1993; Castañer, 1999).

Segundo Anguera (2001: 18) “Y la mutua exclusividad significa el no solapamiento de las categorías

que componen un sistema, por lo que a cada comportamiento se le asignaría una y sólo una categoría. Sin embargo, y desde el punto de vista de los niveles que interesen, puede no ser posible – ni incluso conveniente en ocasiones -, ya que en muchas ocasiones interesa contemplar varios niveles de respuesta co-ocurrentes, por lo que se crearían categorías múltiples que abarquen todas las posibles combinaciones entre las iniciales.”.

Também Anguera et al. (2000) e Castañer (1999) referem que caso venha a existir concorrência entre diversos comportamentos, em função da sua frequência, poder-se-ão criar combinações formando uma nova categoria.

Uma das dificuldades sentidas na definição das categorias foi o facto de o instrutor fazer várias acções em simultâneo, como por exemplo realizar exercício físico enquanto apresenta informação, corrige ou observa os praticantes. Deste modo, seguindo as sugestões de alguns autores (Anguera et al., 2000; Blanco & Anguera,

22 A exaustividade refere-se a que qualquer comportamento do âmbito do estudo, neste caso do comportamento dos instrutores de Fitness,

1993; Castañer, 1999) nos casos de existência de concorrência entre diversos comportamentos, criaram-se combinações da categoria Exercício com as outras categorias (ex: Informação, Pressão, Observação, etc…), formando assim novas categorias (ex: Informação Com Exercício, Pressão Com Exercício, Observação Com Exercício, etc…).

Após a realização das diversas observações e discussões, foram realizadas as seguintes adaptações em relação ao sistema de observação já existente (SOTA):

ƒ Nas aulas de grupo o comportamento de exercício físico ocorre em simultâneo com outras funções pedagógicas, pelo que este passou a fazer parte do novo sistema de observação, tendo sido criadas as seguintes categorias: Informação Com Exercício; Correcção Com Exercício; Avaliação Positiva Com Exercício; Avaliação Negativa Com Exercício; Questionamento Com Exercício; Afectividade Positiva Com Exercício; Afectividade Negativa Com Exercício; Pressão Com Exercício; Conversas com Alunos Com Exercício; Conversas com Outros Com Exercício; Observação Com Exercício; Atenção às Intervenções Verbais Com Exercício; Gestão Com Exercício. O estilo de ensino por comando é possivelmente um dos estilos de ensino mais utilizado nas aulas de grupo de

Fitness (Francis & Seibert, 2000), estando o instrutor predominantemente em actividade física. Por

outro lado, o comportamento de actividade física dos instrutores de aulas de grupo de Fitness é uma preocupação em termos de saúde pública, pois num estudo realizado em Portugal a prevalência de lesões músculo-esqueléticas destes profissionais induzidas pela sua actividade foi de 85%, sendo este valor muito elevado (Rocha, Brandão, Cipriano, Asseiceiro, & Veloso, 2003). Assim sendo, o estilo de ensino por comando, no qual o instrutor está predominantemente em actividade física, por um lado tem a vantagem dos praticantes terem um modelo para seguir, o que poderá trazer vantagens em termos de aprendizagem (J. Cumming, Clark, Ste-Marie, McCullagh, & Hall, 2005; Mendes, 2004; Sarmento, 1997; Schmidt & Lee, 1999; Zubiaur, 2003) e de motivação (J. Cumming et al., 2005), mas por outro lado poderá não ser benéfico para a saúde destes profissionais (Rocha et al., 2003).

ƒ Foi substituído o termo Actividade Motora do SOTA por Exercício, pelo facto deste ser o termo aplicado neste estudo e de se enquadrar melhor na terminologia da área do Fitness.

ƒ A categoria Conversas do SOTA foi dividida em duas categorias: Conversas com Alunos e Conversas com Outros. Enquanto as Conversas com Alunos podem contribuir para a adesão dos praticantes, as Conversas com Outros não parecem contribuir para este fim, pois o instrutor deixa de dar a devida atenção aos seus praticantes. Sendo a adesão ao Exercício uma preocupação que as organizações têm, quer por uma questão de fins lucrativos quer por uma questão de saúde pública, pelos benefícios que a actividade física proporciona (Balady et al., 2000), uma das estratégias, sugeridas por Carron, Hausenblas e Estabrooks (1999), que os instrutores podem utilizar é a comunicação com os participantes e as conversas com estes no início e final da aula. ƒ A monitorização da intensidade do esforço dos praticantes deve ser uma das preocupações dos

instrutores (Kennedy, 2000), podendo ser utilizados vários métodos para controlar a intensidade, designadamente o Teste da Fala (Talk Test) ou a Escala de Percepção de Esforço (Rate of

Perceived Exertion), nos quais o instrutor coloca questões aos praticantes de modo a perceber o

seu estado físico, designadamente a intensidade do esforço dos mesmos. Por outro lado a preocupação que os instrutores têm em conversar com os clientes para adequar os programas de exercício é um aspecto que os clientes consideram importantes na qualidade dos instrutores (Papadimitriou & Karteroliotis, 2000). Deste modo a categoria Questionamento passou também a contemplar este tipo de acções, ou seja, questões que o instrutor coloca aos participantes acerca do seu estado físico durante o esforço (ex: “Estão cansados?”) ou acerca da compreensão da tarefa apresentada (ex: “Perceberam ou querem que repita mais uma vez?”) são acções da categoria Questionamento. A categoria Questionamento engloba ainda o feedback interrogativo, ou seja, questões acerca do desempenho do aluno no exercício (ex: “Como é que deve colocar a bacia para não lhe doer a zona lombar?”).