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4   REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 7

4.3   Comportamento pedagógico 31

4.3.5   Cruzamento do comportamento pedagógico observado, percepção e preferência

Hanke (1993) refere-se à importância de perceber a perspectiva dos alunos acerca da intervenção dos professores, designadamente no intuito dos professores e treinadores perceberem melhor a perspectiva dos alunos, evitando incongruências na interpretação das situações de ensino/treino. Hanke (1993) refere-se à comum incongruência existente entre a perspectiva dos alunos e a dos professores sobre as situações de ensino.

Relativamente à congruência existente entre o que fora observado e a opinião dos praticantes acerca dessas situações, poucos são os estudos conhecidos que utilizem o cruzamento do comportamento pedagógico observado com a preferência, assim como com a percepção dos praticantes.

Seguidamente são apresentados alguns estudos encontrados sobre esta temática.

Smith, Smoll e Curtis (1979) realizaram um estudo nos Estados Unidos da América onde observaram o comportamento de 34 treinadores de Basebol, utilizando o instrumento CBAS (Smith et al., 1977: 402-404), e foram verificar qual a percepção dos jogadores acerca do comportamento do treinador. O estudo envolveu um tratamento onde foram apresentadas linhas orientadoras acerca de como os treinadores se deveriam comportar, existindo um grupo experimental de treinadores que passou por esse tratamento e um grupo de controlo (também de treinadores). Dado que o estudo focava outros objectivos os autores não apresentarem os resultados da associação entre a percepção dos jogadores e o comportamento observado nos treinadores. No entanto, Chelladurai e Riemer (1998) referem-se ao estudo de Smith, Smoll e Curtis (1979), mencionando ter existido uma associação positiva significativa, entre a percepção dos jogadores e o comportamento observado nos treinadores, em 4 das 12 categorias de comportamentos, designadamente:

ƒ Punição (avaliação negativa); ƒ Correcções Técnicas;

ƒ Punição + Correcções Técnicas; ƒ Comunicação Geral (conversas).

Também, relativamente à coerência entre a percepção dos alunos, auto-percepção do treinador e ao comportamento observado, De Marco Jr. e Mancini (1997) realizaram um estudo acerca do comportamento de um treinador de Basebol, nos Estados Unidos da América. Neste estudo foi utilizado o instrumento Self-

Assessment Feedback Instrument (SAFI) (Mancini & Wuest, 1989: 144-145) na observação do comportamento

do treinador, e o instrumento Coach’s Performance Questionnaire (CPQ), desenvolvido especificamente para a referida investigação, para analisar a percepção dos jogadores juniores (n=22) e a auto-percepção do treinador. As questões do CPQ correspondiam às categorias do SAFI. Foi realizada uma fase de tratamento com treino do treinador relativo à sua auto-análise comportamental, com visionamento de vídeos dos seus treinos e utilização do SAFI, seguida de estratégias de melhoria da sua intervenção.

Os autores constataram que o treinador, antes do tratamento, sobrestimou ou subestimou os seus comportamentos em 6 das 11 categorias de comportamento do questionário e do sistema de observação. O treinador sobrestimou o uso dos seguintes comportamentos:

ƒ Elogio; ƒ Pressão;

ƒ Criticismo Construtivo;

ƒ Criticismo Construtivo seguido de Re-instrução.

O treinador subestimou a adopção dos seguintes comportamentos: ƒ Direcções;

As categorias em que o treinador percepcionou ter um comportamento mais próximo do observado foram:

ƒ Elogio seguido de Re-instrução; ƒ Aceitação;

ƒ Instrução durante a Performance; ƒ Questionamento;

ƒ Criticismo (negativo) seguido de Re-instrução.

Mesmo após a fase de tratamento, o treinador, apesar de terem melhorado a sua exactidão na percepção dos seus comportamentos, continuou a sobrestimar o uso de vários comportamentos, designadamente:

ƒ Elogio seguido de Re-instrução; ƒ Pressão;

ƒ Criticismo Construtivo seguido de Re-instrução.

Também os jogadores, no uso do questionário CRQ, quer antes, quer após a fase de tratamento com o treinador, apresentaram pouca exactidão na percepção acerca dos comportamentos que foram observados no treinador. Numa fase inicial, antes do tratamento, sobrestimaram os comportamentos:

ƒ Elogio;

ƒ Elogio seguido de Re-instrução; ƒ Questionamento;

ƒ Instrução durante a Performance; ƒ Pressão;

ƒ Criticismo Construtivo seguido de Re-instrução; ƒ Direcções.

Após a fase de tratamento com o treinador, os jogadores subestimaram os comportamentos de Instrução durante a Performance e de Direcção, e sobrestimaram os seguintes comportamentos:

ƒ Elogio; ƒ Aceitação; ƒ Pressão;

ƒ Criticismo Construtivo;

ƒ Criticismo Construtivo seguido de Re-instrução.

Os comportamentos dos treinadores percepcionados pelos jogadores mais próximos dos observados, tanto na fase anterior como na fase posterior ao tratamento, foram:

ƒ Criticismo (negativo);

ƒ Criticismo (negativo) seguido de Re-instrução.

Tjeerdsma (1997) efectuou um estudo nos Estados Unidos da América onde cruzou a percepção dos alunos de Educação Física do 6.º ano (4 masculinos e 4 femininos) e a percepção do seu professor acerca da dificuldade das tarefas, à performance e ao esforço exigido pelas tarefas, assim como o propósito e a reacção afectiva ao feedback emitido pelo professor aos alunos. O autor verificou existirem diferentes perspectivas entre

os alunos e o professor, designadamente em relação à dificuldade das tarefas, à performance e ao esforço exigido pelas tarefas. Um maior acordo foi no entanto verificado relativamente ao propósito e à reacção afectiva ao feedback emitido pelo professor.

Tjeerdsma (1997) sugere que a investigação sobre as situações de instrução leve em consideração simultaneamente a perspectiva dos alunos e a dos professores, permitindo uma imagem mais completa sobre o processo de instrução, dado que a perspectiva dos alunos e do instrutor difere.

L. Costa (2000) realizou um estudo, em Portugal, onde foram cruzados os resultados da observação do comportamento dos treinadores de Judo (n=8), utilizando como instrumento uma adaptação do Sistema de Observação do Comportamento do Treinador e do Atleta (SOTA) de Rodrigues et al. (1992: 4-6), com os dados obtidos por questionários relativos à auto-percepção do comportamento do treinador e à percepção dos atletas acerca do comportamento do treinador.

Neste estudo, apenas se verificou uma correlação negativa significativa entre o comportamento observado e a auto-percepção do treinador na categoria Correcção, e duas correlações positivas significativas entre o comportamento observado e a percepção dos atletas na categoria Avaliação Positiva e na Gestão, não existindo uma correlação significativa nas restantes categorias. O autor refere que a auto-percepção do comportamento dos treinadores apresenta uma baixa relação com o comportamento observado, assim como a percepção dos alunos relativamente ao comportamento observado no treinador. Também a auto-percepção dos treinadores não apresenta correlação com a percepção dos alunos sobre o comportamento dos treinadores.

Franco et al. (2004) realizaram um estudo onde foram comparar a percepção com a preferência dos praticantes (n = 37; dos 18 aos 39 anos de idade) acerca das características dos instrutores de Localizada, tendo encontrado diferenças significativas entre a percepção e a preferência dos praticantes em 22 das 23 características dos instrutores, designadamente: Amigável; Bom Desportista; Explícito; Com Capacidades Variadas; Com Comportamento Constante; Compreensivo; Comunicativo; Consciencioso; Construtivo; Cuidadoso; Dinâmico; Exemplar; Esperto; Firme; Honesto; Imaginativo; Inteligente; Justo; Motivador; Seguro de Si; Sincero. A percepção dos praticantes acerca da intervenção dos instrutores de Localizada ficou um pouco aquém relativamente ao que os praticantes preferem, tendo a percepção sido inferior à preferência nestas 22 categorias.

Simões, Franco e Silva (2005) realizaram um estudo acerca do feedback pedagógico dos instrutores do programa de Localizada Body Pump, tendo observado o comportamento dos instrutores e aplicado um questionário acerca da percepção e preferência dos praticantes sobre os instrutores da referida actividade.

Das 24 categorias de feedback analisadas, os autores verificaram existir diferenças significativas entre a percepção e a preferência dos praticantes em 21 categorias, designadamente: Auditivo; Visual; Quinestésico; Misto; Concorrente; Terminal Imediato; Isolado; Acumulado; Positivo; Negativo; Avaliativo Positivo; Avaliativo Negativo; Prescritivo Positivo; Prescritivo Negativo; Descritivo Positivo; Descritivo Negativo; Interrogativo; Individual; ao Grupo; Feedback Isolado; Ciclo de Feedback.

Os autores referem ainda que em alguns tipos de feedback o comportamento observado nos instrutores parece não ir ao encontro da preferência dos praticantes. No entanto não foi testada a associação entre o comportamento observado nos instrutores e a preferência dos praticantes.

Embora aparentemente exista uma tendência para a incoerência entre a auto-percepção do treinador/professor/instrutor e a percepção dos praticantes, assim como entre a auto-percepção destes profissionais e dos praticantes relativamente ao comportamento pedagógico observado, parece haver necessidade de realizar mais investigações acerca desta temática. O mesmo se passa em relação ao comportamento pedagógico observado e à percepção e preferência dos praticantes. Um melhor conhecimento acerca da perspectiva dos praticantes poderá dar a estes profissionais uma maior noção para poder actuar no sentido de ir ao encontro daquilo que mais satisfaz os praticantes.

5 HIPÓTESES

O modelo apresentado no capítulo 3 (Figura 1) ilustra as hipóteses colocadas no presente estudo, as quais se passa a apresentar.

Considerando ter-se encontrado em outros estudos uma relação significativa entre o comportamento observado e a percepção dos praticantes nos comportamentos de Correcção (L. Costa, 2000; De Marco Jr. & Mancini, 1997; Smith et al., 1979), Avaliação Positiva (L. Costa, 2000), Avaliação Negativa (De Marco Jr. & Mancini, 1997; Smith et al., 1979), Conversas (Smith et al., 1979) e Gestão (L. Costa, 2000), e dada a afirmação de Chelladurai e Riemer (1998) que refere que será de esperar que o comportamento observado e a percepção dos praticantes se desviem um do outro, coloca-se a seguinte hipótese:

H1: Existe uma associação linear positiva entre o comportamento observado nos instrutores de Localizada e a percepção dos praticantes apenas nos comportamentos de Correcção, Avaliação Positiva, Avaliação Negativa, Conversas com Alunos e Gestão, e não nos restantes comportamentos em estudo.

Considerando o Modelo Multidimensional de Liderança no Desporto de Chelladurai (1990), e partindo do pressuposto que os instrutores devem apresentar um comportamento que vá ao encontro da preferência dos praticantes, ainda que no estudo de Simões et al. (2005) o comportamento de feedback observado nos instrutores aparente não ir ao encontro da preferência dos praticantes, coloca-se a seguinte hipótese:

H2: Existe uma associação linear positiva entre a preferência dos praticantes e o comportamento observado nos instrutores de Localizada.

Considerando que os instrutores deveriam apresentar um comportamento que fosse ao encontro da preferência dos praticantes (Chelladurai, 1990), ainda que se possa esperar que o comportamento observado e a percepção dos praticantes se desviem um do outro (Chelladurai & Riemer, 1998), e ainda que tenham sido encontradas diferenças significativas entre a percepção e a preferência dos praticantes relativamente aos tipos de feedback pedagógico (Simões et al., 2005) e às características dos instrutores de Fitness (Franco, Cordeiro & Cabeceiras, 2004), coloca-se a seguinte hipótese:

H3: Existe uma associação linear positiva entre a preferência e a percepção dos praticantes acerca do comportamento dos instrutores de Localizada.

Considerando o facto de os praticantes que têm uma maior percepção de competência se sentem mais motivados (Black & Weiss, 1992; Oliveira & Fonseca, 2003), e que a motivação influencia a satisfação dos praticantes (Chelladurai, 1990), e considerando que para uma menor ocorrência de Avaliação Negativa (Black & Weiss, 1992; Nicaise et al., 2006) e para uma maior ocorrência de Avaliação Positiva (Black & Weiss, 1992; Nicaise et al., 2006; Price & Weiss, 2000), de Pressão e de Correcção (Black & Weiss, 1992) existe uma maior

percepção de competência, que a Avaliação Positiva influencia a motivação (Pihu et al., 2008), e que a satisfação dos praticante se encontra relacionada com a Informação (Allen & Howe, 1998; Loughead & Carron, 2004; Papadimitriou & Karteroliotis, 2000; Theodorakis et al., 2004; Wininger, 2002), com a Avaliação Positiva (Allen & Howe, 1998; Chelladurai, 1990), com a Correcção (Allen & Howe, 1998) e com a Pressão (Allen & Howe, 1998; Loughead & Carron, 2004), colocam-se as seguintes hipóteses:

H4: Existe uma associação linear entre a satisfação global e o comportamento observado nos instrutores de Localizada, sendo negativa no caso da Avaliação Negativa e positiva no caso dos seguintes comportamentos: Informação; Avaliação Positiva; Correcção; Pressão.

H5: Existe uma associação linear entre a satisfação global e a satisfação específica dos praticantes acerca do comportamento dos instrutores de Localizada, sendo positiva15 no caso da Avaliação Negativa e negativa no caso dos seguintes comportamentos: Informação; Avaliação Positiva; Correcção; Pressão.

H6: Os comportamentos observados de Informação, Avaliação Positiva, Correcção e Pressão influenciam positivamente a satisfação global, e o comportamento observado de Avaliação Negativa influencia negativamente a satisfação global.

H7: As variáveis de satisfação específica com os comportamentos de Informação, Avaliação Positiva, Correcção e Pressão influenciam negativamente a satisfação global, e a satisfação específica e com o comportamento de Avaliação Negativa influencia positivamente a satisfação global.

15 No caso das associações entre a satisfação global e a satisfação específica, resultando esta última da subtracção da percepção à

preferência, os resultados devem ser interpretados da seguinte forma (Chelladurai, 1984):

ƒ Relação negativa – Os praticantes ficariam satisfeitos mesmo quando a sua percepção acerca do que ocorre excede as suas preferências;

ƒ Relação positiva – Os praticantes ficariam mais satisfeitos quando a sua percepção acerca do que ocorre é inferior ao que preferem.

6 METODOLOGIA

O capítulo de metodologia encontra-se dividido em 7 subcapítulos.

Inicialmente é feita a caracterização da amostra, quer de instrutores quer de praticantes, que deu origem aos resultados do presente estudo.

Seguidamente são apresentadas as variáveis utilizadas no presente estudo.

É feita depois referência ao desenvolvimento e validação dos instrumentos utilizados, designadamente do sistema de observação e dos questionários.

Numa fase posterior são descritos os equipamentos utilizados e os procedimentos efectuados. Por fim são apresentados os tratamentos efectuados com os dados e as limitações do estudo.

6.1 Amostra

6.1.1 Amostra de instrutores 6.1.2 Amostra de praticantes 6.2 Variáveis

6.3 Instrumentos

6.3.1 Sistema de observação do comportamento