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2 UMA EXPERIÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL

2.1 APLAME – uma experiência de Desenvolvimento Local Periurbano

Partindo do pressuposto de que o desenvolvimento só ocorre mediante a contemplação de um contingente de variáveis, dentre as mais relevantes o capital social e o capital humano, os quais muitas vezes são confundidos com o capital econômico, tem-se o desafio de identificar como aspectos, atitudes de ação participativa, se refletem nos atores sociais associados da APLAME, e de que maneira esta converge para o desenvolvimento local.

Numa perspectiva de reprodução social e de numa nova forma de realização da agricultura familiar, sedia-se no município de Santo Ângelo, na região das Missões, no estado do Rio Grande do Sul, uma experiência recente, focada no estímulo ao cultivo de plantas medicinais entre um grupo de agricultores familiares/periurbanos. Trata-se de uma experiência com construção participativa, desenvolvida pela a Prefeitura Municipal de Santo Ângelo, juntamente com os professores e estudantes do Centro de Referência em Educação Profissional da Escola Estadual Técnica Guaramano (EETG), em apoio à APLAME.

O projeto consiste em um método pedagógico que vem sendo testado com 32 agricultores familiares/periurbanos, e tem como objetivo geral contribuir para que o município e a região missioneira, área de abrangência do COREDE MISSÕES possam se transformar em um polo de produção de plantas medicinais, de industrialização e comercialização, com a finalidade de agregar renda às famílias dos associados.

Esta iniciativa emerge num contexto de estímulo ao emprego de fitoterápicos, alinhando-se à Política Nacional de Plantas Medicinal e Fitoterápico (Decreto 5813/06), a Política Intersetorial de Plantas Medicinais e de Medicamentos Fitoterápicos do Estado do RS (Lei 12560/06) e com a Lei Municipal de Santo Ângelo, que Instituiu o Programa Municipal de Fitoterapia, Produção de Fitoterápicos e Plantas Medicinais no ano de 2009. Cabe ressaltar que, em maio de 2006, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 971, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), objetivando a implementação de ações e serviços relativos a práticas medicinais alternativas, entre elas a homeopatia, a fitoterapia e plantas medicinais. Acredita-se que cerca de duas mil plantas brasileiras sejam usadas como remédios naturais pela população. O Ministério da Saúde possui atualmente uma lista de 71 nomes de plantas medicinais de interesse do SUS. O Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, instituído em dezembro de 2008, tem como objetivo inserir, com segurança, eficácia e qualidade, plantas medicinais, fitoterápicas e serviços relacionados à fitoterapia no SUS. O programa busca também promover e reconhecer as práticas populares e tradicionais no uso de plantas medicinais e remédios caseiros. A Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesses do SUS (RENISUS) é constituída de espécies vegetais com o potencial de avançar nas etapas da cadeia produtiva e de gerar produtos de interesses ao SUS e ao Ministério da Saúde.

O projeto compreende um processo de várias etapas que contempla um aporte teórico, através de cursos de capacitação, palestras de conhecimento técnico e dias de campo sobre técnicas de preparo de área e de cultivo de seis plantas medicinais: Carqueja (Baccharis trimera); Lavanda (Lavandula dentata); Alecrim (Rosmarinus officinalis); Erva-Cidreira (Cymbopogon citratus); Citronela (Cymbopogon nardus) e Cidrão (Cymbopogon flexuosos).

Para o desenvolvimento das atividades de cunho prático, foram instaladas duas Unidades Demonstrativas dos sistemas de produção das culturas, uma no setor produtivo de plantas medicinais/aromáticas na granja da escola Guaramano, compreendendo um viveiro florestal com estufa para as sementeiras e produção de mudas; e outra no campo experimental na Empresa de Óleos Giovelli, no município de Guarani das Missões/RS, para beneficiamento e extração de óleos essenciais das plantas medicinais cultivadas pelos agricultores.

O projeto está centralizado na APLAME, fundada em 29 de maio de 2009, pessoa jurídica de direito privado constituída na forma de sociedade civil de fins não lucrativos, com autonomia

administrativa e financeira. A APLAME, como associação, foi criada entre outras finalidades, a partir do interesse comum pelo cultivo de plantas medicinais, como atividade primária ou secundária de produção agrícola, aliado ao resgate das tradições familiares no uso dessas plantas na prevenção e cura de doenças, oferecendo alternativas para manutenção de uma vida saudável. A interação social se faz presente entre os atores envolvidos por meio de palestras, seminários, dias de campo, reuniões e trocas de experiências. Como grupo associado, essas famílias se beneficiam da comercialização, aquisição de mudas, insumos e equipamentos para a sua produção, favorecendo um incremento na sua renda familiar.

A Associação dos Agricultores promove, organiza, estimula, articula e acompanha as diferentes etapas do sistema de produção das plantas medicinais. É constituída de um diretor presidente, um coordenador geral com formação técnica, um produtor com formação em ciências biológicas, um técnico agrícola vinculado à Secretaria Municipal da Agricultura, dois acadêmicos bolsistas da Universidade Regional Integrada (URI), do curso de Farmácia e Biologia, para pesquisa e análise fotoquímica das plantas medicinais cultivadas. Outros órgãos atuam como parceiros, como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) local, a escola Guaramano e a empresa de óleos Giovelli com suporte nos processos de beneficiamento e embalagem dos produtos.

As ações do projeto têm início com o fornecimento ao agricultor de um material didático na forma de cartilha oferecida pela escola, contendo as orientações para o plantio e tratos culturais das seis cultivares de plantas medicinais/aromáticas integrantes do projeto, e um conjunto de mudas das diferentes cultivares. Foram distribuídas um total de 22 mil mudas entre os produtores. Posteriormente, o agricultor fica encarregado de preparar a área para o plantio em canteiros, conforme as orientações descritas na cartilha oferecida. Todas as fases de produção: implantação, desenvolvimento, colheita, beneficiamento e comercialização das plantas têm o acompanhamento dos técnicos da Associação. Um relatório mensal de cada responsável pelo setor produtivo envolvido fornece a posição do andamento das atividades realizadas, das atividades previstas e os resultados do acompanhamento técnico. Este relatório fica disponível a todos os envolvidos nesta ação coletiva.

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