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4.3 Instrumento da Coleta de Dados

4.3.4 Aplicação da Metodologia Fenomenológica

O método fenomenológico permitiu dar um tratamento especial às respostas, que foram submetidas a um processo de redução. Redução é a retenção intencional das variantes mediante direcionamento ao objeto, à realidade objetiva, consciente.

A Fenomenologia revela a verdade em partes e em momentos. Ela busca a observação da realidade pela essência do que as aparências ou significados mostram. Este desvelamento exsurge mediante o processo de redução. O que a Fenomenologia garante à ciência é sua própria pureza, defendendo-a das contaminações ideológicas. Nesse sentido, a Fenomenologia se identifica com uma autêntica exigência ética (...) De fato, essa dimensão ética da Fenomenologia é parte integrante de um itinerário metodológico que Husserl indicou com o termo de “redução”. 151:

      

151

PETRELLI, Rodolfo. Fenomenologia Teoria, Método e Prática. Goiania: Editora d UCG. 2001, p. 24- 28.

O primeiro momento desse processo redutivo é chamado de “redução teorética”, que consiste em eliminar da consciência intencional qualquer construto conceitual e resíduo de construto deixados por teorias antecedentes e concomitantes diante da consciência (...). Os dados da intencionalidade da própria consciência se configuram numa realidade lógica, simbólica e significativa, que deve ser colhida objetivamente pela consciência.

(...)

O segundo momento do processo redutivo coincide com a busca das essências de acordo com a proposta de Husserl. Operativamente esse momento consiste na observação e no registro entre uma multiplicidade de variáveis, uma variável ou uma relação de variáveis invariante; o que permanece já não se chamará de variável, mas de invariante.

(...)

O terceiro momento, do itinerário redutivo, quer atender às exigências existencialistas de Heidegger, que, junto com uma ciência ontológica, reivindica uma ciência “ôntica”, compondo, assim, as essências universais com as essências individuais.

A Fenomenologia é uma ciência descritiva da realidade e a aplicação do método envolveu três etapas de redução.

Primeira redução – descrição da entrevista crua, em dados gerais que foram reduzidos a formas aproximativas de conteúdo comum de natureza geral e teorética, separando-se fatos variáveis para se chegar a fato ou fatos invariáveis.

Segunda redução – com estribo no conteúdo adquirido com a primeira redução, a segunda buscou pela análise das invariáveis e variáveis obtidas da análise do discurso inserto na entrevista (num movimento de tabulação e cotejamento entre o total da entrevista e parte reduzida) para se chegar à essência (ou à verdade) dos fatos manifestados, desvelando os fenômenos. Nessa etapa, é possível observar dados da realidade sobre a efetividade da norma constitucional ambiental no Crato. Os dados foram colocados em suspensão, reduzidos em categorias gerais, universais, sem ligação com um fato específico, mas com o todo.

Terceira redução ou conclusão – em movimento de aproximação dos dados desvelados, a visão mais específica se volta para o objeto do estudo de campo, fazendo

emergir as particularidades do tipo de realidade que foi observada no Crato, nas comunidades e pessoas envolvidas na amostra. Há um movimento inverso do geral para o particular, do ontológico para o ôntico, do sujeito para o objeto. Nesta etapa, pudemos ver as especificidades da problemática do Crato que transcendem as fronteiras do local para se inserir no universo dos problemas de efetividade dos direitos fundamentais.

A aplicação do método fenomenológico compreende, como expresso, um fenômeno redutivo, que permite concentrar informações captadas da realidade (evidente), pondo em destaque e desvelando a sua essência (transcendente).

De modo geral, o processo de redução envolveu dois momentos: a) transcrição e organização das entrevistas; e

b) aplicação do processo de redução fenomenológica (1.a. e 2.a.) e análise das informações recolhidas (3.a. redução fenomenológica).

O primeiro momento ocorreu com a análise do material colhido com as entrevistas, transcritas ipsis litteris, conforme foram gravadas em K7, e a organização dos textos na ordem em que foram realizadas as entrevistas.

I primeira pergunta: ÁGUAS SÃO BENS PÚBLICOS OU PRIVADOS? JUSTIFIQUE A SUA POSIÇÃO!, Esta ocupa o centro das investigações para o estudo de casos, e está subdividida em três tipos de respostas: direta, justificativa e outras observações.

II perguntas subseqüentes. Foram elaboradas a partir da primeira e a ela relacionadas.

III pergunta livre: Quer acrescentar alguma coisa à entrevista?

Com essa organização, foi possível iniciar a redução com a primeira pergunta. A primeira redução fenomenológica significou a seleção das respostas semelhantes mediante uma afinidade, de modo a agrupar em unidades de significados o menor

número possível de palavras identificadas, buscando-se condensar o conteúdo com a máxima fidelidade ao texto do entrevistado. Houve nessa etapa, portanto, a síntese do conteúdo e da paráfrase, que sucessivamente atenderam a alguns critérios: reduzir expressões ou modos de expressão que pudessem identificar o entrevistado, tais como: “né” ou “eu acho”; erros de português; recorte nas entrevistas para agrupar raciocínios com o mesmo sentido e paráfrase para ordenar o significado das expressões utilizadas pelo entrevistado, e que foram percebidas e anotadas por nós..

Os resultados da primeira redução estão apresentados em um quadro sinóptico representativo, seletivo e comparativo, numa abordagem qualitativa.

Posteriormente, e a partir da primeira redução, seguiu-se a etapa de elaboração teórica e geral de um pequeno texto ou palavra que fosse significante, denominada como unidade de significado ou invariante, que traduzisse com a maior fidelidade o sentido oculto das entrevistas, revelando a sua essência. Essas unidades de significado foram apresentadas sem identificação do número das entrevistas. Os resultados desta etapa estão nas tabelas 1, 2, 3 etc., acompanhadas de um quadro-resumo, como veremos a seguir. Esse processo representou, para a aplicação do método fenomenológico, a segunda redução, acrescido da abordagem quantitativa.

Os resultados quantitativos alcançam um volume variado quanto ao número de entrevistas, uma vez que um entrevistado pode ter respondido à mesma questão de formas distintas, ou simplesmente ter-se omitido de responder, ou ainda, a pretexto de responder, ter fugido ao tema central da pergunta ou da pesquisa. Essa modelagem foi utilizada para as demais etapas da aplicação do método fenomenológico.

Em seguida à apresentação dos dados gerais, apresentamos a terceira redução junto às conclusões do estudo, oportunidade em que fazemos uma análise dos dados e comparamos os resultados imanentes, ou seja, o que foi dito; com o transcendente, ou

seja, o que foi percebido, ou desvelado, a partir das evidências, compondo, assim, as essências universais com as essências individuais.

O estudo de casos, enfim, pôde subsidiar o conhecimento da realidade dos fatos e sua interface com os artigos 20, III, 26, I e artigo 225 da Constituição Federal, que tornam bens públicos as águas, de modo a analisar a real efetividade da norma constitucional de proteção ao meio ambiente.

O caminho metodológico e sua estruturação foram-se concretizando à medida que os dados foram analisados. Uma das opções que surgiram durante a redução foi a opção por agregar os resultados de análise em temas, conforme transcrevemos:

TEMA 1 – A dominialidade das águas. Pergunta relacionada: as águas são bens públicos ou privados? Justifique sua posição.

TEMA 2 – Gestão das fontes/nascentes. Pergunta relacionada: análise sobre a gestão das fontes no passado e na atualidade.

TEMA 3 – Acesso da população às águas das fontes. Perguntas relacionadas: os populares têm acesso às águas das fontes? Existe conflito entre as pessoas que têm a propriedade de uma fonte e os comunitários?

TEMA 4 – Aspectos constitucionais que envolvem a dominialidade das águas. Perguntas relacionadas: existe direito adquirido em face da Constituição Federal? Os proprietários de fontes/nascentes deveriam ser ressarcidos pelo uso público dessa águas?

TEMA 5 – Transição da gestão privada das fontes/nascentes para o controle do Estado com o uso público das águas. Pergunta relacionada: qual o papel do Estado na gestão das águas das nascentes? E as sugestões propostas pelos entrevistados para a transição da gestão privada para a gestão pública das águas.

Também o tratamento dado à análise das perguntas passou por mudanças de percurso; em princípio, somente as respostas seriam objeto de redução; posteriormente, percebemos que a compreensão das respostas necessitariam de uma formulação interrogativa que conduzisse ao raciocínio manifestado. As perguntas, exceto a primeira, passaram também pelo processo de redução a partir das respostas, o que implica dizer que as perguntas descritas a seguir podem não ter sido formuladas ao entrevistado ou, quando formuladas, podem não ter sido respondidas nesta ordem. Vejamos o esquema abaixo:

Primeira Pergunta (PP): resposta 1 (R1PP), resposta 2 (R2PP)

Segunda Pergunta (SP): resposta 1 (R1SP), resposta 2 (R2SP)

Processo de Redução das perguntas a partir das respostas R2PP + R2SP = Resposta a uma pergunta não formulada PP + SP + PNF (Pergunta Não Formulada) = Pergunta Nova ou Pergunta Reduzida

4.4A Dominialidade das Águas em Crato – Ceará. Pergunta relacionada: as Águas