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3.2 Conceitos Específicos

3.2.3 Bens Ambientais na Constituição Federal de 1988

Os bens ambientais protegidos pela legislação constitucional brasileira se caracterizam pela diversidade. Alguns desses bens, dentre eles a água, as florestas, o mar, o ar... são considerados indispensáveis para o equilíbrio ambiental, exigindo da humanidade mudanças nos atuais padrões de consumo, autocuidado e conservação de um ambiente sadio, para a manutenção da vida na Terra. Essa compreensão, desenvolvida tardiamente pelas comunidades humanas, põe o homem – ser vivo - no centro das preocupações com o desenvolvimento. Para manter a vida, nossa e das futuras gerações e, principalmente, conter o avanço dos impactos negativos antrópicos sobre esses bens, é que está havendo uma mudança de comportamento no modo de vida das populações no mundo inteiro.

Emblemático é esse antropocentrismo, que difere do conceito clássico92, o antropocentrismo que emergiu do Princípio 1.º da Eco-92: “Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza.”; é do tipo relacional: sem negligenciar a percepção da fragilidade humana ante o meio natural, como parte comum deste ambiente.

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo brasileiro e essencial à sadia qualidade de vida, competindo ao Estado e à coletividade a sua defesa e preservação para as presentes e futuras gerações. Em       

92

MICHAELIS. DICMAXI. Op. cit.,: Filos: 1 Que considera o homem como fato central ou mais significativo do universo. 2 Que considera o homem o objetivo último do universo.

linhas gerais, este é o conteúdo do artigo 225 da CF/88. Nele se insere o direito fundamental ao meio ambiente sadio como macrobem, ou seja, em uma visão

globalizada unitária e integrada93, não especificando os elementos corpóreos que o

compõem. A não-especificação dos bens materiais, que compõem o meio ambiente, sugere que o legislador constituinte o considerou como bem incorpóreo e imaterial.

Antonio Herman Vasconcelos, citado em Rubens Morato Leite94, destaca que uma definição como esta de meio ambiente, como macrobem, não é incompatível com a constatação de que o complexo ambiental é composto de entidades singulares que, em si mesmas, também são bens jurídicos: é o rio, a casa de valor histórico etc.

O reconhecimento de que o meio ambiente sadio é essencial à vida é o suporte jurídico do reconhecimento do direito a este ambiente saudável como direito fundamental de terceira geração e, ousaríamos afirmar, com dimensão de primeira geração, como extensão do direito à vida.

Também está inscrito no art. 225 o Princípio do acesso eqüitativo aos recursos naturais, que traz consigo a recomendação de que os recursos naturais de uso comum da terra sejam voltados para a satisfação das necessidades de todos os habitantes, incluídos a água, o ar, o solo e todos os bens que integram o meio ambiente. É, outrossim, pressuposto deste princípio que os usuários só poderão usar os bens ambientais na proporção de suas necessidades presentes, e não futuras, como anota Paulo Affonso Leme Machado95.

O Princípio da natureza pública da proteção ambiental, referido por Milaré96, destaca a responsabilidade primeira do Poder Público na defesa e preservação do meio

      

93

LEITE, José Rubens Morato. op. cit., p. 51-70.

94

Ibidem., p. 60.

95

MACHADO, Paulo Affonso de Leme. (2004). op. cit., p. 49.

96

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. Doutrina. Prática. Jurisprudência. Glossário. 2..ª edição, revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 112.

ambiente (Art. 225, parte final), impondo-se também à coletividade a mesma responsabilização. Não é dado, assim, conclui Milaré, ao Poder Público – menos ainda aos particulares – transigir em matéria ambiental, apelando para uma disponibilidade impossível.

Também o art. 225 denomina o meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem de uso comum do povo, suscitando uma discussão sobre a natureza do patrimônio ambiental, se público ou privado. José Afonso da Silva97 avalia o instituto da seguinte forma:

A Constituição, no art. 225, declara que todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado. Veja-se que o objeto do direito

de todos não é o meio ambiente em si, não é qualquer meio ambiente. O que é objeto do direito é o meio ambiente qualificado. O direito que todos temos é à qualidade satisfatória, o equilíbrio ecológico do meio ambiente. Essa qualidade é que se converteu num bem jurídico. A isso é que a Constituição define como bem de uso comum do povo (...) pode-se dizer que tudo isso significa que esses atributos do meio ambiente não podem ser de apropriação privada, mesmo quando seus elementos constitutivos pertençam a particulares. Significa que o proprietário, seja pessoa pública ou particular, não pode dispor da qualidade do meio ambiente a seu bel-prazer, porque ela não integra a sua disponibilidade. Veremos, no entanto, que há elementos físicos do meio ambiente que também não são suscetíveis de apropriação privada, como o ar, a água, que são, já por si, bens de uso comum do povo. Por isso, como a qualidade ambiental, não são bens públicos nem particulares. São bens de interesse público, dotados de um regime jurídico especial, enquanto essenciais à sadia qualidade de vida e vinculados, assim, a um fim de interesse coletivo.

Outrossim, o meio ambiente, na qualidade de macrobem, é integrado pelos bens ambientais de natureza corpórea e material, ou microbens. Dentre os bens ambientais relacionados na Constituição Federal de 1988, destacamos os seguintes:

- Águas (Art. 20, III, Art. 20 § 1.º., , Art. 21, XII, art. 22. IV, Art. 26, I, art. 231,

§ 3.º).

- Cavidades naturais subterrâneas (art. 20).

- Energia (art. 22).

      

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- Espaços territoriais protegidos e seus componentes (art. 225 III e § 1.º).

- Fauna (art. 225, VII).

- Flora (art. 23 e art. 24).

- Florestas (art. 23, art. 24 e art. 225, § 4.º).

- Ilhas (Art. 20, IV, art. 26 II).

- Paisagem (art. 23, III, Art. 24. III e Art. 216, V).

- Mar territorial (Art. 20, V).

- Praias fluviais (Art. 20, III).

- Praias marítimas (Art. 20, IV).

- Recursos naturais da plataforma continental (Art. 20 V).

- Recursos naturais da zona econômica exclusiva (Art. 20 V).

- Sítios arqueológicos e pré-históricos (Art. 20, X.).

- Terrenos de marinha e seus acrescidos (art. 20, VII).

- Terrenos marginais (art. 20, III).

Para esses bens, públicos ou privados e de uso comum, o Poder Público é gestor e tem que proteger e prestar contas sobre a gestão desse patrimônio, com preferência sobre os cidadãos.