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a aplicação de medidas de mitigação

mento/ensaio de novos equipamentos e na sugestão de medidas de boas práticas. Contudo, para que as associações de pesca-dores locais aceitem estas medidas e para que os governos adoptem legalmente este tipo de incentivos, é essencial compreender as vantagens e desvantagens da adopção de medidas, no que diz respeito a aspectos de conservação, económicos e de sustentabili-dade das pescas.

A análise custo-benefício (ACB) pode desem-penhar um papel importante nas decisões de política legislativa e de gestão relacionadas com a gestão e protecção de recursos natu-rais. Diariamente, os decisores políticos e ges-tores de recursos naturais são confrontados com a difícil tarefa de comparar uma miríade de programas de conservação, cada um com diferentes custos e benefícios para a socie-dade, e decidir quais os programas a imple-mentar mediante fundos públicos limitados. A análise custo-benefício pode fornecer de uma forma simplificada um quadro

excep-cionalmente útil para organizar informações díspares de forma consistente e melhorar o processo e o resultado da análise política. No entanto, este tipo de análises é ainda limi-tado pela dificuldade que existe em atribuir va-lores correctos às variáveis que não são direc-tamente mensuráveis, não existindo ainda um acordo geral sobre o método correcto para a valorização de todas as vantagens ambientais de acções que possam ser implementadas. De uma forma simplificada para os intervenien-tes no projecto SafeSea, no presente capítulo pretende-se mostrar que existem vantagens ambientais no uso de medidas de mitigação, tanto para o meio ambiente como para o pró-prio sector das pescas.

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Impacto no Turismo

O Turismo é um dos principais sectores da economia portuguesa, tendo o seu peso na economia vindo a crescer nos últimos anos (Plano Estratégico Nacional do Turismo, 2007). Efectivamente, o sector do Turismo é um dos principais sectores geradores de emprego re-presentando, em 2004, 10,2% da população activa e gerando receitas de 6,3 mil milhões de euros, correspondendo a 11% do PIB (Pla-no Estratégico Nacional do Turismo, 2007).

Por outro lado, Portugal dispõe de condições climatéricas e recursos naturais indispensá-veis à consolidação e desenvolvimento de Turismo de Natureza (Plano Estratégico Na-cional do Turismo, 2007), devendo o mar, e os seus recursos, ser alvo de aproveitamento como factor diferenciador do desenvolvimen-to económico e social (Estratégia Nacional para o Mar, 2007).

Entre as actividades de turismo associadas ao mar, a observação de animais marinhos nomeadamente aves, répteis e mamíferos marinhos tem demonstrado um crescimento acentuado.

Efectivamente, entre 1998 e 2008, em Portugal Continental, a taxa anual média de crescimen-to da actividade de observação de cetáceos (vulgo, whale watching) foi de 45,4 % (Interna-tional Fund for Animal Welfare, 2009). Compa-rativamente, em 1998, havia um operador tu-rístico de observação de cetáceos e em 2008 já se podiam contabilizar 11 operadores (Tabela 6.1). O número de observadores teve também um aumento representativo de 1 380 pessoas em 1998 para 58 407 pessoas em 2008. Final-mente, as receitas totais da actividade foram de 63 361 euros em 1998 e de 4 470 248 euros em 2008. Portugal Continental está a atingir o limite de capacidade para a implementação deste tipo de actividades, sendo de prever que o crescimento deste tipo de receitas deverá reduzir-se significativamente, passando o au-mento anual a situar-se entre os 5 e 10 % ao ano (a estimativa de receita para 2010 deverá rondar os 5 500 000 euros).

O turismo de obser

vação de cetáceos está em expansão em P ortugal

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Impacto na biomassa de presas

Existe um dilema contínuo entre a conserva-ção dos cetáceos e a preservaconserva-ção dos recursos de pesca. Se por um lado os cetáceos são con-siderados espécies ameaçadas e, particular-mente em Portugal, estão protegidas desde 1982, sendo ilegal a sua captura, por outro, as populações de cetáceos são constantemente acusadas de causar um declínio nos stocks de peixe com interesse comercial e de competi-rem directamente com o sector das pescas. Com efeito, nos inquéritos realizados a vários mestres de embarcações das mais variadas pescarias artesanais portuguesas, grande par-te concorda que as populações de cetáceos aumentaram nos últimos 10 anos e que deve-riam ser controladas de forma a aumentar os recursos de pesca.

No entanto, estudos aprofundados sobre a dieta de várias espécies de cetáceos confir-mam que, muitas vezes, a culpa que lhes é atribuída não passa de especulação. Estimou--se, por exemplo, que todas as populações de cetáceos do Pacífico poderão consumir 3 ve-zes mais que as capturas de todas as pescarias da área (Trites et al. 1997). Apesar das grandes quantidades que consomem apenas uma pe-quena fracção corresponde a espécies de in-teresse comercial. Evita-se assim o problema crucial e as verdadeiras razões que afectam a pesca artesanal, que na maioria das vezes estão relacionadas com a sobre - exploração dos recursos por parte de muitas das frotas de pesca, especialmente a industrial.

Ainda sobre a questão de quem consome mais peixe, onde na maioria das vezes cada um

de-fende o que é seu, há que salientar os aspec-tos positivos da presença de cetáceos no mar. Não só directamente os cetáceos favorecem as pescas artesanais por juntarem e trazerem mais peixe para junto da costa, como indirecta-mente trazem rentabilidade no sector turístico, nomeadamente através das actividades de ob-servação de animais marinhos.

Tabela 6.1. Receitas ligadas ao turismo de observação de cetáceos em Portugal Continental.

(*) Adaptado de International Fund for Animal Welfare, “Whale Watching Worldwide: Tourism numbers, expenditures and economic benefits”, 2009a

Portugal Continental (*)

Ano Nº de Operadores Turísticos de Observação de Cetáceos Nº de Observadores de Cetáceos Receitas Directas (Euros) Receitas Indirectas (Euros) Receitas Totais (Euros) 1998 1 1 380 22 577 40 784 63 361 2008 11 58 407 1 322 264 3 147 984 4 470 248

Recolha e separação de peixe na pr

100

Recolha de sar dinha par

a o interior da embar cação

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Certificação de pescas e eco-labelling

A certificação, ou o eco-labelling, visa enco-rajar consumidores a preferir produtos “ami-gos” do ambiente. Após um longo processo com vários critérios de avaliação, o produto certificado é identificado com um logótipo com informação que permite ao consumidor identificá-lo facilmente. Os produtores vêem a procura do produto certificado como uma diferenciação de qualidade definida pelo mé-todo de produção. Assim, é justificado um aumento do preço do produto “amigo” do ambiente, pois os produtores têm muitas ve-zes que alterar os seus métodos de produção para alcançar os critérios da certificação. No que diz respeito à certificação de pescarias, existe um critério específico no âmbito do im-pacto em espécies ambientalmente ameaça-das (mamíferos marinhos, tartarugas e aves). Este artigo refere especificamente que:

“Os efeitos da pescaria são conhecidos e existe grande probabilidade de estarem dentro dos limites de requisitos nacionais e internacionais

para a protecção de espécies ambientalmente ameaçadas (espécies ETP); existe informação suficiente para determinar se a pescaria poderá ser uma ameaça à protecção e à recuperação de espécies (ETP), e se sim, ter medidas de avaliar os padrões dos impactos e apoiar estratégias de controlar os mesmos; e que hajam dados sufi-cientes que permitam a mortalidade relaciona-da com a pescaria e o impacto relaciona-da pesca serem quantitativamente estimados para espécies ETP”.

Em Portugal, em Janeiro de 2010, foi certificada a pescaria do cerco para a pesca da sardinha. Esta certificação foi requerida pela ANOPCER-CO - Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco, que considerou a certificação benéfica para o reconhecimen-to da qualidade da pescaria e garantia da sus-tentabilidade do recurso em Portugal. Por este motivo, na perspectiva da sustentabi-lidade e boa gestão da actividade piscatória, implementou-se a Certificação MSC, a qual é constituída por três princípios obrigatórios que comprovam uma pesca responsável:

O estado do stock/biomassa (a arte da pesca tem como base evitar a sobrepesca e extinção do stock);

O impacto ambiental (a pescaria deve sal-vaguardar o ecossistema dos oceanos, não prejudicando o seu habitat, produtividade e funcionalidade);

Gestão da pesca (as Organizações de Pro-dutores adoptam um sistema de gestão que obedece às leis e directivas locais, nacionais e internacionais).

A Certificação MSC atribuída à pescaria do cerco para a pesca da sardinha tem uma va-lidade de 5 anos (2010 a 2015), tendo os mé-todos de pesca utilizados sido considerados como estando em conformidade com os prin-cípios e critérios requeridos para uma pesca sustentável. Anualmente, são feitas auditorias para verificar se os métodos de pesca garan-tem a sustentabilidade nos critérios que con-duziram à certificação.

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Esta certificação trouxe uma mais-valia para o pescado capturado, neste caso para a sardinha. Se por um lado um aumento da cadeia de va-lor da sardinha por parte de todos operadores (produtores e industriais) é posto em prática, por outro o seu stock é mais controlado (a quo-ta anual de captura tem um limite máximo que ronda as 50.000 toneladas), podendo esta es-pécie ser representada pelo eco-rótulo azul da MSC, reconhecido internacionalmente. De uma maneira geral, encontrando-se um equilíbrio entre uma pescaria sustentável e um mercado para produtos de pesca susten-táveis, outras pescarias serão incentivadas a mudar as suas prácticas. Particularmente, se existem problemas associados aos métodos de pesca que comprometem a sobrevivência de espécies ETP, esses problemas são detec-tados e são propostas medidas para mitigar o problema. Se assim não for, a certificação poderá estar comprometida.

Responsabilidades perante leis e acordos nacionais e internacionais

Existem espécies e habitats que são importantes em termos de conservação e importantes para a sociedade humana, sendo por isso protegidos por legislação nacional e internacional. Ao longo das últimas décadas, a legislação de protecção de cetáceos tem vindo a evoluir consistentemente quer a nível nacional quer internacional, nomea-damente através do estabelecimento de acordos multilaterais que visam a protecção de espécies ou habitats onde estes se inserem.

Relativamente à legislação nacional, a protec-ção de cetáceos está abrangida pelo Decreto- Lei n.º 263/81 (de 3 de Setembro), que proíbe a captura intencional, transporte e morte destes animais, e pela transposição da Directiva Habi-tats para a legislação portuguesa (Decreto Lei 140/99, de 24 de Abril com a redacção dada pelo Decreto Lei 49/2005 de 24 de Fevereiro). No que se refere a legislação internacional que protege estas espécies, destaca-se a Directiva Habitats (92/43/EEC, 21 Maio 1992), que se

apli-ca às águas marinhas de Zonas de Exclusão Eco-nómica (ZEE) dos Estados Membros da União Europeia. Nesta Directiva, todos os cetáceos estão incluídos no Anexo IV (espécies de inte-resse comunitário que necessitam de protecção estrita) e duas espécies (bôto e roaz-corvineiro) estão incluídas no Anexo II (espécies de interes-se comunitário cuja coninteres-servação requer a desig-nação de Áreas Especiais de Conservação). Existem também tratados, acordos e legislação internacionais que protegem directa ou indi-rectamente os cetáceos (Convenção de Ber-na, Convenção de BoBer-na, OSPAR, ASCOBANS, ACCOBAMS, Convenção da Comissão Baleeira Internacional, Convenção CITES, Acordo MAR-POL, UNCLOS e Earth Summit).

Adicionalmente, Portugal, como membro da UE, está obrigado a tomar medidas para recolher dados científicos sobre as capturas acidentais de cetáceos (Regulamento (CE) n.º 812/2004 do conselho de 26/04/2004). Deste modo, o Estado Português é obrigado a proce-der à implementação de esquemas de obser-vadores independentes em barcos de pesca com comprimento fora a fora superior a 15

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tros. Segundo este regulamento, para barcos de dimensões inferiores, os dados relativos a capturas acidentais devem ser recolhidos atra-vés de estudos científicos ou projectos-piloto.

Importância ecológica e funcional

Os cetáceos são parte integrante da fauna marinha e costeira das águas portuguesas. Este grupo pode ser um indicador útil do es-tado e da produtividade do ecossistema (Ka-tona e Whitehead 1988).

Estes animais são predadores de topo, com grande tamanho corporal o que sugere que podem ter uma forte influência na estrutura e funcionamento das comunidades (Bowen 1997, Springer et al, 1993, Tynan, 2004). Assim sendo, estes animais podem ter um papel im-portante na modelação das características do comportamento e biologia das suas presas e dos seus competidores (Katona e Whitehead, 1988). Em teoria, a remoção dos predadores de topo, neste caso os cetáceos, leva a um

au-mento do número de presas. Estas presas po-dem ficar disponíveis para outros predadores ou ter, por sua vez, um forte impacto preda-tório noutras componentes do ecossistema. Em qualquer dos casos, o ecossistema perde biodiversidade, complexidade física, produ-tividade e resiliência com a diminuição dos cetáceos (Trites, 1997). Por exemplo, pensa-se que a diminuição das populações de lontras marinhas e pinípedes no Mar de Bering e Pa-cífico norte foram provocadas pelo aumento da predação destas espécies por orcas em de-trimento das baleias, cujas populações foram reduzidas devido à caça (Springer et al., 2003). Adicionalmente, devido ao seu tamanho cor-poral, os cetáceos podem ter também um papel importante no armazenamento e reci-clagem dos nutrientes e na alteração de habi-tats bênticos (Katona e Whitehead, 1988). Os cetáceos de grande porte que se alimentam e produzem dejectos ricos em ferro na zona bêntica, promovem a produção primária e funcionam indirectamente como sequestra-dores de carbono (Lavery et al., 2010).

Adicionalmente, os cetáceos de grande por-te que sofrem mortalidade natural no mar tendem a afundar rapidamente e funcionam, deste modo, como pequenos habitats ricos em energia, que servem uma sucessão de diversas comunidades de macrofauna en-volvendo um elevado número de espécies especializadas neste processo (Smith, 2006). Em cetáceos de grande porte (baleias) este processo pode durar décadas (Smith, 2006) e ser um veículo importante de dispersão de comunidades de organismos quimiossintéti-cos no fundo do mar (Smith et al., 1989).

Os cetáceos são par

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ojectos de c onservação

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Custos e lucros da pesca em 2010

Com base no documento Datapescas nº 87, no ano de 2010 a frota de cerco e polivalente do continente desembarcou, respectivamente, ±72 000 e ±61 500 toneladas de pescado (Ta-bela 6.2). A estas descargas foi possível associar o custo por quilograma de pescado, que foi de 0,57 euros para a pesca do cerco e de 2,37 euros para a pesca polivalente. Os custos as-sociados à produção acabam por ser um dos

Tabela 6.2. Estimativas da produção de base da pesca do cerco e polivalente em Portugal para o ano de 2010 (Datapescas nº 87).

t toneladas, € euros

Desembarques (t) Preço médio por Kg (€) Desembarques médios por embarcação (t) Produção base por barco (€)

Cerco 72 681 0,57 758 ± 432 000

Polivalente 61 516 2,37 100 ± 237 000

Tabela 6.3. Estimativas dos custos (euros) associados à produção de base da pesca do cerco e polivalente em Portugal, para o ano de 2010

(Data-pescas nº 87 e informações recolhidas no Instituto Nacional de Estatística quanto aos custos operacionais da pesca - INE, Contas Satélite/Contas económicas da pesca - 2008).

Custos operacionais

para a frota (%) Custos associados às remuneraçõesde base para a frota (%) Custos operacionais por embarcação

Custos associados às remunerações de base por embarcação

Cerco 14 085 578 (34%) 11 599 888 (28%) ± 146 880 ± 120 960

Polivalente 49 569 593 (34%) 40 822 018 (28%) ± 80 580 ± 66 360

aspectos mais difíceis de se estimar, tendo--se optado por usar um valor médio nacional que serve apenas como indicador. Assim, com base em informações do Instituto Nacional de Estatística para o ano de 2008, cerca de 34% da produção é gasta em custos operacionais (combustíveis, manutenção, arranjos, etc.) e cerca de 28% dessa mesma produção é gasta a cobrir custos laborais (Tabelas 6.3).

Pinger colocado numa r

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Custos de Gestão decorrentes do uso de medidas de mitigação

Para a ACB serão avaliados os custos de ges-tão associados à introdução nas artes da pes-ca de dispositivos acústicos (vulgo, pingers) nas redes de emalhar, tresmalho e do cerco e também aqueles associados à substituição das redes de emalhar e de tresmalho por re-des acústicas. Estas são as únicas medidas de mitigação para as quais será fácil estimar os custos associados à sua implementação. Os restantes custos serão estimados em função das perdas previstas nos lucros, sendo apre-sentadas na tabela de síntese de custos e be-nefícios (Tabelas 6.5 e 6.6).

Relativamente à pesca de cerco, tendo em conta a especificidade da arte e a experiên-cia dos pescadores, concluiu-se ser apenas necessário colocar entre três a cinco pingers espaçados de forma igual na zona central da rede e afastados da chalandra, de forma a criar uma zona de exclusão próxima da rede, mas deixando uma zona de fuga onde a rede é fechada para obter o necessário espaço (zona) de exclusão de cetáceos. Nas redes de tresmalho e emalhar, para obter a designada zona de exclusão de cetáceos, é necessário colocar um pinger por cada 100 m de rede, tal como indicado nas especificações técnicas de utilização dos pingers FUMUNDA. No caso das

Tabela 6.4. Estimativa de custos em relação ao uso de pingers.

(*) Valores de 2009 para FUMUNDA PINGERS - 10 KHZ

Arte de Pesca Custo Unitário Nº de Pingers Custo Final

Cerco

65 € por cada pinger (*)

3 a 5 por cada rede 195 a 325 € por cada rede

Emalhar e Tresmalho 10 por cada km de Rede 650 € por cada km de rede

Rede Xávega 6 a 8 por rede 390 a 520 € por cada rede

redes de xávega, deverão ser colocados 3 a 4 pingers em cada uma das asas da rede, sendo que os primeiros pingers devem estar coloca-dos junto à entrada do saco e os últimos no fim das asas junto ao local de inserção dos cabos de alagem.

Desta forma, a colocação de pingers nas redes das diferentes pescarias teria os custos apre-sentados na tabela 6.4.

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Relativamente à substituição das redes actual-mente utilizadas nas artes de redes de emalhar e de tresmalho pelas redes acústicas desenvolvi-das pela BETTER GEAR LLC, estima-se um acrés-cimo de 30 % em relação aos custos actuais. Adicionalmente, foram estimados custos de manutenção anuais (de substituição de bate-rias e de perdas, no caso dos pingers, e de per-das e destruição, no caso per-das redes acústicas) na ordem de 5 a 10% dos custos iniciais das alterações introduzidas nas artes das pescas.

Síntese de custos e benefícios

A não implementação de medidas de miti-gação de capturas acidentais resulta em ele-vados custos para a conservação de espécies ameaçadas. Contudo, também resulta num aumento dos custos para a própria actividade costeira. Estes custos podem revelar-se a nível ambiental, mas representam claramente cus-tos a nível social e económico. A nível social é importante saber que a captura de espécies

ameaçadas afecta a imagem do pescador, mas para pescas como a da sardinha, pode afectar a viabilidade do processo de certificação. Ao nível económico, apesar da maior parte dos pescadores assumir que os danos nas artes provocados pelos cetáceos não são significati-vos, a realidade é que as interacções frequen-tes com cetáceos fragilizam as arfrequen-tes de pesca, diminuem a sua eficácia e contribuem para que estas tenham um menor tempo de vida.

Grupo de baleias-pilot

o na proximidade de bar

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Tabela 6.5. Síntese dos riscos decorrentes da não implementação de medidas de mitigação.

Tipologia Custos para os pescadores Custos para a conservação

Ambiental

Elevada mortalidade de cetáceos por

captura acidental Não há riscos directos para os pescadores mas indirectamente poderão vir a ser afectados pelos custos para a conservação

Risco de alteração do estatuto de conservação das espécies e necessidade de implementar medidas mais drásticas de conservação

Alteração da estrutura trófica das comunidades marinhas (causada pela diminuição do número de cetáceos)

Desequilíbrio nos stocks de espécies pelágicas: risco de aumento descontrolado causando desequilíbrio

à posteriori das comunidades planctónicas e

consequente declínio dos stocks de peixes pelágicos a médio-longo prazo; risco de diminuição devido ao aumento de alguns peixes predadores que competem com os cetáceos

Aumento de algumas espécies de peixes predadores (ex. tubarões) que poderão levar a um desequilíbrio das comunidades marinhas em geral, com uma diminuição das espécies não predadoras e especialmente as pelágicas

Aumento da quantidade de cadáveres de

cetáceos arrojados Não há riscos directos para os pescadores Aumento dos custos relacionados com a recolha e processamento de animais arrojados pelas entidades responsáveis por este processo

Social

Promoção de uma imagem negativa do

sector das pescas Um aumento da mortalidade pelas pescas pode contribuir para uma degradação da imagem do