• Nenhum resultado encontrado

Características sócio-económicas da pesca artesanal

O sector das pescas apresenta um peso rela-tivamente baixo na economia nacional. A po-pulação relacionada com a pesca representa cerca de 0,3% da população activa com mais de 12 anos de idade e cerca de 6,9% da po-pulação empregada no sector primário (INE, 2010). No entanto, se analisarmos o impacto do sector das pescas a nível local ou regional, verifica-se que este sector tem um forte im-pacto social na medida que a pesca funciona como um factor de fixação das populações, existindo muitas comunidades ao longo da costa que têm a pesca como a sua actividade principal (PO Pesca 2007-2013).

Os profissionais da pesca distribuem-se maio-ritariamente entre os grupos etários dos “35 a 44 anos” e dos “45 a 54 anos”, corresponden-do no seu conjunto a cerca de 60% corresponden-do total. A maioria dos pescadores matriculados en-contram-se registados na região Norte (27%), na região Centro (21%) e no Algarve (19%). Quanto ao nível de ensino da população da pesca, este é na sua generalidade baixo. Cer-ca de 75% da população possui habilitações

abaixo do 3.º ciclo do ensino básico, sendo que destes, 55% apenas tem o 1.º ciclo do en-sino básico (INE, 2010).

A maioria dos profissionais do sector das pes-cas é trabalhador por conta de outrem (73% do total) e cerca de 27% são patrões ou traba-lhadores por conta própria. Ao longo das últi-mas décadas tem-se observado um aumento do número de patrões ou trabalhadores por conta própria, enquanto que o número de trabalhadores por conta de outrem tem vindo

Pescadores a preparar as redes de c erco

54

Um outro factor de extrema importância só-cio-económica é o elevado preço que o pes-cado proveniente da pesca artesanal pode atingir na primeira venda (venda em lota que reverte directamente para o pescador/ mestre). Este elevado preço de primeira ven-da advém do facto de as espécies capturaven-das serem espécies valiosas, como é o caso do lin-guado, do robalo, dos sargos, das lulas, entre outros. Além disso, estas espécies quando são

A pesca poliv alente en

volve menos pescador es por embar cação e captur a espécies de elev ado v alor c omer cial. A pesca poliv

alente usa div

ersas artes em simultâneo , algumas c

om menor impac

te sobre os c

etáceos, como por exemplo as ar madilhas.

descarregadas em lota apresentam condições de frescura bastante superiores às do pesca-do proveniente de outros segmentos, pois na pesca artesanal as viagens têm normalmente uma duração inferior a 24 horas, não sendo por isso necessário recorrer a refrigeração ou congelação. De facto, a frota artesanal opera na proximidade da costa, permitindo que al-guns peixes ainda cheguem vivos à lota (Sou-sa, 2008).

55

As embarcações são normalmente classifi-cadas de acordo com as artes de pesca que utilizam, tais como o arrasto, o cerco e o po-livalente. As embarcações polivalentes estão equipadas para usar mais do que uma arte de pesca sem modificar a sua estrutura base, po-dendo vir a utilizar artes de redes de emalhar

2008 2009 2010

Artes Tipo de pescado N.º GT (e) Pot (Kw) N.º GT (e) Pot (Kw) N.º GT (e) Pot (kw) Variação no n.º de embarcações 2010/2008

Polivalente Demersais 7.086 28.795 187.050 7.025 28.625 187.830 6.945 28.164 185.609 - 2,03 % Arrasto Demersais (+ carapau) 96 17.845 47.527 83 15.385 39.771 77 14.355 36.674 - 24,67 % Cerco Pequenos pelágicos 125 6.198 30.258 124 6.130 29.521 121 6.014 28.997 - 3,30 %

TOTAL 7.307 52.838 264.835 7.232 50.140 257.121 7.143 48.533 251.280

2008 2009 2010 Variação 2010/2008 %

Dias mar/frota 1.455.060 1.440.600 1.423.100 - 2,25 %

Descargas totais (t) 158.223 136.855 148.994 - 6,19 %

Arrasto 18.381 15.408 14.533 - 26,68 %

Descargas por arte (t) Cerco 80.472 64.471 72.681 - 10,72 %

Polivalente 58.474 56.520 61.516 + 4,95 %

Características técnicas das embarcações de pesca

ou tresmalho, palangre ou armadilhas. Anali-sando a frota registada em 2010, observa-se uma prevalência de embarcações polivalentes que possuem um comprimento fora-a-fora in-ferior a 12 metros.

Entre 2008 e 2010, registou-se um ligeiro de-créscimo no número total de embarcações.

Este decréscimo foi mais acentuado ao nível dos arrastões, onde se observou um decrés-cimo de 19,79%. Em 2009, os desembarques totais da frota de Portugal Continental corres-ponderam a 148.994 toneladas, dos quais 49 % foram descarregados pelo cerco, 10 % pelo arrasto e 41 % pela frota polivalente.

t - toneladas

Tabela 3.2. Frota Portuguesa entre os anos 2008 e 2010.

56

57

Barcos de cerco a saírem par a a faina.

mente recolhidos. Este procedimento é desig-nado por alagem. À medida que a alagem pro-cede, o volume do saco vai diminuindo o que aumenta a densidade do pescado, até que se verifiquem as condições para poder transbor-dar o pescado para a traineira com a ajuda de chalavares (Marçalo, 2009).

As principais espécies alvo do cerco em Por-tugal continental são os pequenos pelágicos: a sardinha, a cavala e o carapau. Também são capturam outras espécies pelágicas com algum relevo como o biqueirão e o carapau-negrão, assim como muitas espécies de sparideos, prin-cipalmente no Sul do país.

Polivalente

Uma das principais características da frota polivalente é o uso em simultâneo de mais que uma arte de pesca. Esta situação é mais comum no uso das artes passivas, sendo que são muitas as combinações de artes possíveis, dependendo da tradição e costumes de cada mestre. Estas associações de artes de pesca

Cerco

O cerco é uma pescaria particularmente usada para capturar peixes pelágicos que agregam ou formam cardumes na coluna de água. A sua operacionalidade consiste em detectar o cardume, normalmente usando aparelhos electrónicos acústicos para detecção de peixe (ex. sondas), e imediatamente circunscrever o cardume usando redes que podem ter no máximo 750 m de comprimento e mais de 100 m de altura. Normalmente, é utilizada uma pequena embarcação auxiliar (chalandra ou chata) que é usada para fixar uma das pontas da rede enquanto a embarcação principal (trai-neira) circunda o cardume e completa o circu-lo. O processo de circundar o cardume chama--se largada da rede. A rede flutua com a ajuda de bóias ou flutuadores e cai na vertical com a ajuda de chumbos e argolas no fundo. A corda (retenida) que passa pelos chumbos no fundo é imediatamente puxada fechando a rede em forma de saco, o que evita a fuga do pescado. O saco é trazido para um dos lados da traineira (bombordo) e os panos de rede são