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Interacções entre cetáceos e artes de pesca

como a captura de espécies que não são alvo da pescaria em questão (pesca acessória). Re-fere-se a espécies sem valor ou baixo valor co-mercial tais como alguns peixes, cefalópodes, crustáceos e inúmeras espécies de grupos ameaçados tais como tartarugas marinhas, aves e mamíferos marinhos.

Os conflitos cetáceos-pescas têm duas com-ponentes, uma operacional, em que por exemplo os animais ficam presos nas artes de pesca levando por vezes à morte acidental ou a danos nas artes, e outra biológica em que os cetáceos competem com a pescaria, consu-mindo os recursos e/ou danificando a captura (depredação). Ambas as componentes (ope-racional e biológica) acontecem na maioria das vezes em simultâneo o que implica que a mitigação do conflito ao nível operacional, contribui muitas vezes para a solução da se-gunda tipologia de conflitos (ICES 2010).

A maior parte da investigação na área das in-teracções entre pescas e cetáceos tem-se fo-cado na mortalidade acidental, um problema que tem levantado sérias preocupações sobre o estado de conservação das populações de inúmeras espécies. Na Europa, grande parte do trabalho em mortalidade acidental em artes de pesca refere-se ao bôto, espécie par-ticularmente abundante no Atlântico Norte. Outra espécie de grande preocupação tem sido o golfinho-comum, que é uma espécie bastante abundante no Atlântico Sul Euro-peu. Para ambas as espécies, as pescarias responsáveis pelo maior registo de capturas acidentais são as redes de emalhar e tresma-lho e as redes de arrasto pelágico, que não são utilizadas em águas territoriais portuguesas (Hammond et al. 2009, ICES, 2010). Em Portu-gal, existem referências que a arte de xávega por vezes captura efectivos de ambas as espé-cies, sendo preocupante a captura sistemática de pares mãe-cria de bôto.

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As estimativas de mortalidade acidental em artes de pesca podem ser obtidas recorrendo a inquéritos, observadores a bordo de embar-cações de pesca, sistemas de monitorização electrónica ou através de declarações volun-tárias de pescadores. A relação entre estes valores e estimativas populacionais para cada espécie de cetáceo, em conjunto com mode-los estatísticos complexos que envolvem

vá-rios factores (ex. morte por captura acidental;

tamanho da população; ritmo de crescimento da população na ausência de captura aciden-tal; tamanho a que a população pode chegar na ausência de captura acidental) permitem o cálculo do valor máximo de remoção de animais de uma espécie de cetáceos por cap-tura acidental, também chamado limite de remoção de segurança, por se achar que não

compromete a população a nível biológico. Internacionalmente (ASCOBANS), foi assumi-do que este valor não deve ultrapassar os 2% de remoção em relação à melhor estimativa

de abundância de uma determinada popu

la-ção. Posteriormente, e de forma preventiva, recomendou-se que este valor fosse de 1,7% para o bôto.

Só mais recentemente e com particular in-cidência nos últimos 15 anos, começaram a surgir trabalhos sobre a competição pelos mesmos recursos, entre cetáceos e pescas co-meçaram a surgir com mais frequência. Estes trabalhos demonstram que esta questão en-volve uma dinâmica muito complexa, onde é necessário relacionar as flutuações anuais dos stocks das presas e as flutuações na abundân-cia das várias espécies de cetáceos (predado-res). Nesta relação dinâmica, é obrigatório en-trar em linha de conta com a quantificação da dieta dos cetáceos que varia de espécie para espécie. (Northridge, 1992).

Trabalhos recentes que consideraram a abun-dância da população de várias espécies de

cetá-Entrega v oluntária de um golfinho -comum captur ado numa r ede de tr esmalho

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ceos, a biomassa total de presas e os consumos diários, revelaram que os cetáceos podem con-sumir até ao triplo da biomassa do pescado cap-turado por artes de pesca para consumo huma-no. No entanto, mais de 60% desta quantidade de pescado consumido por cetáceos correspon-de a espécies sem interesse comercial. Desta forma, a competição directa dos cetáceos com as pescarias comerciais é inferior, assumindo-se que outros peixes predadores de topo possam também ser importantes consumidores de es-pécies de peixe com interesse comercial (Trites & Pauly 1997, Bearzi et al. 2010).

Interacções entre cetáceos

e artes de pesca na costa portuguesa

Em Portugal, a monitorização de interacções entre cetáceos e artes de pesca, assim como a avaliação dos níveis de capturas acidentais, é escassa. Antes do início do século XXI havia poucos registos, sendo de salientar o trabalho

de Sequeira (1990) com a indicação de que golfinhos-comuns eram frequentemente cap-turados em pescarias costeiras portuguesas, estando pelo menos 47% destas capturas re-lacionadas com redes de emalhar e tresmalho. Mais recentemente, padrões de mortalidade de golfinhos-comuns ao longo da costa portu-guesa usando dados de arrojamentos revela-ram que interacções com pescas causam cerca de 44 - 54% % de mortalidade (Silva & Sequei-ra, 2003, FerreiSequei-ra, 2007, Marçalo et al., 2010). Ainda antes do início do projecto SAFESEA, dados sobre interacções entre cetáceos e pes-carias portuguesas foram apenas recolhidos por observadores independentes, quase exclu-sivamente na pesca de cerco (Wise et al., 2007). Assim, é notória a limitação que existe na in-formação disponível em Portugal sobre a te-mática, sendo necessário e urgente identificar os factores que levam às interacções, as prin-cipais pescarias envolvidas, a possível dimen-são da mortalidade e aplicar medidas que possam mitigar estes problemas. Como mem-bro da Comunidade Europeia, Portugal está

obrigado a aplicar medidas para obter dados científicos sobre captura acidental de cetáce-os (Regulamento do Concelho nº 812/2004 de 26/04/2004). Com base neste regulamen-to, Portugal tem que implementar esquemas com observadores em embarcações superio-res a 12 metros e definir projectos piloto para avaliar capturas acidentais em embarcações de menor tamanho.

Contribuição do projecto SAFESEA

O projecto SAFESEA correspondeu ao primei-ro esforço integrado direccionado para uma estimativa do grau de interações de cetáceos com as várias pescarias a operar na costa por-tuguesa, particularmente a pesca de cerco, a polivalente (com especial foco nas redes de emalhar/tresmalho) e arte xávega. A uma me-nor escala, foram recolhidos também dados sobre as artes do arrasto de fundo e sobre o palangre. Este trabalho foi conseguido através

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Interacção de uma baleia-anã c

om uma embar

cação de pesca poliv alente

da realização de inquéritos a mestres ou con-tramestres das embarcações, recolha de decla-rações voluntárias sobre capturas acidentais e observação directa com observadores inde-pendentes em barcos de pesca. A informação recolhida teve como objectivo base perceber a operacionalidade da pesca (pesqueiros, esfor-ço de pesca, espécies alvo, tipo de arte), a exis-tência de interacções com cetáceos (presença/ ausência de cetáceos durante as operações de pesca, comportamento dos cetáceos, número de cetáceos ou outras espécies marinhas cap-turadas por ano) e o tipo de interacção (em que fase da operação de pesca a interacção aconte-ce, espécies mais frequentemente envolvidas,

que tipos de danos ou prejuízo material; de-predação; tempo de pesca).

De 2009 a 2010, foram monitorizados 13 por-tos de pesca (Vila Praia de Âncora, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Matosinhos, Aveiro, Figueira da Foz, Nazaré, Peniche, Sagres, La-gos, Portimão, Quarteira e Olhão), tendo sido validados para análise 328 inquéritos. Desta informação, foi revelado que pelo menos num período de 1 ano, 865 cetáceos pertencen-tes a 7 espécies e 1 espécie de misticepertencen-tes não identificado foram capturados acidentalmente (Tabela 4.1). Estas capturas resultaram numa mortalidade de 555 cetáceos, o que corres-ponde a sensivelmente 64% das capturas. De uma forma geral, o golfinho-comum foi a espécie mais reportada em todas as artes de pesca. Na arte de xávega, ocorreu também uma forte captura de bôtos, enquanto que o roaz-corvineiro foi mais capturado pelas pes-cas polivalentes e pelo palangre de fundo. No caso da pesca do cerco, foi possível entre-vistar 86 embarcações (70% da frota nacional).

Os mestres destas artes declararam, num ano, 442 capturas acidentais, das quais 167 resulta-ram em animais mortos, facto que correspon-deu a uma percentagem de mortalidade de 37,8%. Foi possível ainda registar que apenas 14% dos entrevistados não referiram capturas acidentais em 2009/2010. Todas as capturas reportadas corresponderam ao golfinho-co-mum, sendo que o valor médio de capturas num ano por barco foi de 1,9 cetáceos. Esta arte, em anos anteriores, capturou todas as outras espécies referidas na tabela 4.1, sendo que na maioria das vezes as espécies de maior porte foram sempre libertadas vivas. No caso da xávega, supõe-se que foi possível entrevistar 50% da frota nacional, sendo que a maioria dos inquéritos foram realizados en-tre Espinho e Nazaré. Em 2009/2010, 35% dos inquiridos não reportou capturas acidentais, mas salientaram que em anos anteriores ti-veram capturas. Neste período, ocorreram 19 capturas de 3 espécies, com 16 animais mor-tos (93,8% de mortalidade) e com uma média de 0,8 cetáceos por barco num ano. A espécie

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dominante continua a ser o golfinho-comum, ainda que esta arte seja responsável por uma forte mortalidade de bôtos.

No caso do arrasto, o SafeSea recolheu infor-mação com base em inquéritos a cerca de 37% da frota. Para esta arte apenas 13% dos inquiridos não declararam capturas aciden-tais. Todas as capturas declaradas (135 cetáce-os de 5 espécies) resultaram em mortalidade, sendo que a espécie mais afectada foi o gol-finho-comum, seguida do golfinho-riscado. É de salientar que a estimativa de capturas de golfinho-riscado pode estar sub-avaliada devido a confusão na identificação. A média de capturas de cetáceos por barco foi a mais elevada de todos as artes, com 4,4 cetáceos. Este facto fica a dever-se a uma série de de-clarações com 10 ou com mais de 10 animais num único evento de captura.

A pesca polivalente foi aquela que apresentou mais inquéritos efectuados, mas apenas cobriu 35% da frota de embarcações com mais de 10 metros e cabinada. Dos inquiridos, 24%

decla-rou que no período de um ano não tiveram capturas acidentais, mas quase 100% referiu ter tido capturas em anos anteriores. Foram declaradas 261 capturas de cetáceos de 5 es-pécies, que resultaram em 229 mortos (88% das capturas totais), com um valor médio de 1,3 cetáceos mortos por barco . A espécie mais capturada voltou a ser o golfinho-comum, se-guida do roaz-corvineiro e do bôto.

No caso do palangre de fundo foram apenas realizados 16 inquéritos, facto que corres-ponde a cerca de 40% da frota nacional. Esta arte foi aquela que reportou menos capturas sendo que 56% dos inquiridos disseram não ter capturas acidentais de cetáceos. Para o ano de 2009/2010 apenas foram registadas 8 capturas acidentais que resultaram em 100% de mortalidade, com uma média de 0,5 cap-turas por barco. Foram capturadas 3 espécies, havendo predomínio do golfinho-comum (na maior parte das vezes por emaranhamento) e de roaz-corvineiro. Para esta última espécie, foram registadas inúmeras queixas de depre-dação nas artes.

Bôtos (progenitor

a e cria) capturados em ar

te de xávega.

Arrojamento de roaz-corvineiro capturado por arrastão.

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Arte de pesca Nº de inquéritos % da Frota Nacional Capturas acidentais totais Total de mortes (média por inquérito) % mortalidade Espécies capturadas % Mortalidade

Cerco 86 70 442 167(1,9) 37,8 % Golfinho-comum 100 Roaz-Corvineiro 0 Baleia-Anã 0 Grampo 0 Baleia-Piloto 0 Xávega 20 50 19 16(0,8) 93,8 % Golfinho-comum 66,67 Bôto 27,78 Roaz-Corvineiro 5,55 Arrasto 31 37 135 135(4,4) 100 % Golfinho-comum 96,30 Golfinho-riscado 1,48 Roaz-Corvineiro 0,74 Baleia-Piloto 0,74 Baleia-NI 0,74 Polivalente geral 175 35 261 229(1,3) 87,7 % Golfinho-comum 90,82 Golfinho-riscado 0,89 Bôto 1,75 Baleia-Piloto 0,89 Roaz-Corvineiro 5,67 Polivalente - Palangre (Fundo) 16 40 8 8(0,5) 100 % Golfinho-comum 50,00 Roaz-Corvineiro 37,50 Baleia-Piloto 12,50 Totais 328 865 555(1,7) 64,2 % 7 espécies

Tabela 4.1. Dados obtidos nos inquéritos realizados de 2009-2010.

Os dados dos inquéritos foram a base da preparação de um programa de monitorização baseado em observadores e em declarações voluntárias. Este programa foi apenas direccionado para as artes do cerco, polivalente e xávega.

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perto de 494 barcos de pesca polivalente com mais de 10 metros, nem todos os barcos po-dem estar a operar durante todo o ano e não se sabe o número de dias que usam redes de ema-lhar ou de tresmalho (insere-se numa pesca polivalente em que são usadas outras artes de pesca consoante a época do ano e as espécies alvo; e.g., armadilhas, palangre de fundo). Para agravar a situação, também não existe registo do número de redes por barco. É por isso muito difícil calcular o esforço de pesca (número de dias de pesca para a frota) para a pescaria com redes de emalhar/tresmalho, o que dificulta a generalização dos valores de captura aciden-tal. Com base nos registos das embarcações que foram monitorizadas, pode assumir-se que as redes de tresmalho/emalhar são usadas em 60% do tempo de esforço de pesca no mar. Assim , pu demos corrigir o nosso esforço de monitorização em função do esforço de pes-ca estimado com artes de emalhar/tresmalho,

sendo que o esforço de monitorização poderá ter coberto 0,27% do esforço nacional de pesca com redes de emalhar/tresmalho e 0,51% do esforço de pesca com redes de emalhar/tres-malho na área de estudo.

Área Fonte de dados Viagens Nª eventos de pesca Captura média por evento de pesca (Kg) Nº interacçõespor evento (valores efectivos) Nº capturas por evento (valores efectivos) Nº mortes por evento (valores efectivos) Espécies a interagir Norte/ Centro Observadores 161 352 51 0,122 (43) 0,037 (13) 0,026 (9) Golfinho-comum Roaz-corvineiro Baleia-piloto

No que se refere às pescas polivalentes, pela primeira vez efectuou-se a monitorização de embarcações conforme o Regulamento do Concelho nº 812/2004 de 26/04/2004. Através da cooperação com os mestres de 14 embarcações, foi possível efectuar 161 via-gens, com um total de 161 eventos de pesca com redes de tresmalho/emalhar. Durante estas campanhas ocorreram 43 eventos de interacções com cetáceos pertencentes a 3 es-pécies. Estes eventos resultaram na captura de 13 animais e na morte de 9 animais, resultando numa estimativa de 0,026 cetáceos mortos por evento de pesca. Todos os casos de mortalida-de registada foram mortalida-de golfinho-comum. Infelizmente, devido ao tamanho da frota po-livalente, estes embarques resultaram apenas num esforço de monitorização de 0,16% da frota nacional e de 0,31% da frota que opera na área de estudo. Contudo, embora existam

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A realização de necr

ópsias detalhadas é impor tante par

a a recolha de tecidos e par

a validar a a

valiação das causas de mor te

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Através da cooperação com 6 mestres de embarcações do cerco, foi possível realizar 332 viagens, com 541 eventos de pesca. Este esforço de monitorização resultou numa co-bertura de 2,32% da frota nacional do cerco. Para este esforço contou-se também com o preenchimento de declarações voluntárias por parte de alguns dos mestres. O esforço de monitorização foi nacional, mas com um cla-ro predomínio da zona centcla-ro. Com base nos observadores embarcados apenas foi possível registar um evento que resultou na morte de um indivíduo, na região Algarvia.

Nos logbooks foram registadas mais 60 captu-ras acidentais que resultaram em 27 animais mortos concentrados no período entre o final do verão e o início da primavera num cenário

Área Fonte de dados Viagens (n) Lanços ou eventos (n) Captura Média por lanço (t) Nº interacções por evento (valores efectivos) Nº capturas por evento (valores efectivos) Nº mortes por evento (valores efectivos) Espécies a interagir

Norte Observadores 31 60 1,5 0,083 (5) 0 (0) 0 (0) Golfinho-comum

Centro Observadores 49 90 3,9 0,211 (19) 0 (0) 0 (0) Golfinho-comum

Logbooks 228 351 9,3 0,140 (49) 0,168 (59) 0,077 (27) Golfinho-comum

Sul Observadores 24 40 5,4 0,275 (11) 0,025 (1) 0,025 (1) Golfinho-comum

Total 332 541 5,0 0,155 (84) 0,111 (60) 0,052 (28) Golfinho-comum

Tabela 4.3. Resultados da monitorização com observadores e declarações voluntárias (logbooks).

que foi considerado como fora do normal pe-los mestres das embarcações. Alguns destes eventos referem-se a capturas múltiplas com mais de 5 animais. Em todas as situações, a única espécie envolvida foi o golfinho-co-mum. Os resultados obtidos evidenciam que as capturas acidentais pelo cerco foram em média de 0,052 animais mortos por evento, sendo que regionalmente estes valores varia-ram entre 0 e 0,077.

A procura sistemática de cadáveres ar

rojados em determinadas zonas da área de estudo, é uma importan

te fonte de informação

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t - toneladas

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Área Fonte de dados Dias (n) Lanços (n)  Nº interacções(por evento) Nº capturas(por evento) Nº mortes(por evento) Espécies a interagir

Centro Observadores 149 292 0,021 (6) 0,038 (11) 0,004 (1)0,017 (5) Golfinho-comumBôto

Tabela 4.4 Resultados da monitorização com observadores na arte de xávega.

A monitorização da arte de xávega por obser-vadores não foi efectuada nas embarcações mas a partir de observadores na praia. Estes observadores usaram binóculos para monito-rizar todo o processo de pesca e registar pos-síveis interacções que podiam ocorrer ainda quando a rede estava longe da praia. Foram monitorizados 149 dias de pesca com 292 lanços, o que correspondeu a uma moni-torização de sensivelmente 3,3% do esforço de pesca nacional com este tipo de arte. Nes-ta arte foram regisNes-tados 6 eventos de captura acidental que resultaram na captura de 11 animais, dos quais 5 foram libertados vivos. Os eventos envolveram 2 espécies, sendo que no caso do bôto todos os eventos resultaram na morte dos animais. Para o presente perío-do de monitorização, o número de cetáceos mortos por evento foi de 0,004 para o golfi-nho-comum e 0,017 para o bôto.

A percepção do sector das pescas sobre as interacções entre as pescas e cetáceos

Com base na informação recolhida nos traba-lhos de campo do SafeSea, é perceptível que é necessária alguma sensibilidade para abor-dar a problemática entre o sector das pescas e a conservação dos cetáceos.

Na actualidade, a comunidade piscatória re-vela ter opiniões mistas ou neutras em rela-ção à presença de cetáceos no mar. Embora uma pequena percentagem dos mestres ou contra mestres apresente tanto razões po-sitivas (cetáceos não interferem muito, são companhia, juntam o peixe) como negativas (cetáceos competem com os recursos, dis-persam o peixe), a maioria respondeu com indiferença, revelando que são neutros, que existe uma mistura de aspectos positivos e negativos e que se resignam a uma história da vida natural.

Por exemplo, para o cerco, no que diz respeito à componente do impacto , o maior problema encontrado é o facto dos cetáceos dispersa-rem o pescado e assim aumentadispersa-rem o esforço de pesca e maior consumo de combustíveis. Tal situação poderá ocorrer em zonas onde ocorre uma forte concentração de cetáceos e onde os mestres adoptam medidas mitigado-ras para reduzir os conflitos. No caso da zona centro de Portugal, o esforço de pesca é ligei-ramente superior na presença de cetáceos, mas apesar desse contra-tempo, as capturas são similares. No entanto, na costa Algarvia, foi verificado que a presença de cetáceos re-sulta num menor esforço de pesca e numa maior captura de pescado.

No que diz respeito a outras artes de pesca, nomeadamente nas redes de emalhar, tres-malho ou palangre, o maior problema a nível económico advém de prejuízos por danos nas artes, ou danificação da captura (depreda-ção). No caso do emalhar e tresmalho, a

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de maioria dos pescadores evidenciou que os danos mais graves ocorrem com cetáceos de maior tamanho, como o roaz-corvineiro, sen-do que poucos são os prejuízos económicos atribuídos ao golfinho-comum.

No entanto, em algumas zonas e principal-mente para a arte do palangre de fundo, exis-te um conflito laexis-tenexis-te entre as pescas e algu-mas espécies de cetáceos que efectuam pre-dação activa nesta pescaria. A resolução deste conflito passa por uma clara monitorização do fenómeno e uma procura conjunta entre investigadores e pescadores de soluções que reduzam a predação.

Os inquéritos e as observações a bordo reve-laram também que, particularmente no cerco, a maioria dos mestres apresenta medidas de mitigação voluntárias para evitar interacções ou capturas acidentais de cetáceos. Estas me-didas são, por exemplo, navegar para outro pesqueiro quando surgem cetáceos ou esperar

que eles desapareçam da área antes de largar. Em outras artes de pesca tais medidas são mais difíceis de pôr em prática devido à