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Desenhos Tokio. Design e Impressão Rui Carvalho Design

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Academic year: 2021

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Manual de Apoio

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Textos

José Vingada, Marisa Ferreira, Jorge Santos, Hélder Araújo, Isabel Oliveira, Sílvia Monteiro, Ana Marçalo, Lídia Nicolau, Célia Tavares e Catarina Eira. Desenhos

Tokio Fotografia

José Vingada, Marisa Ferreira, João Petronilho, João Quaresma, Joana Miodonski, Ana Henriques, Jorge Santos, Filipe Leigo, Isabel Oliveira.

Design e Impressão Rui Carvalho Design Citação recomendada

Vingada, J., Ferreira, M., Marçalo, A., Santos, J., Araú-jo, H., Oliveira, I., Monteiro, S., Nicolau, L., Gomes, P., Tavares, C. & Eira, C. (2011), SafeSea - Manual de Apoio para a Promoção de uma Pesca Mais Susten-tável e de um mar seguro para cetáceos; Programa EEAGrants - EEA Financial Mechanism 2004-2009 (Projecto 0039). 114 pp. Braga.

Coordenação

José Vingada e Pedro Gomes Gestão do projecto Célia Tavares Manual de apoio para a proMoção

de uMa pesca Mais sustentável e de uM Mar seguro para cetáceos

Página de Internet Filipe Rocha Técnicos de campo

Marisa Ferreira, Isabel Oliveira, Jorge Santos, Hélder Araújo, Sílvia Monteiro, Rute Costa, Catarina Eira, Jorge Vaqueiro, Ana Marçalo, Lídia Nicolau, Carolina Bento, Paula Mendez Fernandez, Angela Llavona Vallina, Josep Alonso Farré, Maria Llarena Reino, Sa-bine Goetz, Fiona Read, Ana Henriques, Joana Mio-donski, Paulo Landeck.

Técnicos de Laboratório

Magda Graça, Amaro Rodrigues, Pedro Santos e Jo-ana Ferreira

Consultores

Arne Bjorg (IMR), Alfredo Lopéz (CEMMA) e Graham Pierce (Univ. Aberdeen)

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Entidade Financiadora

Financiado por Islândia, Liechtenstein e Noruega através do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu

Entidades participantes

Universidade do Minho - Dep Biologia/CBMA Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem Coordinadora para o Estudo dos Mamíferos Mariños Institute of Marine Reseach

Centro Litoral O.P. VianaPesca O.P.

Entidades colaboradoras

Centro de Estudos sobre Ambiente e Mar - Universidade de Aveiro (CESAM) Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR)

Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB)

Associação Nacional das Organizações dos Produtores da Pesca do Cerco (ANOPCERCO) Instituto de Investigaciones Marinas de Vigo (IIM/CSIC)

Centro Oceanografico de Vigo (COV/IEO) University of Aberdeen, OceanLab

Université de La Rochelle, Littoral Environnement et Sociétés (LIENSS) Universitat de Barcelona, Facultat de Farmácia (UB)

Fumunda Marine BetterGear, LLC

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Projecto premiado pelos Green Project Awards com a Menção Honrosa na categoria “Investigação e Desenvolvimento”.

Este prémio não é só para a equipa do SafeSea, é também um reconhecimento do apoio e ajuda que armadores, mestres e pescadores têm dado ao projecto. Sem o seu apoio este projecto não seria possível.

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Índice

CAPÍTULO 1

Introdução

09

CAPÍTULO 2

Espécies de Cetáceos em Portugal Continental

15

CAPÍTULO 3

As pescas em Portugal Continental

49

CAPÍTULO 4

Interacções entre cetáceos e artes de pesca

65

CAPÍTULO 5

Medidas de mitigação para reduzir a captura acidental de cetáceos em artes de Pesca

79

CAPÍTULO 6

Análise de custo-benefício para a aplicação de medidas de mitigação

97

REFERÊNCIAS

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Capítulo 1

Capítulo 1

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8

Alagem da r ede de c

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A pesca em Portugal foi sempre uma fonte de rendimento importante, principalmente para as comunidades costeiras. Com uma tradição marítima bastante forte, Portugal possui artes de pesca bastante diversificadas que variam regionalmente em termos de tecnologia e métodos de pesca utilizados.

As interacções existentes entre as artes de pesca e os cetáceos envolvem quase todos os tipos de artes e têm consequências negativas quer para a economia pesqueira quer para o estado de conservação de várias espécies de cetáceos. Estas interacções normalmente to-mam duas formas: a captura acidental de ce-táceos e a predação efectuada pelos mesmos, levando à perda de pescado e danificação dos aparelhos de pesca.

O Projecto SAFESEA, através de um envolvi-mento estratégico com duas associações de pesca local, manteve entre 2008 e 2011 um programa de monitorização com o objecti-vo de recolher dados científicos de base, de modo a:

Introdução

- Avaliar o estado das populações de cetáceos, - Avaliar as capturas acidentais de cetáceos

nas artes de pescas, e

- Implementar ensaios piloto de dispositivos de alerta, que visam diminuir a captura aci-dental de cetáceos.

A área inicial de implementação do projecto SAFESEA foi a zona centro e norte de Portu-gal, entre Peniche e Caminha, cobrindo uma faixa costeira de cerca 300 km. A área mari-nha monitorizada estendeu-se desde a limari-nha de costa até às 50 milhas náuticas, cobrindo a totalidade da plataforma continental e do seu talude. Nesta área é possível encontrar alguns dos principais portos de pesca de Por-tugal e também importantes comunidades piscatórias locais que dependem da pesca tradicional. Em 2010, o projecto SafeSea teve a oportunidade de aplicar na região Algarvia as metodologias já em uso nas regiões Norte e Centro, tendo por isso ampliado a sua área de intervenção em mais 200 km.

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Golfinho -comun

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O presente Manual, pretende ser um docu-mento de divulgação e de apoio direccionado à comunidade de pescadores das artes poli-valente, cerco e de xávega. Este documento pretende apoiar a continuação das acções já iniciadas pelo SafeSea e mostrar que a pro-moção de acções de conservação só é possí-vel com o envolvimento directo das comuni-dades de pescadores. Este manual pretende também contribuir para a implementação de boas práticas e servir como um guia de acon-selhamento sobre como tornar a pesca uma prática mais sustentável.

Baleia-anã na pr

oximidade de bar

co de pesca poliv alente

Assim, o Projecto SAFESEA foi o primeiro projecto estratégico direccionado para a pro-moção de uma maior compatibilização da actividade pesqueira com a conservação de cetáceos, visando contribuir para o

desen-volvimento sustentável da pesca local.

Para atingir tais objectivos, o projecto encon-tra-se dividido em 5 acções estruturantes e interligadas:

Acção 1: Avaliação das interacções entre a

ac-tividade pesqueira e os cetáceos;

Acção 2: Estimativas de abundância e

distri-buição das populações de cetáceos;

Acção 3: Ensaio de medidas de mitigação para

reduzir as interacções de cetáceos e pescas;

Acção 4: Divulgação do projecto ao público e

comunidade científica;

Acção 5: Educação ambiental direccionada

para a promoção do uso sustentável dos re-cursos e uso de medidas mitigadoras de cap-turas acidentais.

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Actualmente estão descritas cerca de 90 es-pécies de cetáceos a nível mundial, das quais 25 ocorrem no Atlântico Nordeste (Reid et al., 2003) e 21 ocorrem no Mediterrâneo e Mar Negro (IUCN, 2006). Na costa continental por-tuguesa e durante o Projecto SafeSea foi pos-sível registar a ocorrência de 23 espécies de cetáceos, sendo 16 pertencentes à sub-ordem dos odontocetes (cetáceos com dentes) e 7 à sub-ordem dos misticetes (cetáceos com bar-bas). Algumas destas espécies são considera-das residentes - como os golfinhos-comum e riscado, o roaz-corvineiro, o bôto, o grampo,

Espécies de Cetáceos em

Portugal Continental

a baleia-anã e a baleia-piloto - enquanto ou-tras são apenas ocasionais (ver tabela 2.1). No entanto, a informação disponível sobre as populações de cetáceos na costa continental portuguesa é escassa. Por esta razão, muitas das espécies estão incluídas na categoria de “Informação Insuficiente”, no livro vermelho dos vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005). Para algumas espécies potencialmente mais raras ou de mais difícil observação, ainda não foi possível efectuar uma avaliação do seu estatuto nas águas continentais Portuguesas.

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Nome comum Nome científico Ocorrência Estatuto (Livro Vermelhos dos Vertebrados de Portugal)

Golfinho-comum Delphinus delphis Residente Pouco preocupante

Golfinho-riscado Stenella coeruleoalba ? Pouco preocupante

Golfinho-malhado-do-Atlântico Stenella frontalis ? Não avaliado

Roaz-corvineiro Tursiops truncatus Residente Pouco preocupante

Bôto Phocoena phocoena Residente Vulnerável

Baleia-piloto Globicephala melas ? Informação Insuficiente

Baleia-piloto-tropical Globicephala macrorhynchus ? Informação Insuficiente

Grampo Grampus griseus Residente Informação Insuficiente

Orca Orcinus orca ? Informação Insuficiente

Falsa-orca Pseudorca crassidens Ocasional Não avaliado

Cachalote Physeter macrocephalus Ocasional Não avaliado

Cachalote-pigmeu Kogia breviceps ? Informação Insuficiente

Zífio Ziphius cavirostris ? Informação Insuficiente

Baleia-de-bico de Gervais Mesoplodon europaeus ? Não avaliado

Baleia-de-bico de Sowerby Mesoplodon bidens ? Não avaliado

Botinhoso Hyperoodon ampullatus ? Não avaliado

Baleia-anã Balaenoptera acutorostrata Residente Vulnerável

Baleia-sardinheira Balaenoptera borealis Ocasional Não avaliado

Baleia-comum Balaenoptera physalus Ocasional Não avaliado

Baleia de Bryde Balaenoptera edeni ? Não avaliado

Baleia-azul Balaenoptera musculus Ocasional Não avaliado

Baleia-de-bossa Megaptera novaeangliae Ocasional Não avaliado

Baleia-basca Eubalaena glacialis Ocasional Não avaliado

Tabela 2.1. Nomes comuns e científicos de espécies encontradas em Portugal Continental

du-rante o Projecto SafeSea, bem como o grau de ocorrência e estatuto de conservação segundo o livro vermelho dos vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005).

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A principal fonte de informação disponível so-bre a ocorrência de mamíferos marinhos é re-presentada pelos arrojamentos (situações em que um ou mais cetáceos dão à costa). Apesar de estes arrojamentos permitirem a recolha de dados relativos à biologia destes animais (através da recolha e análise de amostras), es-tas situações não fornecem informações deta-lhadas sobre a origem dos animais arrojados. Para conhecer o estado das populações em termos ecológicos é muito importante a ob-tenção de informação relativa à ocorrência e distribuição das espécies através de uma cons-tante monitorização. Esta informação permite inferir sobre os movimentos destas popula-ções (residentes ou migratórias) e detectar áre-as de alimentação ou reprodução. Simultane-amente, permite perceber de que modo estas espécies poderão estar a ser influenciadas pelo Homem, já que se poderá saber se ocorrem por exemplo em zonas especialmente polu-ídas ou se ocupam áreas específicas em que ocorra uma maior competição pelos mesmos recursos (dieta vs. pesca). Toda esta informação

poderá orientar uma futura implementação de estratégias de gestão e conservação.

Tornam-se assim essenciais a actualização e a monitorização contínua da ocorrência das várias espécies de cetáceos na costa portu-guesa. Deste modo, é possível conhecer as várias populações, detectar e prevenir possí-veis problemáticas associadas à influência do homem, e entender as variáveis que condu-zem à presença/ausência das diferentes espé-cies em águas portuguesas, nomeadamente aquelas que normalmente prefeririam outros habitats mas que já foram observadas em águas de Portugal Continental.

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Golfinhos-comuns jun to a embar

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O golfinho-comum é a espécie de cetáceo mais abundante na nossa costa. São animais esguios e com um bico proeminente, que possuem uma coloração escura no dorso e branca no ventre. No entanto, é lateralmente e abaixo da barbatana dorsal que se distin-guem um V e um padrão cromático, típicos desta espécie. Na parte anterior deste V ob-serva-se uma mancha amarelada enquanto que na parte posterior até à cauda distingue--se outra mancha de um cinzento mais claro. Uma faixa escura liga a mandíbula inferior à barbatana peitoral.

Quando adultos, os machos são ligeiramente maiores do que as fêmeas podendo medir entre os 1,7 e os 2,6 m e pesar entre os 70 e 135 kg. Não existe um dimorfismo sexual evidente, sendo que a identificação do sexo é possível através da observação da zona genital onde as fêmeas exibem 3 fendas pa-ralelas (glândulas mamárias e a fenda genital) anteriormente ao ânus e os machos exibem apenas 2 fendas longitudinais (fenda genital e o ânus). As barbatanas peitorais são longas

Golfinho-comum

Delphinus delphis

e pontiagudas enquanto que a barbatana dorsal é alta e ligeiramente falciforme. Actu-almente estão descritas duas formas distintas de acordo com o tamanho do bico: os golfi-nhos-comuns de bico curto (Delphinus

del-phis) e de bico comprido (Delphinus capensis)

(Rosel et al., 1994).

Estes cetáceos apresentam um comporta-mento bastante gregário. É possível encontrar grupos de centenas de animais, bem como grupos mais pequenos de 30 ou ainda menos indivíduos. Os grupos são constituídos por animais de diferentes idades, embora possa existir alguma segregação sexual. Está descri-to que estes animais possuem fortes vínculos sociais e pensa-se que poderão comunicar através de vocalizações que incluem vários estalidos e assobios.

Observam-se com relativa facilidade na nossa costa e aproximam-se frequentemente à proa de embarcações. Os golfinhos-comuns são animais bastante ágeis e rápidos, sendo capa-zes de grandes saltos. Associações com outras espécies de cetáceos não são invulgares

(Je-fferson et al. 1993), nomeadamente com roaz--corvineiro e o golfinho-riscado.

Na costa Portuguesa, a presa preferencial do golfinho comum é a sardinha. No entanto es-tes cetáceos podem alimentar-se de outros peixes como cavalas e fanecas e também ce-falópodes. O golfinho-comum tende a caçar em grupo e adapta a sua actividade ao movi-mento das suas presas (Silva, 1999). Quando as encontram, é habitual empurrar os cardu-mes para a superfície onde estes são mais vulneráveis (Gallo, 1991). Aparentemente, os grupos de golfinho-comum podem percor-rer grandes distâncias em busca de alimento, geralmente durante a noite até às primeiras horas da manhã. Durante o dia restabelecem energias e relacionam-se com os elementos do grupo.

Em latitudes mais elevadas, a actividade re-produtora do golfinho-comum é sazonal em-bora em águas tropicais possa prolongar-se durante todo o ano. Na Península Ibérica, a actividade reprodutora ocorre geralmente em

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Golfinho-comum

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Maio e Junho e as fêmeas tendem a perma-necer em latitudes mais baixas ou mais longe da costa na época de reprodução e lactação (Reeves et al., 2003).

Ainda pouco se sabe sobre a maturidade se-xual nesta espécie, sendo que estudos mais recentes sugerem que pode ocorrer entre os 3 e os 7 anos de idade. O período de gestação pode ser de 10 a 11 meses e o período de lac-tação pode atingir os 16,5 meses.

Actualmente, e apesar de, na maior parte dos países já ser proíbida por lei, a captura directa de golfinhos-comuns para fins alimentares ainda ocorre. Para o golfinho-comum, as prin-cipais ameaças são as capturas acidentais em diversos tipos de artes de pesca. Os núcleos populacionais mais costeiros estão também mais vulneráveis a outros tipos de pressões an-tropogénicas como poluição, tráfego marítimo e perda de habitat decorrente da implementa-ção de estruturas de produimplementa-ção de energia.

O golfinho-comum é uma espécie amplamen-te distribuída nas regiões amplamen-temperadas, tropi-cais e subtropitropi-cais do mundo inteiro, onde a temperatura superficial da água varia entre os 10º e os 28º, limitando a sua distribuição à fai-xa situada entre os 40° Sul e 50º Norte. No en-tanto, alguns indivíduos poderão viajar para fora desta área quando encontram correntes quentes. Esta espécie pode ocorrer em águas costeiras e águas oceânicas, sendo mais fre-quente nas zonas da plataforma continental (Carwardine, 1995). Pode ser igualmente en-contrada em corpos de água fechados como o Mar Vermelho ou o Mar Mediterrâneo. Algu-mas populações são estáveis ao longo do ano enquanto outras parecem migrar seguindo um padrão sazonal. As variações na aparência de certas populações sugerem pouca interac-ção entre diferentes grupos.

Em Portugal Continental, esta espécie en-contra-se amplamente distribuída sendo fre-quente tanto nas zonas próximas da costa, como nas zonas mais oceânicas. Na região centro/norte de Portugal, a avaliação da

dis-tribuição e abundâncias de golfinho-comum permitiu verificar que esta espécie é comum em toda a área de estudo monitorizada (Mapa 1). A análise integrada de todos os dados re-colhidos permitiu verificar que esta espécie ocorre em toda a zona de estudo, apresen-tando dois núcleos de maior concentração de detecções. O núcleo mais a sul caracteriza-se por ocorrer numa zona entre Aveiro e S. Pedro de Moel, desde as 1,5 milhas náuticas e as 25 milhas. Este núcleo ocorre em águas menos profundas parecendo haver uma preferência por batimétricas próximas dos 100 metros. A segunda zona de maior concentração de ani-mais desta espécie surge no norte da área de estudo, junto à fronteira da Galiza. Este núcleo apresenta uma distribuição com uma influên-cia mais oceânica e menos costeira, ocorren-do a norte da Póvoa de Varzim, numa zona mais próxima do limite da plataforma, entre as batimétricas dos 100 e 200 metros.

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Contudo, com base numa análise mais pontu-al resultante, dos censos aéreos efectuados na Primavera-Verão de 2010, é possível verificar que existe uma maior fragmentação da dis-tribuição de golfinho-comum que resulta em 4 zonas de maior concentração das observa-ções (Mapa 2). Duas destas zonas coincidem com as zonas já anteriormente referidas. A terceira zona de maior concentração ocorre sensivelmente em frente ao Furadouro, en-quanto que a quarta zona de forte ocorrência de golfinhos-comuns ocorre a sudoeste das Berlengas. Ambas as zonas são mais oceâ-nicas do que costeiras, estando próximas da batimétrica dos 200 metros. Esta avaliação permitiu também verificar que a zona costeira desde Mira até sensivelmente Viana do Caste-lo, correspondeu a uma extensa área com fra-ca ocorrência de golfinhos-comuns durante a Primavera-Verão de 2010.

Mapa 1. Distribuição das observações totais

de golfinho-comum, mediante a representa-ção de Kernels, obtidas durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal.

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Porto -10° -10° 40 ° 40 °

Com base nos censos de avião efectuados durante o SafeSea (Mapa 3), foi possível es-timar a abundância de golfinho-comum na área de estudo. Os valores obtidos variaram entre 0,0135 e 0,0389 avistamentos por km2,

com um valor médio de 0,0229 avistamentos por km2. Estes valores foram relativamente

si-milares aos obtidos no SCANS-II (Hammond, 2006). Contudo, o número médio de indiví-duos em cada avistamento foi ligeiramente inferior, tendo no presente caso sido de 11,5 indivíduos, resultando numa densidade de 0,263 animais por km2.

Para estes valores estima-se que em Portu-gal Continental, entre a costa e as 50 milhas naúticas, poderão ocorrer em média ± 20 500 indivíduos de golfinho-comum.

Mapa 2. Distribuição das observações de

golfinho-comum, mediante a representação de Kernels, obtidas durante censos aéreos no centro e norte de Portugal.

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Mapa 3. Distribuição e número de

golfinhos--comuns observados em cada um dos gru-pos durante censos aéreos no centro e norte de Portugal.

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Bôto

Phocoena phocoena

O bôto possui um corpo pequeno mas ro-busto. Os adultos não costumam exceder 1,70 m de comprimento e os 70 Kg, sendo que as fêmeas são ligeiramente maiores que os machos. Na Peninsula Ibérica, têm sido registados animais de maiores dimensões, quando comparados com as populações do Mar do Norte, sendo que o animal de maior tamanho correspondeu a uma fêmea de 2,05 metros. A sua coloração pode ser variável mas normalmente é cinzenta escura no dorso cla-reando até à zona ventral que é branca. Em alguns animais pode-se notar uma mancha escura no queixo, algumas linhas escuras entre a boca e as barbatanas peitorais e por vezes umas manchas cinzentas esbatidas ao longo do corpo. Possui uma barbatana dorsal triangular situada a meio do corpo. O focinho é curto e não tem bico perceptível.

Os indivíduos desta espécie costumam ser avistados sozinhos ou em pequenos grupos de 2 a 5 animais. O tamanho do grupo ten-de a aumentar ligeiramente no fim do Verão mas pouco se sabe sobre as suas interacções

Bôto - P

ormenor da cabeça ar

redondada e quase sem bic

o.

sociais. Quando emergem para respirar, na maior parte das vezes, só é possível reconhe-cer a sua pequena barbatana dorsal e um pouco do corpo arqueado, uma vez que não costumam sair muito fora de água nem exe-cutar grandes saltos.

Nesta espécie está descrita a ocorrência de migrações sazonais, geralmente associadas ao movimento das suas presas ou à severida-de das condições meteorológicas. A ocorrên-cia de movimentos perpendiculares à costa para águas mais oceânicas, sugere que os bôtos podem utilizar zonas oceânicas durante parte do seu ciclo de vida. Em algumas áreas é possível que interacções negativas entre bôto e roaz-corvineiro determinem os limites de ocorrência desta espécie.

O bôto alimenta-se de peixes demersais e bentónicos, mas também de espécies pelá-gicas principalmente espécies com compor-tamento agregativo em cardume. Nas costas Ibéricas parece haver uma clara preferência para espécies como: o verdinho, carapau e

fa-©Unlist ed I mages/F otosear ch.c om

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Fêmea de B

ôto com uma cr ia

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neca (López, 2003). Também podem alimen-tar-se de cefalópodes e pequenos crustáceos. Nesta espécie, a maturidade sexual ocorre bastante cedo, por volta dos 3 ou 4 anos de idade. A gestação é de 10 a 11 meses e as fê-meas permanecem com os lactantes entre 8 a 12 meses. As fêmeas podem ter crias durante vários anos consecutivos e por vezes podem engravidar enquanto amamentam as crias. Esta estratégia reprodutiva é muito exigente e daí talvez possa resultar uma longevidade um pouco menor do que a de outros cetá-ceos. Na Península Ibérica, a maior parte dos nascimentos ocorre entre Maio e Agosto. Durante muitos anos, esta espécie foi usada não só para a produção de óleo mas também na alimentação humana, principalmente nos países nórdicos. Em Portugal, esta espécie chegou a ser alvo de pesca direccionada, prá-tica que deixou de ser efectuada nos finais dos anos 70. Embora já tenha sido proibida em quase todo o Mundo, ainda há regiões que continuam a caçar, como por exemplo a

Gronelândia. Na nossa costa, as maiores ame-aças à sobrevivência desta espécie são as cap-turas acidentais em artes de pesca. A sua pre-ferência por habitats mais costeiros e menos profundos, fazem com que esta espécie seja mais vulnerável à interacção com a arte Xáve-ga e redes de emalhar mais próximas da costa. Esta espécie é mais frequente em águas frias, temperadas e subárticas do hemisfério Norte, onde a temperatura ronda os 15°. Contudo, nos últimos anos, tem sido possível registar a ocorrência de uma população ao longo da cos-ta atlântica de África, especialmente nas coscos-tas de Marrocos e Mauritânia (Boisseau et al. 2007). É uma espécie costeira e pode ser facilmente observada em zonas de profundidade inferior a 200 metros, estuários e baías. Também está descrita a existência de populações de bôtos, ainda que residuais, no Mar Báltico e no Mar Negro. No Mar Mediterrâneo esta espécie está dada como extinta. Em Portugal, distribui-se ao longo de toda a orla costeira, embora seja mais frequente na zona Norte, nomeadamen-te na zona entre Aveiro e Figueira da Foz e na

zona da Arrábida e Costa da Galé (Sequeira, 1996). Recentemente, através de dados de ob-servações oportunistas em barcos de turismo de observação de cetáceos foi possível confir-mar a ocorrência de Bôtos no Algarve, com es-pecial incidência na zona entre Sagres e Lagos (Castro, 2010).

A área de estudo do projecto SafeSea é uma das zonas onde a plataforma continental é mais extensa, pelo que estamos perante uma das áreas potencialmente mais favoráveis para a ocorrência de bôtos. A recolha de da-dos efectuada ao longo do projecto permitiu detectar um importante núcleo de ocorrência entre o norte de Mira e a Nazaré, com uma clara preferência pelas zonas mais costeiras (Mapa 4). No entanto, em frente à Figueira da Foz e a Aveiro, foi possível registar algumas observações em zonas mais oceânicas, na proximidade do talude e inclusivamente na proximidade da batimétrica dos 1000 metros.

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Mapa 4. Distribuição das observações totais

de Bôto, mediante a representação de Ker-nels, obtidas durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal.

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O golfinho-riscado é muito semelhante ao golfinho-comum tanto em forma como em tamanho. A sua coloração é escura no dorso e bastante clara no ventre, que pode variar desde branco a rosa claro. As suas riscas late-rais são características e conferem o nome à espécie: a maior risca escura vai desde o olho até à região anal, possui uma outra mais pe-quena que começa no olho e termina na base da barbatana peitoral e por vezes pode ser vista uma terceira risca que se prolonga até um pouco depois do olho. A área acima das riscas laterais é de um cinzento claro que se estende do bico até à barbatana dorsal, cur-vando para cima. A barbatana dorsal é proe-minente e falciforme e as barbatanas peitorais são curtas e pontiagudas. O bico é escuro na parte superior e na ponta, podendo ser um pouco mais claro na parte inferior. Os adultos medem cerca de 2,5 m podendo pesar 150 kg. Os machos e fêmeas são muito semelhantes, diferindo apenas no tamanho (as fêmeas são ligeiramente mais pequenas) e na zona geni-tal, tal como os golfinhos-comuns.

Golfinho-riscado

Stenella coeruleoalba

Esta espécie possui um comportamento gre-gário, podendo formar grupos numerosos e fortemente coesos, variando entre 30 a 500 animais. É frequente os animais segregarem--se de acordo com o sexo ou a maturidade sexual: grupos de juvenis, adultos ou sub--adultos ainda sem capacidade reprodutora (Archer and Perrin, 1999).

Estes cetáceos são extremamente activos, podendo atingir grandes velocidades (até 28 nós) e realizar um grande número de acroba-cias enquanto saltam. Esta característica, em conjunto com o seu padrão de riscas laterais, torna-os facilmente reconhecíveis no mar. Há registos de avistamentos desta espécie asso-ciada ao golfinho-comum, ainda que, ao con-trário deste último, não costumem interagir com as embarcações (Cawardine, 1995). Devido à sua ampla distribuição, esta espé-cie apresenta uma dieta muito diversificada que inclui uma grande diversidade de peixes, crustáceos e cefalópodes, que pode variar de acordo com a área geográfica. Os golfinhos--riscados caçam em grupo e quando estão à

procura de alimento, são capazes de mergu-lhar a profundidades que vão de 200a 700 metros, tipicamente durante 5 a 10 minutos. Apesar desta capacidade de mergulho, a maior parte das capturas ocorre no início da noite, quando as presas se encontram mais próximas da superfície.

A maturidade sexual varia bastante entre os dois sexos: nos machos dá-se entre os 7 e os 15 anos, enquanto as fêmeas maturam um pouco mais cedo, entre os 5 e os 13 anos de idade. Es-tão descritas diferentes épocas de acasalamen-to consoante a zona geográfica onde se encon-tram: no Outono na zona do Mediterrâneo e no fim do Verão/Outono no Atlântico (Archer and Perrin, 1999). Nesta espécie, o intervalo entre o nascimento de duas crias é usualmente de 4 anos sendo que o período de repouso entre a lactação e o próximo acasalamento é de 2 a 6 meses e o período de gestação é de 12 a 13 meses (Calzada et al., 1996).

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Golfinho-riscado

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As populações do golfinho-riscado têm vindo a registar um decréscimo em algumas zonas do mundo, especialmente no Japão onde esta espécie é alvo de captura. Aparentemente, os caçadores tiram proveito da forte coesão dos seus grupos para direccioná-los para águas menos profundas onde são mais facilmente aprisionados (Reeves et al., 2003). No ociden-te, os principais problemas são a degradação de habitat, a poluição e a ocorrência de captu-ras acidentais em artes de pesca.

O golfinho-riscado é uma espécie cosmopoli-ta de hábitos oceânicos, com uma preferência por zonas de grande profundidade. Ocorre em mares quentes e temperados do mundo inteiro. Ocasionalmente, em áreas como a costa do Mediterrâneo e especialmente no Verão, podem aparecer bastante próximo de costa, muito provavelmente devido ao movi-mento das suas presas.

A área de estudo do projecto SafeSea é domi-nada por uma extensa plataforma continental com profundidades inferiores a 200 metros, o que corresponde a zonas não preferenciais para o golfinho-riscado. Assim, devido à sua especialização oceânica, as poucas observa-ções desta espécie ocorreram na proximidade do talude da plataforma continental ou então já em zonas próximas dos 1000 metros de profundidade (Mapa 5). A maior concentra-ção de observações ocorreu a norte da Figuei-ra da Foz, com um núcleo de maior actividade na zonas próximas do talude continental em frente a Aveiro.

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Mapa 5. Distribuição das observações totais

de golfinho-riscado, mediante a representa-ção de Kernels, obtidas durante censos aére-os, costeiros e em plataformas de oportunida-de no centro e norte oportunida-de Portugal.

Porto -10° -10° 40 ° 40 °

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O roaz-corvineiro possui uma cabeça robusta, com um bico relativamente curto. Esta espé-cie apresenta uma coloração predominante-mente cinzenta. Apesar de o dorso ser ligeira-mente mais escuro não é visível uma delimi-tação evidente em nenhuma zona, sendo que normalmente o cinzento mais escuro esten-de-se desde o bico até à ponta posterior da barbatana dorsal, sendo cada vez mais claro desde os flancos até à zona ventral, não sendo visível qualquer tipo de marca nos flancos. A barbatana dorsal, situada no centro do corpo, é falciforme e relativamente alta, enquanto as barbatanas peitorais são largas.

Os adultos apresentam um corpo robusto que pode alcançar 2,5 a 3,8 metros, ocor-rendo dimorfismo sexual relativamente ao tamanho e ao peso (machos podem atingir 500 kg enquanto que as fêmeas apenas cer-ca de 260 Kg).

São conhecidas duas variantes morfológicas desta espécie, associadas a habitats distintos: uma variante oceânica, com animais maiores,

Tursiops truncatus

Roaz-corvineiro

mais escuros e com barbatanas peitorais mais pequenas e uma variante costeira, com ani-mais de menores dimensões.

Esta espécie apresenta um comportamento gregário. O tamanho dos grupos e o tipo de associações, varia ao longo do tempo conso-ante o habitat, o tipo de actividade em que os animais estão envolvidos, a idade, estado reprodutivo e as ligações familiares dos indi-víduos. Como exemplo, verifica-se que a va-riante costeira tende a formar grupos mais pe-quenos (2-15 indivíduos), enquanto a variante oceânica pode formar grupos de centenas de indivíduos. De igual modo, verifica-se que fê-meas com crias parecem ocorrer em grupos maiores do que os dos machos. Esta espécie apresenta associações complexas e diversas, sendo a maioria delas bastante estáveis. Po-dem formar grupos de fêmeas aparentadas, aos quais se juntam ocasionalmente machos adultos, grupos de machos sub-adultos ou adultos aparentados entre si, e grupos de fêmeas adultas com crias. Pode também as-sociar-se a tartarugas marinhas ou cetáceos,

como baleia piloto, golfinho comum ou gram-po e gram-por vezes baleias. É gram-possível a ocorrência de animais solitários, normalmente machos, que se aproximam de barcos ou banhistas. Esta espécie pode ser agressiva tanto com co--específicos como com outras espécies, como por exemplo o bôto.

O roaz-corvineiro é um nadador activo, rápido e vigoroso, podendo ser visto a dar saltos e a efectuar batimentos caudais.

Esta espécie é considerada oportunista, uma vez que a dieta varia com a disponibilidade de presas. Alimenta-se de várias espécies de peixes bentónicos e invertebrados, na zona costeira, e peixes pelágicos e cefalópodes, nas zonas oceânicas.

Animais solitários podem caçar sozinhos, no entanto é mais frequente caçarem em grupo. Utilizam diversas estratégias para capturar as presas, como por exemplo, golpear a presa com a barbatana caudal para a atirar para fora de água ou, em grupo, aprisionar os cardumes de presas junto à superfície da água, junto à

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Roaz-corvineiro

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costa ou em águas pouco profundas, para conseguir capturá-los mais facilmente. A maturidade sexual, nesta espécie, varia com o sexo (entre os 8 e 14 anos nos machos e os 5 e 12 anos nas fêmeas). Parece haver um pico na época de reprodução nos meses mais quentes, no entanto há registo de nascimentos durante todo o ano. O período de gestação dura cerca de um ano e as crias nascem com cerca de 0,9 a 1,3 metros e 90 Kg de peso. A amamentação dura entre 12 a 20 meses, fazendo com que o ciclo reprodutor possa durar entre 2 a 3 anos. Existem ainda alguns lugares no mundo onde ocorre a captura directa desta espécie para obtenção de comida ou para utilização da gordura como isco (Sri Lanka, Peru, Taiwan, Japão). O roaz-corvineiro é a espécie mais en-contrada em cativeiro, sendo por vezes captu-rada com esse fim. Adicionalmente são tam-bém ameaçados por capturas acidentais em artes de pesca, especialmente as populações costeiras que estão também mais vulneráveis a outros tipos de pressões antropogénicas

como poluição do meio marinho e tráfego marítimo. Esta espécie é por vezes respon-sável por predação de pescado em artes de pesca (principalmente em palangres e redes de emalhar) facto que gera conflitos com as comunidades de pescadores.

O roaz-corvineiro é uma espécie amplamen-te distribuída, podendo ser encontrada em águas temperadas e tropicais dos dois hemis-férios, evitando apenas as latitudes mais ele-vadas. Ocupa diversos tipos de habitats, tanto costeiros como oceânicos. As populações cos-teiras habitam desde zonas de costa exposta, a lagunas, estuários e recifes, em águas de pouca profundidade mas com elevada dis-ponibilidade de recursos alimentares. Por sua vez, as populações oceânicas habitam águas com elevada produtividade, em profundida-des superiores a 1000 metros.

Em Portugal, existe uma população residen-te de roaz-corvineiro, no estuário do Sado, desde a década de 70. Nos finais dos anos 80, estimava-se que esta população rondava os

40 indivíduos, sendo que as estimativas mais recentes referem a ocorrência de apenas 25 indivíduos dos quais 14 são adultos já com uma idade avançada (Roazes do Estuário do Sado - http://roazesdosado.icnb.pt).

Durante as campanhas do SafeSea foi possível registar a ocorrência de roazes um pouco por toda a área de estudo (Mapa 6), havendo uma clara preferência por águas mais costeiras. A zona de maior ocorrência registou-se na pro-ximidade das Berlengas e do Canhão da Naza-ré. Associada a este núcleo aparece uma outra zona com algumas observações na proximi-dade da Figueira da Foz. Mais para norte, apa-recem 3 pequenos núcleos de ocorrência de roazes na proximidade do Porto e em águas mais oceânicas em frente a Viana do Castelo. Estas observações poderão estar associadas a movimentações dos indivíduos que ocorrem de forma mais constante na zona das Rias Bai-xas na Galiza.

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Mapa 6. Distribuição das observações totais

de roaz-corvineiro, mediante a representação de Kernels, obtidas durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal.

Porto -10° -10° 40 ° 40 °

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Esta espécie possui uma cabeça proeminente e bulbosa, com um bico muito curto, quase imperceptível. Apresenta coloração cinzento--escura, com uma zona ligeiramente mais cla-ra atrás da barbatana dorsal, bem como uma marca acinzentada em forma de âncora na zona ventral. A barbatana dorsal, situada na dianteira do corpo, tem uma base larga e in-clinada para trás. As barbatanas peitorais são grandes, estreitas e pontiagudas.

A baleia-piloto é o maior delfinídeo, apresen-tando dimorfismo sexual principalmente em relação ao tamanho (cerca de 6 m nos machos e 5 m nas fêmeas), ao peso (2 t nos machos e cerca de 1,3 t nas fêmeas) e à forma da barba-tana dorsal (côncava nos machos e mais trian-gular nas fêmeas, mais similar à dos golfinhos). Esta espécie apresenta um comportamento gregário, sendo possível encontrar-se grupos constituídos por centenas de animais, apesar de normalmente serem vistos grupos meno-res (10-20 animais). Ainda que a estrutura so-cial desta espécie seja complexa e pouco

co-Baleia-piloto

Globicephala melas

nhecida, crê-se que os grupos são compostos por animais aparentados entre si, de todos os sexos e idades, com fortes laços matriarcais, sendo frequente a formação de grupos de fê-meas adultas com crias. Podem ser vistos as-sociados a outras espécies de cetáceos, como o roaz-corvineiro ou grandes baleias. O comportamento desta espécie à superfície é muito variável, podendo encontrar-se frequen-temente grupos de indivíduos com uma nata-ção lenta ou a descansar à superfície da água, bem como a emergir a cabeça fora de água ou a fazer batimentos caudais.

Esta espécie apresenta uma dieta diversifica-da e variável consoante a localização geográ-fica. Apesar de maioritariamente composta por cefalópodes, especialmente lulas, con-some também espécies gregárias de peixe, quando disponíveis. Alimentam-se principal-mente à noite.

Em termos reprodutivos, a maturidade sexual varia com o género (13 anos nos machos e 8 anos nas fêmeas). No Atlântico norte, a época de reprodução ocorre entre Abril e Setembro, seguida de um período de gestação de cerca de 15 meses. As crias nascem com cerca de 1,5-2 m e 70-80 Kg de peso. A amamentação ocorre durante cerca de 23 a 27 meses e como as fêmeas tendem a não sobrepor a amamen-tação com a gravidez, o ciclo reprodutor pode alcançar entre 3 a 5 anos.

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Baleia-pilot o

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A baleia-piloto é das poucas espécies de cetá-ceos que são ainda exploradas comercialmen-te. A captura legal desta espécie ocorre ainda nas Ilhas Faroé. A captura legal desta espécie ocorre nas Ilhas Faroé, com uma remoção mé-dia anual de 850 indivíduos. No entanto, no Noroeste Atlântico, mais precisamente em Newfoundland, a pesca desta espécie foi proi-bida nos anos 70, por se considerar que contri-buiu fortemente para a redução do número de baleias-piloto nesta área.

Para além da captura legal desta espécie, tam-bém ocorre captura acidental de indivíduos em artes de pesca como arrastões, palangre e redes de emalhar, o que juntamente com a poluição por organoclorados e metais pesados, consti-tuem factores de ameaça para esta espécie. Esta espécie apresenta uma ampla distribui-ção por águas subpolares e temperadas do Atlântico Norte e do Hemisfério Sul. As popu-lações dos dois hemisférios estão separadas geograficamente, constituindo grupos dis-tintos que, por vezes, são identificados como

subespécies (G. melas edwardii no hemisfério Sul e G. melas melas no hemisfério Norte). É uma espécie predominantemente oceânica, ainda que possa aproximar-se de zonas cos-teiras, principalmente devido ao movimento de presas no Verão e Outono.

Os resultados obtidos durante as campanhas do SafeSea colocam em evidência a preferên-cia desta espécie por zonas mais oceânicas, tendo sido possível registar uma zona de maior ocorrência no norte de Portugal, junto à fronteira com a Galiza (mapa 7). Aparente-mente este núcleo dispersa-se ao longo do talude oceânico até à zona da Figueira da Foz. Algumas das observações efectuadas ocor-reram relativamente próximo da costa com a detecção de animais em zonas com profundi-dades entre os 50 e os 100 metros.

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Porto -10° -10° 40 ° 40 °

Mapa 7. Distribuição das observações totais

de baleia-piloto, mediante a representação de Kernels, obtidas durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal.

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A baleia-anã apresenta um corpo alongado com cabeça pontiaguda, onde é possível observar apenas uma crista rostral desde o espiráculo até a boca. Possui uma coloração cinzento-escura na zona dorsal e branca na zona ventral e parte dos flancos, com uma característica marca branca nas barbatanas peitorais. Exibe um conjunto de pregas na zona ventral (característica dos rorquais), que expandem durante a ingestão do alimento, que será posteriormente filtrado pelas barbas pequenas e brancas ou amareladas. A barba-tana dorsal é alta, pontiaguda e curva quando comparada com a dos restantes rorquais e encontra-se a cerca de um terço da barbatana caudal. O sopro desta espécie é baixo e qua-se imperceptível. Quando emerge, é possível observar o espiráculo e a barbatana dorsal ao mesmo tempo.

A baleia-anã representa o mais pequeno e mais comum dos rorquais, com um adulto a atingir aproximadamente 10 m de compri-mento e 8 t de peso.

Baleia-anã

Balaenoptera acutorostrata

As baleias-anãs são normalmente animais so-litários, embora seja possível observar grupos de 2 ou 3 indivíduos. No entanto, durante a alimentação podem agregar-se em grupos maiores (10-15 animais) e ainda ser vistos as-sociados a outras espécies de cetáceos como roazes e, por vezes baleias-corcundas. O comportamento desta espécie à superfície pode variar de uma natação rápida por curtos períodos de tempo (13 a 16 nós), a uma natação normalmente mais lenta (2 a 4 nós). Podem ser vistas a dar saltos (entre 1 e 3) e são curiosas ao ponto de se aproximarem de barcos.

Ao contrário de outros rorquais que se ali-mentam quase exclusivamente de Krill, esta espécie é mais generalista, podendo consu-mir arenque, sardinha, cavala, não rejeitando de igual modo o Krill.

A baleia-anã pode utilizar diversos métodos de captura de presas, como nadar para a su-perfície com a boca expansível aberta para capturar os cardumes de peixe à superfície da água, ou fazer investidas a cardumes. Esta

es-pécie ingere as presas juntamente com água e filtra o alimento através das barbas. Os locais preferidos para alimentação, no Ve-rão, incluem zonas de afloreamento em torno de pequenas ilhas e promontórios, onde nor-malmente ocorre um fluxo de correntes forte. Durante a alimentação, estão frequentemen-te associados a aves marinhas.

A maturidade sexual é alcançada entre os 7 e 8 anos. A época de reprodução ocorre no In-verno, seguida de um período de gestação de 10 meses. As crias nascem com cerca de 3 m e 300 Kg. A amamentação decorre apenas du-rante cerca de 4 a 6 meses, fazendo com que o ciclo reprodutor dure cerca de 2 anos. Esta espécie é ainda legalmente captura-da na Noruega (aproximacaptura-damente 600 por ano), Gronelândia (aproximadamente 150 animais por ano) e Japão (aproximadamente 100 por ano). Apesar de se crer que a captu-ra de indivíduos desta espécie não irá afectar as populações a médio-longo prazo, por ser abundante e por existirem quotas anuais para

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Baleia-anã

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a sua captura, esta actividade era já respon-sável pela diminuição em cerca de 45-70% da abundância desta espécie antes de ser autori-zada a sua captura legalmente. A competição entre as baleias-anãs e os pescadores pelos mesmos recursos naturais (dieta vs. interesse comercial), bem como a sobre-exploração das presas desta espécie poderão ter um impac-to negativo, já que esta espécie é fortemente afectada por capturas acidentais em artes de pesca, podendo ocorrer interacções com re-des de emalhar ou de arrasto.

A baleia-anã apresenta ampla distribuição em ambos os hemisférios, desde as regiões po-lares até às regiões subtropicais, sem atingir os trópicos. Acredita-se que a nível mundial existam três populações isoladas: a do Pací-fico, a do Atlântico Norte e a do Hemisfério Sul (Evans, 1987). Ainda pouco é conhecido em termos de migrações, no entanto, esta espécie parece efectuar migrações sazonais, dirigidas a Norte no Inverno, para alimen-tação em águas mais frias, e a Sul no Verão para se reproduzirem em águas mais

quen-tes. No entanto, também é possível observar a ocorrência em alguns locais de populações residentes. A baleia-anã percorre uma grande diversidade de habitats, desde zonas oceâni-cas a áreas costeiras. Pode ser observada na zona de plataforma continental, com profun-didades iguais ou inferiores a 200 m, uma vez que pode aproximar-se de terra e entrar em estuários ou baías.

Na região centro/norte de Portugal, as ob-servações de baleia-anã ocorreram um pou-co por toda a área de estudo, sendo que na maior parte das observações foram regista-dos 1 ou 2 indivíduos. Estas observações ocor-reram maioritariamente na proximidade do talude, mas algumas observações ocorreram relativamente próximo de costa (± 20 milhas náuticas) e em profundidades inferiores a 100 metros (Mapa 8). A zona de maior concentra-ção de observações ocorreu entre o Porto e a Figueira da Foz.

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Porto -10° -10° 40 ° 40 °

Mapa 8. Distribuição das observações totais

de baleia-anã, mediante a representação de Kernels, obtidos durante censos aéreos, cos-teiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal.

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Tabela resumo de hot-spots para as diferentes espécies no norte e centro de Portugal

Espécie Nome comum Hot-Spots de ocorrência

Delphinus delphis Golfinho-comum Zona Costeira entre Aveiro e S. Pedro de Moel (Mapa 1) Zona Oceânica a norte da Póvoa do Varzim (Mapa 1)

Phocoena phocoena Bôto Mira a Nazaré (Mapa 4)

Stenella coeruleoalba Golfinho-riscado Zona oceânica a nordeste de Aveiro (Mapa 5)

Tursiops truncatus Roaz-corvineiro Norte de Peniche (Mapa 6)

Globicephala melas Baleia-piloto Zona oceânica a nordeste da Póvoa do Varzim (Mapa 7) Zona oceânica entre Porto e Figueira da Foz (Mapa 7)

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Capítulo 3

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A diversidade da fr

ota de pesca P

ortuguesa é uma das suas mais v alias.

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Portugal é um país onde a pesca é uma activi-dade de grande tradição e importância cultu-ral. Esta importância está relacionada com o facto de Portugal possuir uma Zona Económi-ca Exclusiva (ZEE) de cerEconómi-ca de 1 656 000 km2,

uma extensa zona costeira e uma plataforma continental de elevada produtividade. Desde a entrada na União Europeia, em 1986, a politica de gestão do sector das pescas está em conformidade com a política comunitária, que visa a implementação progressiva de uma abordagem à gestão das pescas na perspectiva do ecossistema, de forma a viabilizar a activi-dade pesqueira do ponto de vista económico e minimizar os impactes da pesca nos ecossis-temas marinhos (PO Pesca 2007/2013). Para tal, foram estabelecidas quotas para algumas espécies, foram criadas áreas de interdição à pesca, existe restrição das artes de pesca, foi definido um tamanho mínimo de captura para as espécies exploradas, existe uma padroniza-ção do tamanho da malhagem da rede e uma definição da percentagem máxima de captu-ras acidentais. Houve também um decréscimo significativo da frota, embora a potência por embarcação tenha aumentado, o número de

As pescas em Portugal Continental

pescadores e desembarques diminuiu, e de uma maneira geral o sector perdeu alguma importância a nível económico, representando actualmente um peso relativamente baixo na economia nacional (Baeta & Cabral, 2005). A frota de pesca portuguesa apresenta uma grande diversidade nas suas características de zona para zona e em relação à actividade e tecnologias de pesca utilizadas (Baeta & Cabral, 2005). De acordo com o tamanho das embar-cações (comprimento ou tonelagem), potên-cia do motor e área em que as embarcações operam, a frota de pesca portuguesa pode ser classificada em três categorias: local, costeira e de largo (Tabela 3.1).

Frota Área de pesca Tamanho(comprimento ou GT) Potência do motor

Local Cabinados 1-30 milhas < 9m < 100HP

Não-Cabinados ¼ - 6 milhas < 9m < 60HP

Costeira Fora da 1 milha

Fora das 6 milhas se GT>100 > 9m e mais de 180GT > 35HP

Largo Fora das 12 milhas > 100GT

Tabela 3.1. Requerimentos legais para a classificação da frota como local, costeira e de largo.

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zonas mais afastadas da costa, podendo mes-mo actuar fora da ZEE nacional.

A frota de pesca de largo é formada por na-vios de maiores dimensões, com condições de autonomia e meios de transformação e conservação do pescado a bordo, o que lhes permite actuar em zonas distantes como por exemplo, o Atlântico Norte, o Atlântico Cen-tral e o Atlântico Sul.

Por definição, considera-se que o sector da pesca artesanal engloba todas as embarca-ções com menos de 12 metros de compri-mento fora-a-fora, quaisquer que sejam as suas artes. No entanto, as embarcações acima As embarcações de pesca local

caracterizam--se por uma grande heterogeneidade e baixo grau de autonomia. São embarcações que operam normalmente em águas interiores ou na orla marítima perto da costa, com artes de pesca diversas, existindo em número elevado. Esta frota é de extrema importância para o sector devido ao seu peso sócio-económico nas comunidades piscatórias, dela dependen-do um grande número de postos de trabalho. A frota de pesca costeira apresenta uma maior autonomia, maior tonelagem e po-tência e melhores meios de conservação do pescado a bordo que as embarcações da frota local, pelo que têm condições para operar em

Embar cações de c

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Embarcação poliv

alente

de 12 metros tais como as da pescaria de cer-co, pela sua componente operacional, podem ser incluídas no sector artesanal.

As principais espécies capturadas ao longo da costa portuguesa são, no sistema pelágico a sardinha, a cavala, o biqueirão, o carapau, o carapau-negrão e o verdinho. Os peixes mais importantes da comunidade demersal são a pescada, o tamboril, o linguado e outros pei-xes chatos. Existem também muitas espécies de elasmobrânquios na região, incluindo raias e tintureiras, sendo que também os cefalópo-des, tais como o polvo e o choco, apresentam alguma importância em termos de descargas.

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Embarcação de X ávega

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a diminuir (INE, 2010). Na realidade, tal acon-tece porque normalmente o patrão/dono da embarcação é também o mestre e faz parte da tripulação. Para além disso, a maioria das embarcações de pesca artesanal é composta por uma ou duas pessoas. O número de tri-pulantes aumenta com a complexidade das artes que se utilizam, pelo que embarcações de cerco ou arrasto têm mais tripulantes que a frota polivente.

Características sócio-económicas da pesca artesanal

O sector das pescas apresenta um peso rela-tivamente baixo na economia nacional. A po-pulação relacionada com a pesca representa cerca de 0,3% da população activa com mais de 12 anos de idade e cerca de 6,9% da po-pulação empregada no sector primário (INE, 2010). No entanto, se analisarmos o impacto do sector das pescas a nível local ou regional, verifica-se que este sector tem um forte im-pacto social na medida que a pesca funciona como um factor de fixação das populações, existindo muitas comunidades ao longo da costa que têm a pesca como a sua actividade principal (PO Pesca 2007-2013).

Os profissionais da pesca distribuem-se maio-ritariamente entre os grupos etários dos “35 a 44 anos” e dos “45 a 54 anos”, corresponden-do no seu conjunto a cerca de 60% corresponden-do total. A maioria dos pescadores matriculados en-contram-se registados na região Norte (27%), na região Centro (21%) e no Algarve (19%). Quanto ao nível de ensino da população da pesca, este é na sua generalidade baixo. Cer-ca de 75% da população possui habilitações

abaixo do 3.º ciclo do ensino básico, sendo que destes, 55% apenas tem o 1.º ciclo do en-sino básico (INE, 2010).

A maioria dos profissionais do sector das pes-cas é trabalhador por conta de outrem (73% do total) e cerca de 27% são patrões ou traba-lhadores por conta própria. Ao longo das últi-mas décadas tem-se observado um aumento do número de patrões ou trabalhadores por conta própria, enquanto que o número de trabalhadores por conta de outrem tem vindo

Pescadores a preparar as redes de c erco

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Um outro factor de extrema importância só-cio-económica é o elevado preço que o pes-cado proveniente da pesca artesanal pode atingir na primeira venda (venda em lota que reverte directamente para o pescador/ mestre). Este elevado preço de primeira ven-da advém do facto de as espécies capturaven-das serem espécies valiosas, como é o caso do lin-guado, do robalo, dos sargos, das lulas, entre outros. Além disso, estas espécies quando são

A pesca poliv alente en

volve menos pescador es por embar cação e captur a espécies de elev ado v alor c omer cial. A pesca poliv

alente usa div

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etáceos, como por exemplo as ar madilhas.

descarregadas em lota apresentam condições de frescura bastante superiores às do pesca-do proveniente de outros segmentos, pois na pesca artesanal as viagens têm normalmente uma duração inferior a 24 horas, não sendo por isso necessário recorrer a refrigeração ou congelação. De facto, a frota artesanal opera na proximidade da costa, permitindo que al-guns peixes ainda cheguem vivos à lota (Sou-sa, 2008).

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As embarcações são normalmente classifi-cadas de acordo com as artes de pesca que utilizam, tais como o arrasto, o cerco e o po-livalente. As embarcações polivalentes estão equipadas para usar mais do que uma arte de pesca sem modificar a sua estrutura base, po-dendo vir a utilizar artes de redes de emalhar

2008 2009 2010

Artes Tipo de pescado N.º GT (e) Pot (Kw) N.º GT (e) Pot (Kw) N.º GT (e) Pot (kw) Variação no n.º de embarcações 2010/2008

Polivalente Demersais 7.086 28.795 187.050 7.025 28.625 187.830 6.945 28.164 185.609 - 2,03 % Arrasto Demersais (+ carapau) 96 17.845 47.527 83 15.385 39.771 77 14.355 36.674 - 24,67 % Cerco Pequenos pelágicos 125 6.198 30.258 124 6.130 29.521 121 6.014 28.997 - 3,30 %

TOTAL 7.307 52.838 264.835 7.232 50.140 257.121 7.143 48.533 251.280

2008 2009 2010 Variação 2010/2008 %

Dias mar/frota 1.455.060 1.440.600 1.423.100 - 2,25 %

Descargas totais (t) 158.223 136.855 148.994 - 6,19 %

Arrasto 18.381 15.408 14.533 - 26,68 %

Descargas por arte (t) Cerco 80.472 64.471 72.681 - 10,72 %

Polivalente 58.474 56.520 61.516 + 4,95 %

Características técnicas das embarcações de pesca

ou tresmalho, palangre ou armadilhas. Anali-sando a frota registada em 2010, observa-se uma prevalência de embarcações polivalentes que possuem um comprimento fora-a-fora in-ferior a 12 metros.

Entre 2008 e 2010, registou-se um ligeiro de-créscimo no número total de embarcações.

Este decréscimo foi mais acentuado ao nível dos arrastões, onde se observou um decrés-cimo de 19,79%. Em 2009, os desembarques totais da frota de Portugal Continental corres-ponderam a 148.994 toneladas, dos quais 49 % foram descarregados pelo cerco, 10 % pelo arrasto e 41 % pela frota polivalente.

t - toneladas

Tabela 3.2. Frota Portuguesa entre os anos 2008 e 2010.

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Barcos de cerco a saírem par a a faina.

mente recolhidos. Este procedimento é desig-nado por alagem. À medida que a alagem pro-cede, o volume do saco vai diminuindo o que aumenta a densidade do pescado, até que se verifiquem as condições para poder transbor-dar o pescado para a traineira com a ajuda de chalavares (Marçalo, 2009).

As principais espécies alvo do cerco em Por-tugal continental são os pequenos pelágicos: a sardinha, a cavala e o carapau. Também são capturam outras espécies pelágicas com algum relevo como o biqueirão e o carapau-negrão, assim como muitas espécies de sparideos, prin-cipalmente no Sul do país.

Polivalente

Uma das principais características da frota polivalente é o uso em simultâneo de mais que uma arte de pesca. Esta situação é mais comum no uso das artes passivas, sendo que são muitas as combinações de artes possíveis, dependendo da tradição e costumes de cada mestre. Estas associações de artes de pesca

Cerco

O cerco é uma pescaria particularmente usada para capturar peixes pelágicos que agregam ou formam cardumes na coluna de água. A sua operacionalidade consiste em detectar o cardume, normalmente usando aparelhos electrónicos acústicos para detecção de peixe (ex. sondas), e imediatamente circunscrever o cardume usando redes que podem ter no máximo 750 m de comprimento e mais de 100 m de altura. Normalmente, é utilizada uma pequena embarcação auxiliar (chalandra ou chata) que é usada para fixar uma das pontas da rede enquanto a embarcação principal (trai-neira) circunda o cardume e completa o circu-lo. O processo de circundar o cardume chama--se largada da rede. A rede flutua com a ajuda de bóias ou flutuadores e cai na vertical com a ajuda de chumbos e argolas no fundo. A corda (retenida) que passa pelos chumbos no fundo é imediatamente puxada fechando a rede em forma de saco, o que evita a fuga do pescado. O saco é trazido para um dos lados da traineira (bombordo) e os panos de rede são

gradual-Artes de pesca artesanal

têm como principal objectivo incrementar as capturas e rentabilizar cada viagem. Deste modo, distintas artes podem ter como alvo a mesma espécie, mas a composição da cap-tura, no que se refere às espécies acessórias, pode ser bastante diferente.

A mudança de estratégia de pesca nas em-barcações polivalentes é bastante frequente, sendo que o principal factor que faz com que haja alterações na arte de pesca utilizada é o lucro da exploração. Por este motivo, diaria-mente são utilizadas diferentes artes de pesca e, para além disso, muitas vezes estas artes de pesca também são utilizadas em simultâ-neo, fazendo com que numa viagem a

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mes-58

Embarcação polivalente a alar redes

ma embarcação possa operar com mais que uma arte. Deste modo, dada a dificuldade em determinar qual a arte de pesca utilizada por cada embarcação, esta frota é denominada por frota polivalente. De um modo geral, as principais artes de pesca utilizadas pela frota polivalente são: as redes de emalhar e tresma-lho, linhas e anzóis e as armadilhas.

Redes de emalhar e tresmalho

São redes de formato rectangular, que se man-têm em posição vertical devido às forças opos-tas produzidas pelos cabos de flutuação (ou de bóias) e cabos de lastros (ou de chumbos). Estas redes são normalmente usadas em con-junto, sendo cada pano designado de “peça” e o seu conjunto de “caçada” (Rebordão, 2000). Quando a “peça” é constituída por um só pano de rede, trata-se de uma rede de emalhar onde as presas ficam retidas pelos opérculos, bar-batanas ou pelo próprio corpo. As principais espécies alvo deste tipo de arte são a pescada, o tamboril e a faneca. No caso de a “peça” ser

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Alagem de uma r

ede de tresmalho

formada por três panos sobrepostos em que os exteriores, as “albitanas”, têm malhagem supe-rior ao pano do meio, designado por “miúdo”, trata-se de uma rede de tresmalho. As princi-pais espécies alvo deste tipo de rede são os linguados, as raias e o choco.

Linhas e anzóis

Este grupo de artes de pesca inclui métodos e instrumentos muito diversificados, mas que se caracterizam pela utilização de linhas e de um ou mais anzóis (Rebordão, 2000). De todos os instrumentos deste grupo, aquele que é mais utilizado pela pesca artesanal é o palan-gre, ou aparelho de anzóis. Este é constituído por uma linha madre de onde pendem os es-tralhos, na extremidade dos quais se prendem os anzóis. Estes aparelhos são iscados com sardinhas, cavala, lula e pilado ou isco artificial e arrumados em caixas, celhas ou caixotes de forma (Franca et al., 1998). As principais espé-cies alvo deste tipo de arte são os robalos, a faneca, o congro e o peixe espada preto.

Armadilhas

Conjunto de artes de pesca passivas que capturam as presas induzindo-as para o seu interior, facilitando a entrada e impedindo ou dificultando a saída (Covo), ou funcionando como abrigo (Alcatruz) (Franca et al., 1998). Os covos são armadilhas de gaiola, com diversas formas, mas todas são construídas a partir de uma estrutura rígida que serve de suporte para as redes que delimitam o compartimen-to onde as presas ficam retidas. Na maioria dos casos estes covos são depois iscados (Rebordão, 2000). As principais espécies alvo

dos covos são o polvo, a faneca e o congro. Os alcatruzes são armadilhas que funcionam como abrigo, estando particularmente desti-nados à captura do polvo. O alcatruz, de um modo geral, não é iscado e é fundeado em teias constituídas por um número variável de potes, presos a intervalos regulares, por cabos finos denominados alfoques, a uma linha ma-dre. Em cada extremidade da teia há um cabo que liga a poita, que fundeia a arte, à bóia que a sinaliza à superfície (Franca et al., 1998).

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Embarcação e tr

actor envolvidos na ar te de xá

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Xávega

A xávega pode ser definida como uma arte de pesca com rede envolvente arrastante de alar para a praia, sendo composta essencialmente por um saco na região central prolongado por duas asas nos extremos das quais estão pre-sos os cabos de alagem (Franca et al., 1998). Consiste no cerco de uma determinada área junto à costa, a partir de uma embarcação. A rede é alada para a praia manualmente, com recurso à força de origem animal ou, mais re-centemente, mecânica, com a utilização de aladores adaptados a tractores (Martins et al., 1999). Ao longo das últimas décadas registou--se uma diminuição do número de licenças, sendo que actualmente a xávega é praticada por pequenas comunidades piscatórias distri-buídas ao longo da costa continental portu-guesa, mas principalmente na costa noroeste. A frota da arte xávega, é composta actual-mente por cerca de 30-40 embarcações, cujas descargas não são normalmente vendidas em lota, mas sim na praia, pelo que não

exis-Alagem das redes a partir de t erra

te muita informação sobre as quantidades descarregadas por esta frota. As principais espécies descarregadas por esta arte são os pequenos pelágicos como a cavala, a sardinha e o carapau.

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Capítulo 4

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Golfinho-comum arrojado com uma r

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Perspectiva global

Interacções entre cetáceos e artes de pesca têm sido registadas ao longo de vários séculos. No entanto, a frequência e intensidade destas interacções têm aumentado muito devido à modernização da pesca e ao aumento da ex-ploração dos recursos marinhos para sustentar uma população mundial em crescimento con-tínuo (Read et al. 2006).

Nas últimas duas ou três décadas, uma maior atenção tem sido prestada à maneira como as pescas afectam as populações de cetáce-os e como cetáce-os cetácecetáce-os competem com várias pescarias causando danos nos aparelhos de pesca (Northridge, 1992, Read et al., 2006). Interacções entre as pescas e cetáceos acon-tecem em quase todas as artes de pesca com consequências negativas tanto para as pes-cas, através de danos económicos, como para a conservação de várias espécies de cetáceos devido à mortalidade acidental que por vezes ocorre. A captura acidental é compreendida

Interacções entre cetáceos

e artes de pesca

como a captura de espécies que não são alvo da pescaria em questão (pesca acessória). Re-fere-se a espécies sem valor ou baixo valor co-mercial tais como alguns peixes, cefalópodes, crustáceos e inúmeras espécies de grupos ameaçados tais como tartarugas marinhas, aves e mamíferos marinhos.

Os conflitos cetáceos-pescas têm duas com-ponentes, uma operacional, em que por exemplo os animais ficam presos nas artes de pesca levando por vezes à morte acidental ou a danos nas artes, e outra biológica em que os cetáceos competem com a pescaria, consu-mindo os recursos e/ou danificando a captura (depredação). Ambas as componentes (ope-racional e biológica) acontecem na maioria das vezes em simultâneo o que implica que a mitigação do conflito ao nível operacional, contribui muitas vezes para a solução da se-gunda tipologia de conflitos (ICES 2010).

A maior parte da investigação na área das in-teracções entre pescas e cetáceos tem-se fo-cado na mortalidade acidental, um problema que tem levantado sérias preocupações sobre o estado de conservação das populações de inúmeras espécies. Na Europa, grande parte do trabalho em mortalidade acidental em artes de pesca refere-se ao bôto, espécie par-ticularmente abundante no Atlântico Norte. Outra espécie de grande preocupação tem sido o golfinho-comum, que é uma espécie bastante abundante no Atlântico Sul Euro-peu. Para ambas as espécies, as pescarias responsáveis pelo maior registo de capturas acidentais são as redes de emalhar e tresma-lho e as redes de arrasto pelágico, que não são utilizadas em águas territoriais portuguesas (Hammond et al. 2009, ICES, 2010). Em Portu-gal, existem referências que a arte de xávega por vezes captura efectivos de ambas as espé-cies, sendo preocupante a captura sistemática de pares mãe-cria de bôto.

Referências

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