• Nenhum resultado encontrado

A aplicação do modelo micro no desenvolvimento institucional do Parlatino A teoria do modelo micro do desenvolvimento legislativo prevê que indivíduos

O Parlatino e a aplicação dos modelos macro e micro no seu desenvolvimento institucional

3.2. A aplicação do modelo micro no desenvolvimento institucional do Parlatino A teoria do modelo micro do desenvolvimento legislativo prevê que indivíduos

dentro de um legislativo ajam de forma proposital para cumprir metas específicas. Ou seja, sugere que quando se tem o interesse da maioria em manipular as normas internas ou estruturas organizacionais da instituição, a mudança toma lugar.

Como justificado por Kreppel (2002), a aplicação do modelo micro torna-se ainda mais difícil de aplicar no Parlatino, uma vez que a identificação das ações racionais neste caso são feitas com base em observações empíricas e deduções das análises.

Participação dos líderes

parlamentares visavam, entre outras coisas, a institucionalização do Parlatino. Essa ação leva a identificar os líderes no processo e o protagonismo de cada um.

A primeira convocação para a reunião que constituiria o Parlatino teve o protagonismo dos membros do Congresso Peruano. No entanto, com a adesão e ação dos deputados do Congresso Nacional da Argentina e do Congresso Nacional do Brasil, passaram também eles a configurar na lista dos fundadores da Instituição. Assim consta na galeria de fundadores do Parlatino: Andrés Towsned Ezcurra, Luis A. Leon e Nelson Carneiro, respectivamente.

Durante vários anos, esses líderes se identificaram com a causa do Parlatino e dedicaram parte das suas ações políticas a esta instituição. Esta afirmação tem como base os registros das atas das assembleias e reuniões em que esses nomes estão presentes. No processo de institucionalização, pode ser inferido o papel individual dos membros parlamentares influenciando os executivos nacionais para a assinatura do Tratado de Institucionalização. Percebe-se nesta aplicação do modelo micro, uma ação racional para produção de um bem coletivo.

Na contínua tentativa de criação de um sistema, mais uma vez o Peru é protagonista. Verifica-se a participação em várias ações objetivando a institucionalização do Parlatino de Andrés Ezcurra, que foi por muitos anos secretário- geral do Parlatino. Mesmo não constando em ata, este representante influenciou o então presidente da república peruana, Alan Garcia, a convocar um encontro pela unidade da América Latina e do Caribe, resultando na Reflexão de Lima, de 21 de julho de 1988. O encontro teve a participação dos chefes e representantes dos Organismos Regionais de Integração, Cooperação e Coordenação de relevante papel na região, tais como a CEPAL, a ALADI, a SELA, o PNUD, entre outros. Isto evidencia a influência dos líderes individuais.

Da mesma forma, é possível inferir a participação de atores importantes no estabelecimento da Sede em São Paulo. Embora depois esta sede tenha se convertido em um problema para a instituição, a ação dos membros individuais geraram uma ação coletiva de efeito positivo imediato.

A mudança da Sede também teve o protagonismo de atores individuais. No caso dos parlamentares brasileiros, não se logrou a permanência da Sede no país, mas o

deputado panamenho, atual presidente do Parlatino, Elias Castillo, desempenhou um papel preponderante nessa transferência e dedica um grande esforço para que seja concluída a Sede em 2013, a tempo de abrigar a reunião da Cúpula Ibero-Americana que vai ocorrer no Panamá em outubro desse ano. Todo o esforço empreendido demonstra uma ação para aumentar o reconhecimento da atuação do Parlatino como o órgão legislativo ideal para a nova instituição recém-criada, a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe (CELAC)67.

Famílias Ideológicas

Como afirmado no capítulo anterior, o Parlatino não apresenta uma divisão de família partidárias explícitas na composição dos seus membros. No entanto, há uma divisão ideológica clara, inclusive verbalizada pelos parlamentares membros que se dizem pessoalmente insatisfeitos com essa realidade no Parlatino. Isto é verbalizado pelo deputado Justos Pastor Cádenas, do Paraguai, que afirma que este alinhamento ideológico é um ponto negativo para as discussões, pois estas não deveriam ser tratadas como uma questão doutrinária. Reportando-se à atitude da Argentina no caso do Paraguai, o deputado afirma que a ação por parte da delegação Argentina foi movida por ideologia, afastando-se do campo das discussões de políticas para melhorar as condições de vida da população.

O deputado uruguaio Jaime Trobo referiu uma discussão que havia acontecido na Comissão de Direitos Humanos, que investigava uma denúncia de violação de direitos políticos de um cidadão na Venezuela e que está na Corte Interamericana. Os representantes da Venezuela (os deputados que apoiam o governo), e outros por interesses políticos, não queriam que o assunto saísse do âmbito interno, tentando bloquear o envio de uma denúncia. Esta foi feita, investigada e enviada, embora se tenha travado um grande debate.

67

Na página do Parlatino, há um banner que explica a criação da instituição, que hoje tem na presidência pro-tempore o Chile. Com esta ação, o Parlatino, que já apresentou as suas credenciais para ser o braço legislativo desta Comunidade, demonstra o seu objetivo. Este banner já tem, por sua vez, uma ligação com a página da CELAC.

Isso tem haver com a eficácia. Se uma pessoa denuncia tem que ser investigado e depois precisa ter um processo e dar satisfação ao denunciante e a resposta é levar a Corte Interamericana, ao Sistema Interamericano que o Parlatino faz parte. O que tem haver com a eficácia muito mais do que para socializar, mais que para integrar, que também são aspectos importantes da diplomacia parlamentar, que tenham um relacionamento forte, mas a eficácia tem que ser garantida. Isto foi o resultado de uma jornada de trabalho que se concluiu hoje. Isso é um exemplo do que se faz e se produz aqui e o resultado, a eficácia desse trabalho. (Entrevista com o Dep. Jaime Trobo, março de 2011)

Os grupos ideológicos se apresentam claramente nas reuniões tanto das comissões quanto das assembleias. Um exemplo desses agrupamentos ideológicos foi verbalizado por um deputado representante da Venezuela que disse que a Mesa não poderia computar todos os votos dos deputados do Brasil, pois estava faltando a representação de um membro do Partido dos Trabalhadores. Os parlamentares brasileiros logo se manifestaram, dizendo que a Venezuela queria votar pelo Brasil.

Parlamentos Nacionais

A relação com os parlamentos nacionais sugere um distanciamento e uma não comprovação que os resultados desenvolvidos no Parlatino sejam trabalhados nos parlamentos nacionais. Como pode ser percebido, isto depende de como o parlamentar individualmente aplica a informação ou os conhecimentos adquiridos por meio de debates e expertises nas comissões permanentes, cujo apoio técnico é realizado pelas organizações internacionais de reconhecida competência.

Este mesmo problema é percebido em instituições de natureza parlamentar não vinculante, como na APCE. Importa transcrever o que disse o senador espanhol quando questionado sobre a importância desta instituição:

Depende o que se entende por muito importante. Se você entende por importante o que tem poder então isto não é importante porque não tem poder, quem tem poder é a União Europeia. Mas se você entende por importante o prestígio, a autoridade de rigor intelectual, então aqui se tem o poder.

A aplicação dos modelos macro e micro na evolução institucional do Parlamento Latino-Americano sugere que houve uma evolução nos procedimentos e uma institucionalização do Parlatino ao longo do tempo. Contudo, importa justificar que as peculiaridades do Parlatino enquanto organização parlamentar internacional constituída por meio de tratado internacional sem vinculação direta a um sistema intergovernamental apresenta pontos que necessitam de uma investigação futura, e que a aplicação do modelo micro só pode ser percebida na produção de bens para a coletividade. Isto poderá ser constatado em pesquisas futuras, a partir de um acompanhamento quando da inauguração da nova Sede, ainda por vir, bem como a resposta, caso positiva, da sua solicitação de ser o braço legislativo da CELAC, instituição esta ainda embrionária e que do ponto de vista institucional formal tem menos a oferecer que o próprio Parlatino.

Capítulo IV

O Parlamento Latino-Americano e a Assembleia Parlamentar do