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Das teorias de integração regional ao conceito de Instituição Parlamentar Internacional: Contributos teóricos para análise do

GOVERNANÇA SUPRANACIONAL

1.2. A Integração Europeia e as suas instituições

1.2.1. O Parlamento Europeu

A criação de instituições supranacionais na Europa é resultado das necessidades criadas a partir do processo de integração pelo qual passa uma região e, nesse caso em especial, o cenário em que se deu o processo. A evolução ocorreu de maneira significativa, com uma expansão rápida e sem precedente, especialmente levando-se em conta todos os acordos e processos necessários e os diversos interesses representados

por parte dos atores envolvidos.

Assim, a efetividade do seu funcionamento e a solidificação que hoje apresentam essas instituições as tornaram referências no cenário internacional. Em especial ressalta-se o Parlamento Europeu, cuja história é relativamente recente. Este Parlamento teve a sua origem com a assinatura do tratado que criou a Comunidade Econômica do Carvão e do Aço (CECA) e gerou a Assembleia Comum (AC) em 1952.

No entanto, essa Assembleia foi substituída já em 1957 pela Assembleia Parlamentar Europeia, que, mesmo tendo sido alargada, continuava sem qualquer poder legislativo - papel esse exercido pela Alta Autoridade - e funcionava apenas como órgão consultivo (Kreppel, 2002). Seu papel era parecido, como assinala Rittberger (2005), àquela época, com outras assembleias parlamentares internacionais, como a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, a Assembleia da União Europeia Ocidental e a da Conferência de Parlamentares da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN), que eram classificadas como “talk-shop”8.

Mas diferentemente das outras assembleias internacionais desse período e já citadas acima, a Assembleia Parlamentar Europeia começou a trilhar novos passos: a cada tratado instituído, tinha o seu papel ampliado; com a adesão de novos países, ampliava também o número de membros.

A Assembleia reuniu-se pela primeira vez em março de 1958, vinte dias após a última sessão da Assembleia Comum. Um terço dos seus membros era proveniente desta última: 50 membros num total de 142. Robert Schuman foi o primeiro presidente dessa nova Assembleia (Kreppel, 2002). Algumas diferenças se fizeram notar claramente desde o início, uma vez que na AC os parlamentares poderiam ser eleitos ou indicados pelos parlamentos nacionais e na nova configuração deveriam ser eleitos diretamente.

O poder de censura passou a ser não só na apresentação do programa anual, mas em qualquer tempo e em qualquer questão. Cinco anos depois da primeira sessão, a Assembleia mudou o nome para Parlamento Europeu. No entanto, este não foi reconhecido oficialmente pelas outras instituições até a assinatura do Ato Único

8 Essa expressão, retirada de Rittberger (2005: 1) define bem como, de maneira geral, os representantes

dos parlamentos nacionais encaram essas instituições, especialmente pela falta de um espaço institucional para a troca de experiências.

Europeu que ocorreu mais de vinte anos depois.

Durante dez anos, o Parlamento lutou, sem sucesso, contra essa situação, principalmente devido ao retorno ao poder do Estado francês do General Charles de Gaulle. O Parlamento Europeu estava incapacitado de melhorar a sua posição como ator político responsável frente a outras instituições da Comunidade Econômica Europeia (Kreppel, 2002).

No início dos anos 1970, o número de representantes aumentou de 142 para 198 com a chegada de mais três países: a Grã-Bretanha, a Irlanda e a Dinamarca. Também no final dessa década aconteceu a primeira eleição que culminou um aumento de mais do dobro dos membros, passando de 198 para 410. Assim, as primeiras tarefas do PE foram a sua reorganização interna e fazer valer sua distinção de ser diretamente responsável perante o povo europeu, tornando o seu papel muito mais representativo com as eleições diretas (Kreppel, 2002).

Mesmo depois das eleições, o Conselho passou uma diretiva sem esperar a opinião do PE, o que fez com que o Parlamento levasse o Conselho para a Corte de Justiça. Esta declarou a legislação inválida, forçando a Comissão e o Conselho a começar de novo o caso “Isoglucose”9 (Kreppel, 2002).

Com a adesão de mais países (a Grécia em 1981 e Portugal e Espanha em 1986), a relação entre o PE e as outras instituições da CEE foi fortalecida. Não se passou um longo período desde a sua institucionalização como Parlamento Europeu, ocorrida em julho de 1979 a partir da eleição por sufrágio universal, até o Tratado de Luxemburgo que criou a União Europeia.

O PE assume um papel legislativo influente, como descreve Rittberger (2005). Enquanto outras assembleias parlamentares internacionais apenas mantiveram seu status consultivo, o Parlamento Europeu, herdeiro de uma assembleia consultiva, tornou-se cada vez mais influente: nas décadas seguintes à criação da autoridade de certificação, a Comunidade dos Estados-Membros concedeu ao PE um núcleo de poderes orçamentais no Tratado do Luxemburgo de 1970 e com a aprovação do Ato Único Europeu (SEA), em 1986, foi dado ao PE poder legislativo real.

9 A partir desse caso foi decidido pela Corte de Justiça que nenhuma legislação poderia ser aprovada

sem o parecer do Parlamento.

Para explicar a criação e o empoderamento do PE, Rittberger (2005) aponta duas hipóteses: uma baseada nos institucionalistas de escolha racional,

States will create or empower the EP, when the expected mutual efficiency gains which accrue from delegating control, budgetary, and legislative competencies to it exceed the benefits of no or unilateral action. (2005:17)

E a outra institucionalista sociológica,

States will create or empower the EP as a response to a perceived lack of resonance between domestically internalized norms of democratic governance and progressive European integration which generates a mismatch between collectively held norms of democratic governance and governance at the EU level. (2005:19)

As decisões do empoderamento do PE podem, segundo Rittberger (2005), ser assim explicadas: do ponto de vista da escolha racional a participação do PE tende a reduzir a eficiência das tomadas de decisões, bem como uma natural politização nas mudanças que ocorrem periodicamente na sua composição, depois das eleições. Isso dificulta para os governos predizer uma preferência política estável sobre um longo período. Por outro lado, na visão do institucionalismo sociológico, Estados organizados federalmente apoiam o empoderamento devido às suas experiências com o poder difundido verticalmente (as assembleias regionais), assim como os partidos políticos aderindo à ideia política do Estado Federal mantém um PE forte.

Institucionalmente, os poderes adquiridos pelo PE, segundo Ramos et al. (2009) podem ser assim resumidos: co-decisão com o Conselho sobre uma ampla gama de áreas; cooperação com o Conselho, especialmente quanto às questões referentes à União Econômica e Monetária; e emissão de parecer favorável para a conclusão de acordos internacionais negociados pela Comissão e para a adesão de um novo membro à União. O Parlamento tem ainda poder de controle democrático sobre as instituições europeias, entre tantos outros. Utilizando a expressão de Rittberger (2005), o Parlamento Europeu passou de talk-shop, como são vistos em geral os parlamentos regionais, para

powerhouse.

É importante destacar que, quando da construção dos termos da política de expansão da UE, dos quatro pontos10 basilares citados por Ramos et al. (2009) dois 10 Os dois primeiros pontos são: (a) critério econômico e político claro para a inclusão, requerendo dos

candidatos o respeito aos princípios democráticos e funcionamento em economia de mercado; (b) programas de ajuda para diminuir o hiato de riqueza existente entre os candidatos e os países

fazem referência justamente às instituições: (c) mudanças institucionais nos países candidatos para que eles pudessem aplicar e impor todas as leis aplicadas na UE e (d) mudanças nos tratados para garantir que o funcionamento das instituições da UE não ficasse deficiente após a inclusão dos novos membros. Observa-se que esses pontos foram criados com o objetivo de garantir o bom funcionamento das instituições.

Na atualidade o Parlamento Europeu é integrado por vinte e sete países que compõe a União Europeia com um total de 75111 membros, suas reuniões acontecem em doze sessões plenárias de quatro dias em Estrasburgo, na França e seis períodos de sessões suplementares de dois dias em Bruxelas, na Bélgica. Além disso, há reuniões mensais das comissões parlamentares, das delegações interparlamentares e reuniões dos grupos políticos.

1.3. Modelos de desenvolvimento institucional de uma IPI: os modelos Macro e