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O Parlamento Latino-Americano: sua história e inserção no contexto de integração latino-americano

R Dominicana Bicameral 9.507

2.3. Conferências Interparlamentares: Parlatino e Parlamento Europeu – EUROLAT

As conferências interparlamentares entre o Parlamento Latino-Americano e o Parlamento Europeu foram o fórum bi-regional de maior duração que existiu entre duas regiões, que resultou na recente criação da Assembleia Euro-Latino-Americana

57 Refletidos do discurso do deputado hondurenho, transcrito numa secção anterior deste capítulo. 58 Entrevista realizada no dia 3 de dezembro de 2012, durante a XXVII Assembleia, antes da votação do

tema que tratava da suspensão do Congresso do Paraguai do Parlatino.

(Eurolat). O primeiro contato para a realização das conferências interparlamentares entre as duas instituições (que à época em muito se assemelhavam no que diz respeito ao seu funcionamento), foi efetuado em setembro de 1968, com a indicação de duas reuniões prévias a acontecer em Bogotá (Colômbia) e em Estrasburgo (França) nos meses de junho e novembro de 1972, respectivamente. Um ano antes da primeira reunião oficial, foi feita uma reunião preparatória em 15 de julho de 1973 na Colômbia.

Oficialmente, as conferências tiveram o seu início em 1974 com a realização da primeira reunião entre os dias 15 e 17 de julho, em Bogotá. A reunião, que aconteceu no Senado colombiano, teve uma participação expressiva de membros parlamentares, bem como de embaixadores da região acreditados na Colômbia, além de uma delegação dos Estados Unidos e de representantes de vários organismos regionais. Ressalta-se que os membros do Congresso Nacional do Brasil não participaram da reunião, mas o embaixador do Brasil na Colômbia se fez presente. Nesta primeira conferência, foram definidos objetivos considerados como principais entre o Parlamento Europeu e o Parlatino. A saber:

1. Contribuição para as integrações regionais, o desenvolvimento das relações internacionais e a apreciação do papel que corresponde, em este processo, aos parlamentos regionais;

2. Análise crítica das relações da Comunidade Econômica com a América Latina e a incidência dessas relações com o GATT;

3. Possibilidade de contribuir para o financiamento do desenvolvimento econômico, social e cultural da América Latina por parte da Comunidade Econômica Europeia, dentro do marco das relações intercomunitárias entre uma e outra região;

4. Contribuição da Comunidade Econômica Europeia para a investigação científica e tecnológica e sua transferência à América Latina;

5. Medidas de intercâmbio de pessoas no âmbito da educação superior, da formação profissional prática e das organizações econômicas e sociais;

6. Criação do Instituto das Comunidades Europeia e América Latina.

A II conferência aconteceu em Luxemburgo entre os dias 19 e 21 de novembro de 1975. Os assuntos abordados foram as relações econômicas entre a Comunidade Europeia e a América Latina; os problemas para o desenvolvimento das empresas transnacionais; a defesa da democracia representativa na AL; e a apresentação do programa de bolsa para jovens latino-americanos viajarem para a Europa e realizarem estudos sobre as instituições e a vida política comunitária, incentivando toda a criatividade que sirva à cooperação com a AL.

A III conferência foi realizada no México, nos dias 24 a 27 de julho de 1977. A agenda da reunião incluiu oito temas de trabalho, os quais foram atribuídos as três comissões de trabalho: assuntos políticos; relações econômicas, comerciais e cooperação financeira; e terrorismo internacional. Participaram como observadores representantes dos parlamentos dissolvidos da Argentina, Bolívia, Chile, Peru e Uruguai.

Voltando ao continente europeu, a IV conferência interparlamentar foi realizada em Roma (Itália), entre os dias 19 e 21 de fevereiro de 1979. Estavam presentes, como observadores, representantes das Nações Unidas e do Conselho da Europa, além de membros dos parlamentos dissolvidos da Argentina, do Chile e do Uruguai. Foram discutidos os seguintes temas: a luta contra o terrorismo; os direitos humanos; a cooperação econômica e comercial; a cooperação financeira e técnica; assuntos políticos, sociais e culturais. Além disso, foi criticado pelos parlamentares latino- americanos o protecionismo da Comunidade Europeia bem como a sua política agrícola.

A V Conferência foi realizada em Bogotá, de 25 a 28 de janeiro em 1981, a primeira após a eleição por voto direto dos membros do Parlamento Europeu, em julho de 1979 e adotou uma declaração conjunta reafirmando o caráter soberano da vontade popular que se expressa e se realiza no seio da instituição parlamentar, sem a qual não existem em nenhuma parte, nem a liberdade, nem o progresso cívico, político e social.

Mais de dois anos depois, em Junho de 1983, a VI Conferência interparlamentar tomou lugar em Bruxelas. Participaram como observadores representantes das Cortes Gerais da Espanha, do Parlamento de Portugal e representantes do parlamento chileno dissolvido. Foram aprovados três temas de debates para as comissões política e institucional; econômica e financeira; e de tecnologia e assuntos culturais. Na resolução final, as duas instituições apoiaram a criação de um organismo político ad hoc de Estados da América Latina, dotados da autoridade e das competências para ser o correspondente da Comunidade Europeia.

A VII Conferência realizou-se em Brasília, entre os dias 16 e 20 de junho de 1985, tendo participado pela primeira vez um membro do Comitê Econômico e Social das Comunidades Europeias. Como observadores, estiveram presentes representantes das Cortes Gerais da Espanha, do Parlamento de Portugal e do parlamento chileno dissolvido. Os observadores espanhóis e portugueses propuseram que a próxima reunião

fosse feita em Lisboa ou Madri, após a adesão de Portugal e da Espanha à Comunidade Europeia.

Assim aconteceu. A VIII Conferência foi realizada em Lisboa, de 21 a 25 de junho de 1987, e os temas de debates versaram sobre a luta contra a droga; a mulher latino-americana e do caribe; as relações econômicas entre a Comunidade Europeia e América Latina, a dívida externa e o desenvolvimento latino-americano e do caribe e direitos humanos.

Em São José da Costa Rica, entre 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1989, realizou-se a IX conferência, na qual foi expressa em declaração conjunta a adesão ao estabelecimento de uma ordem internacional que garanta a paz baseando-se no respeito aos direitos fundamentais do homem, na democracia pluralista resultado de eleições livres, na soberania nacional, na segurança, na não intervenção em assuntos internos em conformidade com a Carta das Nações Unidas, e na inviolabilidade de fronteiras.

A X Conferência foi realizada em Sevilha em abril de 1991 e discutiu temas sobre a relação entre as duas regiões: a ajuda da Comunidade Europeia ao desenvolvimento da América Latina, a dívida externa da América Latina, os intercâmbios comerciais entre a Comunidade Europeia e a América Latina, o meio ambiente, assuntos sociais, e relações culturais.

Dois anos depois, em maio de 1993, a XI conferência é organizada em São Paulo, na recém-inaugurada sede permanente do Parlatino. Estiveram presentes, além dos delegados do Parlatino e do Parlamento Europeu, o governador em exercício do estado de São Paulo, o vice-presidente do Banco Europeu, o vice-presidente da Comissão das Comunidades Europeias, o presidente em exercício do Conselho de Ministros, o presidente do Congresso Nacional do Brasil, o presidente do Parlamento Europeu e o presidente do Parlamento Latino-Americano. Na qualidade de observadores, assistiram a conferência representantes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Instituto de Relações Europeu-América Latina (IRELA), da Organização dos Estados Americanos (OEA), a presidente do Parlacen e o presidente do Parlamento Indígena da América. Interveio no encerramento o então Ministro de Relações Exteriores do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.

conferência nos dias 20 a 23 de junho de 1995. Nesta ocasião, reafirmou-se a convicção de que as relações entre ambas as regiões estão baseadas em princípios e valores comuns, tais como a democracia representativa, o estado de direito e a ordem constitucional, o respeito absoluto dos direitos universais do homem e as liberdades políticas e civis.

A XIII Conferência foi realizada em Caracas (Venezuela) nos dias 19 e 22 de maio de 1997, com o convite aos parlamentares para legislar sobre iniciativas de integração que promovam a igualdade de oportunidades e a equidade entre homens e mulheres, e a solicitação aos governos, parlamentos e partidos políticos da execução dos acordos adotados na Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim.

Entre os dias 16 e 18 de março de 1999, ocorreu em Bruxelas a XIV conferência, que teve como objetivo principal formular as linhas para o futuro relacionamento entre a América Latina e a União Europeia desde o âmbito parlamentar, com a intenção de que as bases propostas fossem enviadas à primeira Cúpula Euro-Latino-Americana a ser realizada em junho de 1999, fundamentando que uma nova relação entre as duas regiões devem ser baseada na institucionalização do diálogo político mediante a reunião periódica dos Chefes de Estado e de Governo, com uma representação de ambos os Parlamentos como órgãos de legitimação democrática desse diálogo.

A XV Conferência foi realizada em Valparaíso (Chile) entre os dias 23 e 26 de abril de 2001, e teve como convidados especiais os representantes do Parlacen, do Parlandino e da Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul. Nos preâmbulos, é ressalvado que desde a sua primeira convocatória em 1974, a Conferência tem desempenhado um papel fundamental como marco privilegiado do diálogo entre a América Latina e a União Europeia. A realização da Segunda Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da União Europeia, América Latina e Caribe, é fruto da intensificação do diálogo entre as duas regiões.

Durante a XVI Conferência Inter-Parlamentar União Europeia e América Latina, que foi realizada entre os dias 20 e 22 de maio de 2003, já estava em discussão a formação de uma assembleia bi-regional. Assim, os temas gerais discutidos foram: as perspectivas da União Europeia e da América Latina no século XXI, os processos de integração na Europa e América Latina e as migrações e deslocamentos da população.

A XVII Conferência, realizada em Lima (Peru) de 14 a 17 de junho de 2005, foi a última realizada entre o Parlatino e o Parlamento Europeu. Nesta reunião, foi reiterada a necessidade de estabelecer uma Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, a partir dos resultados obtidos com as reuniões de cúpula dos Chefes de Estado e Chefes de Governo no sentido do fortalecimento da Associação Estratégica Bi-Regional União Europeia-América Latina e Caribe.

A IV Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo, realizada em Viena nos dias 11 e 12 de maio de 2006, declarou a necessidade do reforço em uma dimensão parlamentar à Associação Estratégica Bi-Regional entre a União Europeia e a América Latina. Desta forma, depois de 31 anos de conferências entre parlamentares dos dois lados do Atlântico, foi constituída a Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana – Eurolat, sendo a sua primeira reunião realizada nos dias 8 e 9 de novembro de 2006 no Parlamento Europeu em Bruxelas.

Resultado das relações entre o Parlatino e o Parlamento Europeu, a Assembleia Euro-Latino-Americana (Eurolat) já realizou seis sessões plenárias ordinárias, a última, da quais ocorreu nos dias 24 e 25 de janeiro de 2013, na cidade de Santiago (Chile). Os temas abordados continuam a refletir as preocupações inerentes às realidades das duas regiões. Muitos problemas continuam recorrentes, como a discussão sobre a luta contra o tráfico de drogas e o crime organizado, a crise financeira e a globalização e a prevenção de desastres naturais na Europa e na América Latina.

Em um estudo sobre as relações parlamentares União Europeia e América, Latina, Stavridis e Ajenjo (2010) entendem a criação da Eurolat como uma inovação. Importa ressaltar que, observando os processos da Eurolat e os documentos resultantes dos vários anos de conferências entre o Parlatino e Parlamento Europeu, há um padrão nos procedimentos de atuação, o que leva à conclusão que houve uma transferência de aprendizado de ambas as instituições. Isto é verificado na Ata Constitutiva da Eurolat:

Considerando que las diecisiete Conferencias Interparlamentarias EU-AL bianuales celebradas desde 1974 entre el Parlamento Europeo y el Parlamento Latinoamericano y a las que se sumaron em fechas posteriores los restantes Parlamentos regionales de integración em America Latina (Parlacen, Parlandino, y CPC Mercosur) constituyen el antecedente immediato de la Asamblea Parlamentaria Euro- Latinoamericana. (Ata Constitutiva de Assembleia Parlamentar Euro- Latinoamericana)

2.4. Meta principal: ser o braço legislativo de um organismo de integração na